LOSNA
Eu acho que essa é a quinta entrevista que faço com a Losna, pois comecei entrevistando a banda quando ainda tinha o meu fanzine, Máquina do Metal. E desde que conheci a banda, por intermédio de Luiz Teixeira (Hell Underground Zine) e Marivan Ugoski (coletânea Rock Soldiers), que mantenho contato com ela. Losna é sinônimo de persevarança, luta e respeito ao Underground. Não simplesmente uma banda que faz uma mistura amarga entre o Thrash Metal e o Hardcore nas suas músicas. A formação tem seu núcleo intacto desde 1997, que são as irmãs Débora (guitarra) e Fernanda Gomes (baixo e vocal), tendo Mateus Michelon (ex-Inheritours) adentrado a banda em 2021, assumindo o posto de baterista deixado por Marcelo Índio no mesmo ano. Na entrevista a seguir as irmãs falam um pouco mais sobre a mudança na formação, novo disco, entre outros tópicos.
Recife Metal Law – A Losna teve uma parceria de vários anos com a UGK Disccos, selo que lançou os seus três discos anteriores, mas “Absinthic Wrangles” saiu pelo selo True Metal. Qual foi o motivo da troca de selos e quais os principais benefícios que essa troca de selos trouxe para a banda?
Débora Gomes – Com o selo True Metal Records tivemos um apoio inédito para a Losna em relação à prensagem do “Absinthic Wrangles”. Não tivemos que arcar com os custos de prensagem, além de ter todo o apoio na confecção de merchandising. Foi algo surpreendente para uma banda independente como a Losna. Nunca antes tivemos um apoio deste tipo.
Recife Metal Law – O novo disco mantém as características da banda, no que tange ao seu som: uma mistura amarga entre o Thrash Metal, Death Metal e Hardcore. Essas características são fatores que vocês definiram quando começaram a compor esse disco?
Débora – Ao compor um novo riff amargo é tudo natural, nunca penso de como ele deve soar ou ficar pensando muito sobre. Simplesmente flui, porque o som pesado e visceral é uma constante na minha existência. E tanto a Nanda como o Mateus curtem Death, Thrash e Hardcore, então rola fácil a composição de som amargo.
Recife Metal Law – “Absinthic Wrangles”, lançado em 2020, foi gravado com a formação que mais durou na banda e que foi responsável, até então, pela gravação de todos os álbuns da Losna. Porém, em 2021, após 20 anos, Marcelo Índio deixou a banda. Após tantos anos, com uma formação sólida, como foi ter essa baixa?
Débora – Não considero uma baixa, mas, sim, uma renovação extrema com a entrada do Mateus na Losna. Tivemos uma motivação e clima melhor nos ensaios e shows. Mateus é um baterista incrível, dono de uma técnica impressionante, além de ser uma pessoa com um humor e personalidade sensacionais. Marcelo saiu por vontade própria. Acho que a amargura sonora da Losna foi demais para ele continuar... (risos)
Recife Metal Law – Liricamente, as letras seguem a musicalidade da banda, ou seja, letras amargas, contundentes, mas, nesse disco, trazendo algo conceitual, abordando diversas modalidades de lutas... “Extreme Sumo” (que faz menção ao sumô), “Glíma” (que cita “artes marciais vikings”), “Constellation Drama” (onde há uma citação a ninjas)... De onde veio a inspiração para abordar tais temas?
Fernanda Gomes – Essa inspiração vem da nossa falecida mãe. Ela sempre admirou muito as artes marciais; gostava que a violência fosse drenada para coisas construtivas e evolutivas. Ela percebia que a preparação para as lutas envolviam tanto o corpo quanto a mente, os exercícios para fortalecer os músculos, os reflexos rápidos e o equilíbrio emocional garantido através da meditação, tão presentes nas artes marciais. Os filmes com enfoque em justiceiros também eram muito apreciados por ela, que se maravilhava tanto com um Charles Bronson, um Van Damme, um Steve Seagal, um Bruce Lee, quanto com ninjas anônimos.
Recife Metal Law – Abordar o tema mencionado foi uma forma de a banda passar uma mensagem de perseverança, luta, vencer obstáculos? Há uma ligação de tal tema conceitual com os anos de estrada da banda?
Fernanda – Certamente que sim. Existe essa relação com o preparo de estarmos sempre aptos e treinados para enfrentar os desafios com resistência e constância! É preciso termos o espírito forte e a saúde em dia para que a energia e a motivação nos impulsionem a criarmos mais uma música, ensaiarmos e depositarmos esperanças em chegar aos palcos destilando o nosso ódio e fel do jeito que mais apreciamos.
Recife Metal Law – O título do disco, que traduzido, de forma livre, diz “Disputas de Absinto”, de certa forma se liga aos títulos dos discos anteriores e ao próprio nome da banda. Essa foi a intenção?
Fernanda – Costumamos tornar presente sempre esse espírito da Losna, que tanto nos remete à deusa etrusca da Lua, quanto à erva que produz o sabor característico do absinto e exala o thujone (ou tujona), que foi tão apreciado na “Belle Époque”. Lutas absínticas enfatizam a luta sobrenatural necessária para podermos enfrentar com resignação a morosidade e mesmice do dia-a-dia. De certa forma, a mensagem é ter alguma esperança, apesar de todas dificuldades.
Recife Metal Law – A arte da capa também é uma forma de mostrar todas as características que envolvem a banda em todos esses anos de atividades, ou seja, trazendo a arte em um tom esverdeado, com detalhes da erva losna, a garrafa de absinto, a serpente, entre outros diversos detalhes. Essa é a forma de a Losna mostrar sua real personalidade?
Fernanda – Muito bem sacado! É exatamente essa a nossa intenção! Trazermos para a arte gráfica esse conceito que a banda tem, de transcender a profundeza dos sentimentos obscuros da alma e sublimá-los, criando uma atmosfera sobrenatural, sinestésica.
Débora – Tiago Medeiros é o nome do artista que traduz e materializa perfeitamente a personalidade da Losna, em uma arte satânica fenomenal desde 2011.
Recife Metal Law – Falei sobre a baixa na formação, mas necessário, também, falar do novo integrante. Mateus Michelon se juntou à Losna em 2021, advindo da banda Inheritours. Como se chegou ao nome de Mateus e o que ele adicionou, musicalmente, para a Losna?
Débora – Conhecemos Mateus há mais de 20 anos. Sempre eu e minha irmã fomos fãs do estilo de ele tocar com técnica e presença extrema no palco. Então, como ele estava sem banda, no momento, não hesitei em entrar em contato com ele, e Mateus aceitou de primeira para assumir as baquetas amargas da Losna.
Recife Metal Law – Após o período que fez o mundo parar, a Losna parece estar mais ativa do que nunca. Agora em 2023 são muitos shows que vocês vêm fazendo, inclusive, alguns pela Região Nordeste. Demorou, mas a banda começou a viajar mais e não só por sua região. A que se deve isso?
Débora – Com esta formação temos mais foco, estabilidade emocional e mais garra. Às vezes muitas oportunidades passam por termos criaturas difíceis de lidar numa banda.
Recife Metal Law – Losna, pela primeira vez, tocará em Pernambuco. Por anos eu falava isso contigo, Débora, de a banda tocar por esses lados, desde a época que trocávamos cartas. Esse dia finalmente chegará... Quais são as expectativas, não só do show, mas dos integrantes da Losna com essa primeira vinda à Pernambuco?
Débora – Pois é, Valterlir, até que enfim vai se materializar a vontade de tocar em Pernambuco, principalmente em Recife! Tô ansiosa por destilar som amargo por aí e sentir toda a atmosfera da capital pernambucana, também conhecida como “Hellcife”! Vamos levar bastante merchan e esperamos que o pessoal adquira e apoie à Losna!
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Fotos: Divulgação, Luciana Ferreira, Viviani Remonti
Entrevista por Valterlir Mendes