FUNERATUS
Após quase uma década sem lançar material inédito, em 2018 a banda de Death Metal Funeratus apresentou o arrebatador “Accept the Death”, considerado, de forma mais que justa, um dos melhores lançamentos do ano passado. Mesmo com um novo disco lançado e sendo considerado um dos melhores lançamentos nacionais, o Funeratus teve que passar por troca de integrantes em sua formação com a saída do baterista Gustavo Reis, após 17 anos na banda. Sobre a troca de bateristas, período que a banda passou sem lançar material inédito, entre outros tópicos, poderemos conferir na presente entrevista, respondida pelo guitarrista André Nálio. A banda é complementada, atualmente, por Fernando (baixo/vocal) e Bruno Pereira (bateria).
Recife Metal Law - Nove anos separam o último lançamento da banda, o EP “Vision From Hell”, do novo álbum de estúdio, “Accept the Death”. Como foi o período de trabalho do Funeratus nesse ínterim?
André Nálio - Foi um período de muito trabalho, estudo, aprendizado, superação, determinação, pois estávamos fazendo um experimento com afinações, formas de gravações, mudamos totalmente a fórmula que fizemos todos os trabalhos até esse momento; trabalhamos com outros estúdios e outros produtores até conseguir definir como realmente faríamos as gravações do “Accept the Death”. Tivemos vários percalços nesse tempo, eu tive um acidente e quebrei os dois braços; o Gustavo teve trombose e, mesmo assim, conseguimos, reaprendemos e superamos. Levantamos dinheiro com shows e venda de merchandising para gravar exatamente como queríamos e deu tudo certo no final. Apesar do tempo ter sido muito maior do que esperávamos, posso dizer que não foi nada fácil!
Recife Metal Law - Eu mencionei o EP, e das três músicas contidas nele, duas estão nesse novo álbum. A banda achou que essas músicas mereciam uma releitura ou foram usadas tão somente para complementar o ‘track list’?
André - Primeiramente gostaria que você entendesse que o “Vision From Hell” foi um experimento. Estávamos em busca de uma afinação diferenciada, pois não nos agradava a afinação que estávamos usando. Queríamos soar mais pesado, mais Death Metal, como Morbid Angel, Behemoth, etc., e estávamos tentando gravar com nossos próprios recursos, pois não tínhamos dinheiro nem apoio. Então buscamos um grande músico amigo dos nossos primórdios que tem um estúdio aqui na nossa cidade, fizemos tudo do nosso jeito somente para encontrar um caminho para seguir com a construção do disco “Accept the Death”. Essas três músicas eram as primeiras composições para o novo disco. Depois de pronto nosso experimento, a Blood Harvest se interessou em lançar esse nosso trabalho em vinil e somente por isso existe o EP “Vision from Hell”. Se não fosse por isso esse trabalho só existiria para nossa análise de como deveríamos seguir com a construção do disco.
Recife Metal Law - E por que deixar “Attack” de fora?
André - Essa foi a única exigência da Blood Harvest. Eles pediram que deixássemos uma música exclusiva para o EP, então decidimos deixar “Attack” fora do “Accept the Death”, pois concordamos com eles que deixaríamos uma música inédita para o “Vision from Hell”. Então se alguém quiser conhecer essa música só vai encontrar no EP. Ela tem a produção original que fizemos como rascunho e não tem uma produção bem acabada como as outras tiveram no “Accept the Death”, mas não deixa de ser uma música forte e com nosso DNA.
Recife Metal Law - O novo álbum, lançado em 2018, foi escolhido como um dos melhores do ano e vem sendo, ainda, bastante citado pela mídia especializada. O que vocês pretendiam com esse álbum foi alcançado, em termos de aceitação, tanto da mídia especializada como do público?
André - Quando iniciamos as composições desse disco já estávamos em uma afinação bem mais baixa e com elementos diferentes dos que costumávamos usar nos trabalhos anteriores. Estávamos buscando por uma satisfação pessoal com essas mudanças e tínhamos receio do disco não ser bem aceito, pois são composições um pouco ousadas para nosso estilo, mas estávamos decididos em arcar com as consequências, estávamos curtindo demais o disco. Essa aceitação foi melhor do que esperávamos e teve uma importância muito grande para nós, como músicos, porque nos mostrou que todo o trabalho e toda atenção que demos para os detalhes desse disco foram válidas. Fez-nos acreditar mais em nosso potencial e em nossa forma pessoal de compor e produzir um disco.
Recife Metal Law - A faixa-título recebeu um videoclipe. A razão para se escolher essa música foi por ser mesmo a faixa-título; ser uma música que define bem a temática lírica e o estilo musical do Funeratus, ou houve outro motivo?
André - Exatamente! A temática da banda, a força da mensagem que quisemos passar, a importância dessa música para o disco, os arranjos, tudo caiu perfeitamente para o Funeratus escolher essa música para nosso primeiro clipe oficial.
Recife Metal Law - Elaborando a pergunta anterior, eu cogitei em dizer que a música do videoclipe é uma das melhores do disco, só que lembrei de “Asphalt Eaters”, com as insanas linhas iniciais de baixo, assim como de “Follow the Track” e “Victory”... Isso para citar três músicas (ou quatro, contando a faixa-título). Mas, sendo bem sincero, esse novo disco é uma verdadeira aula de Death Metal, em minha opinião. Porém, para os integrantes, quais músicas definem o que é o novo disco?
André - Obrigado pelas palavras! Realmente é um disco diferenciado, pois segue um caminho contrário dos que vejo as bandas de Death Metal da atualidade seguindo. Nossas raízes estão latentes sem desvios, somos muito fiéis ao Death Metal, jamais deixaríamos qualquer elemento que não soasse Metal entrar nesse disco. Tudo começou quando decidimos buscar uma nova afinação e reaprendemos a tocar dessa forma. Nesse momento todas as composições definiram o que seria o novo disco. Na realidade esse disco define a evolução e a divisão da nossa carreira.
Recife Metal Law - A arte da capa, de certa forma, se conecta ao nome da banda e, claro, ao título do álbum. As cores usadas causam um belo impacto visual. Essa arte ficou a cargo do competente artista Alcides Burn. Ele ficou livre para criar ou a banda já tinha uma ideia prévia do que queria, em termos visuais, para a arte da capa?
André - A única coisa que pensamos para a arte do disco foi quem seria o profissional escolhido para essa missão, nada mais. Enviamos a música título do disco para ele e então ele mandou essa arte! (risos) Não tivemos nenhuma dúvida, só dissemos: fechado! (risos)
Recife Metal Law - O novo disco foi gravado no Sete Studio e Joca Miquinioti Studio, e teve produção da própria banda, porém a mixagem e masterização foi feita na Alemanha, no Stage One Studio, por ninguém menos que o lendário produtor Andy Classen (Asphyx, Tankard, Krisiun, Belphegor, Destruction, Rotting Christ). Trabalhar com Andy Classen foi primordial para que “Accept the Death” tivesse um som tão orgânico, atual, porém sem macular as raízes do Funeratus?
André - Sim, analisamos com muita calma quem seria o profissional para a mixagem e master do novo disco e depois de ouvir muitos discos de Death Metal percebemos que o som que buscávamos era exatamente o que o Andy Classen vem fazendo, com peso, agressividade no ponto certo e sempre mantendo essa característica orgânica nos trabalhos dele. Não seria nada legal ouvir o Funeratus soando moderninho… (risos)
Recife Metal Law - Apesar do título do novo disco e o estilo praticado pela banda, “Accept the Death” não é um disco que traz como temática lírica tudo relacionado à morte. Vide “Asphalt Eaters”, “Rise and Fall Again”, “Indian Healing”... Não se prender ao “tema morte” tem por finalidade diferenciar, liricamente, o Funeratus de outras bandas do estilo?
André - O Death Metal é um estilo muito rico, não seria justo falar somente de morte. Claro que tudo gira em torno desse tema. O Metal sempre valorizou a vida falando da morte, lutando pelos ideais, se opondo ao cristianismo e a manipulação religiosa, valorizando a irmandade do Metal, respeito, força de espírito, honra, liberdade... Nenhuma letra desse disco foge a temática do Metal. Até mesmo em “Asphalt Eaters” nós buscamos nossas raízes no Rock and Roll do Motörhead falando em viver na estrada; em “Rise and Fall Again” falamos em batalhas que nunca se acabam e as guerras que existem desde a pré-história até hoje; “Indian Healing são nossas raízes indígenas que vêm sendo massacradas por toda história; “Lost Souls” retrata o submundo cada vez mais presente no meio urbano; “Victory” é sobre a derrota dos nossos inimigos; “Follow the Track” abraça o tema da irmandade e união entre os guerreiros; “Vision from Hell” é a própria visão do inferno. E até mesmo a instrumental deixa bem claro que estamos em uma batalha a cada dia que só vai terminar com a nossa morte!
Recife Metal Law - Mesmo com um ótimo disco lançado e com todos os elogios que ele vem rendendo, a banda teve uma baixa em sua formação. O baterista Gustavo “Guru” Reis, depois de 17 anos, deixou a banda. A banda, em nota, explicou os motivos de sua saída e, como de praxe, foi o de o músico não poder conciliar o seu tempo com o da banda. Houve algo, além disso?
André - A vida no Metal é uma luta constante e devemos ter consciência disso. Muitos se cansam de lutar e não ter o retorno que esperam. Acho que esse foi um dos pontos. Penso que o Gustavo se cansou e decidiu se empenhar na sua carreira profissional de vendas, pois com a banda não conseguimos pagar todas nossas contas. Isso acontece conosco também e ainda acredito que um dia conseguiremos viver somente da música. Vamos continuar lutando para melhorar a cada dia.
Recife Metal Law - O novo baterista se chama Bruno Pereira e já vem fazendo shows com o Funeratus. Mesmo que Bruno já tenha trabalhado com a banda, como músico de estúdio, no início dos anos 2000, como está sendo trabalhar com essa mudança nas baquetas?
André - Devo admitir que não está sendo fácil para nenhum de nós. Estávamos acostumados e super entrosados com o Gustavo tocando há 17 anos conosco. Agora precisamos nos acostumar com o Bruno que tem um estilo diferente. Ele é mais direto e brutal. O Bruno esteve parado por muitos anos e está voltando agora, recuperando seu condicionamento aos poucos. Na realidade ele caiu numa fogueira! (risos) Voltou a tocar achando que teria tempo para se adaptar com tranquilidade, mas não teve tempo nem para ensaiarmos direito! Já estamos com a agenda lotada. Ele está pegando o ritmo na marra, tirando as músicas em cima do palco, praticamente.
Recife Metal Law - Falando sobre shows, após 10 anos a banda tocará em terras pernambucanas. Quais as principais lembranças que vocês têm da última passagem da banda por Pernambuco e o que se esperar desse novo show do Funeratus por aqui?
André - Cara, as lembranças são as melhores. Temos muitos amigos e estamos com saudades. Bandas irmãs como o Decomposedo God, Recidivus, que temos contatos há quase 20 anos. Lembro-me muito bem do último show no Armazém 14 feito pelo João da Blackout, das comidas e até mesmo das praias que precisamos fugir dos tubarões. (risos) Espero que seja algo parecido. O público de Recife é fudido! 100% Metal e com certeza estará batendo cabeça e quebrando tudo! See you Brothers!
Site: www.facebook.com/funeratusdeath
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Leandro Cherutti