3RD WAR COLLAPSE
Recebi um contato da 3rd War Collapse na página do Recife Metal Law lá no Facebook. Como não sou muito de entrar nela, demorei (e peço desculpas por causa disso) a responder o contato. Aí fomos trocando ideias e o Cristiano Martinez (no contato como Kryss Martynez) me falando sobre o projeto e me apresentando um vídeo da banda (o qual pode ser conferido clicando aqui), até que, quando começo a pesquisar mais profundamente sobre a banda, eis que tenho uma grata surpresa: o Kryss era o mesmo Cristiano, que já havia cedido uma entrevista para o site quando de sua passagem pela brutal Vomepotro. E em termos de brutalidade a 3RD War Collapse não fica para trás. Isso pode ser ouvido no primeiro álbum de estúdio da banda (na verdade, um projeto, que traz músicos de diferentes países/cidades), “Damnatus”. Com a palavra Cristiano Martinez...
Recife Metal Law – Surgida em 2016, a banda, em seu release, diz que as letras são inspiradas no cotidiano e no momento caótico da humanidade. O nome da banda surgiu inspirado nesse caos da humanidade e corriqueiras guerras?
Cristiano Martinez - Antes de mais nada eu gostaria de agradecer pelo espaço, Valterlir! Sim, temos uma música com o nome da banda e 3rd War Collapse surgiu da realidade na qual vivemos. Parece que hoje vivemos dentro de um caldeirão pronto para explodir a qualquer momento. É só observar a intolerância das pessoas, a maneira que se portam umas com as outras, parece que a cada dia o ódio impera sobre a mentes da sociedade e isso pode acabar gerando uma guerra por motivos muitos vezes banais, além dos fatores políticos, religiosos, etc. Tanto que atravessamos uma guerra pós-pandemia (NDE.: referindo-se a guerra entre Rússia x Ucrânia).
Recife Metal Law – Desde o início a formação se mantém a mesma, sendo Cristiano Martinez (vocal e guitarra), Rodolfo Carrega (vocal e baixo) e Kalle Lindfors (bateria). Surgido como um projeto, 3rd War Collapse ainda se mantém assim, como um projeto?
Cristiano - Na verdade, houve uma mudança bem significativa: o Rodolfo saiu pouco tempo depois que o álbum foi lançado por ter foco em outros projetos, mais em relação a vida pessoal. Agora contamos com Juan Azevedo no baixo e vocal e ele agregou muito a banda também. Dessa forma continuamos como um trio.
Recife Metal Law – E como surgiu a ideia de vocês três se juntarem? Cristiano e Rodolfo são brasileiros e fizeram/fazem parte de bandas como Vomepotro, Anarkhon e Clawn, enquanto que Kalle é finlandês... Como foi fazer essa “ponte Brasil-Finlândia”?
Cristiano - Eu conheci o Kalle em 2011 quando o Vomepotro fez uma pequena tour pela Europa. Depois o Inferia, que é a banda dele, esteve no Brasil em mais duas ocasiões. Durante uma viagem de São Paulo para o Rio de Janeiro, se não estiver errado, nós conversamos sobre criar um projeto. Quando saí do Vomepotro eu conversei com o Kalle e ele topou na hora. O Rodolfo é um grande amigo que conheço desde 2000. Sempre curti o trabalho dele no Clawn e o convidei. Depois foi compor e fazer o disco.
Recife Metal Law – “Damnatus” é o primeiro álbum, foi gravado no ano da formação da banda/projeto, porém ficou “engavetado” por cinco anos, vindo a ser lançado em 2021, via Gutural Brutality Productions. A razão informada para que se passasse tanto tempo para o lançamento do álbum foi o fator de os músicos terem outras bandas. Mas muitos músicos, mesmo com bandas principais, sempre lançam outros projetos ou lançam algo com outras bandas…
Cristiano - Gravamos o disco entre o fim de 2015 e início de 2016. Na verdade, depois disso, a gente meio que deixou de lado. Eu estava com alguns problemas de saúde e abandonei a ideia de lançar, os caras também tocaram sua vida e nisso o disco ficou guardado. O Kalle continuou firme com o Inferia e o Rodolfo, assim como eu, focou totalmente nós estudos e vida pessoal.
Recife Metal Law – Esse disco de estreia é extremamente bruto, caótico, pesado, veloz... É Brutal Death Metal até as últimas consequências. De suas outras bandas, o que os músicos trouxeram para a musicalidade desse álbum de estreia do 3rd War Collapse?
Cristiano - Bom, acho que tudo fluiu bem natural para nós. Nossa ideia era fazer um disco sem frescura e orgânico. Hoje você ouve as bandas e são produções tão mentirosas que deixam todas iguais. A gente fez algo bem direto, guitarra com distorção direto do amplificador, bateria sem ‘plug-ins’ ou edições “mentirosas”, e baixo idem. Se não estou enganado, usamos um único ‘plug-in’ junto ao bumbo original do Kalle apenas para somar. De resto o que você ouve é a banda tocando. Quanto ao som, tem muito ‘mi-mi-mi’ hoje em dia. Queríamos fazer algo veloz do início ao fim! Brutal até o osso, e é assim que sempre vai ser.
Recife Metal Law – Sinceramente, eu até tentei analisar qual seria a música que se destaca no disco, mas é algo quase impossível, devido a toda a qualidade das músicas apresentadas. Não há momentos “de baixa” no disco. São músicas curtas, diretas, com uma agressividade sem limites. Como foi todo o processo criativo, no que diz respeito a construção instrumental?
