IMPERFECT SOULS
Imperfect Souls é uma banda oriunda de Muzambinho, sul de Minas Gerais, que começou sua trajetória no Underground em 2005 sempre com o lema de Metal de banger para banger, e aos poucos, ao longo dos anos, vem firmando seu nome no Underground. Confira a entrevista feita com o mentor da banda, Lucas Dias, acerca da trajetória da banda e o recém-lançado segundo álbum, intitulado “Corpo Seco”.
Recife Metal Law - Obrigado Lucas, pela confiança e amizade de sempre! Para começarmos, há algum motivo para que o segundo álbum, “Corpo Seco”, fosse lançado totalmente independente? Nenhum selo se manifestou interessado em distribuí-lo?
Lucas Dias - Saudações Wender e todos bangers que estão a ler esta entrevista! Bem, na verdade, houveram selos interessados, sim, porém - e nada contra nenhum deles - eu tinha em mente prazos para que o ‘play’ fosse concluído, e não batiam com os prazos dos selos. Além do que, no álbum anterior a banda conseguiu por si uma vendagem consideravelmente alta, e com isto acabamos comprando dos selos que lançaram quase 50% da tiragem, o que me deu necessidade de obter uma quantidade maior de cópias desse álbum que o anterior, e com isto, já desde o início do projeto, a ideia foi de, no mínimo, a banda fazer parte do lançamento para ter um número maior da prensagem para distribuição, seja em eventos ou particular. Após lançado, estamos tendo ajuda de alguns selos com a distribuição. São poucos ainda, mas está rodando. Hoje em dia está mesmo um pouco difícil certos acordos e negociatas. Exemplo: é difícil para uma banda, às vezes, pegar cinquenta cópias de algum álbum de outra banda numa troca e distribui-los. Porque banda não é selo. Passa o material mais em show mesmo, e com isso acaba sendo mais fácil passar seu próprio material que de outros. Deixo claro, e quem conhece de perto sabe como é, que nunca olhei ou olho para o próprio umbigo, sempre ajudei e ajudo na medida do possível; distribuir sons de outras bandas... Sempre fiz e faço trocas quando o posso fazer, - mas não tenho mais selo (o tive nos idos de 2006/2011) -, porém hoje em menor quantidade, trocando diretamente com bandas ou com selos que realmente façam e tenham a intenção recíproca de ajudar na distribuição.
Recife Metal Law - O novo álbum tem como tema principal a lenda mineira sobre o “Corpo Seco”. O novo disco chega a ser conceitual? Por que decidiram abordar sobre esse tema? Qual foi a maior inspiração para o disco e suas letras?
Lucas - Pergunta difícil... Eu particularmente nunca me ative a um tema ou seguimento para se fazer uma letra. Gosto de expressar ou tentar o que vem do íntimo, em minha mente. Não há foco com isso, só vontade. Lógico que não há de pensar que então pode se falar de qualquer merda, né? Porém todos temos ideias, pensamentos, desejos, que no mínimo são fantasiosos e é exatamente isso que gosto de representar: a loucura da mente. Isso, por si, já faz o álbum não ser conceitual. Sobre a abordagem ao “Corpo Seco”, vem de criança, ouvindo as histórias dos avós, e hoje com a mente um pouco mais reflexiva me veio dois sentidos: o primeiro por se tratar de uma lenda mineira amplamente divulgada, ouvida, mas em abordagem mais real, que se vale não cair no esquecimento das futuras gerações . E a segunda: “poxa, demônio foda! Expulso pelo céu, inferno e a própria natureza?”. Há mesmo de ser uma entidade muito maligna para tal feito, e que julga mentes pesadas. Volta sua culpa para você e pune. Poxa, para mim tá aí o cara! Que demônio da Noruega, falanges ou diabos e afins!? Temos aqui, em Minas, o ser mais maldito de todos e merece a representação!
Recife Metal Law - Em termos de sonoridade, podemos dizer que o Imperfect Souls, com o disco “Corpo Seco”, atinge a sua maturidade?
Lucas - Não! Desde sempre a ideia foi e é a mesma: som de banger para banger. Daí é difícil se falar de maturidade, porque para mim se ficar produzido demais perde a essência. Então penso que - e olha que ainda é pouco - só aprendemos a manusear um pouco mais nossos instrumentos, mas continua sem técnica ou virtuosismo. Não sei nem dizer se um dia amadureceremos nesse ponto, pois penso que, sim, há de se aprender tocar e compor melhor, mas se ficar obrigação, se virar disputa, perde a graça. O lance é fazer com a alma e sem julgo, simplesmente pelo sentimento que há. Tão isto que se analisar e comparar, no ‘play’ tem som que é - ou quase - Heavy Metal (risos), e leva o título “Odes ao Heavy Metal”. Mas não por obrigação de nada, é porque sentimos e fizemos. Então pode ser que no próximo seja mais sujo ou polido, não sei dizer... A ideia não é pensar em amadurecer, é ser sincero fazendo o que a alma sente sem pensar nos rótulos ou necessidade; ser uma banda Underground e levar a bandeira até o túmulo, tendo o nome junto a tantos outros no Underground nacional. Em resumo, ser e viver a vida de headbanger até a morte, porque não sei mesmo viver sem o som; faz parte da vida já há muitos e muitos anos! Deixo o ponto que não é obrigação e sim uma satisfação fazer parte da historia do Metal nacional!
Recife Metal Law - Como está sendo a repercussão do disco?
Lucas - Bem, até o momento muito boa. Mesmo com os contratempos e dificuldades em se promover tudo por conta, foi bem gratificante. Até o momento ter gente grande do Metal (integrantes de bandas já consagradas) nós procurando interessados em adquirir; bandas amigas ajudando a distribuir em seus shows e selos experientes interessados em ter o ‘play’ no catálogo de distribuição. Conseguimos que algumas cópias fossem distribuídas na Hungria e México, sem muitas pretensões, mas nos dá a linha que estamos fazendo o que é real. Sempre dei muito valor à bandas terem várias Demos e histórias a contar e é este o caminho seguido. Provável que haverá críticas em torno da produção, modo de gravação e tais e serão justas, já que fizemos o que estava em nosso alcance com o que tínhamos, mas o espírito é este. Melhor fazer o que consegue do que parar. Acrescentar sempre!
Recife Metal Law - Nas gravações do novo disco apenas dois integrantes. Você como guitarrista, baixista e fazendo os trabalhos nos vocais e a participação do baterista Michel Marques. Qual foi o motivo? Há alguma dificuldade de encontrar pessoas sérias a integrarem o Imperfect Souls? Essa foi a maior dificuldade para esse disco? Como se encontra a atual formação?
Lucas - Desde 2012 que estávamos nos apresentando ao vivo como duo: guitarra e batera, apenas. E, sim, é difícil achar pessoas que tocam pelo sentimento e que vivem mesmo a proposta. Então, na ideia de fazer ou morrer, resolvi puxar a responsabilidade do baixo nas gravações também, para que realmente fosse feito e não ficasse só na ideia. A dificuldade, para mim, nem há do que reclamar. É sempre grana de estúdio. Somos pobres, trabalhos normais e todos sabem os valores das gravações. Mas do modo que nos propusemos a fazer foi tranquilo; nos endividamos por uns meses, parcelamos e gravamos.(risos) Todas nossas gravações até hoje consiste no mesmo método: gravar ao vivo a guitarra base e bateria e depois colocar os demais instrumentos para que, com isso, qualquer pessoa que veja ao vivo ouça e tenha a mesma sensação do CD. É ‘felling’, depois pensamos no resto. Depois do ‘play’ pronto vi a necessidade realmente de ter um baixista. Precisava de consistência e reprodução dos solos e pequenos arranjos ao vivo. Acabamos dando sorte e conhecemos o Fabricio Moraes, que havia se mudado para nossa cidade e se encaixava na proposta e ideias da banda, além de se mostrar um ótimo músico, pegando com facilidade os sons e ideias da banda. Daí em diante seguimos como trio: Lucas Dias (guitarra/vocal), Michel Marques (bateria) e Fabricio Moraes (baixo). Formação está que já consolidada no show de lançamento do ‘play’.
Recife Metal Law - O disco anterior, intitulado “Necro Bestial”, contou com a participação de diferentes integrantes do atual disco. Qual foi o motivo?
Lucas - Na verdade, se pegar Demos e tal, os integrantes são os mesmos, já tocaram instrumentos diferentes até em outras Demos. Então é como se fosse uma banda com um tanto de gente, sempre dois ou três, porém que sempre estiveram presentes ao longo da história da banda. Durante uma época me mudei da cidade e com isso o Léo, que era baixista, passou para a bateria, porque eu morava na cidade dele, e o Gustavo, que já tocava com a gente desde o início, mesmo morando no estado de São Paulo, se dispôs a vir para as gravações, e assim o fizemos.
Recife Metal Law - Recentemente a Imperfect Souls fez uma tour pelo Nordeste. Conte-nos essa experiência vivida.
Lucas - Isso é a coisa mais foda que uma banda pode fazer! Não por fama, mas que fantástico encontrar com pessoas que temos contato há anos, e as cartas sociais que o digam, né? Foi de uma experiência incomensurável. Fizemos a tour toda num palio. Eu mesmo dirigindo. Foram sete mil quilômetro em três semanas, conhecendo várias partes do país que nunca havia pensado. E junto vem a cultura, a diversidade, é algo que todos que sentem mesmo na alma deveriam experimentar. Lógico, tem uns ruins pelo caminho, mas é normal, não vale a pena olhar o ruim. Tem mais positivo que negativo, com certeza. Encontrar pessoas como o Valterlir, o Adauto Dantas, pessoas que nos falamos por mais de 10 anos por cartas, é algo impagável, só o Metal proporciona isto! Sem contar as novas amizades e contatos que com certeza irão perdurar. E você tá na lista, hein? Já me deve umas cervejas e um papo pessoalmente! Uma tour é um divisor de águas. Mostra mesmo se a pessoa está ou não disposto a viver o que sempre pregou. São só dois caminhos: ou sai mais unido e coeso ou alguém sai fora da banda ou acaba, porque é doido! É loucura! Pense dirigir sete mil quilômetros para tocar!? Putz! Tem muito contratempo e talvez, para alguns, decepções pela estrada, e a fama para outros pode ser o ponto. Para gente não, fizemos a tour em dois. Então eram dois malucos por Metal indo o mais longe possível para tocar. Foi muito gratificante o resultado!
Recife Metal Law - Vocês são de Muzambinho/MG, uma cidade pequena, do interior. Existe alguma cena Metal por aí?
Lucas - Infelizmente não. Todos os eventos ocorridos aqui até hoje foram de minha organização. É realmente uma cidade pequena, em torno de 20 mil habitantes, com 10 a 15 bangers, no máximo, e mesmo assim não tão inteirados no Underground realmente. Exemplo disso é que não se consegue montar uma van aqui para um evento. Para juntar dez pessoas é um sufoco danado, para não dizer impossível. Bem, gostaria que fosse diferente e fiz minha parte para tentar fazer diferente, mas não é o cara que escolhe ser Metal, é o Metal que escolhe ele e são poucos mesmo que sentem isso de verdade.
Recife Metal Law - Lucas obrigado pela atenção! Deixe suas considerações finais.
Lucas - Wender, eu que agradeço a oportunidade e apoio de longos anos. Espero mesmo um dia ter a oportunidade da conversa pessoalmente. Agradeço a todos bangers que nos apoiam ao longo destes 15 anos de caminhada no Underground; todos que adquiriram os materiais, foram aos eventos e que, de uma forma ou outra, nos ajudaram até aqui a ter cada vez mais orgulho e força para manter a chama viva! Metal reina supremo na alma de quem vive como ser livre, sem dogmas, deuses ou religiões... Aqui temos o livre arbítrio da alma! Sem deuses, sem mestres, sem regras, sem conservadorismo. Assim o Metal reina supremo!
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E-mail: [email protected]
Entrevista por Wender Campos
Fotos: Divulgação, Valterlir Mendes