OBSCURITY TEARS
Mesmo com idas e vindas, momentos curtos de paralisações, a banda pernambucana Obscurity Tears permanece ativa. E lá se vão 26 anos desde sua inicial formação, em idos de 1994. E não é nada fácil manter uma banda ativa por tanto tempo, ainda mais sendo de uma cidade do interior pernambucano. Diversas foram as mudanças na formação, inclusive com o abandono - ao menos por enquanto - dos vocais femininos. E o que era uma banda de Doom/Gothic Metal, hoje soa mais Doom Metal, simples e puramente, mais do que nunca. O mais recente lançamento da Obscurity Tears é o álbum “Rise of a God”, que foi lançado por um selo russo. Nessa entrevista, respondida pelo guitarrista Evandro Andrade (a banda é complementada por Jefferson Barreto - baixo/vocal, Bruno Lee - bateria, e José Alves - guitarra), esse álbum é um dos tópicos abordados. Confira!
Recife Metal Law – Não sei se por coincidência ou algo planejado, mas “Rise of a God” demorou nove anos para ser lançado após o EP “My Chemical State”. E esse foi o número de anos que separou o EP do primeiro álbum...
Evandro “Evandark” Andrade - Saudações aos amigos do Recife Metal Law! Sobre o tempo entre o EP “My Chemical State” o novo álbum “Rise of A God”, eu considero que foram os contratempos de mudança de formação, uma parada por dois anos sem atividade, etc. Manter a banda ativa por tanto tempo nunca foi tarefa fácil, tendo em vista que todos os integrantes tem trabalhos, família, etc. Ser uma banda 100% independente nos faz ter que conciliar o tempo com outras atividades, não podendo nos dedicar integralmente às atividades musicais.
Recife Metal Law – O álbum, primeiramente, foi lançado de forma digital, no final de 2018. Como esse lançamento foi recebido nas mídias digitais, que são tão concorridas?
Evandro - Lançamos o “Rise of A God” em praticamente todas as plataformas digitais, juntamente com alguns ‘lyric videos’ para a promoção do álbum. Usar esse formato nos trouxe a comodidade de fazer uma divulgação ampla sem muitos custos iniciais e com isso bons contatos e um feedback muito bom.
Recife Metal Law – Alguns meses depois, mais precisamente no final de março/2019, o álbum ganhou sua versão física, lançada pelo selo russo GS Productions. O lançamento físico já estava nos planos da banda?
Evandro - Sim, o lançamento físico estava nos planos. Apesar de toda a tendência de divulgar tudo ‘on line’, nós valorizamos muito o material físico. A GS Productions nos contactou através de nossas redes sociais, demonstrou interesse em lançar o material em formato de CD. Após alguma negociação, o álbum foi lançado e distribuído e se encontra no site da gravadora, que também conta com diversos materiais de bandas de diversas regiões do planeta, em especial bandas de Doom Metal e Black Metal.
Recife Metal Law – Inclusive, o selo lançou uma versão bem bacana, que traz os três registros da banda num box. Como vem sendo a divulgação desse material aqui no Brasil, se levando em conta que é um material importado?
Evandro - A ideia do box veio depois. Na verdade, o lançamento carro-chefe foi o “Rise of A God”, porém a GS Production queria ter os outros três álbuns em seu catálogo. Então o primeiro álbum, “Songs for a Black Winter”, e o EP, “My Chemical State”, foram remasterizados e ganharam, juntamente com o “Rise of A God”, o formato digipack. Então, aqui no Brasil o material foi lançado em versão limitada em fomato de box.
Recife Metal Law – O box é limitado e recebeu o título de “Perseverance - Limited Box Set”. Perseverança é uma palavra que define bem o Obscurity Tears, uma banda do interior de Pernambuco, que permanece ativa por mais de duas décadas (mesmo com idas e vindas). Ter um lançamento nesse formato é uma grande vitória ou isso é indiferente, tendo em vista ser fruto de tantos anos de batalhas?
Evandro - Com certeza! O título do box foi inspirado em nossa própria história. São mais de 20 anos de estrada, com mudanças de formação, algumas paradas, algumas conquistas e sempre com “sangue nos olhos”. O “Perseverance Limited Box Set” foi uma edição limitada de apenas 200 cópias aqui no Brasil. Os interessados podem comprar os três álbuns individualmente no site da GS Productions.
Recife Metal Law – Sobre o novo álbum, até o seu lançamento muita coisa aconteceu. Mudanças na formação, shows, e até mesmo o abandono dos vocais femininos, que era uma das marcas da banda. Isso foi algo pensado ou vocês não conseguiram mais ter na formação uma mulher?
Evandro - Na verdade, no álbum “Rise of A God” a ideia foi realmente soar como Doom Metal mais raiz, algo que remetesse à sonoridade anos 90, época áurea do estilo. Os vocais femininos não estão descartados, podemos voltar a utilizar em outros lançamentos.