Cristiano - Bem simples: eu compus as linhas de guitarra, mandava para o Kalle e ele me devolvia com vídeos tocando os sons; eu mostrava para o Rodolfo e foi assim até o fim. A ideia era essa mesma: música curta, direta e rápida! Uma mistura de Death Metal com Grindcore e toques de Thrash. Não temos que se policiar, tudo é aceito na banda. Se o riff soar bem é o que importa, não interessa para nós se ele tem duas ou 50 mil notas.
Recife Metal Law – Com relação à parte lírica que, como já mencionado nesta entrevista, trata do cotidiano, caos, iminência de guerras... Quem foi o principal letrista?
Cristiano - Eu fiz todas as letras. A maioria das músicas fala de como o ser humano já nasce condenado a viver a vida imposta pela sociedade; não temos liberdade, é tudo mentira, sem contar que vivendo num país como o Brasil, infelizmente, não faltam inspirações para escrever e, claro, que na maioria das vezes inspirações negativas, mas a vida é assim, não temos muita escolha, a realidade só piora.
Recife Metal Law – A arte da capa foi feita por Raphael Gabrio, que já trabalhou com bandas como Napalm Death, Misery Index, Kreator... O currículo desse artista foi o que fez vocês o procurarem para fazer a capa desse primeiro álbum? O resultado final ficou excelente e adequado para uma banda do estilo de vocês. Ele teve total liberdade criativa ou vocês deram um norte para que ele pudesse criar?
Cristiano - Na verdade, eu conheço o Raphael de muito tempo, além de um cara muito talentoso desenhando, ele também é um grande baixista e por anos fez parte do Forceps, que é uma banda incrível de Death Metal do Rio de Janeiro. Eu e o Rodolfo sempre gostamos do trabalho dele e foi super tranquilo o contato. Já que tínhamos bastante amizade, demos mais ou menos uma ideia do que a gente queria e ele mandou muito bem. Todos gostamos muito. É uma capa cheia de detalhes.
Recife Metal Law – A produção do álbum foi feita no Brasil, porém a gravação dos instrumentos foi feita de forma separada. Inclusive, as linhas de bateria foram gravadas primeiramente, mais precisamente em 17 de outubro de 2015, na Finlândia. As linhas de bateria foram gravadas primeiramente por ter sido criadas antes mesmo das demais linhas instrumentais e vocais?
Cristiano - Não. Todo o álbum começa com bateria. Ele gravou a parte dele e nos mandou. O estúdio que gravamos não tinha horário, então esperamos um pouco para praticar mais as músicas e chegar gravando com o mínimo de erro. Já tínhamos noção de todas as linhas de bateria porque, como falei, ele já havia nos mandado vídeos de todas as músicas do disco.
Recife Metal Law – Vocais, guitarra e baixo foram gravados em Botucatu/SP, no Abacateiro Studio, entre fevereiro e maio de 2016. A que se deu a escolha desse estúdio, o qual, inclusive, foi o responsável pela mixagem e masterização do disco?
Cristiano - O Rodolfo gravou o segundo disco do Clawn lá. Ambos gostávamos da produção do disco e aí como o Rodolfo mora em Botucatu, nós decidimos gravar lá e então todo o restante foi feito lá mesmo.
Recife Metal Law – Levando-se em conta o estilo praticado pelo 3rd War Collapse, a produção sonora ficou num bom patamar, inclusive, enfatizando todo o poderio sonoro e destruidor da banda. O resultado final, em se falando da produção, era o que vocês queriam alcançar?
Cristiano - A gente nunca fica 100% satisfeito. Ele tem uma sonoridade bem crua e direta e era o que a gente queria, por nunca ter ensaiado como banda, cada um gravando sua parte e fazendo rapidamente. Acredito que o resultado final ficou muito bom. As críticas foram de boas a ótimas, tanto no Brasil como no exterior e para um disco que foi gravado em 2016, eu acho que a gente alcançou o que buscava.
Recife Metal Law – Voltando ao lançamento, esse disco sequer iria ser lançado, até que surgiu a Gutural Brutality Productions e o lançou. Como tem sido o trabalho após o lançamento do disco, no que concerne a divulgação?
Cristiano - Bom, não temos como fazer show (risos) e sendo assim nós estamos divulgando pela internet, através de revistas, webzines e, para ser sincero, não temos do que reclamar. Acho que tem ido bem. Muita gente que ouviu elogia o disco, o ‘pre-order’ da Guttural Brutality Productions foi muito bom também; a cota de camisetas que foram feitas esgotou rapidamente e isso nos deixa felizes com o apoio que a galera tem dado.
Recife Metal Law – Tenho informações de que o 3rd War Collapse já trabalha num próximo álbum? Porém o que podemos esperar do segundo disco? Há uma data prevista de lançamento? Quantos sons ele conterá?
Cristiano - Boa pergunta! O segundo disco já está pronto e começou a ser gravado no fim de maio. Vamos gravar com calma e acredito que deverá ser lançado entre fevereiro e março de 2023. Dessa vez vamos gravar 10 músicas que seguem a linha do primeiro, mas não tenho dúvidas que será ainda mais brutal, pois ele continua seguindo a linha veloz, sem delongas. Quem gosta de Metal cheio de “frescurinha” e “climinha” nem perca seu tempo com o 3rd War Collapse. Andamentos mais lentos só são usados em passagens. (risos) Com a gente a chapa fica quente toda hora.
Recife Metal Law – Vocês cogitam a possibilidade de fazer alguma apresentação ao vivo?
Cristiano - Sim, temos uns planos, mas por enquanto não posso dizer nada. Mas já estamos pensando nisso, sim, e com o lançamento do segundo álbum podemos ter surpresas! Para finalizar, eu só agradeço de coração, meu grande irmão Valterlir, pelo espaço e por nos dar a honra de estar aqui no Recife Metal Law! Less bullshit, more Blasting Beats!!!
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Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação