DISTRAUGHT
Mesmo não contando com a mesma exposição que o seu conterrâneo Krisiun, a banda de Thrash Metal Distraught se mantém a ativa fazendo sua música há vinte anos. Nesse período vários obstáculos foram vencidos pela banda, e talvez o maior deles seja a grande rotatividade de integrantes. Como único remanescente da formação original, o vocalista André Meyer nunca pensou em parar com as atividades da banda, e sempre encontrando músicos que pudessem trabalhar de forma satisfatória, e manter o nome Distraught firme e forte no meio Underground, inclusive lançando álbuns de grande qualidade. E por falar em qualidade, o novo álbum da banda, “Unnatural Display of Art”, mostra todo o poderio desses gaúchos. Saibamos mais um pouco sobre esse novo trabalho e alguns fatos curiosos na carreira do Distraught.
Recife Metal Law – O Distraught surgiu em 1990, sendo uma das mais antigas bandas gaúchas em atividade. Isso chega a gerar uma carga maior de responsabilidade na caminhada da banda?
André Meyer – Sim, mas ocorre naturalmente. Nós sabemos que esses anos somaram muita experiência pra todos nós.
Recife Metal Law – O primeiro lançamento da banda foi a Demo “To Live Better”, lançada no mesmo ano da formação da banda, tendo esse material contado com cinco músicas. Naquela época não havia tantas facilidades tecnológicas para divulgação. Tu ainda lembras como foi à divulgação e receptividade desse material?
André – Tudo era bem mais difícil, mas na época tínhamos o apoio de uma rádio FM que rodava muito nossas músicas; fizemos muitos shows e, via Correios, mandávamos várias Demos para fanzines, rádios, etc.
Recife Metal Law – Antes do lançamento do novo álbum, a banda lançou três álbuns de estúdio. Poderia nos falar um pouco sobre cada um desses lançamentos?
André – Antes ainda do primeiro CD nós lançamos em 1994 o “Ultimate Encore”, com mais duas bandas de São Paulo: Scars e Zero Vision. Bom, o “Nervous System” creio que foi quando estávamos dispostos a fazer um número maior de shows e precisávamos de um álbum para promover. O “Infinite Abyssal” tivemos vários problemas nas gravações; acho que isso prejudicou muito na qualidade final. Depois vem o “Behind the Veil”, que junto com o ”Unnatural Display of Art”, é um dos meus preferidos, tanto com relação à temática como pelos arranjos e riffs em geral. Foi produzido por Fabiano Penna (Rebaelliun e The Ordher).
Recife Metal Law – “Behind the Veil”, penúltimo álbum de estúdio foi lançado em 2004, e depois desse lançamento vocês fizeram uma tour pelo Nordeste. Como surgiu essa oportunidade e quais foram os frutos colhidos com esse álbum, além da tour?
Marcos Machado – Há muito tempo a Distraught queria fazer uma tour no Norte/ Nordeste e trocamos alguns contatos com outras bandas que dividimos a estrada para então conseguir agendar as datas. É sensacional ver como o Brasil é grande e como há respeito pelo Metal, apesar das dificuldades financeiras. Muitos contatos e amizades surgiram dessa tour e são pessoas que entraram para a vida da Distraught. Hoje já estamos pensando em uma nova tour no Norte/Nordeste. Em breve falaremos mais sobre isso.
Recife Metal Law – Ano passado foi à vez do tão esperado novo álbum, “Unnatural Display of Art”. Qual a razão para cinco anos separar “Behind the Veil” do novo álbum?
Ricardo S. Silveira – O grande problema nesses espaçamentos é financeiro. A banda caminha com suas próprias pernas, ou seja, não temos uma grande gravadora por trás para financiar (gravação/promoção/tour, etc.). O que hoje em dia está cada vez mais difícil, pela grande queda nas vendas de CDs e a grande elevação nos download na internet.
Recife Metal Law – Esse álbum mostra ainda mais maturidade do Distraught. Um álbum que traz doze músicas densas, pesadas e com uma peculiaridade inerente ao Distraught. Como foi todo o processo criativo desse álbum?
Marcos – Dedicamo-nos muito e trabalhamos intensamente nessas músicas, tanto que houve alguns detalhes decididos a respeito da gravação quase dentro do estúdio. A preocupação com arranjos e ordem de riffs, refrões e repetições de certas passagens das músicas foram pensadas e repensadas de várias formas até que tivéssemos certeza de que soaria melhor para o público. Sempre compomos as músicas já pensando na reação do público a cada nota executada.
Recife Metal Law – Apesar de não ser um álbum conceitual, a temática lírica de “Unnatural Display of Art” gira em torno da “violência humana e todas as maneiras que fazem o homem espalhá-la”. Qual o objetivo da banda ao trabalhar em cima dessa temática?