Recife Metal Law – O álbum é composto de nove músicas, sendo duas pequenas instrumentais. A sonoridade não foge muito do que a banda sempre se propôs a fazer, porém, sem os vocais femininos, a sonoridade ficou mais Doom Metal, com algumas nuances Dark Metal. A ausência do vocal feminino fez com que a banda trilhasse esse caminho?
Evandro - Na verdade, não foi só a ausência dos vocais femininos. Eu diria que foi um conjunto de coisas. Em cada época um músico está em uma ‘vibe’, ou seja, ouvindo algum tipo de som que o inspira, além de a inspiração não estar apenas em elementos musicais, mas em tudo que se vive, um livro, um filme, etc. Então, registramos em “Rise of A God” o sentimento e inspiração do momento, que foi o de soar mais climático e pesado, com fortes referências do movimento Doom Metal anos 90.
Recife Metal Law – As letras são bem reflexivas, tratando de sentimentos, existência e dúvidas advindas disso. Quem foi o principal letrista para o álbum e de onde surgiu a inspiração lírica para o disco?
Evandro - As letras ficaram a cargo de nosso baixista e vocalista Jefferson Barreto. O conceito lírico foi inspirado em diversas coisas, como citei acima, tudo pode ser uma influência e o lado introspectivo e existencial humano sempre foi temática de nossas letras.
Recife Metal Law – Apesar do que mencionei na pergunta anterior, “Rise of a God, pt. 2” e “Interstellar” mostram uma nova faceta lírica do Obscurity Tears. Elas falam de civilizações e vida fora da Terra... Seria isso uma tendência para as próximas músicas? Abranger tais temas?
Evandro - Na verdade, tivemos inspiração em livros e filmes para algumas temáticas, em especial nas duas faixas que você citou. Flertamos com a existência do ser humano na terra no passado e no futuro, lendas e deuses antigos. De alguma forma algumas letras se conectaram, assim com algumas passagens instrumentais, com isso acabaram virando uma sequência.
Recife Metal Law – A arte da capa também segue essa tendência. Jefferson Barreto e Evandro Andrade foram os responsáveis por tal arte. Mas vocês cogitaram contratar alguém para fazer a arte ou tudo já estava definido com relação a isso?
Evandro - A arte não estava concebida até a finalização do álbum. Eu e Jefferson fizemos o trabalho baseado na sonoridade e clima central do álbum. Cogitamos, sim, contratar alguém para a arte, mas o resultado do trabalho que estávamos criando ficou tão bom que resolvemos utilizar.
Recife Metal Law – No encarte há a informação de que algumas músicas (da primeira a sexta) foram gravadas, mixadas e masterizadas no DarkSide Studio. E as demais (da sétima a nona), onde foram gravadas?
Evandro - As faixas “Rise of A God Pt. III” e “Dark Fairy” foram gravadas há algum tempo em meu Home Studio. E a faixa “The Deep And Red Sea” foi gravada e lançada como web single em 2015. Essa foi gravada no Valvulado Studio, em Vitória de Santo Antão/PE. As três faixas foram remasterizadas no Darkside Studio e entraram quase como bônus.
Recife Metal Law – “Lost in the Deep” conta com a participação de Diego DoUrden (DarkSide Studio, Mystifier, Infested Blood). Gravar parte do álbum no DarkSide fez com que houvesse o convite ou a música pedia vocais mais agressivos?
Evandro - Em “Lost in the Deep” existia um trecho que pedia umas dobras de vocais guturais. Então, sabendo que Diego DoUrden é especialista em vocais infernais, antes mesmo de começar a gravação eu já o convidei para fazer essa parte, o resultado ficou brutal! Diego não só gravou nosso novo trabalho, mas também fez um excelente trabalho de produção no estúdio, nos guiando até chegar a sonoridade ideal para o álbum.
Recife Metal Law – A música “The Deep and Red Sea” foi gravada pelo baterista Denes Santos e não por Bruno Lee. Qual a razão para isso?
Evandro - A faixa “The Deep And Red Sea”, na verdade, foi gravada por Denes Santos em 2015. A faixa entrou como bônus no “Rise of A God”
Recife Metal Law – A banda recentemente disponibilizou um novo single nas plataformas digitais. O Obscurity Tears já tem novo álbum pronto?
Evandro - O álbum não está totalmente pronto, mas está bem adiantado. Temos algumas músicas prontas e outras em fase de lapidação. Lançamos o single para a música “Black Dragon’s Spell” através de um ‘lyric video’, para que as pessoas saibam o que vem por aí. Dois meses depois lançamos mais outra faixa, chamada “Greed”. Ambas as faixas estão disponíveis no YouTube em forma de ‘lyric video’ e nas demais plataformas de streaming.
Contatos: www.facebook.com/obscuritytears
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação