ORÁCULO





“Oráculo - ‘Resposta de um deus a quem o consultava; divindade que respondia a consultas’. O Oráculo não tem a pretensão de ser o guardião da verdade, mas, sim, propagar suas ideias em forma de música (Heavy Metal). O Oráculo quer transmitir o que sente e pensa. Cabe a vocês ouvi-lo. Esse é o segredo”. Eis como a própria banda se define. O Oráculo está na estrada desde janeiro/94 e, apesar dos poucos lançamentos, se manteve ativa durante todos esses anos. A formação atual conta com Robson Alves (vocal), Paulo Henrique e Renan Ferreira (guitarras), Vicente Wilson (baixo) e Sula Cavalcante (bateria). Atualmente a banda vem divulgando seu segundo álbum de estúdio, o qual tem o título sugestivo de “Disciples of Metal”. Saibamos um pouco mais sobre essa veterana banda (e sobre o novo disco) através das palavras do baixista Vicente Wilson, do gui
tarrista Paulo Henrique e do vocalista Robson Alves.

Recife Metal Law – No Brasil existem (ou existiam, já que as outras não se sabe se ainda estão em atividade) três bandas com o nome Oráculo. Uma dessas bandas, inclusive, abordava temática lírica cristã em suas letras. A banda cearense de Heavy Metal Oráculo já chegou a ser confundida com as outras?
Vicente Wilson –
Não, nunca houve essa situação, mas em 2004 ou 2005 fiquei sabendo dessas bandas que
utilizavam do mesmo nome, porém nunca tive contato com elas.

Recife Metal Law – Eu conheci a banda há vários anos, quando adquiri a sua primeira (e única) Demo “Shadows”, lançada em 1998, ainda no formato K-7. Após isso até tentei contato, por carta, com a banda, mas não consegui. Como foi esse início da banda e o lançamento dessa Demo? O que o Oráculo conseguiu com esse lançamento?
Vicente –
Primeiramente fico muito honrado em nos conhecer desde esta época, obrigado! Nessa época quem cuidava da parte de comunicação da banda não era eu, mas, sim, nosso ex-guitarrista e um dos fundadores da banda, Daniel Farias. Eu entrei na banda em 1999, após esse período, mas posso lhe explicar muito bem. O Oráculo se iniciou em 1995 como um quarteto, sendo o vocalisa/baixista Nobre Junior, Paulo Henrique e Daniel Farias (guitarristas e fundadores da banda) e Helano Oliveira ocupando o posto de baterista. A banda conseguiu, na época, alcançar seus objetivos, que era ter seu material autoral lançado com uma boa repercussão na capital do estado e com abrangência nacional, tanto que até chagamos no sul do país, onde participamos da coletânea “Rock Soldiers Vol. 4”, a qual foi lançada no Rio Grande do Sul e que contou com várias bandas brasileiras, isso em 2000.

Recife Metal Law – Em 2005 foi a vez de a banda lançar seu primeiro álbum de estúdio, “Wisdom”, o qual, infelizmente, não conheço. Pelo que tenho conhecimento, esse álbum foi lançado apenas digitalmente. Como foi o processo de divulgação desse disco? Houve a intenção de o lançar fisicamente?
Vicente –
Lançamos na época somente na forma física e não digitalmente. Foi uma tiragem de apenas 500 cópias. Só aderimos colocamos esse registro de forma oficial nas plataformas digitais em agosto de 2019, através da Roadie Metal pela CDBaby. O álbum “Wisdom” foi um divisor de águas na banda, pois conseguimos demonstrar a evolução da banda, com músicas mais “encaixadas”, mais complexas e mostrando mais claro as referências musicais de todos os membros da banda. Nessa época a banda passou por muitas formações, entrando o vocalista Robson Alves e o baterista Sula Cavalcante nas composições; acrescentamos a participação nos teclados de Gilberto Júnior na primeira e última faixa do álbum. A divulgação foi bem melhor do que o primeiro registro. Proporcionou a banda diversos shows na capital, em dezenas de cidades do nosso estado, e até em cidades do estado da Paraíba (Pombal, Sousa) através do edital que fomos selecionados pelo Centro Cultural Banco do Nordeste. O álbum serviu para consolidar o Heavy Metal da banda na cena Underground do Ceará.

Recife Metal Law – Depois do lançamento do álbum de estreia, a banda passou 14 anos sem lançar qualquer material de estúdio. Como foi esse período para o Oráculo, tanto na parte criativa, composição, até os shows?
Vicente –
Como já estávamos mais experientes nas composições, o processo ocorreu de forma democrática e natural na banda. Iniciamos a pré-produção do nosso atual álbum em 2011. O processo foi bastante minucioso, praticamente gravamos todo o álbum e depois analisamos as músicas. Após isso entramos novamente no estúdio para gravar. Esse processo de gravação foi bastante lento devido a vários fatores... dificuldade com a grana (lançamos de forma independente), shows marcados que necessitaram da atenção da banda, e compromissos familiares também contribuíram para este período longo até a finalização.

Recife Metal Law – O mais recente lançamento é o segundo álbum, “Disciples of Metal”, lançado digitalmente em 2019. Porém tive acesso a cópia física, com encarte simples e sem grande produção, mas, chegando fisicamente. O que faltou para uma grande produção, em se falando na forma de apresentar o trabalho físico?
Vicente –
Faltou grana! Hoje em dia lançar um álbum autoral e independente, e sendo de Metal, só com raça mesmo e amor pelo Heavy Metal. Não tivemos apoio de ninguém! O recurso do CD saiu diretamente do bolso dos integrantes da banda e hoje em dia todos da banda são “pais de família”, com compromissos como qualquer cidadão brasileiro. Os custos de prensagem, parte gráfica, logística e os impostos, deixa tudo mais oneroso até o CD físico chegar em nossas mãos.

Recife Metal Law – O disco traz nove músicas que agradam em cheio aos apreciadores de um bom Heavy Metal tradicional, com aquelas levadas Power Metal. Quais as principais diferenças do novo álbum para o álbum de estreia?
Vicente –
Primeira diferença é o amadurecimento de cada integrante no estudo do seu instrumento. O segundo é a convivência e a sinergia na hora das composições, a forma democrática de todos participarem e todos saberem realmente o que desejam alcançar.

Recife Metal Law – O novo álbum abre de forma arrebatadora com a forte “Come Back in Time”, aquele típico Heavy Metal tradicional, com bastante peso, melodias apuradas, guitarras dobradas e uma levada pendendo para o Power Metal, além de uma parte ‘marcada’, com o baixo de Vicente Wilson fazendo a condução da música. Essa faixa foi escolhida para abrir o álbum justamente por conter tais elementos em sua sonoridade?
Vicente –
“De cara” lhe agradeço pela atenção que teve as linhas de baixo nessa música! Escolhemos ela para ser a primeira, pois sua letra é tipo um “De Volta no Tempo”; traz uma estória contada, onde utilizamos, com palavras chaves, todos os nomes das antigas músicas dos álbuns (“Shadows” e “Wisdom”). Além de todos os elementos musicais muito bem expostos por você na pergunta.

Recife Metal Law – Existem outras músicas, com essa levada mais veloz e tradicional, mostrando que o Oráculo também bebe na fonte das bandas clássicas do Power Metal da década de 80. Quais as principais influências de cada músico e como elas foram usadas nesse disco? Houve preocupação de, mesmo com as influências, o disco não soasse meramente uma cópia do que já fora feito?
Vicente –
O Oráculo bebe de diversas fontes musicais. Todos os integrantes da banda possuem algumas referências bem ecléticas, em vários estilos do Metal e de gêneros musicais. Lógicos que possuímos em comum os “brasões” do Metal mundial, como Iron Maiden, Judas Priest, Manowar, Helloween, Black Sabbath. Eu, particularmente, tenho a vertente que vai do Hard Rock do Thin Lizzy ao DreamTheater. O Paulo tem muita bagagem musical que perpassa no Mercyful Fate, King Diamond, do Metal ‘oitentista’ a grandes compositores e instrumentistas brasileiros (Dilermano Reis e Baden Powell) e é apreciador de música erudita (Sebastian Bach, Franz Schubert e Beethoven). O Renan vai dos Beatles ao Led Zeppelin. O Sula vai do Thrash do Kreator ao Sepultura. O Robson abrange do flashback ao KISS, Manowar. Não tivermos nenhuma preocupação com os caminhos alcançados no CD “Discpiles of Metal”, pois não gostamos de rótulos. Tocamos o que gostamos e porque gostamos. Um Heavy Metal tradicional, melódico, Power, não nos importamos com isso! Queremos transmitir o que sentimos e pensamos em forma de músicas. Creio que essa união fica bem clara ao escutar as músicas de dos álbuns “Wisdom” e “Disciples of Metal”. Eu não acho nenhuma música semelhante a outra.

Recife Metal Law – Devo dizer que todo o trabalho instrumental é muito bem feito. Tudo ficou bem dosado, mas, claro, numa boa banda de Heavy Metal as guitarras têm um papel fundamental, seja nas bases, nos riffs ou nos solos. Em “Disciples of Metal” os guitarristas Paulo Henrique e Renan Ferreira cumpriram muito bem a sua função. Mas apenas eles foram os responsáveis pela criação das linhas de seus instrumentos ou os demais músicos deram palpites de como a guitarra deveria soar em cada música?
Vicente –
Vale ressaltar que o Renan entrou na banda em abril de 2019, e grandes partes das guitarras e solos foram feitos por Paulo Henrique e Daniel Farias. Nas guitarras todos dão palpites. Já faz parte do processo criativo e harmonioso da banda. Não temos na banda brigas por egos e estrelismos.

Recife Metal Law – Os vocais de Robson Alves se adequam bem ao estilo proposto pela banda. É forte, mas sem exageros. Robson, inclusive, também é vocalista no Steel Fox. Na opinião do próprio Robson, há diferenças nas linhas vocais usadas em cada uma das bandas?
Robson Alves –
Existem diferenças sim, com certeza. Na Steel Fox, que tem uma pegada mais voltada para o Power Metal alemão, minha maneira de cantar soa mais agressiva e com mais adição de agudos. No Oráculo temos uma pegada mais do Heavy Metal tradicional dos 80’s, trabalho mais fôlego e a interpretação das canções. É um desafio que gosto de encarar.

Recife Metal Law – Eu gostei do álbum como um todo, até mesmo de “Secrets”, a qual caminha para algo mais sentimental, em termos instrumentais. Quais músicas desse álbum vocês curtem mais tocar ao vivo?
Vicente –
“Secrets” é uma novidade no nosso ‘set’. Tem uma temática e harmonia que nunca tínhamos experimentado antes. Eis uma composição feita pelo Paulo Henrique. Desde o lançamento do álbum, no ano passado, na edição do Forcaos 20 Anos, são figurinhas carimbadas no nosso ‘set’ as três primeiras músicas do álbum, na ordem: “Come Back in Time”, “Sounds of Life” e “Disciples of Metal”. Para a faixa-título lançamos em outubro/2019 o nosso primeiro videoclipe que produzimos em parceria com a Catarse Filmes do nosso ‘brother’ Jeronimo Pires, que ajudou mais ainda a popularizar a música. Praticamente se não tocarmos esse som, quase ‘apanhamos’ nos shows. Gostamos de tocar também a faixa final do CD, “The Thoughts of the King”

Recife Metal Law – Ainda sobre as músicas, uma de minhas preferidas é a Power, quase Speed Metal, faixa-título. É o tipo de música para cerrar o punho e bater cabeça. Já “Strange Redemption” tem uma levada marcada, de início, e também chamou muito a minha atenção. Já “The Thoughts of the King” tem uma boa variação de andamentos e termina com maestria o disco... Quais músicas desse disco estão tendo maior apelo junto àqueles que tiveram acesso a ele?
Vicente –
A ideia da “Disciples of Metal” é justamente (isto) para os headbangers baterem a cabeça ao escutarem. A “Strange Redemption” começa com uma distorção no baixo, acompanhada pela bateria, que contribui para a galera agitar logo de cara. A “The Thoughts of the King” é para fechar com chave de ouro com uma letra feita pelo Robson. Sinto que a faixa-título é o destaque no CD. Foi feita exclusiva para os “Discípulos do Metal”. Pensamos neles tanto na letra como no andamento rítmico da música.

Recife Metal Law – Com relação a parte lírica, o que vocês procuraram abordar nas letras?
Paulo Henrique –
O Oráculo não segue uma temática fixa em suas letras. Elas variam de acordo com o momento de inspiração em que cada um se encontra e em busca de assuntos em que podemos tirar maior êxito. Robson Alves (vocal) e eu somos os responsáveis pela criação e elaboração das mesmas, pelo menos até a entrada dele em 2005. Por exemplo, quando gravamos o nosso primeiro trabalho, “Shadows” (1998), abordei (nessa época só eu compunha) uma temática voltada para estados psicológicos do ser humano, tais como demência e loucura (“When The Madness Comes In Your Head”); ansiedade e resiliência (“Dreams Come True”); morbidez e medo (“Shadows”); ideologias utópicas (“Illusions of the Time”). Em 2005, no “Wisdom” (2005), já focamos em mitologia grega e romana. “Oraculo”, “Centaurus’ War”, “Lord of the Seas”, “Pandora” e “Mercurius”, histórias e fatos. Agora, por último, no “Disciples of Metal” (Observação: gravado em 2011 e lançado em 2019), são temas soltos e aleatórios, mas todos com assuntos curiosos, intrigantes e épicos. Vamos as faixas: “Come Back in Time” (retrospectiva de nossas música ao longo destes 25 anos); “Sounds of Life” (homenagem ao Heavy Metal); “Disciples of Metal” (uma faixa dedicada aos nossos fãs); “Scape to Reality” (seguir adiante, ter forças para lutar); “House of Doom” (morbidez de um suicida); “So Many Weapons” (tragédias pelas armas de um modo geral) e “The Thoughts of the King” (narrativa de uma batalha por um rei medieval).

