DYNAHEAD





Criar algo diferente no meio Heavy Metal é bem difícil e nem sempre é visto com ‘bons olhos’ pelos fãs mais ortodoxos do estilo. Mas indo de encontro às essas dificuldades, a banda brasiliense Dynahead lançou “Antigen”, um álbum que apresenta elementos bastante intricados e experimentais, resultando numa sonoridade que transita entre o Thrash e o Pro Metal de maneira bem peculiar. Na entrevista a seguir o vocalista Caio Duarte nos conta mais sobre a banda, o seu primeiro (e até agora único) álbum, música, entre outros assuntos. Confiram!

 
Recife Metal Law – O primeiro trabalho do Dynahead foi a Demo “Unknown”, lançada em 2004. Infelizmente não conheço esse material. Então como ele seria descrito para aqueles que não o conhecem? Com ele a estrutura musical do Dynahead já estava definida?
Caio Duarte –
Eu diria que foi um trabalho totalmente sem pretensões. O Dynahead é uma banda que está sempre procurando descobrir seu próprio som, e num primeiro momento ainda não estávamos muito confiantes das nossas características, então é uma Demo musicalmente bem mais simples do que o “Antigen”. Mas acho que corresponde muito bem a um lado nosso, e uma música dela até foi parar no disco.

Recife Metal Law – A banda já participou de um tributo brasileiro ao Anthrax (“Indians... NOT!”), bem como da coletânea Rock Soldiers (Vol. 11). Qual a importância dessas participações para o Dynahead?
Caio –
De lá para cá participamos de muitas outras coletâneas, e elas são muito importantes para agitar a cena e unir as bandas. Sempre ficamos muito felizes quando nos convidam a participar ou pedem autorização para incluir uma música nossa em alguma compilação, e somos muito abertos a esse tipo de iniciativa. Infelizmente algumas são organizadas por pessoas que tem o claro intuito de se auto-promover e até mesmo ganhar dinheiro, mas isso não tira o mérito das entidades que realmente querem apoiar a música.

Recife Metal Law – A música de vocês é bem difícil de rotular, e traz diversos elementos, porém se atendo, a sonoridade, a elementos do Heavy Metal, como o Thrash e o Progressivo. Alguns integrantes da banda já passaram tanto por bandas mais extrema como mais melódicas. Tocar em bandas de estilos variados ajudou a moldar a sonoridade de vocês?
Caio –
Certamente! Todos vêm de backgrounds muito diferentes, também de fora do Metal, e acho que isso agrega muito valor à forma que trabalhamos, pois não colocamos barreiras na nossa criatividade. Aprendi que música é uma coisa só, e estilos musicais são basicamente escolhas estéticas. Por isso gosto da ideia de inserir elementos inusitados, criar coisas novas misturando o que já existe... Foi assim que o Heavy Metal nasceu e se desenvolveu, e é assim que a música se manterá crescendo e respirando.

Recife Metal Law – O primeiro álbum, “Antigen”, foi lançado de forma independente. Isso foi opção da banda?
Caio –
Por um lado sim, pois preferimos lançar de forma independente para ter controle sobre como o álbum seria trabalhado e nos certificar de que ele receberia o tratamento certo. Gostaríamos muito de ter tido o apoio de algum selo bem estruturado para viabilizar ainda mais o disco, mas infelizmente o mercado atual torna isso praticamente impossível. Então decidimos fazer por nós mesmos.

Recife Metal Law – Assim como a Demo, o álbum foi produzido por você e co-produzido pela própria banda. A gravação foi feita no Broadband Studio e a mixagem ficou a cargo de James Murphy. Por que não deixaram todo o trabalho por conta do estúdio onde foi gravado o disco?
Caio –
Na verdade o disco foi mixado por mim, o James cuidou somente da masterização. Como as músicas e a produção foram totalmente feitas por nós, tive receio de que faltasse perspectiva, o que às vezes acontece quando ficamos ‘junto demais’ do nosso trabalho. Por isso decidimos mandar para ter uma opinião de alguém de fora, e não acabar prejudicando o disco pela falta de objetividade. Também foi uma oportunidade bacana de trabalhar com um cara do qual sou muito fã, e foi muito bom ver um trabalho meu tendo também as mãos de um grande expoente do Metal mundial.

Recife Metal Law – Esse álbum traz músicas, de certo modo, longas e bem criativas, num misto entre peso, melodias e passagens intricadas. Como foram criadas as músicas para o ‘debut’?
Caio –
Elas foram escritas em épocas bem diferentes, e a bem da verdade o disco tem algumas músicas muito antigas. Acho que ele representa muitas fases diferentes das nossas vidas, e isso ajudou no resultado, que ficou bastante eclético.

Recife Metal Law – Como tem sido os shows do Dynahead e como tem sido a recepção do público para com as músicas do “Antigen”?
Caio –
Não temos tocado tanto quanto gostaríamos, pois a cena brasileira ficou ‘congelada’ nos últimos anos, e é cada vez mais difícil para uma banda ‘brazuca’ conseguir tocar no próprio país. Mas sempre que tocamos nos divertimos muito e a recepção é extraordinária. Como nosso som é um bocado experimental sempre existe aquela apreensão de que ele não seja bem recebido pela parcela mais ‘conservadora’ do público, mas no final as pessoas acabam se conectando à nossa música de alguma forma, o que é sempre incrível.

Recife Metal Law – A parte gráfica ficou num nível bem elevado, porém pecou em não trazer as letras das músicas. Por que as letras não foram inseridas no encarte?
Caio –
Foi a forma que achamos de fazer um disco em um encarte legal, mas que custasse barato para o fã. Como as letras podem ser facilmente encontradas na internet, fizemos esse sacrifício como uma forma de oferecer um digipack de luxo por um preço módico.

Recife Metal Law – Aproveitando o gancho, do que as letras de “Antigen” falam?
Caio –
Elas versam sobre diversos assuntos, pois as letras foram escritas de forma mais ou menos isolada, mas sinto que de forma geral falam sobre a relação do homem consigo mesmo, e da nossa relação conturbada enquanto espécie com o mundo ao nosso redor. Sim, é bem filosófico! (risos)

Recife Metal Law – Esse álbum foi posto para download pela própria banda. Sabemos de toda a facilidade que a internet traz e creio que o álbum já estava disponível para download antes mesmo de a banda fazer isso. Qual a relação entre a banda, a internet e downloads gratuitos?
Caio –
Para nossa surpresa, alguém se deu ao trabalho de vazar nosso disco praticamente horas depois de que algumas músicas entraram no MySpace! Metade da banda nem tinha ouvido o disco final ainda! (risos) Acho que a internet tem um aspecto muito positivo, e um muito negativo. Ela é um canal onde podemos ouvir coisas novas, e certamente também atua como um nivelador, dando condições para bandas independentes despontarem em detrimento das oligarquias do mainstream. Isso é excelente, mas por outro lado o mercado está se tornando saturado de bandas sem criatividade que usam e abusam da divulgação ‘gratuita’ para infernizar o ouvinte e, por consequência, os fãs estão cada vez mais apáticos e desinteressados. Apáticos por que é pouco gratificante conhecer novas bandas, pois até você chegar a algo que valha a pena você tem que passar por centenas de artistas ruins. Desinteressados, pois um disco por vezes brilhante passa despercebido na multidão, e acaba se tornando uma pastinha no nosso computador, que vamos ouvir uma vez e nunca mais. Não existe mais aquela relação íntima que tínhamos antigamente com um disco, quando eles custavam dinheiro e eram escassos. Escolhíamos a dedo o que iríamos ouvir, e hoje em um aparelho barato cabem mais músicas do que uma pessoa poderia ouvir em sua vida inteira. Um pouco do ‘romantismo’ da música se foi, e ela se tornou uma mercadoria barata, como meias ou cuecas.

Recife Metal Law – A banda lançou um vídeo clipe para a música “Layers of Days”. Qual a razão para ter sido essa a música escolhida para o clipe e de que forma esse vídeo vem ajudando na divulgação do Dynahead?
Caio –
Essa é uma música que representa bem o que o Dynahead é, com todas as suas facetas... E o vídeo-clipe é importante como uma excelente ‘porta de acesso’ ao nosso trabalho, pois muitas pessoas que não tinham conhecido a banda a fundo puderam se aprofundar no nosso conceito através do vídeo. Sem falar que foi muito divertido fazê-lo!

Recife Metal Law – Eu acredito que a banda já esteja trabalhando em novas músicas. Existe uma previsão de quando sairá o novo trabalho do Dynahead e qual linha ele seguirá?
Caio –
Estamos com o novo disco praticamente todo composto, e planejamos lançá-lo no começo de 2011!

Recife Metal Law – Você participou da gravação da música “Give Help To Yourself”, que também foi registrada em espanhol com o título de “Ayudanos Hoy!”, que na verdade é um projeto de cunho altruísta e que visa arrecadar fundos para as vítimas do terremoto ocorrido no dia 27 de fevereiro no Chile. Qual foi a tua participação efetiva nesse projeto? E qual linha sonora segue essa música?
Caio –
Eu fui convidado pelo idealizador do projeto, o que foi uma honra imensa, pois sou o único envolvido que não nasceu no Chile. Como todas as pessoas que participaram da música perderam amigos ou familiares, me senti no dever de honrar as vítimas da tragédia e ajudar de todas as maneiras que pudesse. Eu dividi os vocais com a Laura Vargas (Sacramento) na versão da música em inglês, e também a mixei e masterizei. A música é um Metal bem direto, que foi feito meio no ‘calor do momento’ depois da tragédia. É uma música bem simples, mas muito honesta e tem um significado especial para os envolvidos na gravação dela.

Recife Metal Law – Agradeço pelo tempo cedido ao Recife Metal Law. Deixe uma mensagem para os leitores do site.
Caio –
Muito obrigado pelo interesse e pela entrevista! Para quem quiser saber mais sobre nosso trabalho, é só entrar no website, onde estão todos os canais de interação com a gente. Vamos apoiar a cena brasileira, e nos vemos em breve!

Site: www.dynahead.com.br

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação