ORTHOSTAT
O Orthostat surgiu em 2015, na cidade de Jaraguá do Sul/SC, tendo lançado uma Demo, um álbum de estúdio e, mais recentemente, lançou um single, que antecede seu segundo álbum. A banda envereda pelos lados do Death Metal, e poderíamos dizer que é aquele Death Metal mais ortodoxo e primitivo, até mesmo por conta dos vocais cavernosos e altamente guturais. Mas não achem que a banda faz um som apenas rudimentar. Orthostat vai além de simples classificações. A banda faz um Death Metal de alta qualidade e com características próprias, seja na já mencionada parte musical, seja na parte lírica. Hoje a banda é formada por David Lago (vocal/guitarra), Eduardo Rochinski (baixo), Rudolph Hille (guitarra) e Igor Thomaz (bateria). Saibamos mais a respeito da banda, seus lançamentos, entre outros tópicos, na entrevista a seguir.
Recife Metal Law - O nome Orthostat é bem diferente (pelo que pesquisei, é um tipo de pedra para ornamento funerário). Como surgiu a ideia de nomear a banda assim e qual o significado que ela (a palavra) tem para os músicos?
David Lago - Saudações deathmetálicas, Recife Metal Law! Primeiramente agradeço pela oportunidade de falar um pouco sobre nosso som e um pouco das curiosidades que cercam nossa história. Lembro de como surgiu o nome da banda e quando ele de fato se tornou o nome de uma banda. Lembro que em 2015 eu estava lendo muito sobre história da humanidade, civilizações antigas, as religiões, guerras, costumes, etc. Lembro que um dia estava em uma daquelas reuniões chatas e intermináveis e comecei a rabiscar um logotipo aleatório em um caderno de anotações... O nome era Orthostat e era uma palavrinha bonitinha que achei em um dos textos que estava lendo sobre a Mesopotâmia Antiga, mais especificamente sobre a um monumento datado de aproximadamente 4600 anos atrás, que também é considerado um Orthostat. Na realidade, o nome se aplica a qualquer monumento de pedra que tenha um formato de lápide. O famoso Stonehenge na Inglaterra, por exemplo: um Orthostat. Lembro que quando terminei de rabiscar o logotipo (que não tem nada a ver com o que apareceu no disco) enviei uma foto para o Márcio Coelho, primeiro baterista da banda, que imediatamente já sugeriu que o utilizássemos para o nome de um projeto. Naquela época já tocávamos juntos em outra banda, o Impiedoso, banda clássica de Black Metal de Santa Catarina, com mais de 22 anos de estrada. Foi um início bem interessante e significativo para os membros da banda na época.
Recife Metal Law - A banda surgiu em 2015 e no ano seguinte lançou uma Demo, de forma digital. Já nesse início, com essa Demo, dá para notar que a temática lírica da banda é abranger civilizações antigas. Por que seguir essa temática lírica?
David - Na verdade, chegamos a lançar 100 cópias físicas da primeira Demo, “Into the Orthostat”. Foi um sucesso e vendeu todas bem rapidamente, e temos pedidos suficientes para relançar uma segunda prensagem. Sobre o nome Orthostat, por se tratar de um conceito relacionado a história, norteou o tema das letras do primeiro disco, que é um álbum conceitual sobre civilizações antigas. Todas as letras foram bem embasadas em eventos históricos e demandaram muitas pesquisas.
Recife Metal Law - O primeiro álbum, “Monolith of Time”, foi lançado em 2019 e passou cerca de um ano sendo gravado. A que se deu esse longo período de gravações do álbum?
David - Quando tínhamos o álbum já pronto e ensaiado para gravações e shows, Márcio Coelho, que estava prestes a iniciar as gravações da bateria teve que se afastar das bandas por motivos profissionais. Aguardamos um período buscando outro baterista, como não conseguimos encontrar ninguém naquele período, procurei um amigo “das antigas”, o Thiago Nogueira, ex-baterista do Headhunter D.C. e Ungodly; repassei o álbum e ele topou gravar imediatamente. Além de muito técnico e preciso, a experiência e criatividade do Thiago deram uma característica muito original para o som do disco, e recebemos muitos elogios por isso. Foi um grande acerto!
Recife Metal Law - As músicas contidas no disco de estreia tem uma média superior a seis minutos de duração. Isso, geralmente, não é tão visto/ouvido em bandas de Death Metal. Por que as músicas desse álbum ficaram com uma média de duração acima dos seis minutos? Isso se deu em razão da temática lírica abordada?