Recife Metal Law – “Disciples of Metal” traz alguns convidados. Como vocês analisam a importância de cada convidado para o álbum?
Paulo –
Os convidados surgiram de uma necessidade do momento. O nosso guitarrista da época era o Daniel
Farias. Ele quis sair da banda por motivos pessoais, queria dar mais atenção a família e outros projetos. Absolutamente não ficou nenhuma mágoa em relação a isso. Ficou, sim, um sentimento de gratidão por sua contribuição à banda por quase 20 anos. Com isto ficaram três solos do Daniel que não foram finalizados. Nesse momento eu tive a ideia de convidar amigos nossos que conhecia a história da banda e, além de serem excelentes músicos, ficou dividido assim: a sétima faixa, “House of Doom”, ficou com Jardel Reis; a oitava faixa, “So Many Weapons”, com Joe Wilson; e a nona faixa, “The Thoughts of the King”, com a participação de Daniel Camelo.

Recife Metal Law – No encarte existe a foto da banda, porém com apenas quatro integrantes. O que aconteceu com o quinto componente, que não se faz presente nessa foto?
Vicente –
Após a saída do Daniel Farias, entrou na banda um grande amigo da banda, o Franzé Mendes. Em paralelo às gravações do CD tínhamos vários shows já marcados e o Franzé entrou na véspera de um grande show que tínhamos em Teresina (Piauí) no Bueiro do Rock. Abrimos o show do grande vocalista Mario Linhares e sua banda Dark Avenger. Como ele (Franzé) já sabia tocar várias músicas da banda, foi a escolha mais óbvia e lógica para o momento. E, na época da foto oficial para o encarte do CD, o Franzé pediu para sair da banda para se dedicar exclusivamente à sua banda de origem (Betrayal). Com isso, ao caminhar a foto para a gráfica, enviamos a foto com os quatro membros.

Recife Metal Law – Em termos de shows, pouco provável nós termos algo nos próximos meses. Então, sem shows, quais os próximos passos do Oráculo?
Vicente –
Já estávamos com o nosso planejamento de 2020, em partes, já concluído antes dessa pandemia que estamos vivenciando. Pretendemos regravar por completo o nosso primeiro registro (“Shadows”) agora com a formação atual, pois na época em que foi gravado (1998), não fazia parte da banda nem eu, nas linhas de baixo, nem o Sula, na bateria. E, principalmente, com o vocal de Robson. Até o Renan vai dar sua contribuição na guitarra neste novo registro. Teremos alguns detalhes a acrescentar, mas sem mudar a identidade das composições. A ideia inicial é fazer o lançamento físico somente em vinil e em uma edição limitada. Já estou articulando algumas parcerias para concluir esse nosso sonho/desejo, mas ainda estamos em aberto para algum selo, se for o caso. Falando ainda sobre o planejamento estávamos também com vários shows já marcados, tanto na capital, Fortaleza (abrir para o Shaman em maio/2020) e outras cidades do estado, até em outros estados do Nordeste, mas, devido a situação, no momento é inevitável adiar. Estamos aproveitando esta quarentena para colocarmos em prática algumas ideias novas para novas composições. A ideia é lançar algum single no final do ano de 2021. Aproveito aqui agradecer ao Recife Metal Law e a pessoa de Valterlir pelo contato, pela dedicação e compromisso. Fico bastante honrado em saber que já conhece nosso trabalho autoral desde a época do nosso primeiro registro, e fico bastante contente por gostar também do nosso mais recente álbum. Faço o convite para quando tiver um tempinho possa escutar o álbum “Wisdom”, o qual está disponível em todas as plataformas digitais. Abraços! UP ORACULO!

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Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Helena Braga