ODE INSONE
Surgida em 2018, na capital paraibana, a Ode Insone é uma banda relativamente nova, ainda mais se formos levar em conta o período de pandemia que assolou o Mundo por dois anos. Mesmo assim a banda se mostrou muito produtiva, no que se diz respeito aos lançamentos de estúdio, haja vista que num período de dois anos (de sua formação até 2020) lançou três álbuns, sendo o mais recente “Isolamento: Do Silêncio à Poesia”, lançado no final de 2020, de forma digital e que em janeiro de 2022 ganhou a sua versão em CD. Hoje a banda é um sexteto formado por Tiago Monteiro e Venore (vocais), George Alexandria (bateria), Diego Nóbrega (baixo), Priscila Hawana (teclados) e Mad Ferreira (guitarra). E foi Mad quem nos contou um pouco mais sobre a banda, seus lançamentos e planos para um futuro breve na entrevista a seguir.
Recife Metal Law – Por que nomear a banda como palavras que significam, de forma mais resumida, “um poema lírico à insônia”?
Mad Ferreira - A escolha definitiva do nome foi decidida durante a gravação do primeiro álbum. É uma referência ao que estávamos fazendo de verdade na época. Nós tínhamos uma rotina de gravações noturna e por muitas vezes a gente se via tarde da noite gravando e mexendo nas músicas, então Tiago trouxe algumas combinações de palavras nesse caminho e foi meio que natural quando veio “Ode Insone”, porque realmente estávamos fazendo poesias com insônia.
Recife Metal Law – A Ode Insone é uma banda relativamente nova, tendo entrado para o seu quinto ano de existência agora em 2023. Porém, mesmo com o pouco tempo de estrada, já tem em seu currículo três álbuns de estúdio, os quais foram lançados num intervalo de dois anos. De onde veio tanta inspiração para compor?
Mad - Estamos sempre pensando em música e em como crescer no nosso tipo de som. Quase sempre nós compartilhamos coisas entre a gente, que acabam se tornando novas composições. Acredito que cada um na banda tem sua forma de compor e de se inspirar para fazer novas coisas e quando todo mundo se junta, acaba transbordando de ideias e coisas que transformamos em músicas. Eu diria resumidamente que essa é a nossa essência. Todo mundo na banda compõe e todo mundo é ativo com suas opiniões, daí sempre tem coisa para a gente trabalhar e, por consequência, mais lançamentos.
Recife Metal Law – Um fato curioso nos três álbuns lançados é que cada um deles vem com oito músicas, e em todos eles, além das músicas regulares, existem faixas bônus. Cada álbum conter oito faixas foi algo programado pela banda, para, assim, inserir as faixas bônus, ou mera coincidência?
Mad - Nesse ponto, eu diria que sempre foi planejado. Nós sempre temos mais do que oito músicas prontas quando finalizamos um disco, mas preferimos deixar apenas oito, devido as músicas serem razoavelmente longas. Até então, existia uma preocupação com os álbuns ficarem longos demais. Claro que ainda pensamos nisso, mas a partir do próximo vamos experimentar novas fórmulas e deixar isso um pouco de lado. Podem aguardar um trabalho bem maior.
Recife Metal Law – Lá no início, em 2018, e no primeiro álbum, “Relógio”, a banda seguia uma linha mais Doom/Melodic Death Metal, apenas com uso de vocais masculinos. Já no segundo álbum, “A Origem da Agonia”, uma das músicas, a belíssima “Valsa dos Infelizes”, contou com a participação da vocalista Amanda Lins, da banda pernambucana Seeds of Destiny, inserindo a banda numa linha mais Gothic Metal, também. Já havia uma vontade da banda em inserir elementos do Gothic Metal em sua música?
Mad - Sim, desde o início que queríamos adotar essa ideia e até tem uma faixa no primeiro disco chamada “Versos de Dor”, que tem um ritmo bem nessa ‘vibe’. Mas como tudo no começo foi muito experimental, a gente ainda estava descobrindo muitas coisas nesse sentido, e para o momento que foi quando estávamos trabalhando nas músicas que viriam a ser do “Relógio”, não estava totalmente claro se era o momento certo de já chegar com o som muito na onda Gothic. Então apostamos na mesclagem com o Death Metal e Doom para depois evoluir isso no segundo disco.
Recife Metal Law – Os vocais femininos foram abraçados de vez em “Isolamento: Do Silêncio à Poesia”, com a adição da vocalista Venore, que agora divide os vocais com Tiago Monteiro. Como vocês chegaram a Venore? O encaixe dela na musicalidade da banda, ao meu ver, deixou o som mais completo (o que não significa que os álbuns anteriores não tenham potencial, muito pelo contrário).
Mad - Venore estudou na mesma faculdade que Tiago e os dois meio que se conheciam “de vista”. Ele (Tiago) chegou para mim com o canal de Venore e me mostrou um vídeo dela cantando “Casulo”. De início eu nem considerei que ela poderia aceitar tocar conosco, porque era tão maravilhosa com aquele vozeirão único que faz qualquer um parar o que está fazendo para prestar atenção nela. Então me veio à mente “o que raios alguém tão incrível teria a ganhar com um bando de caras tristes tocando Rock triste?”, porque naturalmente ela seria um sucesso com ou sem a gente. Mas daí Tiago insistiu em tentar falar com ela e contra todas as minhas expectativas negativas, ela gostou do nosso som e aceitou participar, e hoje eu não vejo mais a banda sem ela.
Recife Metal Law – Falando em adição, mais recentemente a tecladista Priscila Hawana foi integrada a Ode Insone. Trazer Priscila para a banda e, consequentemente, os teclados, foi necessário, uma vez que hoje a banda conta com apenas uma guitarra, essa a teu cargo?
Mad - Sim. Uma das nossas maiores dores era não ter teclado nos shows. Era muito difícil tentar reproduzir fielmente o que fazíamos em estúdio, tanto que tínhamos que escolher de forma muito limitada o nosso ‘set list’. Daí, em uma reunião após saída de Lucas (NDE.: Lucas Souza, guitarrista), decidimos colocar mais um integrante, e em vez de outra guitarra, optamos por um teclado. Durante essa mesma reunião nós pensamos em alguns nomes para a vaga e Priscila foi a pessoa que eu idealizei e tomei coragem de convidar para a banda. Desde a primeira vez que eu vi um ‘story’ dela tocando um trecho de uma música autoral no piano (uma das coisas mais lindas que já tive o prazer de ouvir), eu sabia que ela era fora da curva (e que também poderia ser um sucesso sem a gente). Então não deu outra, todo mundo foi super positivo com a entrada dela e agora ela tá aí quebrando tudo!
Recife Metal Law – O mais recente álbum, o já mencionado “Isolamento: Do Silêncio à Poesia”, foi lançado em meio a pandemia da Covid-19, inicialmente de forma digital. Qual foi o impacto da pandemia na hora de compor as músicas e criar as letras desse álbum?
Mad - Impacto total! Não teve ninguém que não foi afetado; não se falava em outra coisa; não se pensava em outra coisa. Era muito difícil ir além disso naquele momento, tanto que o disco foi moldado nessa ideia e ainda haverá resquícios desse assunto no próximo álbum. Foi um momento bem ruim para todo mundo, mas, apesar disso, conseguimos avançar e nos mantermos firmes.
Recife Metal Law – Falei que o álbum foi lançado digitalmente, no final de 2020, mas em janeiro de 2022 esse material ganhou o formato físico, em CD, lançado pela Eclipsys Lunarys Productions. Como surgiu essa parceria? E como vem sendo a distribuição desse álbum, além de sua recepção por quem o adquiriu (ou ouviu)?
Mad - Temos uma parceria legal com Leandro Fernandes, que sempre demonstrou interesse na nossa música e nos nossos lançamentos. Ele que está à frente da Eclipsys Lunarys e que nos fez a proposta para lançar em formato físico o álbum. Tiago já o conhecia, porque ele também chegou a fazer lançamentos de outra banda que Tiago participa. O álbum acabou saindo um pouco tarde por conta da pandemia. Era uma época ruim para tudo, imagine como foi para os selos independentes. Mas, no fim, acabou dando certo e conseguimos ter a versão em CD deste trabalho e provavelmente o próximo também terá versão física.
Recife Metal Law – A parte lírica sempre transitou no que uma banda do estilo procura abordar: dor, sofrimento, angústia, morte, mas, também, problemas sociais, ainda mais nesse novo álbum. A inspiração para as letras nem preciso perguntar de onde vem, pois isso nos rodeia. Mas quem é o principal letrista da banda e de que forma vocês trabalham na criação das letras?
Mad - Tiago foi o responsável pela maior parte das letras. Nos dois primeiros trabalhos quase todas são obras dele, uma ou outra tem parte minha, Diego e George. Já no terceiro, Venore trouxe músicas completas com letras e melodias. Ela também trabalhou em conjunto com Tiago na construção de outras letras do disco. Apesar de fazer letras para outros projetos, essa é uma parte que eu nunca me aventurei muito na banda, mas no próximo trabalho eu vou mudar isso. Vai ser algo bem mais diversificado nesse quesito.
