TUATHA DE DANANN
Lembrar de como conheci a banda Tuatha de Danann me traz boas memórias afetivas. Mas não me lembro se cheguei a ler algo sobre a banda, em alguma revista ou fanzine (sim, na época os fanzines eram de crucial importância para a divulgação de novas bandas). O que me lembro é que recebi uma lista de CDs para venda, enviada por Júnior (guitarra/vocal do Corpse Grinder) e lá tinha o primeiro do Tuatha de Danann, homônimo (hoje considerado um álbum, mas lançado como EP, em 1999). Respondi a carta de Júnior, com a grana para adquirir o CD, e alguns dias depois lá estava ele, no som. Aquilo soou mágico (risos), como deveria soar. Era uma música bem diferente do que estava sendo feito naquele período. E, com o passar dos anos, o Tuatha de Danann foi sendo bem reconhecido, extrapolando até o meio Underground, quando da assinatura com uma “major”. Mas, esse período, também trouxe alguns problemas e as coisas não saíram como a banda queria. E isso foi dando uma “esfriada” nas coisas e diminuindo os lançamentos, até que a banda deu uma parada. A volta se deu em 2014, com o single “Dawn of a New Sun!”, logo seguido do disco “Dawn of a New Sun”, e de lá para cá a banda vem numa boa crescente, com diversos lançamentos e voltando aos shows, depois do maldito período pandêmico. E, finalmente, a banda tocará em Pernambuco. Aproveitando essa passagem da banda, o Recife Metal Law entrevistou o Tuatha de Danann, na pessoa do vocalista/guitarrista Bruno Maia, não se atendo tão somente ao atual momento, mas passando por toda a história, de forma concisa, dessa tão importante e criativa banda de Folk Metal.
Recife Metal Law - Tuatha de Danann surgiu, efetivamente, em 1995, mas antes disso tinha o Pendragon. Como não conheci a banda anterior ao Tuatha de Danann, o que, de fato, fez com que vocês trocassem o nome?
Bruno Maia - Na verdade, cara, a banda a gente começou a tocar com uma formação que depois veio a se o Tuatha de Danann, em 1994, sob o nome Dark Subconscious, sabe? A banda era um tipo de Death/Doom, com influência de Paradise Lost, Amorphis, My Dying Bride, Anathema antigo... E a gente gostava, gostamos muito de Death Metal, de Katatonia antigo também, saca? Só que a gente era muito novo. Eu tinha 13 anos, os outros caras da banda também tinha 13 anos... O mais velho parece que tinha 16 anos. Já em 1995, um ano depois, a gente já mudou bastante coisa. A gente já começou a tocar um som mais melódico, rolou a incursão da flauta, né? Aí mudamos o nome para Pendragon, porque a gente ia falar de coisas medievais, coisas celtas, e daquele Death/Doom a gente passou um pouco para um som meio Doom com uma coisa meio Heavy Metal e com essas influências folclóricas, saca? Mudamos para Pendragon em 1995 e quando a gente foi lançar nossa primeira Demo-tape, em 1996, que era a “The Last Pendragon”, naquela época a gente descobriu que já existia uma banda chamada Pendragon. Então a gente mudou para Tuatha de Danann, porque essa coisa Celta, da cultura irlandesa, eu já gostava desde muito novinho, e uma das músicas já era “Tuatha de Danann”, então já era “um trem” que eu estudava, aí botei o nome de Tuatha de Danann.
Recife Metal Law - Não cheguei a ter acesso as Demos lançadas pela banda, na época, porém, hoje, ouvindo “The Last Pendragon”, é notório que essa Demo trazia uma sonoridade mais melancólica, trazendo resquícios do Doom Metal, mesmo que a música celta já desse as caras nela. Ainda era um momento de transição, musicalmente falando, para o Tuatha de Danann?
Bruno - Com certeza! Na “The Last Pendragon” ainda era um som muito germinal, porque, cara, eu tinha 15 anos, era o compositor principal da banda, sabe? Então estava crescendo ainda. Mas mesmo assim, o que está na “The Last Pendragon”, na Demo, já era bem diferente da banda que a gente começou um ano antes.
Já tinha bastante teclado, tinha umas partes bem mórbidas. Flautas já tinha só na (música) “The Last Pendragon”, mas era estranho porque a “Beltane”, a primeira música, ela era bem alegre, o comecinho alegre, meio festivo, depois cai num Doom Metal... É aquela coisa, era a nossa juventude, nossas influências eram aqueles que eu falei: My Dying Bride, Paradise Lost, Katatonia antigo, o Cathedral. Acho que eram essas bandas que a gente mais gostava e isso refletia muito na nossa música. Claro que a gente também gostava de coisas mais gótica. Já escutava uns Heavy Metal, mas nem tanto por aí. Era um som em transição, com certeza.
Recife Metal Law - Já a segunda Demo “Faeryage” veio para definir como seria a sonoridade da banda, com muitos elementos da música celta e folk, mesclados ao Heavy Metal. Até mesmo os vocais de Bruno Maia estão mais espontâneos e não mais tão ‘sisudos’ como na Demo anterior. Foram dois anos de uma Demo para a outra. Nesse período como os integrantes da banda trabalham para chegar a uma sonoridade que seria a sua referência nos lançamentos posteriores?
Bruno - Com certeza “Faeryage” foi um salto muito grande em relação a primeira Demo. Foram dois anos, né? E, cara, realmente a gente estava ouvindo muito Heavy Metal, Power Metal, sabe? Gamma Ray, Blind Guardian, Helloween, Iron Maiden... Aí com tudo mais que a gente ouvia desde antes, né? Estava tudo muito nítido. E as influências da música irlandesas, música escocesa, música medieval, música bretã, começaram a despertar, apontar mais, no som. Mas foi natural, cara. A gente não falou: “vamos fazer um som assim”. As ideias começaram a vir assim e a gente começou a fazer o som que a gente queria e começou a ser moldado ali.
Recife Metal Law - Meu primeiro acesso ao Tuatha de Danann foi o EP homônimo, lançado em 1999. Quero aqui mencionar que adquiri o CD, na época, com Júnior (guitarra/vocal) do Corpse Grinder. Quando peguei esse EP adorei tudo que ouvi nele. Era algo diferente, inusitado, para o que se ouvia na época, no meio Heavy Metal, no meio Underground. Vocês ainda lembram do impacto desse EP naquele período?
Bruno - Putz, cara, demais! O Juninho, Juninho do Corpse Grinder, um medalhão do Death Metal brasileiro. Nosso vizinho aqui, a cidade dele, Machado, é próxima a Varginha. Grande amigo das antigas. Inclusive, vamos tocar com eles amanhã (NDE.: entrevista respondida em 17/02/2023), em Poços de Caldas, depois de muitos anos sem tocarmos juntos. Cara, eu considero esse primeiro lançamento, na verdade, como um disco, o nosso primeiro álbum, porque ele tinha a (Demo) “Faeryage”, ele tinha oito músicas, 40 minutos. Mas, enfim, não é um problema. Eu sei que ele era bem diferente, porque a gente era muito ativo no Underground, então a gente trocava muita correspondência, muita Demo, muito CD, aquele “trem todo”, flyers para tudo que é lado... E eu sabia que ele era um material diferente. Começava com a “Us”, aquela música acústica. Era uma introdução realmente tocada pelos músicos. Geralmente tinha uma introdução assim, que era um tecladinho, com a voz (NDE.: em discos da época)... E ali era a gente tocando mesmo, flauta, percussão, violino para tudo que é lado, e era um som que já estava nessa fronteira, com algumas coisas extremas, com o pé no Power Metal, com o pé num negócio mais épico. E fez muito barulho, teve muito destaque. Ele chamou muita atenção da mídia naquela época e fizemos shows para caramba. Inclusive, melhorou o nosso contrato com a gravadora, porque esse foi o primeiro CD que a gente lançou por uma gravadora, a Heavy Metal Rock, e foi massa demais!
Recife Metal Law - Os discos posteriores - “Tingaralatingadum” (2001) e “The Delirium Has Just Began...” (2002) mantiveram o nome da banda em evidência. O primeiro um disco com dez músicas e o segundo trazendo apenas seis músicas. Mas ambos trazendo uma atmosfera mais festiva, com letras que falavam sobre elfos, festas na floresta, bebedeiras, e uma lírica, a qual juntamente com a música, fazia com que o ouvinte fizesse uma espécie de viagem. Foi um período de muitos shows e que transformou a banda num nome forte no Brasil. Como foi esse período para a banda, em termos de visibilidade, tanto no Brasil como no exterior?
Bruno - Pois é cara, eu acho que com o “Tingaralatingadum” foi quando a gente encontrou o nosso som mesmo. Que entrou aquelas coisas mais alegres. Alegres, mas ao mesmo tempo sem ser muito piegas, mantendo os vocais guturais aqui, acolá, muito teclado, muita flauta, muito bandolim. E eu acho que a gente começou a fazer um tipo de Folk Metal que não é igual ao Folk Metal que o povo faz por aí. O nosso não é nem bonachão e não é nem aquele épico “do alto da montanha”. É um Folk Metal que parece que tem um pé com os Beatles ali, né? Uma coisa assim para cima, só que é sem ser muito meloso, sei lá. Muita melodia, muita influência de (música) progressiva dos anos 70... Muita coisa do Yes, muito teclado torto... E, sim, esses discos tiveram grande visibilidade. A gente fez muitos shows no Brasil. E o “The Delirium Has Just Began...” é um álbum de seis músicas, mas de 37 minutos. Eu ouvia muito o Yes na época, Jethro Tull, Genesis, Gentle Giant... Frisando que Beatles sempre foi a maior influência... O “The Delirium Has Just Began...” foi o primeiro disco nosso lançado lá fora... Mentira! O “Tingaralatingadum” foi o primeiro disco lançado no exterior. Foi lançado na Rússia. Depois o “The Delirium Has Just Began...” foi lançado na Rússia e na França, só que a gravadora da França, por conta do sucesso que o “The Delirium Has Just Began...” fez lá, lançou o primeiro e o segundo também: o “Tuatha de Danann” e o “Tingaralatingadum”. E a gente começou a ter um nome bem forte na França, principalmente. E na Rússia estavam vendendo os seus discos. Uma época muito boa. De curtição, de muito show, de muita piração no estúdio, de experiência, muitas amizades feitas... Vivendo o sonho, do jeito que dava. Massa demais, cara.
Recife Metal Law - “Trova di Danún” (2004) é um álbum que foi lançado por uma grande gravadora, porém achei a divulgação, naquela época, não tão abrangente. Esse é um dos poucos álbuns que não tenho, em seu formato físico, da banda. Só o consegui por meio digital. Todos os lançamentos anteriores haviam saído pela Heavy Metal Rock. Por que houve essa mudança de gravadora na época? Como vocês avaliam a divulgação do “Trova di Danún” e a sua importância para a banda?
Bruno - Pois é, o “Trova di Danún” foi o disco mais foda que a gente fez até então e o que deu mais errado, saca? Realmente a gente saiu da Heavy Metal Rock porque apareceu uma gravadora muito grande na época. Ela não existe mais hoje. A Paradox era quase uma ‘major’, que tinha muita estrutura, muito recurso para colocar na banda e a gente pôde escolher o produtor que a gente queria; a mixagem no estúdio que a gente queria; gravações que a gente queria; masterização de gente queria. Foi a nossa maior produção até então. Cara, as músicas são muito loucas, né? Tem música de vários estilos, é um disco variado, múltiplo, que você tem. Ele tem doze músicas, na verdade, e uma variedade muito grande. Tem “Believe: It’s True”, que é uma música um pouco mais alegrinha, mais boba. Depois você tem “The Wheel”, que é uma música progressiva, muito doida; tem a “The Arrival”, que é uma música meio Death Metal, meio Amorphis; tem “Trova di Danún”, uma música mágica, mística, estranha... E tem os Folk Metal normal do disco. Tem a “Bella Natura”... Cara, é um disco muito doido! Só que realmente essa gravadora faliu e esse disco ficou meio perdido quase que um ano. Só que ele foi lançado no exterior também e a gente fez uma turnê na Europa muito massa. Tocamos no Wacken, tocamos na França inteira, fizemos alguns shows na Alemanha... Foi uma época foda para a banda! Porém esse disco tinha tanta coisa, prometia tanto, e teve várias propostas do exterior, de grandes gravadoras para lançar e as coisas não se concretizaram. Mas aí foi problema com o agenciamento da banda na época, sabe? A gente estava fazendo a nossa parte do jeito que dava, correndo atrás. Mas foi isso que aconteceu.
Recife Metal Law - Ainda sobre esse álbum, ele tem um aspecto mais sério. Não veio com aquela capa mais festiva dos discos anteriores e a musicalidade também saiu de uma vibração mais de festa para algo mais sério. A que se deveu isso?
Bruno - É, ele é mais sério, sim. Só que ele tem as ‘doideira’ ali ainda. Tem aqueles ‘vocalzinho’ de doente... Isso aí tem na “Bella Natura”, tem na “Land of Youth (Tir nan Og)”, tem na “Believe: “It’s True”... Só que é um disco que a gente tocou mais, né? Tem umas coisas instrumentais, tem uns interlúdios, tem vocal feminino para caramba. A gente estava com muita ideia doida. A gente estava ouvindo mais (música) progressiva ainda. Então tem umas músicas diferentes, que mostravam várias facetas diferentes da banda. Mas não deveu a nada. Acho que faz parte da evolução do artista, né? Era o que a gente estava compondo na época, era aquilo lá.
Recife Metal Law - Depois de um período bem produtivo, a banda deu uma parada em seus lançamentos. O que veio depois desse álbum foram alguns splits e o DVD “Acoustic Live” (2009). Nada de álbuns de estúdio e o nome da banda deu uma “sumida”, se assim posso dizer. O que aconteceu no período compreendido entre o último álbum de estúdio, lançado em 2004, e o retorno aos álbuns em 2015 (isso não mencionando o DVD e os splits lançados)?
Bruno - Depois do “Trova di Danún” a gente tocou muito no Brasil, fizemos essa turnê fora, fizemos um tanto de coisa para televisão... Tinha muita coisa acontecendo e nós tivemos várias propostas de grandes gravadoras (do Heavy Metal) do exterior para lançar um montão de coisas, só que o pessoal que agenciou a banda na época deixou tudo passar, sabe? Então a gente foi sofrendo frustrações atrás de frustrações, as coisas davam erradas... Tinham vários projetos que não foram para frente, não por culpa nossa, e aí a gente fez um acústico. O acústico a gente gravou em 2008, lançamos em 2009, e nessa parte toda a gente já começou a ter problema interno... Problemas de relacionamento... A coisa começou a dar uma esfriada, somada a esse fato, dessas frustrações com o agenciamento da banda, que não estava conseguindo fechar nada, mesmo cheio de proposta e, sei lá, né cara? Foi isso que aconteceu. Aí depois a gente deu uma parada. Chegou em 2011 a gente parou um pouquinho. Mas foi por isso, foi desgaste interno e com problema com agenciamento da banda.
Recife Metal Law - Depois disso a banda voltou a ser bem ativa, inclusive relançando o primeiro EP, com as músicas trazendo nova “roupagem”, novos elementos. Noto que isso é uma característica da banda, que sempre apresenta suas músicas de diversas formas. Por que fazer essa variação musical nos sons do Tuatha de Danann, seja com novos lançamentos, seja ao vivo?
Bruno - Esse lance de regravar as coisas, é porque a gente sempre... Não sei nem explicar. Pode ser que talvez sejamos meio ‘afoitos’. Talvez pelo fato de ter muita coisa que a gente gravou antigamente... A gente é do interior, cara, do interior de Minas... Não tem tanta coisa. Quer dizer, hoje em dia está tudo diferente, né? Mas antigamente os recursos eram muito escassos, então a gente não tinha como fazer muita coisa. A gente gravava de qualquer jeito, em qualquer estúdio, sem muito preparo, sem conhecer direito, sem produção. Então, vira e mexe, a gente fala “vamos regravar aquela música lá. Vamos fazer aquela com o metrônomo agora. Tentar afinar as coisas”. É por isso. Pra gente tentar poder ouvir essas músicas depois, sabe? Às vezes fica aquela música que a gente gravou há 20 atrás, que na época era legal pra caramba. A gente tem uma memória afetiva boa dela só que, putz, na hora que você vai ouvir a música do disco é horrível. Você fala: “não, vamos gravar de novo”.
Recife Metal Law - O mais recente álbum da banda é o “In Nomine Éireann”, lançado em plena pandemia da Covid-19. Qual foi o impacto da pandemia nesse lançamento? Digo na forma de compor, tanto a sua música como a temática lírica?
Bruno - O “In Nomine Éireann”, ele foi feito na pandemia e ele foi feito através de um processo muito louco, que foi com os nossos admiradores comprando esse álbum antecipadamente, mas com valores mais altos. E eles tinham acesso a ver as filmagens do disco, que a gente compartilhava com eles, as ideias das músicas, mostrava tocando todos os instrumentos, porque tem muito instrumentos diferentes nos discos, e mostrando os instrumentos, contando a história. E tem muita música tradicional irlandesa. Então, a gente compartilhava a história de cada música, contava o contexto daquela música, e muitos deles estavam, tipo assim, conectados ao que a gente vivia no Brasil naquela época, não só por conta da pandemia, mas por conta do governo, dessa coisa da opressão do governo, muita coisa falando de revolução, de tomada de poder. Fizemos letra com nossos fãs. Foi um disco meio “Big Brother” nosso e colaborativo também. E foi muito legal. Na forma de compor, não mudou muito, não, mas a forma de gravar foi diferente, por conta do isolamento, ao qual nós nos sujeitamos muito seriamente, porque a gente estava no meio da pandemia. Só retardado que não ligava para ela, mas a gente, não. Todo mundo vacinado, tudo bonitinho. Então teve isso aí. Foi difícil, mas deu certo nos adaptarmos.
Recife Metal Law - Esse, assim como os dois EPs anteriores, foram lançados pelo selo Heavy Metal Rock. Como foi retornar com essa parceria depois de tantos anos?
Bruno - E você falou dois EPs anteriores... Cara, a gente lançou um EP... Olha, depois do “Trova di Danún” a gente lançou o “Dawn of a New Sun”, que é um álbum inteiro, que tem a participação do Martin Walker na “Rhymes Against Humanity”. É um disco muito massa, do qual a gente toca umas três ou quatro músicas nos show. A gente gosta muito dele. Depois a gente lançou o “The Tribes of Witching Souls”, e há quem o chame de EP. Nós também começamos divulgando como EP, mas depois nos falaram que ele era um álbum, porque um álbum tem mais de trinta minutos e ele tinha, sem os bônus, mais de trinta minutos. Então, ele é um álbum. Eu fui ver o “Reign in Blood” do Slayer, ele tem 27 minutos. O primeiro do Bathory tem menos de meia hora. Vários discos clássicos aí tem menos de meia hora. Então aquele disco é o nosso sexto disco, sacou? E a gente voltou para a Heavy Metal, porque nós nunca brigamos. O Milton da Heavy Metal Rock é um guerreiro do Metal, amigão nosso. Quando a gente saiu da Heavy Metal Rock, foi porque apareceu uma gravadora muito grande, que poderia abrir portas muito mais fodas para nós. Só que a gente nunca rompeu relação com a Heavy Metal Rock.
Recife Metal Law - Eu comecei a acompanhar o Tuatha de Danann a partir do seu primeiro EP, em 1999, como dito lá no início dessa entrevista. Sempre admirei bastante a sonoridade da banda. E notei que vocês começaram a incorporar a temática lírica algo mais crítico, social. Depois de um período tão turbulento pelo o qual o país passou (e não falo tão somente da pandemia, tratada com total descaso), se posicionar era preciso?
Bruno - Não deu para continuar falando de fada e duende durante esse tempo. Não dá para alienar mais o povo, continuar alienado. O que rolou foi que tivemos que nos posicionar, claro. Não foi só porque uma opção política diferente da nossa foi eleita, nem nada, mas é porque a gente está falando de um governo que era negacionista, que nega a ciência; negou as vacinas durante uma pandemia que matava milhões ao redor do mundo. Ele nega a história. Ele nega os dados do desmatamento. Ele é contra a natureza. Ele se insurge contra as populações originárias aqui do Brasil. É um governo fascista, porque dizia que as minorias tem que se curvar a maioria. Isso é um enunciado fascista, certo? É um governo que se aliou ao mais baixo, vil e conservador que a sociedade tem. Com aquela aquelas igrejas neopentecostais; com a ala mais conservadora do higienista dos militares. Um governo de extrema direita, mal visto no mundo inteiro, terrível, que se insurge contra o povo brasileiro; que tira os direitos e fala que o trabalhador tem que ter menos direito; que faz reformas contra a vida do povo... Vai pra puta que pariu! Tivemos que nos posicionar, sim.
Recife Metal Law - Depois de tantos anos, o Tuatha de Danann tocará pela primeira vez em Pernambuco. Hoje a banda é um trio, porém a musicalidade da banda sempre foi repleta de muitos instrumentos. Esse trio será o responsável por executar todas as músicas ou vocês trarão músicos de apoio?
Bruno - Nós não somos um trio. A foto do disco “The Tribes of Witching Souls” que retrata o trio, que foi nós três da banda - eu, Giovani Gomes e o Edgard Brito - que continuamos na banda, da formação original, naquele álbum. Porém não gravamos o álbum sozinhos, né? Na turnê daquele disco a gente já montou a banda, que são os caras que estão conosco até hoje - o Rafael Delfino (na bateria), o Raphael Wagner (na guitarra) e o Nathan Viana (no violino). Na verdade, o Nathan gravou aquele disco também. E nós já estamos tocando junto faz muito tempo. Nós nos conhecemos há muito tempo, também. Então essa é a banda que vai toda para Recife. Vai ter tudo... Vão ter as flautas, bouzouki, banjo, violino... Vai ter tudo aí.
Recife Metal Law - Com relação ao merchandising, o que teremos disponibilizado? Eu ainda procuro o “Trova Di Danún”, o relançamento do primeiro EP, e a compilação “...Of Trovas and Spells”...
Bruno - Quanto ao merchandising, eu não sei se nós temos o “Trova di Danún”, hoje, mas “...Of Trovas and Spells” a gente tem. O primeiro álbum a gente tem também. E nós temos outros discos. Temos o “Tingaralatingadum” na versão que tem um pôster. Temos o “In Nomine Éireann” em vinil e CD. Temos o “Dawn of a New Sun”, o “The Tribes of Witching Souls”. Ah, tem hidromel, tem as camisetas, a camiseta do disco novo, do single novo, “The Nameless”. Vai ser legal pra caramba. Vejo vocês todos lá. Valeu!
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Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Bárbara Matos