Ratos de Porão: já à venda novo álbum




 
Em outubro de 2021 o Ratos de Porão comemorava exatos 40 anos enquanto gravava o um novo álbum, seu primeiro desde 2014. Neste meio tempo o Brasil passou por um processo de degradação política e social como não se via há décadas.
 
Se por um lado o país nunca esteve perto de resolver seus problemas estruturais, estes últimos anos trouxeram de volta a fome, a inflação, as ameaças de rompimento com a democracia e, como se não bastasse, uma pandemia. O resultado de tudo isso foi “Necropolítica”, um álbum conceitual sobre a era Bolsonarista e a ascensão da extrema direita no país. A parte musical por sua vez traz uma revisitação do período Crossover da banda no final da década de 1980, época igualmente marcada pela crise e desilusão.
 
Em mais de 40 anos de carreira, os Ratos conseguiram manter sua essência durante diversas fases. Só na década de 80, passaram pelo Hardcore reto de influência americana da coletânea “SUB”, o d-beat nórdico-paulistano de “Crucificados Pelo Sistema” e o Metalpunk sombrio de “Descanse em Paz” até chegarem na fórmula que para muita gente definiu mais do que todas a identidade da banda.
 
Trata-se da trilogia Crossover, “Cada Dia Mais Sujo e Agressivo” (1987), “Brasil” (1989) e “Anarkophobia” (1990). Foi quando o Ratos de Porão viveu sua fase de atividade mais intensa e desenvolveu a receita mágica misturando precisão Thrash Metal, entrega Hardcore e letras relatando a realidade nacional em tom hora satírico, hora jornalístico.
 
Dos anos 90 em diante a banda não parou de evoluir. Seguiu se reinventando a absorvendo novas influências a cada novo trabalho, mas o espírito da trilogia sempre se manteve como a fundação sobre a qual as novas ideias eram construídas.
 
E eis que agora esta fase gloriosa é revisita e atualizada no que talvez seja o álbum mais emblematicamente Ratos de Porão desde o “Anarkophobia”. E não há momento mais propício para isto.
 
No final da década de 80 o Brasil vendia o sonho da redemocratização mas entregava miséria, hiperinflação e violência, além de uma epidemia de HIV. Já na última década, a história se repetiu em tragédia e a bonança dos anos 2000 deu lugar a um pout-pourri distópico que trouxe volta a fome e a inflação dos anos 80 alinhada à demagogia autoritária da ditadura e, de gorjeta, a pandemia de COVID.
 
Assim como o Punk brasileiro foi filho da repressão do regime militar e o Hardcore nos EUA e Reino Unido são resultado das mazelas da era Reagan/Thatcher, o Brasil bolsonarista fertilizou o terreno para “Necropolítica” com o esterco repressivo produzido pelo gado verde-e-amarelo.
 
O álbum poderia se chamar “Brasil parte 2”. Como no trabalho de 1989, trata-se mais uma vez de um disco conceitual sobre o país, uma ode às mazelas, à decepção e às massas que colaboram de maneira bovina com seu próprio destino de subdesenvolvimento enquanto assistem a decomposição social diante de seus olhos.
 
A maioria das bandas que duram décadas se contenta em viver das glórias do passado ou, pior, tentar se adequar às tendências do momento. Os Ratos de Porão nunca caíram nestas armadilhas e sempre souberam usar o próprio legado para criar coisas novas. Assim, “Necropolítica” não é um álbum nostálgico ou retrô. É a reciclagem de um espírito que de repente volta a fazer sentido.
 
A produção do disco ficou por conta da própria banda no estúdio Family Mob em São Paulo, durante outubro de 2021. A mixagem foi feita em janeiro de 2022 por Fernando Sanches no estúdio El Rocha.

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Fonte: Ratos de Porão/Shinigami Records