CARRASCO





O tempo urge, como diz o poeta. Foi um “dia desses” que conheci os irmãos Ricardo e Hugo, vulgo “Ghul” e “Terror Holocausto”, em eventos Underground lá no Recife Antigo. Na época os caras estavam começando uma banda ao lado do baixista Cristiano “Torturador” Chalegre. Eram apenas moleques... Agora já se vão quase 20 anos da formação do Carrasco. Vi muitos shows da banda, que, entre tais shows, fez os seus lançamentos, entre álbum, Demos e compilações. Mas a banda teve uma “parada forçada” em 2017, só voltando a ativa em 2020. No ano seguinte lançou o seu segundo álbum, “Tormento Eterno”, em meio ao caos pandêmico. E sobre esse álbum, que continua a ser divulgado, entre outros assuntos, o guitarrista/vocalista Ghul nos fala um pouco mais a seguir.


Recife Metal Law - Entre idas e vindas, o Carrasco se mantém na ativa desde 2004. Porém a banda deu uma parada em suas atividades entre 2017 e 2020. Qual foi o motivo que forçou a banda a ter que parar as atividades?
Ghul –
Fala grande Valterlir! Em 2017 meu irmão (Terror Holocausto, bateria) foi morar na Bahia. Nós optamos por não substituí-lo, o que acabou impossibilitando a manutenção das atividades da banda por conta da distância. Isso foi o que motivou o encerramento temporário de nossas atividades.

Recife Metal Law - Antes dessa parada, a banda havia lançado seu álbum de estreia, “Armageddon” (2011) e mais duas compilações. Dois desses lançamentos foram feitos por selos de fora do Brasil. Como surgiu essa parceria? O fato de vocês executarem as músicas do primeiro álbum em espanhol facilitou essa parceria?
Ghul –
O selo em questão é o Return the Crusher of Posers, de Pasto, sul da Colômbia. O selo, infelizmente, encerrou suas atividades, mas fez uma ótima distribuição dos lançamentos que encabeçou. Freddy, o dono do selo nunca me falou nada a respeito do idioma ter facilitado algo, eu também nunca perguntei... (risos) Todavia, no final, creio que o fator que pesou mesmo foi o som.

Recife Metal Law - A parceria com selo brasileiro voltou com o segundo álbum, “Tormento Eterno”, lançado em 2021, via Cianeto Discos. Como vocês analisam o trabalho do selo na divulgação desse novo disco? As expectativas de divulgação foram alcançadas?
Ghul –
A Cianeto Discos, do velho amigo Gil Dessoy, é um selo que tem se projetado muito bem dentro do Underground brasileiro e internacional, e tem feito uma ótima distribuição e divulgação do nosso ‘trampo’. Ele nos contactou em torno de 2018, buscando relançar nosso ‘debut’ no Brasil, já que antes disso o lançamento só tinha ocorrido lá fora. O relançamento, que conta com alguns bônus, capa exclusiva, entre outros, foi o primeiro passo nessa parceria, que mantivemos para o lançamento do segundo álbum e queremos manter para o próximo.

Recife Metal Law - Esse novo disco também marca o retorno das composições em nossa língua pátria. Após o período inativo, a volta do Carrasco em apresentar músicas em português era necessária ou não foi algo planejado?
Ghul –
Foi algo espontâneo. Simplesmente voltamos a cantar em português e pretendemos nos manter assim daqui em diante.  

Recife Metal Law - “Tormento Eterno” traz uma sonoridade que transita entre o Thrash, Speed e o Black Metal brasileiro da década de 80, com nomes como o velho Vulcano, o antigo Sepultura e até mesmo o Sarcófago como referências. Vocês realmente lançaram mão de tais influências para compor as músicas para esse novo disco?
Ghul –
Compor baseado nessas referências é outra coisa espontânea dentro da banda. (risos) A gente sempre cresceu ouvindo as ‘podreiras’ boas de nossa terra, e desde o início da banda que o nosso som foi moldado de uma forma ou de outra por essas influências.

Recife Metal Law - Já a temática lírica vem mais obscura. Mesmo assim, tratando de temas como anticristianismo, desolação, sofrimento, a banda traz letras mais complexas e bem escritas, o que difere da primeira Demo de vocês. Opressor, vulgo “Ghul”, é o responsável por quase todas as letras, exceto em “Cova”, que teve a participação do baterista Terror Holocausto. Quais foram as principais inspirações para construir as letras desse disco?
Ghul –
Na realidade, meu irmão não escreveu a letra de “Cova”, ele compôs a primeira parte da música, enquanto eu fiquei com a segunda. As inspirações vieram, principalmente, de temas recorrentes dentro de nossas influências dentro do estilo, e que buscamos tomar como referência para o Carrasco, justamente dentro desse espectro que você citou. Com a adição de temas em demonologia e ocultismo, baseados em interpretações que fiz acerca de textos base nessa seara, como “O Livro de Enoch” e “A Clavícula de Salomão”. Eu sou ateu, portanto, os temas das letras seguiram e continuarão seguindo essa linha por razões mais artísticas do que ideológicas.

Recife Metal Law - Musicalmente, a banda soa mais segura e imponente. Inclusive, esse disco traz bons solos de guitarra, algo que não ouvíamos anteriormente. A garra e ‘crueza’ de outrora continuam intactas, mas com uma banda soando “mais profissional”. Como foi trabalhar a parte instrumental desse disco? O trabalho foi feito em conjunto ou apenas um dos integrantes fez os arranjos e passou para os demais como tudo deveria soar?
Ghul –
Isso que você notou faz todo sentido! Foi intencional de nossa parte e, claro, feito dentro dos nossos limites como músicos amadores. (risos) Queremos melhorar cada vez mais essa parte de composição para amplificar a maldade e crueza de nossas músicas nos próximos lançamentos. No Carrasco, o trabalho de composição, seja instrumental, harmônico ou rítmico, tem sido feito basicamente por mim, compondo em casa ou no estúdio e repassando para os demais integrantes. Uma exceção digna de nota é a música “Cova” do último álbum, que foi composta por mim e meu irmão.

Recife Metal Law - Falando em integrantes, desde a formação da banda não houve mudanças. Mas sei que, hoje, cada um dos integrantes mora em cidades diferentes. Como vocês fazem para se juntar, compor, ensaiar?
Ghul –
Tem sido desafiador manter a banda com cada integrante morando em cidades distantes umas das outras. No que diz respeito à composição, ainda é tudo muito novo, mas o que facilita é que ao menos eu e meu irmão temos nossos ‘home studios’, o que ajuda em todo o processo de receber e enviar arquivos relacionados às novas músicas. Nesse processo eu basicamente monto uma Demo com bateria programada e envio para os outros integrantes pegarem, inserindo suas personalidades no instrumento e contribuindo com o arranjo final da música. Com relação aos ensaios, eles só ocorrem quando vamos tocar. Chegamos um ou dois dias antes do show, ensaiamos e tocamos. O nosso novo material será todo gravado à distância, com cada integrante gravando sua parte em sua respectiva cidade. Sendo assim, os ensaios ficam reservados apenas para as ocasiões de shows ao vivo mesmo.

Recife Metal Law - “Tormento Eterno”, mesmo lançado em 2021, já tinha um tempo de gravado. Ao menos a parte instrumental já estava gravada desde 2014. Por que vocês gravaram todo o instrumental e só em 2020 que inseriram vocais e solos de guitarras, masterizando o álbum em 2021?
Ghul –
Exatamente! Ao todo foram sete anos entre o início e o fim da gravação de “Tormento Eterno”. Uma “eternidade”, literalmente. (risos) O que rolou é que a gente tentou compatibilizar a gravação do disco com os convites para shows dentro e também fora de nossa cidade. Gravamos todo o instrumental no segundo semestre de 2014. Entre 2015 e 2017 ficamos “bestando” tocando ao vivo, enquanto a gravação ficava sempre em segundo plano. Um erro realmente grosseiro e que não repetiremos novamente! Em 2017 a banda acabou. Quando voltamos. em meados de 2020, no início do caos pandêmico, o caminho natural foi o de retomar e finalizar a gravação. Então, entre agosto/setembro de 2020 e início de 2021, eu gravei os solos, vocais e mandamos para a mixagem, finalizando o disco na sequência.

Recife Metal Law - A capa do álbum é um tributo ao Metal Underground sul-americano. O layout, com fotos num mural, nos remete ao passado. A ideia era essa mesma: fazer uma espécie de tributo ao passado e ao Underground sul-americano?
Ghul –
Como tocamos um estilo dentro de uma proposta ‘old school’, estamos sempre prestando nossos tributos à era de ouro do Metal, como, por exemplo, quando colocamos nossas fotos em um mural e afins. Quanto à capa, a ideia foi mesmo representar um “Tormento Eterno” (risos), representado pelas expressões faciais excruciantes daquela caveira e do cara que está alocado de maneira subliminar no plano de fundo da caverna, que é parte importante dessa arte da capa.

Recife Metal Law - Carrasco, após algum tempo, volta a tocar em Recife, dessa vez ao lado das bandas Parasital Existence, Losna e Medicine Death. Os shows da banda sempre foram muito intensos. Então podemos esperar por mais uma apresentação demolidora?
Ghul –
Com certeza! Estamos indo com tudo para esse show! São três anos e meio sem tocar ao vivo. Será  um grande prazer explodir tudo ao lado de grandes bandas no próximo dia 16/09/2023! As expectativas são as melhores possíveis, e estamos muito felizes de podermos realizar, mesmo que tardiamente, o lançamento de “Tormento Eterno” em Recife, cidade de origem do Carrasco.

Contatos: www.facebook.com/carrasco666

Fotos: Karla Gonçalves
Entrevista por Valterlir Mendes