Continuar com uma banda de Thrash Metal por mais de duas décadas, levando-se em consideração o momento de certo ostracismo que o estilo passou, não é tarefa fácil. Mas o Hicsos superou a barreira do tempo e mostrou que, acima de tudo, tem que se lutar e ter amor por aquilo que acredita, para seguir em frente, superando as adversidades. Na entrevista a seguir poderemos saber um pouco mais sobre essa banda, que se mantém firme e forte há vários anos e já se prepara para lançar um novo álbum. Confiram!
Recife Metal Law – O nome da banda deriva do egípcio, “Hik-khoswet”, e significa “governantes de países estrangeiros”. Mas qual foi o real motivo para se colocar o nome da banda de Hicsos?
Marco Anvito – Tínhamos, na época, alguns nomes em votação. Decidimos por Hicsos, porque ficamos admirados com a história do povo. Achamos um nome forte e que tinha haver com nossos ideais. Marcello Ledd – Eu não era da banda, na época, mas era camarada dos caras. Esse povo também foi identificado como sendo o povo que está no Êxodo da bíblia. Não são Hebreus e sim os Hicsos.
Recife Metal Law – A banda surgiu na capital fluminense, em 1990. Quais foram os principais percalços para se formar e manter a banda na ativa do início daquela década?
Anvito – Era muito difícil pra todos nós, sempre tivemos que estudar e trabalhar para ajudar em casa e encontrar tempo para ensaiar. Era tudo muito divertido, mesmo com toda essa parada; os shows eram com equipamentos fracos. Muito boa aquela época, mas dificuldade sempre há e isso estimula continuar batalhando. Antonio Saba – O principal problema em ter e manter uma banda é com certeza dinheiro. No Brasil não dá pra viver exclusivamente de música, é preciso ter um trabalho fixo para que você possa se manter e investir na banda. Ledd – O mesmo de hoje em dia: grana! Só que nos dias de hoje está muito mais fácil de conseguir bons equipamentos, o que naquela época era foda! (risos)
Recife Metal Law – Um ano após o seu surgimento, a banda lançou sua primeira Demo, ainda no formato K-7. Essa Demo recebeu o título de “The Face of the Abyss” e contou com quatro músicas. Vocês lembram o que se passava na cabeça dos integrantes ao gravar essa Demo? Como vocês queriam que ela soasse?
Anvito – Naquela época queríamos tirar o mesmo som das gravações de Kreator, Slayer e por aí vai. Não tínhamos nenhuma experiência. Era difícil demais as coisas na década de 90, hoje é tudo muito mais fácil. Saba – Nessa época a gente era super inexperiente em relação à gravação. Tínhamos instrumentos ruins, pouca grana e, para piorar, a gente gravou em um estúdio muito ruim. Mas na década de 90 era isso, não tinha para onde correr! (risos)
Recife Metal Law – Durante a década de 90 vocês lançaram mais duas Demos e o curioso é que entre cada lançamento (inclusive do primeiro para o segundo) o período foi de quatro anos. Isso foi proposital?
Anvito – Não! (risos) Pura coincidência, tivemos muitos problemas de troca de guitarrista, isso atrasou muito nosso trabalho e demoramos a lançar mais material. Saba – Não foi proposital. Na década de 90 o Hicsos teve várias mudanças de formação, que atrasou um pouco o andamento da banda. Em “Suicide Illusion”, que foi nossa segunda Demo, estávamos estabilizados em relação à formação e grana, pra investir em uma produção melhor. Ledd – Eu entrei a partir da segunda Demo. Foi muito escroto a gravação dessa fita, porque o cara do estúdio não curtia Metal e, simplesmente, esqueceu de fazer um mapa da mesa. Quando a gente voltou para fazer a mixagem ele não sabia onde estava nada. Mas com relação ao tempo entre um e outro, acho que nenhum de nós se ligou nisso! (risos)
Recife Metal Law – Atualmente, com todas as facilidades tecnológicas é bem fácil de gravar uma Demo, mas como foi para o Hicsos gravar seus materiais nos anos 90? A banda teve algum suporte para fazer a gravação de tais materiais?
Anvito – Nenhum suporte. Foi na raça! Tínhamos ideias e tentávamos passar para os técnicos de som que gravaram nosso material. Nem sempre tínhamos profissionais que entendiam do nosso som, isso atrapalha. Saba – Década de 90 era bizarro! Não existiam estúdios descentes e nem pessoas que soubessem lidar com música pesada, era bem complicado. O esquema era mais ou menos esse na hora de gravar: Hicsos: ‘Se a gente fizer isso, dá praquilo depois?’. O operador: ‘Claro! Na hora de mixar...’. Hicsos: ‘E aí, dá pra fazer aquele lance que a gente combinou nessa parte da música?’. Produtor: ‘...iiiiiiiiiiiiiiiiii, NÃO!!!!!’. Era assim. (risos) Ledd – (risos) Realmente o Saba disse tudo. Cara, era um parto conseguir chegar a um resultado realmente bom, como eu falei antes no lance da Demo. Até para ensaiar os caras do estúdio pediam para diminuir a distorção, o volume e tal. (risos)
Recife Metal Law – O primeiro álbum, “Eatin’ Concrete”, foi lançado em 2004, e já se encontra esgotado. Existe a possibilidade de esse material ser relançado?
Anvito – Pois é, conversamos sobre esse assunto a menos de um mês atrás. Estamos com ideia de regravá-lo todo sim, mas ainda é uma ideia e nem todos da banda concordam. Vamos ver como as coisas vão acontecer. É uma ideia que não vai morrer fácil. Temos um carinho muito grande por este álbum. Saba – Por mim não! Outra época, outros pensamentos. Agora é dar continuidade ao trabalho. De repente pegar alguma música e regravar. Ledd – Bem, regravar alguma coisa com certeza vai rolar, mas não sei se o álbum inteiro! Eu tenho vontade de ver esse álbum regravado do jeito que a gente toca as músicas hoje em dia, até porque o Nilmon (Nilmon Filho, guitarrista) ainda não fazia parte da banda nessa época.
Recife Metal Law – Já “Technologic Pain” foi lançado em 2007 e, também (pelas informações que tenho), de forma independente. O Hicsos sempre trabalhou de forma independente, desde o seu surgimento, mas isso é algo que a banda sempre quis?
Anvito – Na verdade o “Technologic Pain” não foi independente, foi lançado pela Dynamo Records. A gravadora deu um bom suporte e divulgou bastante o CD. O primeiro CD, “Eatin’ Concrete” também não foi completamente independente, foi lançado em uma parceria com uma gravadora iniciante, a Triarch Records. Sempre procuramos parcerias ou gravadoras interessadas, fica mais fácil de trabalhar, porque tira de nossas costas alguns trabalhos como, por exemplo, divulgação. Saba – É difícil, no Brasil, arrumar uma gravadora que banque um álbum de banda de Metal. Por isso a maioria das bandas gravam de maneira independente e depois tentam prensar os CDs com alguma gravadora especializada. Ledd – O “Technologic Pain” foi feito com a Dynamo Records, que deu um excelente suporte, colocando esse álbum em tudo que é lugar na América do Sul. Fizemos várias entrevistas para rádios da Bolívia, Equador, Colômbia, Peru, Argentina, tudo conduzido pela gravadora. O suporte foi bom, mas queremos atingir um patamar maior no próximo álbum, ir além do “Technologic Pain”.
Recife Metal Law – A banda é praticante de um Thrash Metal forte, com passagens trabalhadas, unindo peso e agressividade, mas sem se prender a “nova onda” do estilo. Como vocês definiriam a forma de se fazer Thrash Metal do Hicsos?
Saba – A galera da banda gosta muito de Slayer, Kreator, Exodus, basicamente as bandas de Thrash ‘da antiga’. Eu e Marcello gostamos muito de Hardcore e sempre tentamos colocar alguma influência disso nas músicas que fazemos para banda. O Marco e o Nilmon já tem uma pegada mais Thrash. Aí com a mistura disso sai o Hicsos. Ledd – Exatamente! Nosso som é a mistura de influências de todos na banda. Às vezes uma música que inicialmente é totalmente Thrash, quando junta todos tocando, fica 100% Crossover! Eu mesmo tenho uma mistura grande de influências, que vão de Led Zeppelin, passa por Anthrax e descamba em Napalm Death, sem contar as banda de Punk/Hardcore, que são sons que eu adoro também! Como eu costumo dizer: o nosso som é HICSOS! (risos)
Recife Metal Law – As letras das músicas do Hicsos carregam grande preocupação social, além de outros temas. Mas uma das músicas que me chamaram mais a atenção, em razão de sua letra, foi “Pátria Amada”, contida no álbum “Technologic Pain”. A banda usou a letra do Hino Nacional como forma de protesto. Mas analisando o todo de sua temática lírica, o que a banda pretende passar com suas letras aos ouvintes?
Ledd – Eu faço muita letra nessa praia de política e tal, dia-a-dia, coisas urbanas ou pessoais, mas o Nilmon também está compondo letras que tem outras abordagens; o Saba fala muito de coisas do cotidiano, também. No caso de “Pátria Amada” eu quis fazer um protesto contra as coisas que me incomodavam e contra uns ‘milicos’ idiotas que levam essa história de hino muito a sério, como se fosse mais importante do que as coisas que a população necessitam . Nossas letras tentam refletir nossas ideias, mas não tentamos dizer a ninguém o que fazer com suas vidas ou ideais.
Recife Metal Law – Algumas músicas contidas no último álbum de estúdio foram disponibilizadas no Split dividido com o Mortal Factor. Foi cogitada a possibilidade de colocar apenas músicas inéditas nesse split?
Anvito – O lançamento do Split foi muito perto da viajem pra Europa, não havia tempo para pensar nisso e como tinha um boa divulgação do “Technologic Pain” pela Europa achamos que seria muito bom para dar continuidade ao trabalho. Saba – Infelizmente não haveria tempo para novas composições. O lançamento do Split foi praticamente junto com a viajem para a Europa. Mas se houvesse tempo com certeza entrariam músicas novas.
Recife Metal Law – O Hicsos chegou a anunciar o lançamento de um DVD, intitulado “Violence and Blood”, mas até o momento esse material não foi disponibilizado. Qual seria a razão para esse DVD ainda não ter sido lançado?
Anvito – Queríamos juntar esse DVD com o próximo álbum. Apesar de o DVD estar pronto, sempre que o vemos ficamos pensando: ‘Poxa poderíamos incluir isso ou aquilo’. Isso ‘tá virando um parto! (risos) Mas vai sair sim. O material está pronto e as propostas surgindo. Aguardem... Ledd – Vai ser lançado junto com o próximo trabalho, pode ter certeza. Como disse o Marco, estamos acrescentando algo a mais, porém já está pronto no seu todo!
Recife Metal Law – Atualmente a banda vem trabalhando em seu novo álbum, o qual, ainda, não tem título definido. O que podemos esperar desse novo lançamento e quando ele “verá a luz do sol”?
Anvito – Bem, o novo álbum está praticamente com todas as composições concluídas. Temos um projeto de começar as gravações ainda esse ano. Saba – Estamos trabalhando nesse álbum desde que voltamos da Tour pela Europa. Fizemos uma pré-produção para ouvir as músicas com calma e gostamos do resultado. Estamos trabalhando com calma para tudo ficar perfeito. Ledd – Esse ano iremos gravar e talvez já seja lançado, isso vai depender de alguns acertos que estão em andamento. Mas, em primeira mão para você, é o nome do álbum que já está definido, vai se chamar “Circle of Violence”! Inclusive está em nosso Myspace uma das músicas novas em formato Demo para ser ouvida. Entrem lá e dêem uma sacada. Em breve vamos soltar mais uma música.
Recife Metal Law – São vinte e um anos de estrada, com muita luta, dedicação e perseverança. Qual o momento mais marcante para o Hicsos durante essas mais de duas décadas de atividades?
Anvito – Todos os momentos são marcantes. O Hicsos é uma grande família, somos muito amigos e é sempre um prazer estar junto fazendo um barulho. Fizemos muitas amizades, shows sensacionais e muita experiência adquirida. Acho que a coisa que mais marca são os shows, aberturas de grandes nomes do Metal mundial como: Anthrax, Mercyful Fate, Obituary, Destruction, DxRxI, Exodus, tocar em grandes eventos como Roça ‘n Roll e a tour pela Europa, que foi sensacional. Saba – Para mim a tour pela Europa foi uma experiência sem igual. Ledd – Cara cada passo é uma vitória pra mim. Mas acho que a tour pela Europa até agora foi o grande momento. Mas queremos mais e vamos ter mais, as novidades virão em breve! (risos) Eu gostaria de agradecer a oportunidade de passar nossas ideias através do Recife Metal Law. Espero que a galera goste das novas músicas e a violência vai começar de novo em breve! Para quem quiser levar nosso show é só entrar em contato através do e-mail [email protected]. Um grande abraço para você e todos pelo nordeste, que é um ótimo lugar para se fazer Metal!
Site: www.hicsos.com.br
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação