A Indulgence iniciou a sua trajetória em outubro de 2006, com a proposta fazer um Death Metal com algumas influências Thrash; riffs velozes e cortantes, acompanhados de vocais guturais e letras sangrentas e blasfemas. Em agosto de 2007 foi gravado o primeiro trabalho: a Demo “Eternal Damnation”, que foi lançada de forma totalmente independente num show em Canoas/RS, em dezembro de 2007, e que teve boa repercussão. Desde então a banda vem fazendo shows na cena Underground do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e compondo material para um próximo lançamento.
Recife Metal Law – Já estão sendo tocadas ao vivo músicas novas que estarão no próximo lançamento, como “Sword of Seth”, “Void Fantasies” e “Lord Of Indulgences”. Quais temas são abordados nas letras dessas músicas? O que você pode nos adiantar em relação ao próximo trabalho do Indulgence?
Carlos Oliveira – Os temas das letras são ocultismo, as artes negras e anticristianismo, tanto nessas músicas novas quanto nas antigas. O ocultismo está muito presente em “Sword Of Seth”. Em “Lords Of Indulgences” o título já diz tudo: é uma exaltação aos prazeres carnais e as indulgências ou, já falando do nome da banda, dos desejos e vontades humanas tão naturais a todos nós. Indulgência no lugar de abstinência! “Void Fantasies” é pra chutar e açoitar os fanfarrões que usam a bíblia e outros códigos de comportamento ‘medievais’ para tirar proveito, leia-se faturar grana, muita grana, sobre as pessoas de mentalidade fraca. Sobre o novo trabalho, as novas composições estão mais técnicas. O Régis (Bordin), que assumiu as baquetas, é mais técnico que o “106” (antigo baterista); alguns riffs estão mais fraseados e mais rápidos e brutais do que o trabalho anterior. Mas, no geral, eu acho que o essencial do trabalho está na mesma linha que a Demo “Eternal Damnation”. Ainda continuamos mesclando Death e Thrash Metal. Eu gosto muito dos sons novos e acho que houve uma evolução nas composições, levadas de bateria, vocais e solos como um todo. Nos novos sons teremos backing vocals feitos pelo Pedro (Webster), novo baixista e talvez pelo Anderson (Zubryzsch), guitarrista.
Recife Metal Law – Qual foi o motivo da recente troca de baixista?
Carlos – O Vinícius Bicca pediu pra sair, pois estava complicado para ele conciliar os ensaios e shows fora de Porto Alegre com a família dele. Foi uma saída sem desentendimentos. Nós mantemos contato com ele e ele apareceu em um dos nossos ensaios há um tempo atrás. No seu lugar entrou o Pedro, que além de tocar, vem dando uma força legal para agendar shows e divulgar nosso trabalho.
Recife Metal Law – Como surgiu o convite e qual foi à sensação de tocarem no programa de TV Bigorna?
Carlos – O Augusto, que é o idealizador do programa, é meu amigo de longa data. Eu costumava ir aos shows e ensaios da Shambala, a banda de Heavy Metal onde ele era vocalista, isso em 1995. Sou muito amigo dos ex-músicos também. Ficamos muito tempo sem nos ver, coisas da vida. E foi através de um desses amigos que ele soube que eu estava tocando no Indulgence, justamente na mesma época que ele estava começando a idealizar o Bigorna na TV. O convite foi ao natural: ele me falou da proposta do programa e eu prontamente aceitei. Senti-me muito bem por poder divulgar a banda sem nenhum custo e a ajudar ele a apresentar bandas e lugares onde as bandas tocavam. Fiz isso no início, quando o programa era desconhecido. Agora as bandas o procuram pra cobrir os eventos e fazer clipes. O Bigorna, hoje, já é um programa reconhecido por muitas pessoas que curtem Metal.
Carlos, gostaria de saber se você já sofreu algum preconceito racial, já que você é uma pessoa de cor e o Sul do país tem a cor predominante branca. Qual sua opinião sobre as manifestações nazistas que ocorrem dentro do Metal?
Carlos – Sim, uma vez num bar chamado Sbórnia, perto da PUC, uma universidade particular daqui de Porto Alegre, que fica perto de uma favela. Eu combinei com um amigo neste lugar e o cara da portaria não me deixou entrar. Esse meu amigo, que já estava no bar teve que ‘liberar’ minha entrada no local. O cara da portaria me pediu desculpas, e explicou que ele era seguidamente assaltado naquele local, isso me deixou mais irritado: ‘então todo negro é ladrão?’, indaguei. Mas essa é a nossa sociedade. Nós temos a tendência de viver em guetos e o que não tem semelhança ao que nos agrada, quase sempre, repudiamos. Você vê isso nas tretas entre punks e bangers e emos; entre pobres e ricos; pagodeiros e bangers. Mas mesmo com toda essas histórias, todos são livres para fazer o que quiser. Não há leis que o impeça de fazer qualquer coisa pela sua descendência ou classe econômica. No Metal as manifestações nazistas são tão insignificantes aqui que ninguém dá bola. Aqui não há espaços pra essas pessoas; elas são tão poucas que todos sabem quem são e a maioria não gosta e não apóia. No Metal eu nunca vivi nenhum preconceito. Se alguém tem restrições quanto a mim, não teve coragem de falar, e se tem, lamento, pois vou continuar tocando.
Recife Metal Law – A banda já tocou praticamente em todo o estado do Rio Grande do Sul. Já houve convites para se apresentarem em outros estados?
Carlos – Já tocamos no interior do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Tivemos convites pra tocar na Bahia, São Paulo e Paraná. Mas por motivos de custo com as viagens acabou não acontecendo. Temos a meta de agendar uma tour por esses estados, mais Minas Gerais e Rio de Janeiro, para realmente tornar a viagem possível em termos de custos.
Recife Metal Law – Você também é guitarrista do Natural Chaos. Gostaria que comentasse sobre os trabalhos dessa banda e como você concilia tempo e disposição entre as duas bandas.
Carlos – Eu conheci o pessoal da Natural Chaos quando estava gravando a Demo da Indulgence no estúdio Hurricane. Acabamos criando amizade e organizamos alguns festivais em parceria antes de eu entrar na banda. A Natural Chaos tem um som mais extremo e, ao mesmo tempo, melódico, muito pelo trabalho de harmonização do GT, guitarrista. É um trabalho diferente, com riffs extremos e harmonizações que se assemelham, um pouco, a bandas como Cryptopsy e Cephalic Carnage. Como eu não sou o compositor principal da banda fica mais fácil pra mim. Eu componho algumas coisas junto com a banda, mas os principais compositores são o Paulo (baterista), o GT e o Sapão (baixo e vocal). Ao contrário da Indulgence, onde eu que componho as letras e as músicas, em parceria do Anderson. Minha maior motivação em tocar na Natural Chaos é a de tocar somente guitarra, sem me preocupar com vocais, ao contrário da Indulgence, onde eu me preocupo mais com os vocais e deixo os solos mais para o Anderson, que é um ótimo guitarrista.
Qual foi o motivo para que a Demo “Eternal Damnation” não fosse, já de cara, um álbum, já que a qualidade sonora apresentada nos sons é absurdamente boa?
Carlos – Todos comentam da qualidade da Demo, e isso se deve à excelente parceria de trabalho nosso com o Sebastian, do Estúdio Hurricane, que é um produtor que tem muita ligação com o Metal extremo. Na gravação da Indulgence eu penso que ele foi particularmente muito bem sucedido. Ele mesmo ficou muito contente pelo resultado final. Nós sempre tivemos a idéia de ter um trabalho bem feito para divulgar a banda, mas esse trabalho não seria necessariamente um ‘debut’, seria uma Demo, pois a banda estava começando e pelos custos envolvidos e tempo para finalizar todos as composições decidimos, então, que não haveria porque fazer um álbum completo. E nos concentramos em gravar as cinco músicas que estavam mais bem definidas e posteriormente gravar um álbum completo.
Recife Metal Law – Além das claras influências sonoras do Deicide, quais as outras que o Indulgence possa citar?
Carlos - Eu adoro Deicide (risos) e você pode notar isso! Mas o Morbid Angel para mim é uma influência muito forte, pois foi à primeira banda do estilo que eu ouvi. Antes disso eu ouvia muito Slayer e Sepultura. Mas posso citar muitas outras influências, que também são influências da banda, como Krisiun, Megadeth (com Marty Friedman), Nile, Hate Eternal, Dark Funeral... E por aí vai.
Recife Metal Law – Várias bandas têm imensas dificuldades de divulgar seus materiais. Como anda a divulgação da Demo “Eternal Damnation” aqui no Brasil?
Carlos – Depende. O CD é vendido nos shows e pelo correio de forma independente. Às vezes trocamos material com outras bandas. Estamos negociando uma distribuição com um selo, talvez isso se concretize ainda esse ano. A divulgação maior ainda é pela internet, onde temos contatos com pessoas em todo o Brasil, EUA, Europa e América do Sul. A Indulgence saiu também na coletânea Headbangers Metal Reunion Vol. I, pelo selo independente Music Reunion Prod’s and Distro que foi distribuída na Polônia, França, EUA (Dallas, Texas, Los Angeles), Portugal, Bélgica, Peru, Chile e Paraguai. Os caminhos para a divulgação existem, e fica mais fácil com um trabalho que, mesmo sendo independente, tenha qualidade, não só no som, mas na apresentação final, porque o Metal é um dos poucos estilos que ainda sobrevive ao furacão do MP3 na internet. Quem curte o estilo gosta de ter o CD, o encarte com as letras e todo o resto.
Recife Metal Law – Qual o segredo para manter uma banda de brutal Death Metal na ativa, tendo em vista as grandes dificuldades enfrentadas, tanto em relação a apoios internos e externos e ‘line-up’?
Carlos – O compromisso e a vontade de fazer um trabalho sério são extremamente necessários, em minha opinião. Se não fosse assim, acredito que seria difícil manter a motivação, porque quem toca Death Metal faz porque gosta e a dedicação é algo imprescindível, quando você sabe que vai investir tempo e dinheiro e não sabe se vai ter retorno.
Recife Metal Law – Valeu pelas respostas Carlos. Se quiser dizer mais algo que não foi dito, sinta-se a vontade!
Carlos: Gostaria de agradecer as pessoas que nos apóiam de diversas formas em shows e na internet. Seguiremos esse ano fazendo shows e compondo material e, se tudo der certo, estaremos fazendo uma tour no final do ano. E também gostaria de agradecer ao Recife Metal Law e a você, Wender, pelo apoio a Indulgence.
Site: www.myspace.com/indulgence666
E-mail: [email protected]
Entrevista por Wender Destruction
Fotos: Divulgação