São 16 anos de formada, algumas mudanças em sua formação, mas sempre trilhando pelo caminho do Thrash Metal. Nesse período de atividades, a banda Anubis, oriunda de Belém/PA, lançou uma Demo, e este ano seu ‘debut’ álbum, intitulado “Legacy of Humanity”, no qual a banda trabalha para difundir ainda mais o nome da banda no meio Underground. O nome Anubis vem da mitologia egípcia, mas o que mais influenciou na escolha desse nome para a banda foi a música “Egypt” do Mercyful Fate, encontrada no álbum “In the Shadows”. Atualmente a formação do Anubis é composta por Sandro Costa (vocal), Renato Costa e Vinícius Carvalho (guitarras), Rogério Sarges (baixo) e Maurício Sanjad (bateria). A entrevista a seguir foi respondida pelo vocalista Sandro Costa, já conhecido por alguns em Pernambuco, uma vez que sempre que possível se faz presentes em alguns eventos que ocorre aqui na região.
Recife Metal Law – Antes do álbum de estreia, uma Demo lançada. Como vocês analisam o lançamento dessa Demo e qual a importância que a mesma teve na carreira do Anubis?
Sandro Costa – Como uma etapa no processo de evolução da banda, pois lembro que de 1994 até 2000 não queríamos nada, só ‘festa’, e os registros viraram descaso. Voltamos em 2004 com outra cabeça e em 2006 gravamos a Demo, com ela colocamos a ‘cara pra bater’, daí sua vital importância; fizemo-nos mostrar e, pra nossa sorte, recebemos boas resenhas nas mais diversas fontes sobre o estilo, tanto dentro como fora do Brasil e agora em 2010 estamos aí, com o primeiro álbum “Legacy of Humanity”. Quem ouvir os dois registros vai ver a evolução musical e de gravação da banda. Ah, ainda curtimos ‘festa’! (risos)
Recife Metal Law – Com experiência em estúdio ficou mais fácil trabalhar na gravação de “Legacy of Humanity”, primeiro álbum da banda?
Sandro – Sem dúvidas! As ‘cabeçadas’ dadas na gravação da Demo foram de grande valia, mas, além disso, de lá pra cá, alguns integrantes fizeram aulas de áudio, investiram em equipamentos, tudo isso ajuda no resultado final da gravação. Faz parte da dita evolução e ficamos satisfeitos com o ‘debut’, infinitamente melhor que a Demo, como não deveria deixar de ser.
Recife Metal Law – Esse álbum contém dez músicas, sendo que quatro delas já haviam sido apresentadas na Demo. Com relação as demais, como foi o processo criativo das mesmas?
Sandro – Não muito diferente das outras, funciona mais ou menos assim: eu (vocal) e meu irmão Renato (guitarra) moramos juntos; fazemos algumas ‘sessions’ em casa e surge um esqueleto de música, daí levamos pro ensaio a ideia e a banda, com toda sua influência, leva adiante, até fechar. Agora pense numa confusão sadia, quando cinco caras com as mais variadas influências, precisam decidir sobre alguma vertente de ideia... Ainda bem que somos cinco, a votação nunca é empate. (risos)
Recife Metal Law – As letras contidas no álbum falam, basicamente, de guerras e o violento cotidiano. Esses temas são sempre abordados por bandas de Thrash Metal, então como as letras das músicas são escritas para que não se tornem tão clichês, mesmo abordando assuntos clichês?
Sandro – Acredito que somos mais analíticos, ou seja, em cada letra falamos de um assunto específico dentro da temática de guerra e violência. Em “The Last Act”, por exemplo, falamos do “Ultimato”, que é o último ato antes da declaração de guerra; está no Direito Internacional, até pra guerrear existem regras; bem como, em “The Armistice”, que falamos do pacto de não agressão entre os rivais durante o conflito (o período entre as duas grandes guerras, alguns consideram como um armistício de 20 anos, não deixa de ser); assim como em “Forbidden Game”, que aborda a questão do tráfico e a violência que o cerca, entre outras coisas, como a velhice em “Dark Hope”, a miséria em “Slaves of Misery”, etc.
Recife Metal Law – A parte instrumental não se apega, em demasia, aos clichês do estilo. Inclusive a banda aposta mais em passagens trabalhadas, cadenciadas e pesadas. Em meio a todo esse ‘revival’ do Thrash Metal, mesmo não fugindo das raízes, vocês quiseram fazer um som que fugisse dessa tão abordada linhagem ‘old school’ de dias atuais?
Sandro – A gente curte e respeita muito essa volta do Thrash Metal ‘old school’, afinal foi a velha escola que fez o estilo tão forte assim, mas não nos furtamos de, além dela, termos influências de outras bandas dentro e fora do estilo também, bem como, das ‘old, old, old school’ dos anos 60 e 70. Claro que você não vai encontrar um som do Anubis a lá Lucifer’s Friend, mas tudo é influência e acaba refletindo nas composições da banda, mas que fique claro: Anubis é Thrash!
Recife Metal Law – A parte gráfica foi feita pelo conceituado Alcides Burn, e a capa mostra um ‘bebê robotizado’, sendo gerado para a guerra. O que vocês quiseram transmitir com essa capa?
Sandro – Acreditamos que a guerra é um legado da humanidade, sempre existiu e vai continuar existindo, daí um bebê pra dar essa ideia de continuidade e ele veio estilizado com o que cerca o assunto. O corpo é uma granada, o cordão umbilical é uma bomba de gasolina escorrendo petróleo, etc. Na verdade, é uma lâmina inteira. Existem muito mais coisas pra viajar na arte, inclusive o Anubis surgindo do cogumelo de uma explosão. Queríamos novamente a cabeça de chacal na arte, igual como foi na Demo. O mérito é todo do Alcides, demos o caminho, a ideia, e ele trouxe isso pra gente. Curtimos logo de cara e fechamos a parada!
Recife Metal Law – As músicas desse primeiro álbum são bem longas, algo que é difícil de ver/ouvir em álbuns de Thrash Metal. Fazer músicas longas foi algo premeditado?
Sandro – Não, é que acaba ficando grande mesmo! (risos) Como disse antes, levamos o esqueleto pro ensaio e lá com o resto da banda fechamos tudo, só que a galera vem com muitas ideias massas em cima do esqueleto, às vezes um mesmo riff acaba com duas, três variações, batidas diferentes, chamadas pra solos e o tempo vai aumentando... Já recebemos algumas críticas em relação ao tempo das músicas, vamos ficar mais atentos em relação a isso, mas se as ideias agradarem, não teremos nenhum problema, vai ficar longa mesmo!
Recife Metal Law – O Anubis já fez diversas apresentações ao vivo, porém se limitando mais ao seu Estado/cidade. Será que com esse lançamento a banda poderá vir a tocar em outros Estados, quem sabe fazendo uma turnê?
Sandro – O objetivo é esse, mas as dificuldades são enormes, tanto para as bandas quanto para os produtores de shows, a começar pelas longas distâncias peculiares aqui da região, encarecendo assim as produções, que por sua vez, alega que o público está menor nos eventos. Tem a questão do trabalho, grandes ausências são complicadas. Enfim, é muita coisa que envolve essa questão, mas estamos com o mapa do caminho e assim que tudo convergir positivamente, dará certo!
Recife Metal Law – Observamos hoje no Brasil uma verdadeira febre Thrash Metal. Quais são as principais características que podem diferenciá-los das demais bandas do nosso cenário que executam sonoridade similar?
Sandro – Como falei antes, nos influenciamos não só por Thrash Metal, curtimos desde sons dos anos 60 até os contemporâneos, que são válidos de escutar. Esse leque de bandas acaba refletindo na nossa música, além disso, existem outros elementos que usamos também, como exemplo, um dos guitarristas do Anubis usa sete cordas, a afinação é mais baixa, isso tudo deixa o som mais encorpado, diferente... Enfim, nos influenciamos por toda a bagagem musical que temos, talvez seja esse um diferencial.
Recife Metal Law – Como é a relação da Anubis com outras bandas nacionais?
Sandro – Temos uma oportunidade ímpar aqui em Belém, pois nas turnês das bandas sempre rolam uns ‘day off’ aqui na cidade e a gente aproveita pra estreitar os laços com os caras e existe maneira melhor do que ‘tomando uma’? Na medida do possível, tentamos fazer uma sala pros caras, levando em botecos de Rock/Metal, conversando sobre as cenas, os shows, papo de banger, né!? Tenho certeza que já fizemos amigos!
Recife Metal Law – E quais bandas, estrangeiras inclusive, são uma referência para o trabalho da Anubis?
Sandro – Bem, deu pra perceber que gostamos de todas as vertentes do Rock, mas levando em consideração a predominância do estilo Thrash Metal na música do Anubis, como referência, temos: Bay Area, o Thrash alemão, nacional curtimos Explicit Hate, Sepultura, Extermínio, além de Death, Nevermore, Mercyful Fate, e por aí vai. Difícil isso, hein!? Quantas linhas eu posso escrever? (risos)
Recife Metal Law – A Anubis sofreu com as mudanças de formação desde a sua criação até hoje. Acham que se encontram na melhor fase da banda com esta atual formação?
Sandro – Boa, tinha esquecido essa dificuldade extra quando abordamos o tema das viagens. Shows apareciam e não tínhamos como ir, em função disso era um banho de água fria, mas sempre com a bandeira do Metal lá no alto. Faz-se audição e escolhe-se outro membro, é um processo chato, lento, mas tem que ser feito. Sim, acredito que estamos na melhor fase da banda desde 1994, esta aí o ‘debut’ que não me deixa mentir, e um detalhe importante nisso tudo é que nas últimas mudanças priorizamos o sangue novo, bangers com 20 e poucos anos, onde os co-fundadores da banda já estão entrando nos ‘enta’, até isso reflete nas composições da banda e é também um diferencial, já retomando outra pergunta feita anteriormente.
Recife Metal Law – Quais serão os próximos planos agora com este lançamento na bagagem e com uma formação estabilizada?
Sandro – Desde o lançamento em março (show com o Benediction) estamos divulgando o álbum. As resenhas estão começando a sair positivamente e continuaremos nesse processo pelo resto do ano. Abrimos caminho com a Demo, vamos pavimentar com o CD, e em 2011, se tudo der certo, já com o som do Anubis mais difundido, cair na estrada e fazer uma turnê, mais provavelmente no Norte/Nordeste, vai depender das conjecturas. Paralelamente a isso, muito por estarmos com a formação estabilizada, já estamos compondo; temos alguns esqueletos e vamos seguir em frente, independente de qualquer coisa.
Recife Metal Law – Para terminar, deixe alguma mensagem para seus fãs, sobre as expectativas com relação a banda.
Sandro – Bem, antes de qualquer coisa, queria agradecer a todos que fazem o Recife Metal Law. Ficamos felizes em tê-los como parceiros na luta pelo Underground. Quando você fala fãs, ficamos até constrangidos, pois somos headbangers como todos que curtem o Metal, apenas temos uma banda e em relação a ela, podem esperar muita porrada na orelha, sempre. Valeu e espero encontrá-los pessoalmente na estrada.