LACERATED AND CARBONIZED





O Lacerated And Carbonized, banda oriunda da capital carioca, está na ativa desde 2005, tendo no seu currículo uma Demo, dois singles e três álbuns de estúdio. E foi pelo violento terceiro álbum de estúdio, “Narcohell” (2016), que tive acesso ao som da banda. O impacto foi imediato! Lembro-me que quando peguei o disco, o single “Third World Slavery” veio no pacote. Porém, procurando na internet e ouvindo as coisas mais antigas, notei que a banda evoluiu dentro do próprio estilo. A mudança está aí e na parte lírica, já que antes a banda tratava de algo na linha Splatter. A formação é a mesma desde 2007 com Paulo Doc (baixo), Caio Mendonça (guitarra), Jonathan Cruz (vocal) e Victor Mendonça (bateria). E foi Victor quem respondeu as perguntas da entrevista, que fala um pouco do começo da banda, “Narcohell”, problemas sociais, problemas de saúde, planos futuros...


Recife Metal Law – O nome Lacerated and Carbonized, de logo, remete a uma banda de Splatter. Porém a linha musical feita pela banda sempre caminhou pelo Death Metal, apenas as letras, inicialmente, que tinham temáticas Splatter. Então, de onde veio a ideia para o nome da banda?
Victor Mendonça -
Tudo iniciou quando o Caio, Jonathan e Paulo tinham um projeto de Thrash Metal chamado Mourning Hall. Eles já tocavam há um tempo e a banda tinha um estilo próximo ao Thrash Metal ‘oitentista’, mas com sua própria identidade. Depois de alguns anos eles decidiram montar um projeto mais agressivo e puxado para o Death Metal e o nome surgiu repentinamente. Na época, ocorreu uma influência muito grande de bandas como Centurian, Severe Torture e Dying Fetus.

Recife Metal Law – A primeira (e única) Demo lançada, lá em idos de 2007, já dava uma ideia do que seria a sonoridade da banda. Ainda estava sendo polida, é claro, mas o Lacerated and Carbonized já tinha algo em mente para o futuro. Como foi trabalhar, esses anos, na musicalidade da banda? O que, de fato, vocês queriam apresentar ao público?
Victor -
Nossa intenção era fazer um som rápido, agressivo e sem rodeios. Conseguimos executar o que estávamos buscando, tanto no “Chainsaw Deflesher” como no “Homicidal Rapture”. Entretanto, a banda encontrou sua identidade e musicalidade no “The Core of Disruption”. Como todos participam do processo de composição e não só ouvimos Death Metal, foi possível misturar todas as ideias neste disco e transpor nossa identidade.

Recife Metal Law – Apesar de a banda ter três discos lançados, eu só tive acesso a sua sonoridade com o terceiro álbum, “Narcohell”, o qual é simplesmente uma pedrada Death Metal, do início ao fim. O que esse álbum tem de influência dos álbuns anteriores?
Victor -
Sempre vejo o “Narcohell” como uma continuação do “The Core of Disruption”, porém com uma produção melhor e uma mensagem mais simples e direta. Um dos fatores externos que nos ajudou a compor esse álbum foi a situação que não só o estado do Rio de Janeiro estava enfrentando, mas o Brasil como um todo. Estávamos bem desgastados com o descaso com a sociedade e a crise política, então colocamos isso brutalmente para fora nas musicas.

Recife Metal Law – É um álbum de Death Metal, porém é notório que a banda não se apega aos clichês do estilo, trazendo uma gama de influências, como Thrash Metal e até algo mais atual em sua música. Como vem sendo a receptividade desse disco junto aos fãs mais ortodoxos do estilo?
Victor -
Tentamos sempre colocar um ‘tempero’ diferente em nossas músicas, pois cada um na banda escuta estilos diferentes e isso acaba moldando e definindo a identidade musical própria do Lacerated and Carbonized. Na minha opinião, a arte em criar música é composta dessa filosofia. Pouquíssimas pessoas ainda comentam que éramos mais originais no “Chainsaw Deflesher” e “Homicidal Rapture”, talvez pelo fato de termos feito um som respeitando os limites da fronteira do Death Metal. Entretanto, tudo na vida evolui e ficamos mais maduros nos últimos trabalhos. De uma forma geral, a receptividade tem sido extremamente positiva com o resultado que temos apresentado nos discos posteriores.

Recife Metal Law – As músicas apresentadas têm uma pegada fulminante e algumas delas trazem mesclas entre o inglês e o português nas letras. Essas apresentam certo groove em seus andamentos. Achei bem interessante a mescla nas letras, assim como a o tipo de sonoridade apresentada. Essa sonoridade se fazia necessária justamente em razão da mescla entre o inglês e o português?
Victor -
Misturar os idiomas foi algo que começamos a fazer no “The Core of Disruption” e ficamos bem satisfeitos com o resultado, pois, querendo ou não, quando tocamos essas músicas no Brasil o público se identifica intensamente. Além do mais, ocorre certa curiosidade do público de fora em procurar saber o significado do que estamos relatando nas letras. Em termos de musicalidade e sonoridade, acredito que o groove e o swing que vem nessas partes seja algo espontâneo, justamente por sermos brasileiros e já termos essa essência no nosso sangue.

Recife Metal Law – Sobre letras em português, “Hell de Janeiro” é totalmente cantada na nossa língua. Por que logo essa música foi totalmente composta em português?
Victor -
Queríamos criar algo que as pessoas se identificassem de uma forma mais direta e não existe maneira melhor do que compor uma música toda em português. Como todos nós da banda somos nascidos e criados no Rio de Janeiro, compor uma música como essa acaba sendo totalmente propício a nossa realidade, tanto no idioma que a musica é cantada, como no seu contexto significativo.

Recife Metal Law – A produção sonora desse álbum é fantástica! Traz um peso cavalar a todas as músicas apresentadas. Bem, em minha humilde opinião, esse álbum tem uma gravação que não apresenta defeitos. O que a banda queria, em termos de produção, foi alcançado?
Victor -
Fizemos tudo que estava ao nosso alcance em termos de produção. Gravamos o álbum no HR Estúdio no Rio de Janeiro e mixamos e masterizamos com o Andy Classen (Destruction, Tankard, Legion of the Damned) na Alemanha. Andy é um mago por trás dos consoles e já era a segunda vez que estávamos trabalhando com ele. Sendo assim, ele tinha total conhecimento do tipo de produção e som que estávamos procurando.

Recife Metal Law – A capa, assim como toda a temática lírica, é uma ferrenha crítica ao estado, problemas sociais, urbanos e, principalmente, ao que acontece no Rio de Janeiro. As letras mostram todo o colapso social e político que o nosso país passa, e continuam ainda mais atuais do que na época que o disco foi lançado (em 2016). Ainda há solução para o Brasil?
Victor -
Eu sempre acreditei que a educação é a base de tudo. Também abraço a causa que um governo ruim tem interesse em gerar uma sociedade sem instrução e pessoas sem instrução acabam elegendo um governo péssimo. É um círculo vicioso. Além do mais, vejo o Brasil como uma terra de individualismo e não da coletividade. Dessa maneira, é impossível uma sociedade crescer com isonomia e justiça. Ultimamente, venho notando crescimento do fanatismo político e religioso, racismo, repulsão e me pergunto se talvez não seja essa a intenção, tanto do governo, como da religião, de gerar o ódio e manter as pessoas mais individualistas. Vejo grupos sendo criados, pessoas se odiando e fanáticos sempre buscando por um salvador da pátria. Se pararmos para analisar a história, essas duas instituições sempre tiveram comando e autoridade. Ninguém precisa de política ou religião para fazer o bem. Quando começarmos a agir pensando no próximo, veremos mudança. No momento o Brasil está regredindo, estamos vivenciando uma pandemia, onde o mundo respira morte e o governo brasileiro trata isso como uma gripe passageira. Viramos piada mundial. Fica difícil ter esperança e ver uma luz no final do túnel com atitudes genocidas e descaso. Não vejo uma solução efetiva neste momento de pandemia e crise política, mas tento fazer a minha parte sempre positivo e tentando melhorar o mundo ao meu redor.