Marcos – Todos já devem ter percebido que estamos todos cada vez mais anestesiados e alguns até, quem sabe, insensíveis a todas as notícias veiculadas sobre violência, guerras, assassinatos, etc. Enfim, tudo é apresentado na TV, rádios e jornais com a melhor imagem, som, tratamento e tudo isso pelo simples e triste motivo de que o homem aprecia, compra e paga para ver toda essa violência. A vida humana cada vez mais é um filme de terror ao vivo e a cores com alto nível de transmissão na mídia escrita e audiovisual, pois isso rende milhões e dá muito ibope. Em poucas palavras, diríamos que é quase uma arte, mas não é uma arte natural. Não é natural o que o homem faz consigo mesmo. Poderíamos exemplificar e aprofundar ainda mais ainda sobre o tema, mas acredito que isso já explica o título: Demonstração de arte não natural.
Recife Metal Law – Músicas como “Hellucinations”, “Burial of Bones” e “Your God is Dead”, são verdadeiros barris de pólvora! Músicas que trazem letras tensas, mescladas a uma sonoridade ainda mais tensa, por vezes bastante agressiva. Quais músicas vocês destacariam como sendo uma amostra do poderio desse novo álbum?
Ricardo – Além das que você citou, eu gosto bastante da “Reflection of Clarity”, “Cradle of Violence” e “Killing in Silence”. Não que eu não goste das outras do disco, mas essas funcionam muito bem ao vivo.
Recife Metal Law – O álbum trouxe alguns convidados, como Clark (vocalista do Unmaker) e Diego Kasper (guitarrista do Hibria), participando de “Hellucinations”; e Flávio Soares (baixista/vocalista do Leviaethan) participando de “The End Times”. Como surgiu a oportunidade desses músicos participarem do álbum e de que forma suas participações ajudaram no resultado final de “Unnatural Display of Art”?
Ricardo – Os três são grandes amigos nossos. Com o Diego, nós já vínhamos a algum tempo conversando sobre a ideia de compor uma música juntos, então quando faltavam dois meses para entrarmos em estúdio para a gravação do “Unnatural Dispaly of Art”, eu e o André encontramos o Diego que já tinha criado parte dos riffs da “Hellucinations”. Marcamos uma ‘jam’ na casa dele e finalizamos a música em quatro ‘Hell’ ensaios. Foi muito divertido para nós e essa foi a última música composta no disco.
Recife Metal Law – O novo material foi lançado no Brasil pela Voice Music. Já o selo Spiritual Beast foi o responsável em lançar o material no Japão. Como vem sendo a divulgação desse disco, tanto aqui no Brasil como no Japão?
André – Aqui no Brasil a Voice deu uma força o resto é com a gente. Precisamos fazer mais shows e o Myspace está sendo um ótimo veículo para divulgação. No Japão está muito bem divulgado; rendeu até uma entrevista na revista Burnn.
Recife Metal Law – Com essa distribuição no Japão, existe a possibilidade da banda partir numa turnê fora do país?
Marcos – Sim, com certeza, mas tudo ao seu tempo. Estamos batalhando sempre para conquistar cada vez mais novos lugares e outros países. Recentemente nos apresentamos na Argentina em 2009 com três shows. A repercussão foi muito boa e já está em fase final de negociação uma nova tour por lá, que dessa vez será mais longa, em torno de 15 dias. Estamos fazendo o possível para tocarmos fora do Brasil e divulgaremos mais sobre isso assim que houverem confirmações.
Recife Metal Law – Por falar em turnê, a banda já trabalha para fazer uma tour pelo Brasil, como fez alguns anos atrás?
Ricardo - Com certeza! Queremos muito e vamos voltar a fazer uma tour pelo Norte e Nordeste, ainda este ano, se tudo der certo com os ‘Promoters’. O Norte/Nordeste é um dos melhores lugares para se tocar. Os Headbangers são muito insanos. Belém, Aracaju, João Pessoa, Campina Grande (que tivemos que terminar o show lá, por problemas com o horário e a polícia fez uma visita no local e acabou com a festa antes), e Recife foram shows que ficaram na nossa memória.
Recife Metal Law – A cada lançamento feito pelo Distraught a banda contou com uma formação diferente. Esse entra e sai de integrantes, apesar de nunca ter sido um empecilho para a banda, não chega a te desanimar, como único integrante da formação original? A atual formação está junta há quanto tempo?
André – O Ricardo e o Marcos já estão na banda desde 1998, e o Éverson desde 2000, são três álbuns com essa formação, exceto no último, que teve a estreia do Nelson (baixo). Éverson está fora da Distraught desde novembro 2009; o novo baterista é Dionatan Santos que fez seu show de estréia dia 26 de abril, em Porto Alegre, na abertura pro Megadeth.
Recife Metal Law – Agradeço pelo tempo cedido. Deixem aqui uma mensagem final, tanto para os antigos admiradores da banda (como eu), bem como para os que estão conhecendo o Distraught a partir de “Unnatural Display of Art”...
André – Em nome da Distraught quero agradecer a todos que apóiam a banda durante esses 20 anos. Todas essas pessoas fazem a Distraught se fortalecer cada vez mais. Obrigado!
Site: www.myspace.com/bandadistraught
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação e Karina Kohl