Coldblood: Death Metal tradicional de sangue frio, formado por músicos que já passaram por bandas como: Mysteriis, Unearthly, Krypta, entre outras. O grupo, com mais de 18 anos de batalhas e resistência no Underground, teve seu primeiro álbum, “Under The Blade I Die”, lançado pela Onslaught Records (México) em 2007 e relançado em 2009 pela Free Mind Records. Tratando-se de uma banda veterana, poderíamos falar sobre sua trajetória ao longo desse tempo todo, mas os cariocas acabaram de retornar de sua primeira turnê pela América do Sul. Então encontrei com Markus Kult, que é um dos fundadores da banda e trocamos essa ideia para saber detalhes do que rolou nesse ‘rolê’ lá nas terras de nossos ‘hermanos’.
Recife Metal Law – Salve Markus! Para começarmos deixando os leitores do Recife Metal Law mais antenados no trabalho do Coldblood, faça uma breve descrição da banda: início, proposta, ideologia e maiores detalhes...
Markus Kult – Em primeiro lugar: obrigado pela oportunidade dessa entrevista e de podermos nos expressar sobre nossas ideias e convicções. Bom, a banda foi fundada em janeiro 1992 por Alan Silva (guitarra/vocal), Vitor Esteves (baixo) e eu na bateria. Naquela época nossas influências eram o Doom e o Death Metal e nossa proposta de som era sob a influência de bandas como Paradise Lost, Benediction, Entombed, Death... Com o passar do tempo o Doom foi ficando de lado e assumimos totalmente o Death Metal como diretriz musical, e tocar Death Metal ou qualquer outro tipo de Metal é a nossa vida. Não pensamos em virar ‘mega estrelas’ e ficarmos ricos. Essa é a nossa ideologia de vida, vivemos para a música. Gostamos de ensaiar, gravar e sair em turnê, conhecer pessoas que admiram nossa arte, nos divertir... Essa é a vida de um músico no Underground. É ideologia. Tivemos problemas com formações ao longo de nossa história, mas nunca pensamos em jogar a toalha. Nossa proposta e tocar Metal da Morte falando sobre violência, maldade e fim.
Recife Metal Law – Como rolou esse lance de tour pela América do Sul? Vocês fizeram quantos shows e onde ocorreram? Quantos dias durou a tour?
M.Kult – Tudo começou em 2007 quando fiz minha primeira turnê sul-americana. Na época eu era baterista do Unearthly. Com isso conheci alguns produtores que gostaram da banda e ficaram interessados em agendar umas datas. Não foi possível ir em 2008 e 2009 porque estávamos passando por problemas com a formação. Com isso resolvido começamos a agendar as datas e entre 04 de agosto a 05 de setembro 2010 fizemos nossa primeira turnê internacional, com 18 shows, passando por Equador, Peru, Bolívia e finalizando no Brasil. Foram 30 dias na estrada.
Recife Metal Law – Em fevereiro desse ano vocês foram uma das bandas do Rio de Janeiro que dividiram o palco com o Master que, em minha opinião, são mestres do Death Metal Underground. Eu conferi em alguns cartazes que durante essa tour sul-americana, vocês tocaram novamente com eles. Então conte como foi essa experiência de assistir um monte de shows do Master e ainda poder tocar nos mesmos.
M.Kult – Na verdade o que aconteceu nessa parte da turnê foi que o produtor que iria fazer as seis datas (três na Venezuela e três na Colômbia) com o Master sumiu. Isso mesmo, o cara sumiu e depois de muito tempo apareceu dizendo que o Master não iria mais, uma vez que ele havia depositado o cachê dos caras numa conta errada. Não nos sentimos seguros em seguir essa parte da tour com esse produtor e cancelamos nossa apresentação, começando a turnê em Quito, no Equador, no dia 04 de agosto.
Recife Metal Law – Sinceramente pensei aqui que, quando se trata de uma banda que está vindo de outro país, não acontecem pilantragens como essa. Situação difícil, né? Tiveram mais problemas assim ou algum ‘golpe’ na hora de cumprir os acordos? Tipo, acabar o show e não receber nada do que havia sido acordado ou algo parecido? Não ter seguido viagem foi um a escolha sábia, mas isso prejudicou a tour em quantas datas?
M.Kult – Perdemos as seis primeiras datas e ainda bem que foi no início. Caso fosse no meio ia ser mais complicado. Tivemos que transferir o vôo para o Equador e começar a turnê por lá e vir descendo. Mas o restante rolou de boa, com todos os acordos cumpridos.
Recife Metal Law – Quais shows foram marcantes nessa tour, aqueles que deixaram a vontade de fazer tudo de novo? Em qual país os bangers foram mais insanos com o som do Coldblood?
M.Kult – No Equador. Os shows de Quito e Loja foram animais! As pessoas agitando muito e pedindo as músicas pelos nomes. Incrível! No Peru os shows de Lima e Trujillo também foram insanos e na Bolívia, em La Paz, fizemos dois bis! (risos) O público sul-americano é muito insano!
Recife Metal Law – O Lacerated And Carbonized, que lançou seu ‘debut’ recentemente, via Dark New Age Records, estava em tour na América do Sul no mesmo período. Vocês se encontraram em algum lugar? Tocaram juntos em algum show? Fizeram alguma parte dessa tour com eles?
M.Kult – Sim, nos encontramos com eles em Lima, Peru, e assistimos a apresentação deles. Depois nos encontramos em Loja, no Equador, aonde eles abriram pra gente. Foi uma noite memorável. Os caras são muito gente fina e daqui da nossa área. (risos) Então estava tudo em casa.
Recife Metal Law – Você já havia rodado a América do Sul quando fazia parte do Unearthly e parece que você já morou em algum país por lá? Qual país que você já conhecia? Essa experiência anterior ajudou muito nessa tour com o Coldblood? Comparando as duas experiências, o que foi diferente nessa tour?
M.Kult – Na verdade eu morei no Panamá, que fica na América Central. Minha ida em 2007, com o Unearthly, me ajudou muito em relação à logística da tour; pra onde ir, por onde ir, quais cidades agendar as datas, etc. A diferença é que eu fui com a minha banda dessa vez. O resto continua o mesmo... Dessa vez eu pude fazer um pouco de turismo também. Posso dizer que valeu muito a pena fazer essa tour; não esperava uma receptividade tão calorosa e um público muito insano e participativo. Voltamos com muitos convites para regressarmos e faremos isso o mais breve possível.
Recife Metal Law – Com certeza! Agora mesmo, lendo essa entrevista, deve haver muitos integrantes de banda que pensam em fazer uma tour como essa. É fácil? Como foi a preparação para isso? Aquelas dificuldades logísticas nos traslados de uma cidade/país para outro, fronteiras, venda de merchandising da banda nos shows? Vende bem quando a banda é do Brasil ou é o mesmo cenário pobre que temos aqui em nosso Underground? Como foi isso tudo? Fale das vantagens e dificuldades que encontraram durante toda a tour...
M.Kult – Fazer uma turnê nunca é fácil. Eu trabalhei ‘full time’ durante um ano pra agendar essa turnê. Claro, ter ido em 2007 me ajudou muito, mas foi à primeira vez do Coldblood e sempre se criam muitas expectativas. Existem algumas dificuldades na estrada. As longas viagens de ônibus de 10, 16, 18, 20, 23 horas; o peso que se carrega de equipamento, merchandising, sua bolsa pessoal... Nem sempre as instalações são boas. Você tem que se esforçar pra entender e falar o idioma deles. Atravessar as fronteiras também dá muito trabalho. Dependendo de onde seja se perde três horas ou mais pra resolver tudo e seguir viagem. Você precisa estar bem mentalmente e fisicamente. Rola um desgaste, é fato, mas é aquilo: se você curte o que ‘tá fazendo você tira isso de letra. É ‘perrengue’, mas quando chega a hora de tocar e você vê que o público corresponde, então você esquece do que já passou e te dar mais gás pra continuar. Às vezes a gente toca e, tipo, sete da manhã já tem que pegar outro ônibus pra outra cidade. Nem se dorme direito e, às vezes toca e fica esperando a hora do ônibus, dorme na viagem. (risos) Assim que é a vida na estrada. Nem tudo é ou pode ser como queremos. Você tem que lembrar que está em outro país, outra cultura, outro cardápio... Enfim, acredito que físico e mente devem estar em plena forma. (risos) Em relação à venda de merchandise, tem shows que estão lotados e se vende pouco, tem shows que estão vazios e se vendo muito. Não dar pra ter certeza. Só se faz um balanço geral disso no fim mesmo. Mas acredito que vendemos bem e, é claro, você acaba fazendo trocas e dando CDs pra pessoas de rádios, zines e produtores. As bandas brasileiras são muito respeitadas nesses países, é incrível. Valeu muito à pena ter ido. Fizemos uma boa divulgação, demos a sorte de fechar as datas do Equador, Peru e Bolívia com pessoas sérias e honestas, e por todos os lugares que tocamos nos convidaram pra voltar. Não imaginava que conheciam tanto sobre o Coldblood e a história da banda. Talvez isso tenha sido o que mais me impressionou nessa turnê. Voltamos pro Brasil com a sensação de dever cumprido.
Recife Metal Law – Agora vamos falar um pouco do álbum que vocês estão divulgando, “Under The Blade I Die”. O disco foi lançado originalmente no México, em 2007, e ano passado relançado pela Free Mind. Fale um pouco do disco. Quantas faixas têm; quais temas foram abordados nesse álbum?
M.Kult – É um típico álbum de Death Metal da ‘velha escola’, com 10 faixas rápidas, pesadas e marcantes. Não seguimos uma temática única, falamos sobre anticristianismo, figuras míticas, ideais de liberdade e honra, povos antigos, morte, violência e maldade. Ou seja, tudo que um álbum de Death Metal precisa ter. (risos)
Recife Metal Law – México é um país que tem tradição de valorizar estilos extremos como Death Metal, Gore, Grind... Como surgiu a oportunidade do lançamento no México, via Onslaught Records? Isso rendeu boa divulgação e contatos para a banda? Existem planos de tocar naquele país?
M.Kult – Conseguimos esse contrato através de nosso amigo Marcelo HVC, que tinha, na época, contato com o pessoal da Onslaught, através da Ketzer Rec. da Alemanha. Ele apresentou nosso som ao pessoal da Onslaught Rec. e eles curtiram e nos ofereceram um contrato. Não sabemos ao certo como foi à divulgação por lá, mas recebemos muitas mensagens de fãs, rádios, zines, elogiando a banda. Estamos em contato novamente com eles para um possível lançamento do nosso segundo álbum que estar por vir. Talvez com isso consigamos umas datas por lá, o que seria ótimo.
Recife Metal Law – O disco foi relançado pela Free Mind Records e Distro Rock Store, mas recentemente soubemos que uma das gravadoras encerrou suas atividades. Isso está comprometendo, de alguma forma, a distribuição do álbum?
M.Kult – Somos muito gratos ao Rodrigo Balan e a Free Mind por terem lançado nosso álbum aqui no Brasil. Realmente precisávamos disso, mas também sabemos que o álbum não teve a divulgação que precisava e isso, de alguma forma, sempre complica o trabalho de uma banda. Também nessa época estávamos passando por problemas com nossa formação, dificultando a banda a se apresentar ao vivo. Uma série de fatores que prejudicaram o andamento das coisas. Mas isso é passado e agora temos uma formação estável, não sei até quando (risos), mas temos. As cópias que nos restam estamos tentando negociar uma distribuição fora do país.
Recife Metal Law – Agora vou fazer uma pergunta relacionada ao cenário carioca. Eu conheço vocês há algum tempo e sei que o Coldblood é a banda de Death Metal mais antiga do Rio de Janeiro ainda na ativa e possui uma carreira íntegra no Underground. Mas, curiosamente, eu não vejo vocês figurando nos cartazes de eventos que rolam na cidade. Por que isso? Rola algum tipo de ‘panela’ no cenário, choque de gerações ou o quê?
M.Kult – Realmente não tocamos muito em nossa cidade, mas não por falta de convites. O que passa é que precisamos de, no mínimo, uma estrutura descente pra tocar e que nossas exigências sejam cumpridas e respeitadas, afinal não somos mais adolescentes sem responsabilidades. Temos família, contas, ensaios, baquetas, cordas... Existe toda uma estrutura pra ser manter uma banda e ainda uma família, e se você prima pela qualidade você tem que investir. Muitos não entendem isso e acham que Metal é só festa, cerveja e tudo mais. Queremos algo maior que apenas tocar no Rio de Janeiro. Mas sempre que nos convidam e chegamos a um acordo tocamos sem problema. Temos muitos fãs e amigos em nossa cidade e gostamos de tocar para eles. Tudo é uma questão do que você quer como banda. E nós queremos um trabalho sério. Se existe uma ‘panela’ eu não sei, só sei que o Coldblood não faz parte de nenhuma e renovação na cena sempre existirá, a questão e se você tem competência ou não pra se manter.
Recife Metal Law – Você citou algo referente aos preparativos para o segundo álbum da banda. Conte-nos um pouco do que estar por vir. Já tem sons prontos para esse novo trabalho? A banda tem planos de lançar quando?
M.Kult – Estamos no processo final das composições. Já temos oito músicas novas, cinco delas tocamos em nossa última turnê. Vamos escrever mais alguns temas e pretendemos começar as gravações em dezembro. O lançamento está previsto para março de 2011. Estamos analisando algumas propostas de gravadoras para viabilizar o lançamento aqui e no exterior. Vamos ver o que acontece.
Recife Metal Law – Eu soube que o meu grande amigo Vitor Hugo não participou da tour com vocês devido a questões particulares de última hora que o impediram de ir. Olhando para as fotos de divulgação da banda percebi que ele não está presente. Como o Vitor é um dos fundadores do Coldblood, seria importante aproveitar as ‘linhas’ para nos explicar melhor o que está acontecendo? O Vitor ainda faz parte da banda?
M.Kult – A princípio ele tinha se afastado da banda por razões profissionais e pessoais, mas logo em seguida ele preferiu deixar a banda. No momento ele tem outras prioridades e precisa se dedicar a isso 100%. Então resolvi continuar com os outros integrantes. Saímos em turnê como ‘Power Trio’, com J.Cesar (um dos nossos guitarristas) tocando o baixo. Vitor continua sendo nosso brother e sempre vai ser, afinal começamos essa história juntos.
Recife Metal Law – Markus, sinceramente foi uma imensa honra amigo. Apesar de nos conhecermos pessoalmente há tempos, sempre tive vontade de entrevistar sua banda que, em minha opinião, é uma das principais representantes do cenário Death Metal carioca e também um grande exemplo de atitude e resistência no Underground. Deixo agora esse espaço para suas considerações finais com a certeza de que em breve teremos muitas conversas de ‘sangue frio’. Que a estrada seja longa para todos os integrantes e os obstáculos sejam apenas detalhes no caminho. Força!
M.Kult – Eu é que agradeço pela oportunidade desta entrevista, valeu mesmo! Gostaria de aproveitar para agradecer também a todos que tem nos apoiado de alguma forma, indo a nossos shows, comprando nosso material, pelas mensagens de apoio... Enfim, estamos trabalhando para dar nossa contribuição para o cenário brasileiro. Forte abraço a todos. Chakal, tu és brother de tempos, continue assim, apoiando o Metal Nacional. Valeu!