Recife Metal Law – Vocês chegaram a fazer duas versões de músicas e colocaram como bônus em álbuns da banda. Uma delas foi para “O Tempo Não Para”, de Cazuza, e “Meu Vinho em Silêncio”, uma versão em português para “My Wine in Silence”, do My Dying Bride. A versão para a música de Cazuza ficou espetacular e a versão em português para a música do My Dying Bride deu uma “cara Ode Insone” para ela, claro, sem fugir do que é a versão original. Como foi trabalhar essas versões para que não soassem meramente como uma cópia das originais?
Mad - Foi algo bem natural até. Tentamos ser fiéis às composições originais em sua essência, mas com o nosso próprio “tempero”. Como a proposta da banda é algo que vai em outro caminho diferente dessas músicas, acabou saindo algo novo e que, ao mesmo tempo, respeita o que as canções originais transmitem. E acho que isso é o mais importante quando se tenta homenagear um artista através de sua música.
Recife Metal Law – Algo interessante é que todas as músicas da Ode Insone são cantadas em português. Digo interessante, porque geralmente bandas do estilo, não só no Brasil, procuram cantar em inglês. Por que vocês decidiram usar a nossa língua para cantar as músicas da banda?
Mad - A ideia era exatamente fazer algo diferente do que havia no nosso meio. Aqui no nosso ciclo Underground, de bandas da nossa cidade, haviam poucas que cantavam em português e não tinham nenhuma de Doom Metal com essa proposta, então seguimos nessa direção. Acredito que muita gente gosta de Metal em português e essa parte do Doom usando nossa língua pareceu algo muito interessante de explorar, e estamos nisso até hoje, sem arrependimentos.
Recife Metal Law – Assim como nos álbuns anteriores, a produção sonora do mais recente álbum ficou a teu cargo. Qual a razão por deixar toda a produção sonora, mesmo que gravados em estúdios diferentes, sob tua responsabilidade?
Mad - Mesmo que nos encartes e descrições mostrem estúdios diferentes, todos os discos foram gravados comigo, apenas com meu equipamento pessoal mesmo, isso porque eu acabei mudando o nome do que seria meu ‘home studio’ algumas vezes, daí vem a confusão de nomes. No início a gente tomou essa decisão de gravar comigo apenas porque não tínhamos dinheiro para investir em gravações em estúdios maiores e nos custos de logísticas e pós-produção, daí com o capital que eu tinha, investi em uma interface e um microfone, o resto foi trabalhar com isso até o disco ficar pronto. Hoje em dia nós podemos gravar em outros estúdios tranquilamente, mas optamos por manter esse processo interno. Uma das coisas que me faz gostar de estar na banda é poder fazer esse trabalho de produção, mixar, masterizar, explorar elementos e ambiências para cada música. Isso tudo deixa a gente mais livre em termos de criatividade e de como queremos que o nosso som chegue nos ouvidos do público. Um ponto a ser observado é que isso vai mudar um pouco no próximo trabalho. Vamos captar a bateria em um estúdio e os vocais serão captados por seus respectivos vocalistas com seus equipamentos pessoais, as demais coisas ainda serão feitas comigo, como captação de guitarras, teclado, baixo, mixagem e masterização.
Recife Metal Law – A capa de “Isolamento: Do Silêncio à Poesia” ficou muito bonita e cheia de detalhes, alguns deles fazendo menção à parte lírica. Já outro detalhe que percebi foi a mandala presente na capa do primeiro álbum. Há alguma mensagem subliminar nessa capa?
Mad - A mandala é meio que o nosso emblema. Acredito que em todos os próximos trabalhos, a partir daqui, ela estará presente. E a arte da capa foi pensada na parte lírica mesmo, uma mesclagem do que as letras expressavam com a ambientação do disco e algumas referências aos tempos sombrios que estávamos passando na época em que ele estava sendo construído. Um trabalho magnífico que a Design Lara fez para nós.
Recife Metal Law – A curto prazo, quais são os próximos passos da Ode Insone?
Mad - Primeiramente, obrigado pela chance de participar dessa entrevista aqui no Recife Metal Law, foi um prazer imenso! Sobre os próximos passos, temos um single para lançar nas próximas semanas e se tudo der certo, após isso, faremos o anúncio do disco que esperamos para esse ano. Ainda tem outras coisas sendo planejadas, como videoclipes, fotos, shows e algumas coisas que ainda não posso contar, mas que em breve será divulgado.
Contatos:
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Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Rosberg Rodrigues (ao vivo)