David - Inicialmente não era algo que estávamos prevendo, mas nas gravações dos ensaios notamos que as músicas estavam mesmo muito longas, talvez porque haviam muitos riffs diferentes e várias nuances distintas em cada música. Até tentamos diminuir o tamanho das músicas na época, porém notamos que esta característica dava à banda um fator de originalidade, pois não é algo comum no estilo. Curiosamente, uma das músicas que não saiu no disco tinha quase 15 minutos (chamada “Omni”, que conta a história das pirâmides do Egito). Esta vai ter que esperar um pouco mais, pois não coube no novo disco também, e a temática também não bate mais. (risos)
Recife Metal Law - No meio Death Metal há um leque de opções e variações rítmicas que ajudam cada banda a ter características próprias, apesar da brutalidade usual do estilo. Mas como vocês do Orthostat trabalharam esse lado, rítmico, musical, para criar uma música com características próprias?
David - Excelente pergunta. Nem todos notam estas características rítmicas da banda. Nós sempre estamos preocupados com um coeficiente de originalidade. Não queríamos ser uma banda comum. Uma grande fatia das músicas no estilo se baseia do 4x4, com raras exceções. No disco “Monolith of Time” existem diversos tempos complexos, como os 11/16, 12/8, 3/4, etc., em “Qetesh”, os 5/4 em “The Will of Ningirsu”, os 7/8 de “Incitatus”, e vários outros em outras músicas. Achamos que ficou musicalmente bem rico sem ser pretensioso ou exagerado.
Recife Metal Law - Falando em características próprias, os títulos das músicas são bem incomuns. Mas, como já falado anteriormente, a banda aborda temas sobre civilizações antigas, então, assim sendo, títulos como “Ambaxtoi”, “Eridu”, “The Will of Ningirsu” se encaixam bem no que vocês querem apresentar. Porém, quem foi o maior responsável pelas letras do disco e como foi feito o estudo para falar sobre tais temas?
David - É verdade, estes títulos esquisitos realmente são bem específicos, mas não teve muito como fugir deles. Eu gosto muito de escrever letras e fui o escritor de todas as letras da banda até então. Porém os novos discos terão temáticas líricas diferentes, considerando já o nosso próximo trabalho que contará a história do universo em uma perspectiva da ciência, cosmologia e física.
Recife Metal Law - Musicalmente, a banda soa genuinamente Death Metal, com vocais tipicamente guturais, trazendo andamentos mais velozes com algo mais pesado e compassado. Fãs do estilo certamente se sentirão representados pelo Orthostat. Como vem sendo a aceitação desse disco, não só na mídia especializada, mas por aqueles que ouviram o disco? Quais pontos os ouvintes destacaram ou criticaram?
David - Não dá para negar as nossas influências, isto é fato. Mas nós tentamos fugir da similaridade o máximo possível. Vários ouvintes da banda falam muito que as linhas gerais lembram Incantation, Immolation e Autopsy, entre outras do estilo, também, porém, felizmente ainda não conseguimos identificar nenhum riff que ficou parecido demais ou fez alguma referência direta a alguma dessas bandas (ainda bem! risos). Ouvimos muitas coisas positivas sobre a captação, a mixagem e masterização, este certamente foi o ponto mais positivo dos elogios. Mas também já ouvimos várias vezes que a masterização teve muita pressão e peso, e ficou muito diferente da proposta mais soturna da gravação da Demo. No próximo disco vamos resgatar esta nuance mais obscura e tétrica. No nosso single “Null” já é possível perceber isto.
Recife Metal Law - Além das músicas de estúdio, a banda decidiu por colocar duas músicas ao vivo - “Ambaxtoi” e “Orthostat”. Qual foi a razão para que essas músicas viessem como bônus ao vivo?
David - O lançamento nas mídias digitais saiu somente com as oito músicas oficiais, e no lançamento do disco físico resolvemos que queríamos algo diferente para brindar os fãs com algo a mais. Outro grande motivo foi garantir que o Márcio Coelho estivesse presente no lançamento, mesmo que ao vivo. Afinal ele compôs boa parte das linhas de bateria deste disco e merece muito estar na história dele. A versão europeia do disco saiu somente com as oito músicas mesmo.
