EVOCATI





Em Pernambuco não existem muitos nomes fazendo o tradicional Heavy Metal, já que o Estado tem um histórico de sempre nos mostrar bandas que fazem um som mais extremo. Surgida no interior de Pernambuco, mais fazendo parte da região Metropolitana, a Evocati surgiu para nos mostrar o que de melhor pode ser feito no quesito Heavy Metal, com seu som nos remetendo aos primórdios do estilo, mas, claro, com uma pegada contemporânea (não confundam com sonoridade ‘modernosa’). Apesar de ter surgido em 2010, a banda nunca fez muito alarde. Poucos shows em sua região, nenhum registro fonográfico lançado, até que no final de 2016, de forma independente, lançou seu primeiro álbum homônimo. O disco vem ganhando muito elogios, mas isso não significa que o Evocati tem vida fácil. Polêmicas já surgiram, mudanças na formação já ocorreram... Antes de irmos para a entrevista, informo que o Evocati é, hoje, Sérgio Costa (vocal), Nenel Lucena (guitarra), Luiz Neto (baixo) e Arthur Lira (bateria).

Recife Metal Law – Como surgiu o Evocati e quais pessoas fizeram parte da banda, no início? 
Evocati –
Sérgio Costa (vocal) tinha algumas letras e procurou Luiz Neto (baixo) e Nenel Lucena (guitarra) para fazer alguns arranjos. Nenel estava começando a gravar em seu ‘home studio’, por isso decidimos gravar alguns riffs para encaixar com as letras. Gravamos guitarra, baixo, vocal e montamos as músicas com uma bateria virtual. Ficamos surpresos com o resultado. Mostramos também para alguns amigos e eles curtiram bastante. Daí surgiu a ideia de montar a banda. Sandro Gomes e Diego Coutinho foram os primeiros bateristas, sendo Diego Coutinho o que gravou o nosso primeiro álbum.

Recife Metal Law – Evocati era um membro do antigo exército romano. Por que se deu a escolha desse nome para a banda e de quem foi a ideia de nomear a banda assim?
Evocati –
A ideia do nome surgiu de um amigo, o Rafael Oliveira, que é professor e poeta. Ele sugeriu esse nome depois de contarmos para ele um pouco da sensação que estávamos sentindo com a criação da banda, pois andávamos um pouco afastados do cenário Metal, e naquele momento estávamos sendo convocados a retornar a batalha. Os antigos guerreiros estavam de volta, mas não como soldados comuns e, sim, voltando com a patente dos Evocati.

Recife Metal Law – Afastados do cenário Metal? Como assim? O que houve?
Evocati –
É complicado você fazer Rock Pesado vivendo numa cidade pequena, apesar de Moreno fazer parte da região metropolitana de Recife. Tínhamos muita vontade de montar uma banda e sair tocando aonde fosse possível. Tivemos bandas, mas éramos muito jovens. Aquela coisa: dependentes dos pais e tal... No final de tudo acho que começamos ou retornamos no momento certo.

Recife Metal Law – A banda surgiu em 2010, mas só veio a lançar um material com músicas próprias seis anos depois de formada. Qual a razão para a demora no lançamento de um material fonográfico?
Evocati –
Devido aos trabalhos paralelos dos integrantes acabamos não dando tanta atenção a banda no seu início. Mais ou menos três anos depois nos reunimos para fazer o Deep Purple Cover. Apresentamo-nos algumas vezes com esse projeto. Depois disso voltamos a nos reunir para compor novas músicas, fazer apresentações e começar de forma definitiva a nossa maior ambição: a futura gravação de nosso disco.

Recife Metal Law – E como vocês trabalharam as composições que se fazem presentes no ‘debut’ álbum homônimo? Qual o método de vocês para compor as músicas?
Evocati –
Com relação às letras, nosso álbum não segue uma temática fixa; cada letra tem sua particularidade. Já os arranjos sempre foram feitos de acordo com a letra e melodia que eram mostrados por Nenel e, principalmente, por Sérgio. Todas as músicas foram feitas em diferentes momentos, trazendo em seus temas batalhas cotidianas, luta conta desigualdade, história baseada em séries de TV e guerras espirituais. 

Recife Metal Law – O disco é tipicamente um álbum de Heavy Metal, com influências diversas, indo da NWOBHM, passando por Black Sabbath e alguns riffs de guitarras que chegam a lembrar o falecido Dimebag Darrel (Pantera). Como é juntar tudo isso e criar uma música com características próprias?
Evocati –
Não tem como fugir das influências! (risos) Desde a adolescência que curtimos e vivemos esses exemplos citados. Com isso conseguimos agregar as nossas ideias com experiências musicais já vividas em outros momentos, tendo em vista que vivemos da música em nosso dia a dia. E em meio a tudo isso surge nossos arranjos.    

Recife Metal Law – “Real Fight” começa com uns riffs no melhor estilo Iron Maiden, mas depois cai para uma linha balada. Por que essa música recebeu essa conotação de balada, já que começou como um Heavy Metal tradicional?
Evocati –
Essa música foi um presente do Daniêre Martins (guitarrista e compositor) e fala de uma pessoa que está em uma luta pessoal, precisando se libertar de uma carceragem mental que aprisiona sua vida. Um tema muito presente nos dias de hoje. Acho que a única coisa que atrela a uma balada é o andamento mais lento valorizando a linha melódica, característico desse tipo de música. A introdução pesada simplesmente saiu... (risos) Agradou aos nossos ouvidos e colocamos. Não queríamos seguir uma regra sobre fazer baladas. Seguimos o que a nossa intuição mandou.

Recife Metal Law – A música que nomeia o álbum e a banda é bem longa e um dos grandes destaques do álbum, com suas diversas passagens, começando Doom Metal, numa veia Candlemass e riffs no melhor estilo Tony Iommi, depois passando para um pomposo Heavy Metal. Uma odisseia musical bem criativa. Essa música surgiu naturalmente ou vocês acharam que havia a necessidade de criar uma música longa, tendo em vista o estilo praticado pela banda e a parte lírica?
Evocati –
Essa música teve uma forma de compor inusitada. Neto – que tinha no seu quarto um ‘set’ montado com seu amplificador, baixo e o ‘mágico’ pedal loop station da boss, que é um pedal que tem vários bancos de memória de gravação – tinha a mania (ainda tem – risos) de sonhar com riffs, e na época tinha a vontade de fazer uma longa música, mas que fizesse sentido, que não fosse monótona. E essa ideia cresceu de uma forma que tudo que vinha a sua mente, principalmente quando estava dormindo, ele se levantava na mesma hora e gravava a ideia no pedal. E o arranjo foi sendo feito dessa forma. Com a exceção de “The Battle Will Begin” – que foi uma música toda pronta feita por Nenel antes de surgir a banda – “Evocati” é a única música do disco que todo o arranjo foi feito primeiro para depois ser colocada a letra. As outras músicas sempre tinham uma letra já com melodia para depois ser colocado o arranjo. É isso.

Recife Metal Law – “Evocati” traz nove músicas, sendo que “Genesis Bellum” é uma instrumental. Como foi criada a parte lírica das demais músicas, que tratam de assuntos históricos, batalhas e até mesmo do cotidiano dos integrantes, como é o caso de “Tribe of Jó”?
Evocati –
Todas as letras possuem características individuais e foram feitas em momentos diferentes, contando um pouco de histórias pesquisadas e outras vividas por nós. A música “Tribe of Jó” é uma homenagem a uma pessoa muito especial para os hardbangers de nossa cidade; era o cara que abria as portas de casa para mostrar o que o Rock tinha de melhor e como todo amante do Rock and Roll sofria enorme preconceito, numa época bem mais difícil que os dias atuais e hoje a Evocati se curva aos ensinamentos do mestre Jó (Josenildo).

Recife Metal Law – Quem não teve o trabalho de ouvir a banda e prestar atenção em suas letras, o título “Tribe of Jó” causou certo estranhamento. Hoje em dia existe um patrulhamento ostensivo e mesmo antes de alguns ouvirem ou conhecerem a temática lírica de uma banda já determina o que tal banda “prega”. O Evocati está longe de pregar algo ou querer doutrinar alguém em sua temática, mas já ouvi comentários de que a banda era White Metal, algo infundado, sem embasamento. Como vocês analisam essa situação?
Evocati –
Pois é. O que achamos interessante é que pessoas nos apontaram como White Metal simplesmente por causa do título de duas músicas. Nem se deram ao trabalho ou curiosidade de ler as letras. “Tribe Of Jó”, como já foi falado, não é o Jó bíblico e, sim, um grande amigo nosso lá de Moreno que, além de amigo, foi um verdadeiro “paizão do Rock” para toda uma geração de Headbangers de nossa cidade, e nós também fazemos parte dessa geração. O nome dele é Josenildo e, por acaso, seu apelido é “Jó”! (risos) A música “Cain” foi também outra que gerou comentários – para não dizer outra coisa. Neto é muito fã de séries de TV e existe uma série chamada Supernatural que ele gosta muito. Em uma das temporadas da série existem alguns episódios sobre a marca de Cain, que é passada para um dos personagens que se chama Dean Winchester. Ele deseja possuir a marca para matar o demônio Abaddon. Enfim... É tudo uma história de ficção que Luiz Neto sugeriu que Sérgio fizesse uma letra e todos gostaram do resultado. Queremos deixar bem claro que não temos nada contra White Metal ou qualquer outro estilo. O universo musical é enorme. Tem para todo gosto. Mas a Evocati NÃO é uma banda dessa vertente musical, ok!? Quem tiver alguma dúvida leia nossas letras. E fim de papo! (risos)

Recife Metal Law – O álbum de estreia traz músicas fortes, com toda a banda mostrando total competência com seus respectivos instrumentos. Havia a preocupação de fazer um disco com músicas cativantes, da primeira a última faixa?
Evocati –
Todas as músicas foram criadas com muita atenção, tanto nos temas como nos arranjos. Tudo feito de forma bem pensada, mas sem deixar de lado a criação espontânea e intuitiva. Melodia, introdução, solos, riffs... Nenhuma música nossa surgiu do nada, talvez por isso que elas sejam cativantes e audíveis.    

Recife Metal Law – Os vocais de Sérgio Costa são fortes, numa linha totalmente Heavy Metal, bem postados, trazendo alguns agudos, mas nada exagerado. As linhas de vocais são criações exclusivas de Sérgio ou os demais integrantes chegam a opinar como devem soar os vocais dele em alguma passagem?
Evocati –
As linhas vocais sofreram mudanças no passar do tempo – inclusive algumas músicas do disco o guitarrista Nenel também canta – para se adequar as canções durante a produção. E isso ficou a cargo do Sérgio Costa e do Nenel Lucena. As notas agudas com certeza são pontos fortes e que chamam bastante à atenção nesse tipo de música, mas tomamos cuidado para soar de forma moderada e bem colocada nas devidas partes. 

Recife Metal Law – O álbum foi gravado, mixado e masterizado no Mr. Prog Studio, tendo a frente o guitarrista Nenel Lucena. O fato de um dos integrantes ter um estúdio ajudou a deixar a sonoridade da banda da forma que soa no álbum ou isso foi indiferente?
Evocati –
De uma forma geral nós já tínhamos escolhido a referência sonora específica para o disco, e isso nos ajudou bastante. Nenel é um músico, produtor e técnico em áudio extremamente competente e que já sabia quais caminhos tomar para chegar nessa sonoridade com os equipamentos que dispõe no Mr. Prog Studio.

Recife Metal Law – A arte da capa e toda a parte gráfica foi feita pelo renomado artista Alcides Burn. O encarte, ao se desdobrar, se transforma num pequeno pôster, com a imagem de um soldado romano, carregando uma cabeça. Por que não usaram essa arte para a capa?
Evocati –
Tivemos a honra de ter nossas artes feitas pelo Alcides Burn. Ele foi o responsável por essa obra de arte! Duas capas nos foram apresentadas para escolhermos, e por opção acabamos preferindo o elmo na capa. O elmo acabou se tornando um símbolo para a banda. Mas gostamos bastante da arte com o soldado, por isso aproveitamos para usá-la como pôster.

Recife Metal Law – Esse primeiro disco foi lançado de forma independente e sabemos que o atual momento, para vendagens de discos, não é nada bom. Como vocês estão procurando driblar esse problema e como vem sendo trabalhada a divulgação do disco?
Evocati –
Realmente o momento econômico atual não está bom para ninguém, mas seguimos em frente, divulgando, fazendo investimentos e colhendo. Estamos conseguindo vender bem camisas e CDs, com uma parceria feita com a loja Taberna do Vinil, que fica no Centro do Recife. Mais informações na nossa página no Facebook.

Recife Metal Law – Pernambuco tem um histórico de poucas bandas que fazem Heavy Metal tradicional. Sendo uma das poucas bandas a fazer o estilo no Estado. Como vocês trabalham a possibilidade de shows, tanto dentro como fora de Pernambuco?
Evocati –
Realmente. Apesar de existirem várias bandas maravilhosas na nossa cena Underground pernambucana, sentimos um pouco de falta de mais bandas de Heavy Metal tradicional. E isso nos influenciou de forma definitiva na vontade de ir para essa vertente do Metal. Para dar mais visibilidade à banda fechamos algumas parcerias: estamos trabalhando com a assessoria de imprensa Wargods Press, do renomado colaborador da revista Roadie Crew Maicon Leite, que está conosco fazendo um excelente trabalho de divulgação. Fechamos também parceria com o Vitão Bonesso, que é colunista da Roadie Crew, apresentador do programa Backstage (Kiss FM) e diretor da Rádio Backstage. Com essa segunda parceria nossas músicas estão tocando diariamente nessas rádios. Através de todo esse esforço esperamos convites para shows aonde quer que as pessoas queiram a Evocati!

Recife Metal Law – Sobre shows, o Evocati será uma das atrações, este ano, do renomado festival Abril Pro Rock. Ainda mais: será a única atração totalmente pernambucana da noite e única representante do estilo Heavy Metal tradicional. Qual foi a reação dos músicos ao receber o convite?
Evocati –
Ficamos muito surpresos e ao mesmo tempo extremamente felizes pelo convite. É uma grande honra tocar em um festival tão renomado nacional e internacionalmente como o Abril Pro Rock, e mais sendo num ano bem especial, já que é 25ª edição. Estamos com o show totalmente pronto. Vai ser insano! Matador! (risos) Ensaiamos semanalmente para ir melhorando e mantendo a forma. Podem esperar que vai ser um show inesquecível!

Recife Metal Law – Sendo a única banda representante do Heavy Metal tradicional nesse renomado evento, vocês estão sentindo algum tipo de pressão?
Evocati –
De forma alguma. Muito pelo contrário, sentimos o apoio de muitos! Estamos preparados para fazer um show realmente incrível!

Recife Metal Law – Recentemente Arthur Lira, que já passou por diversas bandas aqui de Pernambuco, tais como Caos Sphere, True Violence, Preatcher, Cangaço, Pandemmy e atualmente é o baterista do Elizabethan Walpurga, foi adicionado a formação do Evocati. Como vem sendo a adaptação de Arthur à banda?
Evocati –
Arthur é um grande amigo de longas datas e um cara muito importante para a cena do Metal pernambucano. Apesar de ter tido mais experiências em bandas com o som mais extremo, ele também gosta do nosso bom e velho Heavy Metal, e vem se adaptando muito bem! No primeiro ensaio já tocou o repertório inteiro! É um músico extraordinário, e só veio a somar ainda mais com o som da Evocati.

Site: www.facebook.com/evocatiofficial