Recife Metal Law – O disco trouxe como convidados Marcus D’Angelo (Claustrofobia) e Mike Hrubovcak (Monstrosity) nas músicas “Bangu 3” e “Broken”, respectivamente. A ideia de convidar esses músicos
partiu antes ou depois das músicas compostas?
Victor -
Sempre tivemos intenção em gravar músicas com o Marcão e o Mike, pois desde garotos continuamente ouvíamos Claustrofobia e Monstrosity. Já dividimos palcos juntos diversas vezes e depois de termos finalizado o processo de composição dessas faixas decidimos convidá-los. “Bangu 3” tem uma mensagem forte e a característica do vocal do Marcus junto com sua personalidade agregou muito com o contexto geral da música. “Broken” é uma faixa que exala sentimento, tanto na parte lírica, como no instrumental. Em 2012 fizemos uma turnê pela Europa com o Vile e foi lá que criamos uma afinidade com o Mike e pudemos perceber que sua performance era impecável ao vivo. Isso despertou muita vontade em trabalhar junto com ele num futuro.

Recife Metal Law – Victor, você passou por um período conturbado, quando, em La Paz, Bolívia, teve problemas de saúde, os quais fizeram com que se afastasse da banda por um longo período. Mas, hoje, como você se encontra e como os demais integrantes da banda reagiram, na época, ao teu problema de saúde?
Victor -
Atualmente estou 100% recuperado, obrigado! Não foi fácil passar por isso e confirmo que foi um dos períodos mais desafiadores da minha vida. Estávamos em um ritmo bom como banda e iríamos gravar um DVD no México celebrando a tour do “Narcohell”. Foi bem difícil lidar com o lado profissional de um cancelamento de uma tour extensa, com mais de cinquenta shows e, acima de tudo, o lado emocional pelo fato de eu quase ter perdido a vida. Foi um período obscuro, em razão de que tive que me afastar do que eu mais gosto de fazer, que é tocar bateria. Mas hoje em dia não fico remoendo o passado e agradeço pelas coisas ruins que aconteceram comigo, pois isso me deixou infinitamente mais forte e focado.

Recife Metal Law – O Lacerated and Carbonized sempre se mostrou bastante ativo, no que se diz respeito aos shows, inclusive tocando fora do país. Como vocês analisam esse período de pandemia e inatividades de palco para a banda?
Victor -
Extremamente complicado. Estaríamos tocando na próxima semana no Rio de Janeiro e em outros estados do Brasil. Entretanto, todos os shows foram adiados. Em agosto, estaríamos viajando para mais uma turnê europeia com intuito de promover o novo álbum e tivemos que adiar esta tour para 2021, pois a situação na Europa ainda não esta 100% controlada. Não vemos a hora de voltar aos palcos, promover o novo álbum, ter contato direto com os fãs, mas somos a favor do distanciamento social e penso que se cada um fizer sua parte, esse período nebuloso de incerteza vai passar rápido e vamos ser capazes de seguir em frente com nossas vidas.

Recife Metal Law – Como andam os trabalhos para o novo álbum de estúdio? O que se pode esperar do novo disco?
Victor -
Devido a essa pandemia, tivemos que atrasar as gravações. Entretanto, as músicas já estão finalizadas e 100% prontas para serem gravadas em estúdio. Nesse álbum iniciaremos um novo ciclo em nossa carreira. Presumo que será o nosso melhor trabalho e estamos vindo com um nível de produção que nunca fizemos antes. Estamos satisfeitos com os resultados das composições e o público pode esperar um trabalho diferente e marcante, porém sem perder a nossa essência.

Contatos:
www.laceratedandcarbonized.com
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Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Raphael Simons, Renan Perobelli