Recife Metal Law - A arte da capa é bem interessante, porém difícil de interpretar o que ela quer passar. Além disso, a capa não traz nome da banda e nem título do disco. Isso não é uma proposta arriscada para uma banda novata, que está apenas em seu primeiro álbum?
David - A capa do disco foi desenhada pelo nosso amigo Carlos Bercini, um artista austríaco que acompanha a banda desde quando começamos e também desenhou a capa da Demo. A capa do disco teve poucas indicações nossas, sendo muito mais uma tradução que o Carlos mentalizava enquanto escutava o nosso som, e nós a achamos fantástica. Sobre a capa, gostamos tanto da arte que não queríamos adicionar nada a ela. Inicialmente isto rendeu muitas críticas sob a perspectiva comercial. Mas agora pense em um Metalhead olhando uma pilha de discos em uma distro ou barraquinha em pleno festival de Metal... Ele vai passando capa por capa, item por item até chegar no “Monolith of Time”: sem logotipo, sem nome do disco, nenhuma informação. O que você faria senão puxar justamente aquele da pilha de CDs para saber do que se trata? Isto não foi um caso pensado, mas funciona muito bem.
Recife Metal Law - A arte gráfica é de um capricho absurdo. O encarte vem com diversas páginas e informações. Há diversas imagens em meio às letras. Certamente isso deve ter encarecido o produto final. Mas ter um material com uma qualidade dessas deve ter deixado a banda bem orgulhosa...
David - Obrigado pelo elogio! Quando eu comprava CDs das bandas que gostava e o encarte vinha recheado, eu passava horas paginando eles, e analisando cada detalhe. Hoje em dia isto não é mais tão comum, pois as pessoas estão mais acostumadas a ouvir o disco em MP3 ou via streaming. Se o produto da sua banda é somente a música e a capa, o ouvindo não terá praticamente nenhuma vantagem em adquirir o disco. Mas quando a arte e encarte do disco faz parte da obra como um todo e possui o mesmo nível de atenção e dedicação, o artefato final é bem mais atrativo para o ouvinte, além de demonstrar o empenho e entusiasmo da banda pelo seu produto.
Recife Metal Law - No fim do ano passado (2020) a banda lançou um novo single, “Null”. Isso demonstra que a banda já vem trabalhando no sucessor do álbum de estreia. Estou certo?
David - Certíssimo! Já temos todas as músicas do próximo disco bem encaminhadas, assim como já temos todas as letras prontas. Ainda estamos encaixando alguns arranjos e regravando e melhorando alguns arranjos em algumas músicas. Este novo disco vai ser a primeira vez que todos os membros da banda estão participando ativamente das composições, e tudo indica que teremos um “monstrinho” bem mais versátil como resultado.
Recife Metal Law - Também notei que houve uma mudança no logotipo da banda? Por que houve essa necessidade de mudar o logotipo?
David - Isto também é mais um experimento de “ser diferente” do Orthostat. Possivelmente vamos adotar isto para todos os próximos discos. É outra manobra arriscada comercialmente? Talvez. Mas não ligamos muito para estes detalhes de marketing, o que mais interessa para nós é fazer o que gostamos sob o prisma musical, mantendo sempre um tom de originalidade em todos os aspectos e ângulos possíveis.
Recife Metal Law - Infelizmente a pandemia continua, principalmente no nosso país, que chegou a ser o epicentro da Covid-19. Isso fez com que muita coisa mudasse, principalmente os shows. Como o Orthostat analisa esse período turbulento para as bandas de Heavy Metal (e todos os seus subestilos), já que os shows eram onde havia uma maior interação entre bandas e público, o que ajudava, inclusive, na venda de merchandising?
David - Primeiramente, #forabolsonaro e toda essa caterva fascistóide que dominou este país! Se não fosse a politização das vacinas e o negacionismo científico nós não teríamos tantos mortos e, talvez, até já estaríamos vendo eventos de Metal antes do fim de 2021 (NDE.: na verdade, alguns já começaram a ser marcados), como já existem em outros países. O novo disco do Orthostat foi impactado diretamente por isto, já que os membros não se encontram desde o início da pandemia. Mesmo trabalhando à distância, a ideia seria lançar o álbum em 2021 se a pandemia tivesse acabado, mas provavelmente vamos adiar mais alguns meses até tudo se estabilizar, desta maneira poderemos fazer uma tour para divulgar o disco e brindar com os nossos amigos e fãs! Stay Heavy!
Contatos: www.facebook.com/OrthostatDM
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Metal em Click