Ibaraki: já à venda álbum de estreia




 
Nos anais do Metal moderno há poucas histórias mais ilustres ou celebradas da que a história da banda Trivium que começou há mais de 20 como um grupo de jovens desajustados da Flórida sonhando com as luzes do palco. Desde aqueles inebriantes anos, a reputação da banda vem crescendo graças às suas implacáveis turnês e aos constantes e marcantes lançamentos que lhes renderam uma legião de fãs ao redor do mundo. Assim como o Trivium vem forjando incansavelmente sua carreira, também aqueles incessantes golpes de cinzel moldaram Matt Heafy que, a cada ano que passa, toma forma como artista, compositor e uma das vozes mais atraentes do Metal.
 
Dado o estreito entrelaçamento das histórias de Matt e Trivium, você pode pensar que os dois seriam inseparáveis, mas o Ibaraki é a prova absoluta que não é assim. O Ibaraki, que é o nome de um terrível demônio japonês tirado de uma lenda feudal, é mais que um projeto solo. Como Matt bem explica, ele é o resultado final de uma jornada para encontrar sua voz. É pessoal, é profundo e suas inspirações são diversas: desde uma adoração pelos extremos do Black Metal, passando pela narrativa exuberante de Gerard Way (vocalista e cofundador do My Chemical Romance), ao mundanismo aventureiro do trágico bon vivant Anthony Bourdain. O Ibaraki é um reflexo de seus interesses multifacetados, bem como uma profunda afirmação de sua identidade nipo-americana e que o levou a enfrentar um dos momentos mais trágicos de sua família. Há muita história por trás do Ibaraki e tudo começou com um tímido e-mail para uma das figuras mais reverenciadas e influentes dentro do Black Metal.
 
“O Black Metal sempre foi algo grande para mim. Antes do Trivium eu estava em uma banda chamada Mindscar e fui atraído para aquele mundo, para a tradição de tudo, de onde veio: culturas pagãs, os velhos deuses. Eu amei. Mas nós nos separamos, o Trivium aconteceu e avançamos para, talvez, 2009 e eu disse ‘que se foda, quero fazer um projeto Black Metal’. Mas eu sabia que os headbangers pensariam: ‘Matt é comercial, não sabe de nada, ele não tem permissão para fazer parte’. Então pensei em fazer isso sob um pseudônimo e compus algum material e mandei para Darren Toms do Candlelight Records que já tinha me visto em algumas revistas usando camisetas do Emperor. Eu perguntei: ‘Ei, o que você acha? Você se importaria de enviar isto para Ihsahn?’. Ele era um dos meus heróis e não o conhecia pessoalmente. Então recebo este e-mail de Ihsahn e não me lembro exatamente o que dizia, mas ele disse ‘bom trabalho’. Foi muito legal receber aquele aceno e me inspirou a começar a ouvir seu material solo. Ele tinha acabado de lançar seu álbum solo e eu nunca tinha ouvido nada parecido: saxofones, canto limpo, acordes de jazz. Foi algo incrível para mim. Ele é um compositor que não para. Então comecei a escrever de uma maneira diferente”.
 
Foi o trabalho solo de Ihsahn que inspiraria o Matt para gradualmente construir o que acabaria por se tornar o Ibaraki. E também foi o início de uma amizade e uma parceria criativa que eventualmente obrigaria Ihsahn a assumir um novo papel: de produtor do projeto. Embora grande parte do material para um disco do Ibaraki tenha sido criado ao longo desses anos, foi só com a parada obrigatória, devido à pandemia, que a ideia pode finalmente florescer. “Nós só tivemos demos cruas por muito tempo porque somos pessoas muito ocupadas, mas de repente tudo foi cancelado e tivemos tempo em nossas mãos pela primeira vez, então foi como ‘Ok, vamos trabalhar nisso’”, diz Ihsahn. “Nunca chegamos a trabalhar na mesma sala, ele gravava as guitarras e as enviava para mim, eu as passava pelo meu estúdio e as enviava de volta. Era uma nova maneira de trabalhar, mas era como se ele estivesse do outro lado do vidro. Matt é um fã de música muito positivo, energético e apaixonado, temos atitudes muito semelhantes em relação à música e somos mentes abertas. [...] Ele tem uma vasta gama de influências musicais. Nós conversamos sobre isso e era muito óbvio para mim que ele poderia estender seus talentos para uma gama ainda mais ampla. Em todos os gêneros extremos, sempre há uma estrutura estereotipada muito pequena do que você deve fazer”.
 
Mas o Ibaraki era mais do que apenas uma expressão da profunda ressonância criativa de Matt e Ihsahn. Ele conseguiu viver com uma pequena ajuda de alguns amigos, também. Embora composta principalmente por Matt, Ihsahn foi o engenheiro de som e produtor e contribui com algumas estruturas musicais e também contribuíram em várias faixas Alex Bent, Paolo Gregoletto e Corey Beaulieu; baterista, baixista e guitarrista do Trivium, respectivamente. A esposa de Ihsahn, Heidi, até sampleou alguns sons naturais da floresta perto de sua casa e sua família inteira e Gerard Way contribuíram como vocalistas convidados na música ‘Ronin’. “Nós temos também o Nergal [do Behemoth] como vocalista convidado em ‘Akumu’, o que foi incrível”, diz Matt.
 
Mas não era apenas a perspectiva de Matt sobre a música que estava prestes a mudar. Assim como Ihsahn encorajou Matt a romper com as convenções musicais limitantes do gênero, ele também o motivou a buscar novos caminhos para sua inspiração lírica.
 
“Estávamos no Facetime e mencionei que gostaria de ser escandinavo. Eu estava tipo ‘eu gosto da tradição, eu poderia escrever sobre historias norueguesas, escandinavas’. Mas Ihsahn estava tipo ‘isso já foi feito, você deve realmente canalizar o que você tem, olhar para sua própria cultura e entrar de cabeça nisso’ e foi como ‘oh, sim, eu sou japonês!’ Então eu deveria estar escrevendo sobre essa vasta e incrível variedade de histórias que eu já tatuei no meu corpo. Quero dizer, cada tatuagem que tenho é uma história japonesa antiga específica de deuses, deusas e monstros do Xintoísmo que minha mãe me ensinou. Por mais que eu quisesse ser um norueguês em uma banda de Black Metal cantando sobre Thor, o que eu deveria estar fazendo estava bem diante dos meus olhos. Era eu. Isso mudou tudo e eu comecei a vomitar essas letras”, diz Matt.
 
Mais do que um álbum simplesmente inspirado na mitologia e folclore japonês, para Matt, “Rashomon” do Ibaraki é, como tantas coisas da terra do Sol Nascente, um álbum que existe em dois níveis: o imaginário e o literal. As camadas de significado também são abundantes, assim como os demônios reais e imaginários. “No Japão existe essa coisa de karoshi, assalariados que trabalham até a morte. Eu não falo muito sobre isso, mas meu tio Kiichi se matou. O nome dele é meu nome do meio. Ele era um policial no Japão, ele tinha uma família. Lembro-me de chegar em casa e encontrar minha mãe soluçando. Suponho que ele perdeu o emprego. Eu tentei descobrir por que isso acontecia e isso me fez querer investigar isso. O Japão tem uma alta taxa de suicídio, então na superfície parece que está tudo bem, mas não está. Comecei a conversar com minha mãe sobre isso e reconheci a mesma pressão e ansiedade que coloco em mim mesmo. As pessoas pensam que uma carreira musical é esse país das maravilhas, mas realmente não é. Eu realmente queria explorar isso neste álbum também”.
 
Portanto, o Ibaraki, e consequentemente o “Rashomon”, forneceria a Matt o catalisador para contemplar sua própria identidade e considerar como as recentes tragédias nos Estados Unidos destacaram a necessidade de uma melhor representação no Metal. O aumento da violência e do fanatismo anti-asiáticos era algo que Matt queria enfrentar. “A violência nos Estados Unidos contra os asiáticos, os assassinatos de asiáticos por causa da mesquinhez das pessoas, podemos ver o que está acontecendo. É como se eu nunca me sentisse asiático o suficiente porque sou metade e nunca me senti branco o suficiente porque sou metade, mas sinto que é importante falar sobre isso agora. Tudo tem uma cultura rica, incrível e linda por trás: cada civilização, cada cultura, cada estilo de vida. Então eu espero que isso possa fazer com que os headbangers asiáticos ou os fãs asiáticos da música em geral se sintam um pouco mais representados. É ótimo poder dizer: ‘isto é de onde eu sou’ e ‘este é quem eu sou’”.
 
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Um lançamento da parceria Shinigami Records/Nuclear Blast Records.
 
Fonte: Shinigami Records