DISGRACE AND TERROR
Tendo começado como uma banda de Thrash Metal, a paraense Disgrace And Terror evoluiu sua sonoridade e hoje é praticante de um violento e cativante Death/Thrash Metal, mas sem perder a essência de seus dias iniciais. Nem mesmo algumas mudanças em sua formação fez com que a banda perdesse seu foco. Pelo contrário, tais mudanças surtiram um efeito devastador na sua sonoridade, além de mudanças substanciais em sua temática lírica. O mais recente álbum da banda foi lançado em 2015. “El Papa Negro” foi lançado pelo selo conterrâneo do Disgrace And Terror, Distro Rock Records, mantendo, assim, uma parceria de longos anos. Hoje, em sua formação, o Disgrace And Terror conta com Rot (vocal/baixo), Vinicius Carvalho (guitarra) e Aldyr Rod (bateria). E foi Aldyr quem nos respondeu a entrevista. Confira!
Recife Metal Law – O álbum de estreia, “Shadows of Violence”, foi lançado em 2005, sendo sequenciado por um Split e uma compilação (que reuniu o ‘debut’ e as músicas do Split). Como vocês analisam esses lançamentos para a carreira da banda? A divulgação atingiu as metas traçadas pela banda?
Aldyr Rod – Saudações Valterlir & Recife Metal Law! Todos tiveram suas respectivas importância, o “Shadows of Violence” foi nosso cartão de visita como ‘Debut’ e mesmo de forma independente fizemos uma boa divulgação, recebemos boas resenhas em zines, webzines, blogs... Passamos um ano divulgando intensamente e este seria o fim de um ciclo, pois no primeiro semestre de 2007 mudaríamos de formação após seis anos. Lançamos o Split “Terror Nuclear” em 2009 já na parceria com a Distro Rock Records e – na época - Free Mind Records (já extinta). Esse material nos deu muita dor de cabeça, pois ele teve problema na mídia (no disco) por duas vezes, nos causando um constrangimento terrível. Mesmo assim ainda fizemos uma tour com esse Split pelo Nordeste e foi muito foda! Sobre a compilação é interessante comentar. É um riquíssimo material com release da banda, capa e letras dos dois discos (“Shadows of Violence” & “Terror Nuclear”) mais as datas de nossa tour pela Europa. Essa seria nossa segunda parceria com a Distro Rock e até então definitiva. Nossas cópias desse material foram espalhadas como praga por onde passamos. Hoje esse material é raro e sinceramente acho um belo artefato.
Recife Metal Law – Oito anos separam o álbum de estreia do segundo lançamento do Disgrace And Terror, “The Final Sentence”. Por que houve esse hiato tão grande entre os lançamentos?
Aldyr – Nesse ínterim teve o lançamento do Split “Terror Nuclear” (2009) e mais a compilação de 2011 e suas respectivas divulgações em tours (Brasil & Europa), pois geralmente nós passamos um ano ou mais divulgando nossos lançamentos. Tudo isso mais uma pequena mudança de formação (entra e sai de guitarrista) ocasionaram este hiato do primeiro para o segundo disco. Mais em hipótese alguma ficamos parados, sempre estivemos na ativa nesse ínterim, por sinal, muito atuantes.
Recife Metal Law – O primeiro álbum foi lançado de forma independente. O segundo pela Distro Rock Records. A Distro Rock é um selo bem atuante e da mesma cidade do Disgrace And Terror. Por que essa parceria não existe desde o primeiro lançamento?
Aldyr – Creio que na época a Distro Rock ainda não era selo/gravadora. Garanto a vocês que essa parceria veio na hora certa e hoje temos um convívio e um respeito muito grande com todos os envolvidos. A Distro Rock faz a divulgação visceral com distros, selos, gravadoras, webszines, magazines... E nós da banda fazemos essa divulgação ‘in loco’ em nossas turnês. Uma parceria que já dura nove anos e espero que venham muito mais.
Recife Metal Law – “The Final Sentence” é um álbum insano e é bem difícil para um fã de Death/Thrash Metal não se empolgar com ele. A banda mostrou uma ferocidade incrível em alguns temas, tais como “No Mercy” e “Deep Insanity”, só para citar dois. De que forma vocês trabalharam na composição das músicas que fizeram parte desse segundo álbum?
Aldyr – Da mesma forma que trabalhamos nos lançamentos anteriores. Todo o processo de composição é feito na sala de ensaio. Geralmente o guitarrista puxa um riff ou eu começo com uma batida, a partir disso começamos a montar a música, posteriormente as linhas de baixo e voz. Dessa maneira as músicas ficam bem mais orgânicas e com um feeling único, fazendo soar como se fossem ao vivo.
Recife Metal Law – O ‘track list’ regular do álbum conta com oito músicas, sendo que uma é uma regravação, em castelhano, de “Legado do Mal”. O que os levou a regravar essa música em tal idioma e com a presença de Toño Rato, do Rato Raro nos vocais?
Aldyr – Já tínhamos a ideia de regravar essa música em outro idioma, pois é a única nossa cantada em português. Primeiramente seria em inglês, mas como o nosso grande amigo Toño (Rato Raro) estava em nossa cidade em uma visita pelo Brasil na mesma época do disco, fizemos o convite e ele gentilmente aceitou. Decidimos então regravá-la em castelhano e ficou brutal! Esse ano regressaremos a Europa e faremos um show na cidade deles (Palência, Espanha). Espero que role essa ‘jam session’ tão aguardada.
Recife Metal Law – O álbum também traz três músicas ao vivo. Inserir tais músicas foi uma forma de não deixar o segundo álbum com cara de EP?
Aldyr – Como tínhamos poucas composições inéditas, achamos interessante colocar essas faixas ao vivo de um show nosso pela Espanha e completar o disco com elas. Esse mesmo sistema usamos em nosso disco posterior a esse, intitulado “El Papa Negro”. Passamos quase pela mesma situação; tínhamos poucas composições inéditas, pois tivemos um curtíssimo espaço de tempo para desenvolvê-lo. Acabamos no fim colocando mais três músicas ao vivo, sendo que dessa vez no Equador.
Recife Metal Law – Aos meus ouvidos, a gravação foi feita de forma analógica, nada de truques digitais na sonoridade do disco. A gravação vem, de certa forma, ‘crua’ e orgânica. Era esse o resultado final que vocês procuravam para “The Final Sentence”?
Aldyr – Procuramos manter aquele padrão do primeiro disco, onde foi totalmente gravado nesse sistema analógico (Estúdio Da Tribo/SP). O que nos ajuda muito é como são montadas as músicas, pois como as fazemos todas na sala de ensaio, elas por si só já mantém o espírito visceral, cru e orgânico.
Recife Metal Law – A parte gráfica ilustra bem o título do álbum e o que encontraremos nas músicas. A capa contém muitos detalhes e é um prato cheio para quem gosta de ouvir o som acompanhando letras e parte gráfica. A arte da capa tem ligação direta com o título do álbum. Mas também tem alguma ligação com as letras?
Aldyr – Não diretamente. A arte gráfica desse disco foi feita por um artista local chamado Jorge Trindade, amigo meu pessoal e que tem um vasto currículo desenhando em quadrinhos americanos. O título em si tem uma particularidade, que por sinal está sendo contada pela primeira vez aqui: o título “The Final Sentence” foi pensado única e exclusivamente para um integrante da banda. Nosso intuito era gravar com ele, terminar o compromisso das datas que tínhamos e despachar do cesto a fruta estragada. Só que não sabíamos que o título também caberia a outro integrante, pois ao término da tour da divulgação desse disco saiu de uma só vez nosso guitarra e baixista. Nunca um título caiu tão bem como naquela situação. Literalmente foi a sentença final para ambos na história da banda. Hoje estamos muito bem como ‘power trio’!
Recife Metal Law – O encarte traz fotos dos quatro integrantes que gravaram o disco, mas a foto da contracapa traz apenas três integrantes. Qual a razão para isso?
Aldyr – Pelo simples fato do guitarrista no dia da sessão de fotos que entraria no disco não está presente. Por mim nem foto daquele rapaz teria no disco, mas em todo caso ficou o registro. Conosco tratamos tudo com a maior seriedade, desde uma simples sessão de fotos aos demais compromissos que envolvem a banda. Então na época o desrespeito e a falta de compromisso estava gigante por parte dessa pessoa e com essa lição mostramos a ele como trabalhamos.
Recife Metal Law – “El Papa Negro” não demorou tanto a ser lançado após o último álbum de estúdio. Mesmo assim ele também só apresenta sete músicas inéditas. Com a mudança na formação e a redução a trio, o que facilitou e o que dificultou na hora de compor esse novo disco?
Aldyr – Depois de um ano de divulgação do CD “The Final Sentence” mudamos drasticamente de formação. Saiu de uma só vez o baixista e guitarrista. Com isso o Rot, que antes era só vocalista, passou a tocar baixo também e recrutamos Vinicius Carvalho (Anubis/A Red Nightmare) para o posto de guitarrista. Portanto, hoje, somos um ‘power trio’ infernal! Fizemos uma tour (que já estava montada) pela América do Sul, somando um total de 16 concertos em quatro países (Colômbia, Equador, Peru e Bolívia), ainda divulgando esse respectivo artefato. Em 2015 começamos a compor o “El Papa Negro” e tínhamos um curto espaço de tempo para compor, gravar e lançar antes de mais uma vez fazer a América do Sul (Argentina e Paraguai). Isso tudo foi feito em um período de quatro a cinco meses (tempo recorde). Não tínhamos músicas suficiente parar fechar um CD completo; adotamos o mesmo sistema do disco anterior: “enchemos a linguiça” colocando como bônus as músicas ao vivo gravadas em um brutal concerto em Guayaquil (Equador) e mais o cover do HeadHunter D.C. Sobre dificuldades em compor, não existiu em nenhum momento, pelo contrário, só nos facilitou estarmos em três pessoas. Agora menos uma cabeça pensante e nosso entrosamento está em um nível muito bom.
Recife Metal Law – Se “The Final Sentence” era um disco ríspido, brutal, numa ode ao Death/Thrash Metal, o novo álbum acentua ainda mais essa brutalidade, porém notei que veio mais trabalhado. Havia a necessidade de se fazer um disco ainda raivoso, porém mais trabalhado que o anterior?
Aldyr – Tudo aconteceu naturalmente, sem a ânsia de resultado. A entrada de Vinicius Carvalho nos trouxe esse lado mais trabalhado, um lado de maior exploração musical. A brutalidade que já estava presente apenas se manteve. Acho que ficou mais latente pela melhor gravação que alcançamos neste maldito artefato.
Recife Metal Law – O título do novo álbum e a música homônima é uma homenagem ao escritor Héctor Escobar Gutierrez. Esse escritor influencia a um determinado membro da banda ou é leitura obrigatória para todos?
Aldyr – Todos da banda têm a obra completa de Héctor Escobar Gutierrez. Para quem não sabe, foi um grande poeta, ocultista, demonólogo e sabedor das artes arcanas, também um dos percursores do neo-satanismo em nosso continente. Hoje fazemos parte de sua corrente chamada Serpente-Dragão. Somos o tentáculo dessa filosofia no Brasil, pois a base se encontra em sua cidade natal, chamada Pereira (Colômbia). O que foi dito por nós a este nobre homem em seu leito de morte está sendo cumprido severamente. Por onde passarmos levaremos seu nome e sua obra e assim permanecerá para todo sempre. SALVE HÉCTOR ESCOBAR GUTIERREZ, EL PAPA NEGRO! LAUS SATANI!
Recife Metal Law – E os seus escritos influenciaram todas as letras do disco ou apenas a faixa-título?
Aldyr – Os seus escritos influenciaram no magnetismo Hectoriano existente neste negro artefato, a aura satânica se fez presente sem piedade. Com relação às letras, ainda mantivemos o cunho do caos social, mas agora com uma ótica mais densa. A música título foi a abertura do portal do abismo.
Recife Metal Law – Umas das letras, “Soul Suicide”, foi escrita por Andrea Tormentor. A banda não cogitou a possibilidade de uma participação dela no disco?
Aldyr – Andréa Tormentor é um ícone do Metal extremo nacional, uma grande batalhadora e exemplo vivo para muitos. Temos uma grande amizade e laço, por isso fomos presenteados com esta psicopatia lírica que se chamou “Soul Suicide”. Esse disco foi gravado em tempo recorde, tínhamos compromisso no prazo de entrega, sabíamos que o processo desta participação levaria um tempo que não tínhamos, infelizmente. Chegamos a dividir palco em um puta fest, “Death Thrash Fest VII”, em Brasília/DF com o grande Human Atrocity (NDE.: Andrea é vocalista da Human Atrocity e já foi vocalista da Valhalla, também de Brasília) e foi mágico ver este monstro do Death Metal em ação! Foda demais! Hail Andréa Tormentor & Human Atrocity! Death Metal Rules!
Recife Metal Law – “Death’s Frontier” tem o subtítulo de “PJC”. O que significa esse subtítulo?
Aldyr – Essa música foi feita pra uma das fronteiras mais infames do mundo, um lugar onde o caos é constante; ali a lei é feita com as próprias mãos. Ela se chama Pedro Juan Caballero e fica no Paraguai, divisa com Ponta Porã (Brasil). Tivemos a honra de tocar neste lugar, pois ali conheci reais headbangers e bandas fudidas, cito Escafandro 666. Hail Maníacos da Fronteira da Morte!
Recife Metal Law – A arte da capa é uma das mais blasfemas da banda, na verdade a mais blasfema. Como vocês avaliam o trabalho de Diogo Ferreira? O resultado final, com relação à arte gráfica, era o que realmente vocês queriam?
Aldyr – Sim! Todos ficaram muito satisfeitos com o resultado final. Diogo Ferreira é um excelente e promissor desenhista paraense, além de ser um maníaco Headbanger. Passamos a ele fotos de nosso arquivo pessoal da casa-templo de Don Héctor e a magnífica história que tivemos com ele, para que o Diogo tivesse o devido cuidado e respeito na hora de trabalhar na capa. Creio que isso tenha sido captado da melhor maneira, pois ele nos presenteou com uma negra obra.
Recife Metal Law – A banda vem numa sequência absurda de shows, em se tratando de uma banda Underground. Muitos desses shows estão sendo realizados em países vizinhos ao Brasil. Para uma banda oriunda de Belém, fica mais fácil fazer shows em países como Colômbia, Chile, Equador, do que pelo seu próprio país?
Aldyr – Não existe facilidade alguma, meu caro, isso é tudo fruto de nossa articulação e determinação em querer expandir nosso caos sonoro além das fronteiras de nosso país. Estamos há dois anos em uma divulgação intensa do nosso último disco, “El Papa Negro”, pela América do Sul. Estamos indo para a terceira turnê consecutiva pelo nosso continente. Isso mostra que fizemos um bom trabalho por onde passamos. Em 2017 será o nosso retorno a Europa, só não sabemos se é na divulgação do “El Papa Negro” ou, quem sabe, o quarto álbum, pois já começamos a compor músicas para o próximo disco.
Recife Metal Law – Vocês já definiram como virá esse quarto álbum da banda? Já existem músicas prontas, título para o álbum, número de músicas para o ‘track list’?
Aldyr – No momento temos apenas uma música nova para o próximo artefato, chamada “A Era do Opositor”. Tocamos em nosso último concerto (12 de janeiro) e a recepção foi excelente. Garanto que continua o mesmo Death/Thrash brutal e ao mesmo tempo trabalhado. Nosso processo de composição é todo feito na sala de ensaio, um pouco mais lento. Em compensação as músicas saem bem mais orgânicas e viscerais. Este ano faremos mais uma tour na Europa, numa média de 18 a 20 shows em 30 dias. Creio que ainda vamos levar este disco na bagagem, assim como o magnetismo existente nele. Conosco existe apenas a via da dúvida e por ela sempre chegaremos ao nosso objetivo. A negra aura Hectoriana se fará presente novamente. Espero encontrá-los em breve para transmutarmos esta magicka energia obscura. LAUS SATANI!
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Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação