Não é mais novidade alguma falar sobre as dificuldades que uma banda brasileira tem, seja para gravar um álbum ou até mesmo divulgá-lo. Mesmo com todos os fatos negativos e o pouco apoio (ainda mais em tempos de downloads ilegais), o Brasil a cada ano revela grandes nomes. A banda gaúcha Father’s Face é um exemplo de qualidade musical, e por isso vem recebendo tanto elogios da mídia especializada. Recentemente a banda lançou seu primeiro álbum, um trabalho conceitual baseado no livro “Frankenstein”, intitulado “Soundtrack For a Closing Light”. Esse material mostra toda a qualidade da banda e, mesmo tendo sido lançado de forma independente, tem tudo para colocar o nome da banda ainda mais em evidência. A banda atualmente é formada por Lucas Guimarães (vocal), Alessandro Marques e Cristóvão A. Viero (guitarras), Luciano Oliveira (baixo) e
Daniel Seimetz (bateria).
Recife Metal Law – A Father’s Face, desde que surgiu, teve como ideia inicial fazer um trabalho conceitual, baseado no livro “Frankenstein” da escritora Mary Shelley. Então isso significa que a banda tomou forma em razão desse livro?
Alessandro Marques – Eu estava estudando, pois sabia que precisava melhorar meus conhecimentos e habilidades se quisesse continuar fazendo Heavy Metal. A banda surgiu escorada na ideia do Frankenstein sim, mas foi um acaso. Se a história não tivesse surgido no meio do caminho, teria mesmo assim, após a faculdade, montado uma banda de Heavy Metal.
Recife Metal Law – Com relação à parte instrumental, como foram trabalhadas as influências de cada músico para que a sonoridade da banda tivesse um aspecto singular?
Alessandro – Acho que isso tudo veio naturalmente, após as composições feitas. Devolver as influências que recebemos é como reorganizar palavras que já existem: as palavras estão ali e sempre estiveram, mas a forma como você as usa para se expressar é ímpar.
Recife Metal Law – Musicalmente falando, quais seriam as principais influências da Father’s Face?
Alessandro – Da minha parte, Richard Wagner, Hector Berlioz, Iron Maiden, Sepultura, Helloween, Deep Purple, Heitor Villa Lobos, Tom Jobin, Ivan Lins, Chico Buarque, Steve Vai, Symphony X, Rush e Dream Theater (são os que me vem na cabeça agora, mas ouço muitas outras bandas e compositores).
Recife Metal Law – Antes do álbum, veio uma Demo, que teve grande projeção, tanto aqui no Brasil como na Europa, isso em 2009. A Demo contou com três músicas, as quais, inclusive, estão no álbum de estreia. Nessa época a banda já estava com todas as músicas prontas para o álbum, ou o trabalho para as composições surgiram a partir da boa aceitação da Demo?
Alessandro – Estavam todas com o contorno inicial pronto, menos a “One In The Many”, que substituiu outra música que não tinha o impacto que precisa para ser a terceira do álbum.
Recife Metal Law – O álbum “Soundtrack For a Closing Light” foi lançado no ano passado, de forma independente. Mesmo com a grande aceitação, tanto de público como de mídia, esse trabalho não teve um suporte de uma gravadora para o seu lançamento. A que se deve isso?
Alessandro – Acreditamos que, se fizéssemos tudo nós mesmos, o custo do CD cairia bastante e poderíamos repassá-lo ao público com um valor interessante. O fato de termos o domínio sobre todas as nossas atitudes contou muito também. A propósito: você tem visto alguma banda nova ser lançada por alguma grande gravadora? Veja o Symphony X, por exemplo, o último disco deles foi lançado pela Nuclear Blast, mas os outros, que também são obras primas, foram lançados por selos pequenos, de forma independente. Parece que as gravadoras não querem a mão-de-obra de fazer o pão, querem o pão pronto e embalado. Este é o meu ponto de vista particular, não a opinião da Father’s Face.
Recife Metal Law – Toda a produção sonora desse material ficou a cargo da própria banda, mais precisamente ao teu cargo, Alessandro. Houve a cogitação de se trabalhar com um produtor, para que houvesse opiniões diferentes dos músicos?
Alessandro – Não que eu saiba. Eu cheguei a pensar em masterizar em outro lugar, mas acabei fazendo eu mesmo, com o apoio psicológico de toda a banda.
Recife Metal Law – As músicas desse álbum são bem fortes, e passeiam pelo Heavy Metal Tradicional, indo ao Progressivo e até mesmo algumas passagens que lembram o Melodic Death Metal. Essa alternância nos andamentos das músicas foi proposital para transformar o som do Father’s Face em algo bem singular?
Alessandro – Todas as composições vieram de forma natural. Ouço todos os dias várias ‘canções’ em minha mente. Sinto que sou capaz de fazer um disco por mês, mas é claro que isso não é viável, pois não vivemos da banda, todos temos trabalhos paralelos. Nada em nossas composições foi forçado. Fizemos uma pré-produção onde gravamos tudo como se fosse para o disco e cada um imprimiu seu estilo, mesmo as composições já estando bem encaminhadas.
Recife Metal Law – Uma das músicas que tem alguns lançamentos que lembram o Melodic Death Metal, tanto em algumas passagens instrumentais, como na utilização de vocais mais agressivos, que ficaram ao teu cargo, é “Eden”. Digo que essa é uma de minhas músicas preferidas... Quais músicas estão tendo maior respaldo frente ao público e a mídia especializada?
Alessandro – Acho que ao vivo são as músicas “...Or A Lonely Soul?” e “Eden”. Em estúdio a “Thy Touch” teve alguns comentários a mais, mas na verdade todos têm falado do disco como um todo.
Recife Metal Law – O álbum é conceitual, como já mencionado, então isso facilitou na hora da criação das letras?
Alessandro – Na realidade o álbum ser conceitual, baseado em um livro de tamanha importância e a vontade que tínhamos de que as letras tivessem duplo sentido, dificultou o trabalho com as letras.
Recife Metal Law – Algo que senti falta na parte gráfica foram as fotos dos integrantes. Por que suprimir fotos dos integrantes da banda no encarte do álbum?
Alessandro – Queríamos ser reconhecidos pelo nosso som. Hoje vemos uma enxurrada de bandas preocupadas com o visual e, às vezes, o som fica para trás. Não ter fotos de integrantes também gera certo mistério. Nós temos pouquíssimas fotos, e acho que continuaremos seguindo este padrão.
Recife Metal Law – E como vem sendo trabalhada a parte de shows? Existem contatos para que a banda faça uma tour de divulgação desse álbum, seja no Brasil ou fora dele?
Alessandro – Fizemos nossos primeiros shows no fim do ano de 2010. Estávamos muito ansiosos, pois nunca tínhamos tocado juntos ao vivo. Foi muito legal ver a reação das pessoas com as nossas músicas! Estamos fazendo um mapeamento do Rio Grande do Sul e pretendemos tocar no máximo de lugares possível. A partir de março retomamos nossas atividades ao vivo. Esperamos convites para tocar e digo que é muito fácil levar a Father’s Face para a sua cidade. Basta entra no site www.fathersface.com.br e nos enviar um e-mail. E estaremos perto de todos!
Recife Metal Law – O que podemos esperar do Father’s Face, após o lançamento de um álbum que pode ser considerado um dos melhores de 2010, de agora em diante?
Alessandro – Podem esperar shows com muita energia e surpresas em estúdio a qualquer hora! Muito obrigado pelo espaço! Vamos transformar o Brasil no celeiro do Heavy Metal Mundial!