BURN THE MANKIND





Talvez toda o projeto surja com a pretensão de se tornar uma banda, no futuro. O Burn The Mankind surgiu como um projeto do guitarrista Marcos Moura, após o fim das atividades de um dos grandes nomes do Death Metal gaúcho: Nephasth. A Marcos se juntaram Pedro Webster (vocal e baixo), Matheus Montenegro (bateria) e Raissan Chedid (guitarra), que gravaram o EP “Burn the Mankind” e o single “Real Slave”. Matheus saiu da banda durante a gravação do álbum de estreia “To Beyond”, e com a adição de Rafael Barros houve mudanças no instrumental da banda, já que Rafael não assumiu as baquetas. Assim, Raissan assumiu a bateria e cedeu a guitarra para Rafael. “To Beyond” foi lançada em 2015 via Mighty Music e no Brasil o álbum foi lançado pela Cianeto Discos, em limitadas 500 cópias. Apesar do grande respaldo que a banda vem tendo com seu ‘debut’, os músicos encaram com seriedade a atual realidade do Underground, e demonstram serenidade ao se falar dos planos futuros, turnês e tudo que envolve uma banda novata. Mais detalhes a seguir...

Recife Metal Law – O Burn The Mankind surgiu em 2009 e em sua formação músicos advindos de bandas como o Nephasth. Dessa forma, foi normal que surgisse uma banda que continuasse com o legado dos grupos anteriores?
Marcos Moura –
Comecei o projeto em 2009 sem muitas pretensões, apenas para tocar alguns sons e não ficar parado. Fazia quatro anos desde o fim do Nephasth; estava meio perdido e com muita vontade de testar algumas ideias. Aos poucos as coisas foram ficando mais sérias de forma natural... e aqui estamos.
Rafael Barros – A proposta é ser diferente do Nephasth. Não queremos soar extremos e brutais o tempo inteiro. Há espaço pra colocarmos outros elementos oriundos de outros estilos que nos influenciam.

Recife Metal Law – Matheus Montenegro foi o primeiro baterista da banda, mas deixou a banda em 2013. O guitarrista Raissan Chedid assumiu o posto e a segunda guitarra ficou a cargo de Rafael Barros. Além da mudança de postos, quais as principais diferenças entre Matheus e Raissan, em se falando de bateria?
Marcos –
Matheus tinha uma característica interessante de conduzir a música, sem muita virada e rolos o tempo inteiro, isso influenciou muito a forma de construir as músicas. Creio que isso se deve a sua influência no Jazz. Já o Raissan é mais matemático, tem uma forma de pensar diferente. Já que domina a guitarra muito bem, acaba por ouvir e ver espaços nas músicas, contribuindo de uma forma mais detalhista.

Recife Metal Law – O primeiro trabalho do Burn The Mankind foi um EP homônimo, lançado em 2010, seguido de um single, lançado em 2012. Como foram construídas as músicas para esses trabalhos e de que forma elas ajudaram a moldar a sonoridade que ouviríamos futuramente no álbum de estreia?
Marcos –
As músicas no EP tinham uma intenção de unir agressividade e ruído, algo entre o Industrial, Grind e Metal extremo. Já o single “Real Slave” traz a sonoridade mais próxima ao álbum e foi uma das primeiras que finalizamos após o EP. Possui elementos que estão em outras canções do disco. O restante surgiu depois de pensarmos sobre a temática.

Recife Metal Law – O álbum de estreia, “To Beyond”, inclusive, traz as músicas contidas no EP e no single, excetuando-se o cover do Ratos de Porão e a instrumental “The Code”, ambas presentes no EP. Por que vocês decidiram colocar as músicas do EP como ‘bonus tracks’ e não como faixas pertencentes ao ‘debut’?
Marcos –
O álbum tem duas partes bem definidas: uma parte extrema, outra um pouco mais cadenciada e atmosférica. As duas músicas bônus, “Survive On” e “Human Decay” funcionaram bem no EP, porém houve consenso de que elas não se conectavam com a temática do álbum.
Pedro Webster – O EP teve o objetivo de inserir a banda na cena brasileira de Death Metal. Apesar de curto, ele já demonstra como soaria o Burn The Mankind. É uma obra distinta do álbum, tanto no conceito quanto na intencionalidade da atmosfera sonora.

Recife Metal Law – O álbum de estreia traz um Death Metal no melhor estilo gaúcho de se fazer o estilo. Como vocês analisam o resultado musical desse álbum de estreia?
Marcos –
Obrigado! O resultado ficou satisfatório. É claro que talvez hoje fizéssemos diferente, mas isso foi o registro de um tempo. Penso que a possibilidade de ter climas diferentes num mesmo disco tenha sido desafiador e ao mesmo tempo agradável.

Recife Metal Law – Sobre o resultado final, a gravação do álbum teve início em 2010 e foi finalizada em 2015, com a masterização no Estúdio Suminsky, a cargo de Henrique Lopes. Foram cinco anos para gravar todo o disco! Mesmo demorando tanto, o álbum tem uma gravação soberba. Tanto tempo para gravar foi o que deixou a gravação do disco num patamar tão alto?
Marcos –
Foram vários motivos que nos fizeram demorar no processo, a mais importante foi a mudança de formação. A banda teve que fazer uma pausa e recomeçar praticamente. Outro motivo é que todos no grupo são meio esquizofrênicos. (risos) Um álbum tem o seu valor único, é um registro importante na vida de todos os envolvidos, mesmo hoje com a internet e a liquidez do mundo que vivemos. Fazer o melhor sempre foi o lema. Tínhamos bem claro que deveria soar pesado e ao mesmo tempo limpo, nisso o papel do produtor Henrique López foi fundamental, sem ele não teríamos chegado nesse resultado. Conversamos muito sobre toda a temática e necessidade de buscar tal sonoridade, a pressa não foi o foco e sim o resultado final.

Recife Metal Law – O início do álbum, após a ‘intro’ “The Uprise” é arrebatador e a faixa-título é um Death Metal arrasa-quarteirão, com vocais urrados, instrumental devastador e uma bateria que detona nos blasting beats. Essa era a forma que o Burn The Mankind queria dar início ao seu álbum de estreia?
Marcos –
Sim, queríamos dessa forma, fazer um convite a quem escutasse a imergir na temática do álbum que é a dualidade ou uma ideia de superação, ou a transcendência de determinados valores. Dessa forma, começar com “The Uprise”, mais atmosférica, quase ritualística, contrastando com a faixa título, “To Beyond”, curta, extrema e direta, é vital à proposta, pois faz uma alusão a esse duelo de opostos, presente em todo o disco.
Pedro – Consideramos “The Uprise” não apenas como uma ‘intro’, mas também como uma música, onde há arranjos cruciais que perambulam e se encontram em outros momentos do disco, além da atmosfera que buscamos para dar início à pancadaria!

Recife Metal Law – O álbum tem uma boa alternância instrumental entre as músicas, pois não se prende, apenas, a brutalidade ou velocidade. Exemplo disso é a instrumental “Vacuum”. Houve um consenso em alternar momentos mais ríspidos com algo mais cadenciado e pesado ou tudo surgiu de forma natural?
Marcos –
Sim, houve consenso. Depois de discutir sobre o tema, conversamos sobre o que poderia conter; os climas, número de músicas, parte lírica, identidade visual, sonoridade. Tudo feito com muita dedicação, muitas tentativas e erros até chegarmos a um resultado que nos agradasse.
Pedro – Justamente! Como na pergunta anterior, “Vacuum” demonstra outro momento do disco, talvez mais introspectivo, que servirá como contraponto à brutalidade restante do álbum. Nossa ideia é que “To Beyond” contenha dicotomias que horas se opõem e outras unem, ramificando-se na sonoridade que buscamos.

Recife Metal Law – A parte lírica é muito bem escrita, mas o que de fato vocês procuraram retratar nas letras contidas no álbum de estreia? A banda procurou seguir uma linha lírica, apenas?
Pedro –
A parte lírica do álbum contém críticas sociais e individuais, tais como o domínio de poucos sobre muitos, o medo e alienação que somos submetidos no dia a dia através da mídia, a falta de humanidade presente na forma de poderes que nos condicionam à formas de escravidão. Tais problemas servem de abertura para conceitos que visam uma superação e podem se desenvolver para além de nossa temática. Deste modo, uma construção ideológica fica aberta para o ouvinte poder relacionar com e soluções que fazem parte de sua realidade.

Recife Metal Law – “To Beyond” foi lançado mundialmente pelo selo dinamarquês Mighty Music e no Brasil pela Cianeto Discos. Porém, no Brasil, foi uma tiragem limitada de apenas 500 cópias. Por que limitar a tiragem no Brasil?
Rafael –
Foi uma decisão da Cianeto Discos e teve total apoio do grupo. O mercado está difícil e a banda era relativamente desconhecida no Underground. É compreensível. Não é o momento propício para ninguém correr riscos. Mas é de grande valor termos um selo nacional totalmente dedicado ao Metal Extremo apostando em bandas novas.

Recife Metal Law – E como vem sendo a divulgação a nível mundial? O disco chegou a muitos países diferentes, além dos contidos na Europa?
Rafael –
A divulgação está boa e dentro do esperado. O álbum foi enviado para revistas, zines e sites especializados do mundo inteiro para resenha. Está disponível na Europa e países como EUA, Austrália, Japão, Indonésia, dentre outros, além do Brasil, na forma física. Pode ser encontrado para venda em conhecidas lojas online do mundo, como Amazon e Nuclear Blast. No total são 26 países. Também está disponível em todas as plataformas digitais.

Recife Metal Law – A arte da capa, em tom acinzentado, ficou bem interessante e cheia de detalhes. O rosto da capa é envolto em névoa e algumas sombras fantasmagóricas, além de o tal rosto parece ser construído a partir de uma floresta assombrada ou algo do tipo. A arte da capa foi concebida por Luciana Kingeski e desenhada pelo renomado tatuador e guitarrista gaúcho Rafael Giovanoli (In Torment). Antes de terminada, o pessoal da banda teve acesso a arte ou chegou a opinar sobre a mesma?
Marcos –
Conversei muito com a artista plástica Luciana Kingeski, que tem trabalhos fantásticos e uma visão crítica e profunda sobre a vida. Falamos sobre toda a temática e todo o processo que o grupo passou ao longo de quatros anos. Foram três meses e várias tentativas até chegarmos a concepção da capa. A finalização ficou a cargo do Rafael Giovanoli que deu um tom mais soturno ao desenho.
Rafael – Foi um verdadeiro trabalho de equipe. O Marcos desde o início tinha essa ideia do rosto e a temática do sobre a transcendência da matéria. Eu contribui determinando a cor, editando e adicionado outros elementos e texturas. No fim desenvolvi todo ‘artwork’ do disco, coisa que nunca havia feito. Foi um trabalho esteticamente simples, sútil, mas que no fim envolveu várias pessoas e ideias.

Recife Metal Law – A imprensa especializada, ao redor do mundo, vem elogiando bastante esse primeiro full lenght do Burn The Mankind. Isso se torna um facilitador para uma possível turnê fora do Brasil?
Rafael –
Queremos realizar uma tour fora do Brasil, mas mesmo com boas resenhas do disco saindo lá fora acho bem complicado. Somos bastante desconhecidos na cena mundial. Aqui no Brasil também, apesar do disco estar rodando o mundo. Temos muito o que fazer pela frente e queremos organizar e definir muitas coisas antes de dar esse importante passo. Tem que ser muito bem feito e estruturado, senão não valerá a pena.

Site: www.burnthemankind.com

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação e Adriano Vianna