Com vinte anos de existência a banda gaúcha Sacrário está a todo vapor, divulgando seu mais novo trabalho, “Stigma of Delusion”, lançado em 2010 pela Voice Music. A banda, como quase todas do nosso gigante Underground, teve algumas dificuldades e nesse bate papo fala sobre isso, um pouco da sua história e o reaparecimento da banda, em 2007. Vamos as respostas do vocalista/guitarrista Fábio Webber. Recife Metal Law – Para começar - SACRÁRIO: Lugar onde se guarda o Corpo de Cristo depois da celebração da Eucaristia, para que se possa levar aos doentes quando seja necessário, e para que todos possam rezar diante dele. Poderia explicar um pouco do que está por trás deste nome.
Fábio Webber – Bom, logo no início de suas atividades, o Sacrário ensaiava no porão de uma igreja. E o estúdio era localizado logo abaixo do altar, próximo ao Sacrário. Como era um nome diferente e original, um antigo membro do grupo o sugeriu, então, como todos aprovaram, a banda adotou o nome.
Recife Metal Law – Quase 20 anos. É uma longa estrada. Poderia nos contar resumidamente como foram esses anos?
Fábio – Na verdade, estivemos parados durante oito anos, então temos praticamente doze anos de atividades e quase vinte anos de existência... Mas, como toda banda de Metal, tivemos de enfrentar todo tipo de dificuldades, altos e baixos. Adquirimos experiência, muitos fãs, fizemos muitos shows e aprendemos muito durante todos esses anos. Tanto que sempre acreditamos na nossa música, por mais que a situação estivesse difícil; nunca desistimos, pois somos fãs de nós mesmos. Agora estamos mais experientes, confiantes e mais maduros.
Recife Metal Law – Como você vê o Metal hoje em dia, em vista do vivenciado em tempos idos?
Fábio – Atualmente há uma quantidade enorme de bandas; há mais subdivisões dentro do Metal, e há a internet, que é um dos principais meios de acesso às bandas, mas, por outro lado, o Metal perdeu, e muito, a sua essência. A música está muito mecanizada, sem alma, pois com a internet e toda a tecnologia que temos hoje, qualquer pessoa, sem a mínima noção musical, grava um álbum, por essa razão temos essa enxurrada de bandas, que muitas vezes nem Metal o são, tentando modernizar e fundir estilos bizarros sem a mínima noção do que fazem, se repetindo a cada momento. Apesar disso, há boas bandas novas surgindo. Mas, infelizmente não se faz mais Metal como antigamente, com ‘aquele’ feeling, com aquela ‘atmosfera’. Hoje temos o que chamamos de ‘robotic metal’.
Recife Metal Law – Eutanásia (ou boa morte) é um tema abordado no último álbum. Particularmente, tenho um posicionamento totalmente a favor que ela ocorra. Gostaria que expressasse seu ponto de vista sobre o assunto.
Fábio – Ninguém tem o direito de tirar a vida de quem quer que seja, independente de quaisquer circunstâncias, mas por outro lado não vejo motivo para um ser humano ficar vegetando e sofrendo durante meses ou anos, sobrevivendo, apenas, através de aparelhos. Então penso em favor da eutanásia.
Recife Metal Law – O release da banda informa que houve problemas antes do lançamento do primeiro álbum, o que levou um hiato de sete anos para a volta da banda e o lançamento do álbum. Como foi esse período, do fim ao recomeço?
Fábio – Durante o tempo em que estivemos parados, nunca deixamos de nos falar, muito pelo contrário, sempre estivemos em contato, conversando muito e falando no retorno da banda, e quando tivéssemos os membros certos retornaríamos. E foi exatamente o que aconteceu.
Recife Metal Law – Com relação ao primeiro disco da banda, ele originalmente deveria ter sido lançado na década de 90. Mas acabou sendo lançado em 2007. Corrija-me se estou equivocado. O material existente nesse primeiro full lenght é o original da década 90, ou foi regravado e, digamos, atualizado para a visão musical da banda atual?
Fábio – Nós não modificamos nem alteramos em nada a gravação do álbum, ele está 100% exatamente como gravamos na década de 90. Pensamos muito a respeito disso e concluímos que o melhor seria não mexer em nada. Não quisemos correr o risco de tirar a essência das músicas e toda a atmosfera delas, além de que iríamos gastar muito dinheiro, que poderia ser investido num novo álbum. Então resolvemos manter toda a originalidade da gravação.
Recife Metal Law – Nos últimos anos, tanto a nível de Brasil, como mundial, percebe-se uma ciclo favorável ao Thrash Metal, com várias bandas surgindo e uma atenção favorável. E é claro, o teatro armado pelo “Big Four”. Qual a visão da banda, sendo já uma veterana com seus quase vinte anos de estrada?
Fábio – É ótimo ver isto acontecer, já que o estilo Thrash Metal é o que mais admiramos e gostamos e todas essas bandas ‘das antigas’, da fase de ouro do Metal, na ativa, e tantas outras retornando, mas que isso seja pela paixão pela música, não pelo dinheiro, porque Metal de verdade se faz com feeling, com o coração, aí sim somos totalmente favoráveis à cena.
Recife Metal Law – Em abril a banda fará uma tour na Argentina. Quais as expectativas para essa tour? É a primeira aventura fora da ‘Terra Brasilis’ ou já houve outras experiências nesse sentido? E a gravadora, tem apoiado?
Fábio – Nossas expectativas são grandes e as melhores possíveis, estamos muito ansiosos com esses shows fora do Brasil, até porque será a primeira vez que o Sacrário tocará fora do país. Então esperamos o melhor para a banda, que nossa música seja mais reconhecida. Faremos o máximo para que esses shows soem o melhor possível e atinja o maior número possível de pessoas, para que todos apreciem nosso trabalho e o Metal feito no Brasil.
Recife Metal Law – Tenho visto que o disco tem aparecido na mídia especializada. Como tem sido a recepção desse novo disco?
Fábio – Até agora em todos os lugares, onde alguma resenha do novo álbum foi feita, só há críticas positivas. A aceitação tem sido ótima e, para ser sincero, não esperávamos tanto. São inúmeros elogios à banda, desde a arte da capa e tudo o mais. E isso se deve ao nosso esforço e a nossa dedicação à música que fazemos, por isso estamos muito contentes e satisfeitos.
Recife Metal Law – É perceptível em suas letras temas ligados a religião. O que você pensa sobre essa indústria espiritual, que parece cada vez aumentar sua popularidade?
Fábio – Infelizmente com todo o desenvolvimento, a nível tecnológico e cultural que temos no mundo hoje, não entendemos como ainda existem pessoas ingênuas neste planeta. Como existem pessoas que acreditam no absurdo. Não conseguimos compreender isso. Como, por exemplo, ‘pagar para se ter um lugar mais próximo de Deus no céu’. Todos esses pilantras se aproveitando da ingenuidade e da humildade de muitas pessoas, tirando (roubando) dinheiro de quem não tem.