INSECTICIDA
Timbaúba sempre foi prolífica em bandas, desde os tempos da Morte Clínica, lá no final do anos 80. Os anos passaram e o pessoal daquela cidade continuaram a fazer um som. A mais nova banda a surgir é o Insecticida, que mesmo com pouco tempo de formada, já conseguiu um bom respaldo no meio Underground, após o lançamento do videoclipe para “Thrash Metal da Gota Serena”. Após veio a Demo “Deu a Mulesta dos Cachorro”, um material simples, mas direto, que lembra bastante a forma de apresentar uma banda como nos anos 80. E a banda mostra que tudo em seu entorno vem acontecendo de forma rápida. Depois da Demo, vários shows, música nova, mudança na formação... A seguir o vocalista Juan “Mosh” Apolinário nos fala um pouco mais sobre o Insecticida (completam a banda, atualmente, Jay Mayara – baixo, Geovane Silva – bateria, e Jozias Rodrigues e Victor Luna, guitarras).
Recife Metal Law – Qual a razão para a inserção da letra “c” na palavra Inseticida? O que de fato significa a palavra Insecticida, tanto como nome, assim como banda?
Juan Apolinário – O ‘c’ na palavra Insecticida foi colocado de início para diferenciar a banda. Além disso, a palavra é de fácil entendimento no inglês (insecticide) e a grafia é a mesma do espanhol. A ideia foi inspirada no Angra, que escolheu o nome, segundo rumores, por parecer com a palavra angry. Já a escolha simbólica do nome é muito simples, inseticidas servem para exterminar pragas. A banda tem uma pegada política e social misturado ao nosso humor, e a sociedade está infestada de pragas sociais. Como banda, somos mais uma que não se conforma com essas pragas e usa as armas disponíveis para combatê-las, no nosso caso é o humor, o sarcasmo e o Thrash Metal.
Recife Metal Law – A banda é bastante jovem, porém vem tendo um bom respaldo no meio Underground, já que o seu clipe – lançado mesmo antes da primeira Demo – teve uma grande repercussão, em se tratando de uma banda iniciante. Na prática, o que essa visibilidade vem gerando para o Insecticida?
Juan – Foi uma enorme surpresa para nós quando o clipe tomou essa repercussão. Perto de bandas comerciais o alcance pode parecer pouco, mas nós valorizamos cada visualização. As páginas oficiais do Ratos de Porão e do Violator compartilharam o clipe e isso rendeu mais alcance ainda. Na prática isso tem gerado convites para shows e uma visibilidade nas redes sociais que não esperávamos. Acreditamos que a repercussão pode nos ajudar também a conseguir um bom selo para lançar nosso full-lenght, mas isso ainda é apenas uma esperança que torcemos para se tornar realidade.
Recife Metal Law – A Demo “Deu a Mulesta dos Cachorro” é bem curta, com apenas 11 minutos de duração e trazendo cinco músicas. Isso me remeteu aos primórdios, quando bandas lançavam Demos com poucas músicas. Mas isso, há muitos anos, se dava em razão dos poucos recursos e um estúdio de qualidade. Sendo assim, como vocês imaginavam esse primeiro trabalho e de que forma ele foi trabalhado?
Juan – A ideia era exatamente remeter aos trabalhos de antigamente. Como todos curtem bandas que começaram no século passado, todos sabem do modo que essas bandas iniciaram sua trajetória. Gravavam uma Demo para mostrar o trabalho e só depois de divulgar o som para muita gente que embarcavam na aventura do primeiro disco, tudo com muita dificuldade. Hoje em dia quase ninguém grava Demo, as bandas já lançam EP ou full lenght. Nós queremos ter a sensação de passar por cada etapa e aproveitar cada uma delas. Além disso, todos os integrantes trabalham e/ou estudam e por isso o tempo é escasso. Preferimos trabalhar bem em poucas músicas a gravar muitas com menos afinco. Devo confessar apenas que gostaríamos de fazer essa Demo de forma mais crua e suja, mas esse desejo certamente se realizará no nosso ‘debut’.
Recife Metal Law – Com relação ao título da Demo, ele serve para ligar o título à banda, ao seu município ou fugir dos estereótipos?
Juan – O título foi muito espontâneo. Tínhamos uma “Intro” instrumental e precisávamos de um título; sugeri esse título e todo mundo gostou. Por se tratar de uma música “Intro”, a Demo ganhou esse título. A expressão regional representa bem o que queremos passar com nosso som.
Recife Metal Law – A sonoridade da banda é tipicamente Thrash Metal, mas o vocal de Juan é muito limpo para o estilo, porém se encaixa com o som que vocês fazem. Como conseguiram isso?
Juan – É tudo bem espontâneo. Vamos juntando tudo e o resultado é um som que, considerando bom ou ruim, é o som do Insecticida. Não é muito comum ter bandas de Thrash com vocal limpo e isso é muito bom, pois a última coisa que buscamos ser é uma banda comum e normal. No entanto, estamos abertos às críticas. Vamos levar em conta cada uma delas, somos gratos ao público que nos trouxe até aqui; o consideramos parte da banda e cada sugestão é recebida com carinho.
Recife Metal Law – As letras das músicas trazem um pouco de humor, sarcasmo, literatura de cordel, e até mesmo histórias fictícias. Quem é o responsável por escrever as letras do Insecticida e quais são as principais influências na hora de fazer as letras?
Juan – Quem escreve as letras sou eu. Basicamente tem duas influências: a primeira vem de bandas de Thrash dos anos 80, os temas apocalípticos dessas bandas estão bem presentes nas letras. Como você bem sabe, às vezes esses temas aparecem como crítica social e outras como fantasia. A outra influência vem do povo da nossa cidade, que na verdade é só outra forma de reflexão crítica e fantasia. Eu junto tudo e sai essas letras. Nosso povo é um povo perseverante e alegre, que não suporta injustiças, então casa tudo perfeitamente. Pra mim, a junção dos temas Thrash com os temas regionais são bem óbvios e me admira existirem poucas bandas que fazem essa junção.
Recife Metal Law – A Demo, até por ser bem curta, é bastante empolgante, mas músicas como “100 Megatons de Bomba-Cordão” e “Ataque Zumbi no Sertão” me chamaram mais a atenção. Mesmo tendo poucas músicas e apenas uma Demo, nos shows realizados pelo Insecticida, quais músicas estão tendo maior ‘feedback’?
Juan – Essas músicas são bem recebidas, mas as que agitam mais são as mais rápidas. “Thrash Metal da Gota Serena” é a que mais agita, é onde vejo público cantar o refrão e é uma experiência sem igual. “Bomba Nuclear” também é uma canção que agita, quase sempre dá pra fazer um ‘wall of death’. “Manifesto Satanista” é outra música que agita bastante. Essas são as três que mais sai faísca. (risos)
Recife Metal Law – A arte da capa é bem caprichada e a Demo foi apresentada em diversas cores, como um cordel. Por que divulgar a Demo como se fosse uma literatura de cordel, em se falando da arte gráfica?
Juan – A ideia foi do guitarrista Victor Luna, acatamos de bate-pronto. É uma homenagem a essa arte foda da nossa região. Quem conhece a literatura de cordel sabe o espetáculo de arte que é. Então é uma honra poder lançar as Demos nesse formato.
Recife Metal Law – Ainda sobre a arte, layout, o encarte é simples, em formato envelope, mas com poucas informações. Não seria interessante, ao menos, colocar foto dos integrantes e formação da banda no encarte?
Juan – Sim, só faltou verba para isso. Esperamos poder fazer um encarte muito completo no full lenght. Queremos fazer uma arte impecável, com um visual diferenciado. Ainda não tem nada definido, mas podem esperar algo atípico com certeza.
Recife Metal Law – Voltando a falar sobre o clipe, a música escolhida foi “Thrash Metal da Gota Serena”, com imagens da banda na zona rural de seu município. De que forma vocês trabalharam a concepção do clipe?
Juan – Como era uma música que pegou no gosto da galera da cidade, não foi difícil a escolha. O cenário e elementos foram bem fáceis de escolher. No entanto, nós ficamos na dúvida sobre os animais, o mosh pit e outros elementos cômicos. Não queríamos ser um novo Massacration. Mas percebemos que o humor é parte da nossa cultura e dá pra falar de coisa séria usando o humor. Nossa paixão pelo Thrash Metal e pelo Nordeste é muito sério, mas não precisa fazer cara de mal pra fazer um clipe que retrate isso. A direção ficou ao meu cargo e do produtor do vídeo Nenzo. A gente passou a vida assistindo clipes de Thrash Metal, então o que fazer na hora de gravar foi fácil. Como tudo que a gente faz, foi bem espontâneo. Existem coisas na vida que necessitam de muito planejamento, a parte sonora e visual do Insecticida não é uma delas. (risos)
Recife Metal Law – Timbaúba, de Daimoth, Insano, Pagan Spirits, eventos Underground... O que é o Insecticida nesse meio?
Juan – Nesse meio somos mais uma peça da máquina. As bandas que você cita são exemplos para ao Insecticida, até em questão de alcance. O Insano já apareceu na TV, o Daimoth e Pagan Spirits já abriram pra gigantes europeus e tudo isso nos inspirou a tentar ter a mesma visibilidade que eles. Além de ter bandas novas como o Corpus que sobrevivem em meio as dificuldades de ser uma banda iniciante. Tudo isso nos inspira, porque cada conquista dessas bandas é combustível para manter a cena viva. Mais do que entretenimento, somos resistência e estilo de vida. Timbaúba é uma das cenas que mais admiro por ter uma união que não se vê em outras localidades, então ser parte disso é muito importante e onde quer que cheguemos vamos levar o nome da nossa cidade junto. Sem os frutos do que os outros antes de nós plantaram, nós nem existiríamos.
Recife Metal Law – A banda já vem trabalhando em novas músicas, inclusive uma delas já vem sendo tocada ao vivo. A linha, tanto lírica como musical, seguirá o que foi feito no trabalho de estreia?
Juan – Sim, nossa pegada lírica segue focando no nordeste. O tanto de coisas que temos para falar de nossa cultura é muito grande para pensarmos em falar de outra coisa agora. Só que isso inclui questões sociais, mas de uma visão regional. Já na parte sonora podem ocorrer variações, o nosso objetivo é retroceder em questão de limpeza do som. Queremos soar cada vez mais ‘old school’, que é o estilo que gostamos. O disco que estamos trabalhando vai ter uma pegada muito mais crua, tanto na gravação quanto na sonoridade. O que não significa que vai ser menos caprichado. Jozias e Victor são guitarristas técnicos e certamente vão colocar tudo isso no disco. Quem curtiu o som da banda até agora não vai se decepcionar com o que vem no disco cheio.
Recife Metal Law – Clipe, a Demo, shows, aceitação e baixa na formação. Isso é intensidade! Como vocês analisam tudo isso para o crescimento da banda?
Juan – Nós enfrentamos tudo que vemos as bandas que admiramos enfrentar: brigas, mudanças de formação, dificuldade de ensaio e gravação. No entanto, mantivemos a ideia firme até agora. Fechamos uma formação sólida e comprometida. Temos o sonho de qualquer banda de tocar em grandes festivais e levar nossa mensagem mundo a fora. Mas o que fazemos é o que nos realiza. Acredito que todos estão com a cabeça no presente e as dificuldades ajudam a nós situar e saber onde estamos para sabermos onde podemos chegar. Ao mesmo tempo em que temos dificuldades, tivemos shows de casa lotada e boas citações pelo Brasil. Existir é resistir e resistir sempre foi o objetivo maior. Estamos alcançando nosso objetivo a cada dia que a banda está na ativa.
Site: www.facebook.com/pg/insecticidathrashmetal
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação