DEFORMITY BR





O Deformity BR já é uma entidade do Brutal Death Metal nacional e não só baiano (a banda é oriunda de Feira de Santana), afinal já são 25 anos de estrada, completados nesse pandêmico 2020. É verdade que a banda poderia ter mais lançamentos no currículo, porém, o que foi lançado até o momento, não decepciona nenhum fã de Brutal Death Metal. A banda tem a “manha” para fazer o estilo. O último registro de estúdio da banda foi o EP “Torturing Unfortunate People”, lançado em 2016, o qual ainda continua sendo divulgado. Mas recentemente a banda apresentou um single, intitulado “Hacked, Boiled, Dismembered, Butchered”, o qual pode ser ouvido nas plataformas digitais. Na entrevista a seguir o baterista Yuri Hamayano nos fala um pouco mais sobre o EP, 25 anos de banda, single e o que vem pela frente.

Recife Metal Law – Ativa desde 1995, a Deformity BR sempre manteve uma regularidade de lançamentos, porém o seu primeiro e único álbum foi lançado há uma década. Após ele, Split e single (retirado do tributo ao Headhunter D.C.), além do mais recente trabalho, o EP “Torturing Unfortunate People”. Apesar de ativa, os lançamentos não saem em grande número. Há uma razão para isso?
Yuri Hamayano -
Olá Valterlir! Bem observado. Inicialmente, a grande delonga em lançar materiais estava relacionada a consolidação da identidade da banda, além das dificuldades inerentes a época e circunstâncias (segunda metade dos anos 90 no interior da Bahia). Depois do primeiro álbum, a banda passou por tempos instáveis e até ficou parada por um ano. Ao retornar, em 2011, fomos tratar da divulgação do “AnthroposDeadGoreDisgustingPhagia” e encaramos a realidade da falta de músicos para tocar o trabalho (problema antigo). Mesmo assim, estávamos sempre eu, Julio (guitarra) e Lucio (vocal) presentes e ativos. Infelizmente a nossa produção musical sempre foi lenta e, por volta de 2010, Julio já não tinha mais inspiração para as composições – o próprio álbum lançado em 2010 refletia uma coletânea de toda a nossa produção de 1998 até aquele momento. Em 2011 Diego havia retornado para dar uma força à banda, tocando baixo. Somente em 2014 tive a ideia de puxá-lo para guitarra e chamar um baixista, foi quando ele passou assumir as composições – a banda, então, ganhou a cara que todos conhecem hoje. Eu sei que acabei aproveitando para fazer um rápido histórico, assim chego a conclusão de que os problemas sempre estiveram presentes, o que influenciou na velocidade com a qual produzimos. Infelizmente isso continua presente até hoje. Mas, apesar do ritmo lento, ainda temos conseguido nos manter vivos e produzindo. E o mais importante: imprimindo a nossa identidade doentia.

Recife Metal Law – Sobre o EP, ele conta com sete músicas, sendo uma “Intro”, duas ao vivo e quatro inéditas. Essas músicas inéditas foram compostas após o lançamento do ‘debut’ álbum ou se trata de alguma sobra e que foram lapidadas para o EP?
Yuri -
Retomando o histórico... Quando Diego assumiu as composições, em 2014, já existiam algumas ideias e músicas já prontas. Mas, como ele moldou uma nova direção musical para a banda (se é que posso falar assim), acabamos remodelando todo restante para que tivesse a mesma estética. Ao falar, parece que existiam dezenas de músicas. (risos) Não! Existiam “Convicted for Murder, Cannibalism and Necrophilia” e “Suffering to Death”, presentes no EP. Elas acabaram sendo remodeladas para acompanhar a estética das demais. É possível notar os novos e diferentes elementos no EP, em relação ao trabalho apresentado no “AnthroposDeadGoreDisgustingPhagia”.

Recife Metal Law – A temática lírica, como sempre foi no Deformity BR, segue uma linha de Horror e Gore, explicitamente falando sobre tortura, morte, assassinato. Quem na banda mais assiste filmes de terror? São de tais filmes que a banda continua a se inspirar na hora de compor as letras?
Yuri -
Desde o início da adolescência eu gostava muito dos filmes de suspense e terror, até que conheci “O Massacre da Serra Elétrica”, em meados de 1990. Eu nem sabia o que era Metal Pesado e o gênero cheio de sangue já me atraia. Diego também é fissurado em filmes de terror B – ele deve ter rido muito ao assistir, na TV aberta, “Fome Animal”. Começamos a Deformity BR e a temática era meio dividida. Na primeira música, “Deformity”, eu já falava de uma pessoa que sofria de certa deformidade – não lembro ao certo, pois esses registros se perderam – ou seja, o embrião da temática Splatter já estava lá, mesmo sem ter tido contato com a temática abordada por bandas como Cannibal Corpse e Carcass. Em 1998 a banda mudou a estética musical para um pegada mais brutal, aí, sim, influenciada pelo Cannibal Corpse. Foi assim que surgiram músicas como “Agony Yells” e “Bloody Banquet”. Entretanto, acho que a inspiração nunca veio dos filmes, mas da própria humanidade e sua capacidade de criar as mais horrendas brutalidades e horrores, desferidos contra a sua própria raça. A letra de “Disgrace is Coming”, por exemplo, nasceu do Massacre de Columbine.

Recife Metal Law – Ainda sobre filmes de terror, de qual filme foi retirada a faixa de introdução do EP, “Torturing For Fun”?
Yuri -
Aquilo foi um pedaço de “O Albergue”, de 2005, justamente quando aparece a primeira cena de tortura, com o jovem estadunidense preso a uma cadeira. O senhor vem de lá com uma furadeira e enfia na perna do cara! Mas o processo para a concepção do EP foi todo ao contrário. Primeiro, Diego me mostrou a imagem da sala de torturas e sugeriu como uma possibilidade para capa. Só então percebi que não tínhamos nenhuma letra abordando o tema e escrevi “Torturing Unfortunate People” para ser o carro chefe do EP, inspirada em uma técnica antiga de tortura, o cavalete. Para o toque final é que busquei uma cena de filme dentro da
temática da tortura, e assim fizemos a abertura do registro.

Recife Metal Law – Musicalmente, a banda não foge do que começou a fazer, ou seja, Brutal Death Metal sem concessões. Mesmo assim, a banda procura não se repetir, apesar de isso não ser nada fácil no estilo. Como vocês conseguem fazer isso, de não se repetir num estilo como o Brutal Death Metal?
Yuri -
Até o momento isso tem sido fácil, afinal, como já discutimos, a produção musical é baixa. (risos) Fugindo das brincadeiras, a produção musical da Deformity BR pode ser dividida em períodos, associados às figuras de quem compõe as músicas. O álbum, apesar de trazer ideias de Diego em poucas músicas, está associado ao estilo próprio de Julio, enquanto que o EP, a Diego, que traz influências musicais completamente distintas. Hoje todos da banda entendemos que a nossa identidade traz elementos específicos, como riffs não muito ‘catados’, síncopes na construção da guitarra, algumas influências Grind, partes cadenciadas avassaladoras. Mas quando outra pessoa começa a participar do processo produtivo, naturalmente outros elementos vão sendo agregados a nossa identidade. E é justamente isso que têm acontecido com a participação de Krusius nas novas músicas. Mas no momento em que essa formação se tornar longeva, tenho certeza que novas ideias virão. A não acomodação é inerente ao ser humano. Apostamos nisso!

Recife Metal Law – Assim como o som, a capa, mais uma vez num lançamento do Deformity BR, vem bem brutal. A capa do EP foi desenvolvida e modificada por Cláudio Putrid. Isso significa que ele teve em mãos um esboço da capa que a banda queria para esse registro?
Yuri -
Isso mesmo! Como eu dava pistas anteriormente, lhe passamos a imagem da capa e ele fez o trabalho gráfico em cima desse ponto de partida. Estamos nos tempos da arte digital, e como tivemos uma ótima experiência com o desenvolvimento de Alcides Burn para a capa do “AnthroposDeadGoreDisgustingPhagia”, resolvemos repetir a dose com a Putrid Design para o “Torturing Unfortunate People”. Nos próximos registros
já pensamos em mudar um pouco a fórmula e tentar capas desenvolvidas a mão.

Recife Metal Law – A parte gráfica vem praticamente completa, com muitas informações. Digo praticamente, porque, apesar de todas as informações e ilustrações, não há a informação dos músicos que compuseram o ‘line up’ da banda na época da gravação/lançamento. Por que isso ocorreu?
Yuri -
Pergunta difícil de responder... Realmente não sei o motivo. Pode ter sido um detalhe que passou despercebido ou que, dentro da disposição de todas as demais informações, aparentava não fazer falta. Para
o próximo registro essa informação estará presente!

Recife Metal Law – A gravação/produção sonora do EP vem num nível altíssimo. Tudo bem equalizado e de fácil percepção. Outra coisa que não é fácil no estilo. Como foi o processo de produção e gravação desse disco, do início até o seu fim?
Yuri -
Já tínhamos acumulado muitas experiências sobre como não proceder numa gravação. Isso já era um ponto de partida importante, apesar de ainda não termos a fórmula ideal. Para o EP a primeira coisa que nos preocupamos foi em colocar tudo no metrônomo. Para ajudar, eu programei as baterias no computador e fizemos uma pré-produção, gravando os arranjos de guitarra e voz em casa. Isso nos ajudou a vislumbrar o trabalho de outro ponto de vista. Então decidimos fazer algo que não é muito comum: gravar todas as guitarras e baixo tendo como referência a programações de bateria, para só então eu meter mão e gravar a bateria final. Acabou funcionando bem, já que estava tudo no metrônomo. Outra preocupação foi usar minha própria bateria, colocar peles novas, pensar na melhor disposição do instrumento, etc. Nos preocupamos também em utilizar um baixo que tivesse um timbre legal, diferente do que tínhamos. Para a guitarra, mesmo
tendo instrumentos, acessórios e caixas boas, acabamos não obtendo o melhor resultado, pois cometemos alguns equívocos com o timbre e a distorção. Por fim, Jera Cravo, que ficou responsável pela mixagem, conseguiu fazer milagres e usou a técnica de reamplificação para melhorar o timbre da guitarra, o que funcionou bem. Ele também soube desenvolver um timbre para a caixa da bateria que rasgou espaço dentro da música, a deixando mais agressiva. Uma gravação nesse estilo envolve milhares de mínimos detalhes e a concepção final do som é quem deve guiar todo o processo de captura. Ainda estamos nesse processo de aprendizagem, já que ainda custa muito caro trabalhar com os mestres da engenharia de som. Ficamos contentes em saber que o resultado final tem agradado os ouvintes! Temos a sorte de ter escolhido Jera, o que ajudou muito no resultado final do som.

Recife Metal Law – “Tumor” e “Agony Yells” foram as músicas escolhidas como ‘bonus tracks’ para esse lançamento. O que motivou a banda a escolher essas duas músicas como bônus?
Yuri -
Um EP sempre tem poucas músicas. Portanto, a motivação foi poder trazer novidades que pudessem agregar ao lançamento. A ideia de mostrar como estávamos executando essas duas músicas ao vivo, tempos após o seu registro. Tínhamos em mãos uma boa gravação de um show. Assim, escolhemos a duas músicas que ficaram mais bem executadas. O detalhe é que essas músicas ganharam apenas uma masterização geral, sem gravação de novas camadas de guitarra em estúdio (os famosos ‘overdubs’) ou quaisquer outros detalhes para aprimorar a qualidade da gravação original.

Recife Metal Law – O EP contou com o suporte dos selos Pictures From Hell, Sociedade dos Mortos e Rise of Cthulhu em seu lançamento. Como vem sendo essa parceria, assim como o trabalho de divulgação dos selos? O EP chegou a ser lançado ou distribuído fora do Brasil?
Yuri -
Fomos construindo a ideia da parceria durante o processo de concepção do EP. Foi uma experiência muito legal fechar o processo do lançamento com a participação desses irmãos. Infelizmente a participação dos selos foi limitada ao lançamento do material, sem nenhuma negociação adicional, ou mesmo um plano de ação para divulgação. Dessa forma, nada posso dizer sobre o trabalho deles, pois não foi algo acordado, como também, por esse motivo, eu não me preocupei em fazer o acompanhamento desse quesito. A Deformity BR montou o seu próprio plano de divulgação, mas tenho plena certeza que a ação dos selos também contribuiu nessa infecção. Também não buscamos nenhum acordo para tentar um lançamento/distribuição fora do Brasil.

Recife Metal Law – “Torturing Unfortunate People” já se aproxima de quatro anos de seu lançamento. Assim sendo, o que se esperar do Deformity BR nos próximos meses?
Yuri -
Haviam planos de lançar um single em 2020, tanto que registramos uma música no final de 2019. Mas estava tudo muito morno. Após me dar conta de que a Deformity BR completa 25 anos de estrada em agosto de 2020, minha cabeça quase explode. Isso me deu um gás alucinado para pensar uma estratégia de lançamento dessa música e sua divulgação. Afinal, em meio a pandemia tínhamos que ter uma nova estratégia de comemoração, já que não se sabe o que será de 2020 para a realização de shows. Assim, acabamos de lançar a música “Hacked, Boiled, Dismembered, Butchered” em formato de single (lançado digitalmente em 26/05/2020). A arte da capa, como planejado, foi desenvolvida a mão por Emerson Maia, enquanto o desenvolvimento gráfico ficou novamente por conta da Putrid Design. A Deformity BR também apresentou novo logotipo e está preparando o lançamento de uma versão física para o single, que sairá em agosto de 2020, trazendo, além dessa música nova, algumas surpresas em comemoração aos 25 anos. Claro, você, Valterlir, também faz parte dessa história e, mais uma vez, só temos a agradecer por todo o suporte que nos tem dado ao longo desses anos. Vida longa a nós! Vida longa ao Death Metal! Vida longa ao Metal nordestino!

Contatos:
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Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação