Desde o seu surgimento, em 2006, a banda mineira Hammurabi sempre manteve uma boa sequência de lançamentos. E tais lançamentos não se prenderam a apenas um formato, haja vista que cada material lançado veio num formato diferente, entre Demo, single, EP e recentemente o full lenght “The Extinction Root”. Esse álbum vem recebendo ótimos comentários da mídia especializada, algo que não poderia ser diferente, afinal de trata de um violento petardo Death/Thrash Metal, com uma banda procurando trilhar um caminho com ‘cara própria’. A banda atualmente conta com Crislei Rodrigo (bateria), Danilo Henrique (guitarras) e Daniel Lucas (vocal e baixo). E é Daniel quem responde a essa entrevista para o Recife Metal Law.
Recife Metal Law – A Hammurabi surgiu das cinzas da Gestalt. O que motivou o fim de uma e o começo de outra banda?
Daniel Lucas – Primeiramente, gostaria de agradecer a oportunidade de participar deste espaço neste importante veículo do Nordeste dedicado ao Metal. A motivação surgiu a partir da dificuldade de encontrarmos um baixista que suprisse o que esperávamos para a banda e, claro, sobre as mudanças que vislumbrávamos em torno de que caminho seguir.
Recife Metal Law – Como toda banda, a Hammurabi já sofreu algumas alterações, porém uma delas me deixou curioso. O guitarrista Wagner Oliveira integrou, originalmente, a banda, depois saiu, e voltou novamente, se fixando definitivamente. O que de fato aconteceu para esse entre e sai do guitarrista Wagner?
Daniel – Nós nos conhecemos deste a 5ª série do ginásio, então, durante as mudanças de ‘line up’, parece mais conveniente que tenhamos alguém em quem confiamos e já conhecemos há muito tempo. Entretanto isso não é uma regra. O Wagner já não faz mais parte da banda, enquanto temos o Danilo há praticamente quatro anos na banda e só o conhecemos nos testes. É relativa toda essa sintonia.
Recife Metal Law – Surgida em 2006, a banda já lançou uma Demo, um EP e um single, antes do álbum de estreia. Qual a importância que tais materiais lançados tiveram para a banda e de que forma os mesmos ajudaram a moldar a sonoridade do Hammurabi?
Daniel – Acredito que a experiência de se fazer esses diversos formatos diz tudo. De 2006 pra cá são cinco anos e já trabalhamos em quatro formatos diferentes. Estamos mais próximos às pessoas e sem cair no esquecimento. Isso tudo em meio às adversidades do mercado fonográfico e o grande número de bandas. Ao mesmo tempo, adquirimos experiência na estrada e em estúdio, o que deixa claro nossa evolução sonora e a receptividade do nosso público.
Recife Metal Law – Inclusive, a Demo “Submersos” conta com duas músicas cantadas em português. Qual foi a razão para que a banda mudasse suas músicas, que antes eram cantadas em nossa língua pátria, para o inglês?
Daniel – Desde o início pensamos um projeto de cada vez. Naquele momento a nossa intenção era unicamente falar com o público local (Belo Horizonte e região metropolitana) com grande possibilidade de expandirmos a nível nacional por meio da mídia especializada. Sempre pensamos que deveríamos conquistar um público de cada vez, ‘booms’ como no caso do Sepultura não são frequentes. A grata surpresa foi que a nossa Demo foi muito bem recebida e logo estávamos em várias cidades, além daquele raio inicial que tínhamos proposto. “Submersos” diz tudo da banda e não possui ‘falhas’ de comunicação; ouça na sua língua nativa e saiba o que estamos dizendo, era mais ou menos assim que pensávamos na época. A música, “Submersos”, inclusive está no ‘set’ de nossos shows até hoje.
Recife Metal Law – A banda é natural de Minas Gerais, mais precisamente de sua capital, berço de grandes nomes do Metal nacional. Sendo originários de Belo Horizonte, lugar de onde saiu nomes de grande respaldo no Metal mundial. Vocês se sentem um pouco pressionados em também fazer uma música que tenha grande impacto, tanto a nível nacional como mundial?
Daniel – Vejo como responsabilidade. Sempre que passamos em outras cidades somos lembrados disso e buscamos fazer o melhor, carregar a bandeira de um Metal de qualidade, profissional e objetivo. Eu acho que a verdadeira raiz de Belo Horizonte não quer adornos, tem que ser direto. Qualquer coisa diferente disso é outra escola.
Recife Metal Law – O álbum de estreia se chama “The Extinction Root”, e conta com dez músicas, entre elas uma instrumental intitulada “Obliteration of Mankind”, que é responsável por abrir o álbum. Por que decidiram começar o álbum com essa música?
Daniel – Apesar de parecer clichê, músicas instrumentais em abertura de álbuns, acredito que “Obliteration of Mankind” expõe a maior parte daquilo que propomos no álbum, no que concerne ao cenário. Sempre achei que o ouvinte necessitasse de um contexto explícito para que pudesse se inserir nele e principalmente vivenciá-lo. “Obliteration of Mankind” é a metáfora de algo como “pare, escute e sinta o que eu quero dizer”.
Recife Metal Law – As músicas contidas nesse ‘debut’ seguem uma sonoridade Death Metal, porém trazendo doses cavalares do Thrash Metal, e com uma cara bem própria. Como foi todo o trabalho de composição desse material? Ao escrever as músicas havia uma preocupação em apresentar um trabalho com ‘cara própria’?
Daniel – Não foi uma prioridade. Como no início de nossa conversa, falamos de se gravar outros formatos e estarmos preparados para lançar o ‘debut’. No nosso caso, sabíamos o que queríamos fazer e principalmente planejamos muito para termos um resultado realmente satisfatório. Trouxemos tudo que tínhamos de melhor, incluindo nossas influências e aquilo que vivenciamos no cotidiano.
Recife Metal Law – O álbum é bem linear, e cada música apresenta momentos impactantes, vide temas como “Blessed by Hate”, “Madness is to Live in This World” e “A Land Forgotten in Hell”, só para citar três. O álbum vem chamando a atenção da mídia especializada, mas perante os headbangers, como vem sendo a aceitação do álbum?
Daniel – Sim, os temas realmente se relacionam e acabam por construir uma atmosfera própria a meu ver. Em relação ao público, nas várias cidades em que passamos divulgando este álbum tivemos uma ótima receptividade. As pessoas estão mais empolgadas e participando mais dos shows. Acredito que realmente conquistamos muito mais fãs com esse disco do que com qualquer outro.
Recife Metal Law – É notório que a temática lírica traz certa preocupação com os temas atuais, inclusive a música “Highway of Death” fala sobre a BR 381, que tem um trecho conhecido como “Rodovia da Morte”. Por que falar sobre esse assunto numa das músicas contidas em “The Extinction Root”?
Daniel – “The Extinction Root” trata especificamente sobre os humanos serem a razão da extinção do planeta, uma auto extinção propriamente dita. “Highway of Death” mostra como nos matamos pelos problemas de sempre: educação, respeito e bom senso são prerrogativas para termos um mundo melhor e a nossa BR 381 é só mais uma em meio a uma malha viária do nosso país, quiçá do mundo. Quando escrevi que “a morte tem cheiro de asfalto”, foi exatamente pensando que a morte não frequenta a BR 381 porque ela quer e sim porque a procuram, e em todas as estradas do país.
Recife Metal Law – Pelo que percebi, cada letra tem certa ligação com o título do álbum. Estou certo?
Daniel – Sim, os temas estão entrelaçados. Foi uma forma também de deixar nossa mensagem mais coesa e menos evasiva.
Recife Metal Law – A capa do álbum traz algumas águias, sendo que a maior está com um dos olhos costurado. Qual o real significado dessa capa? O intuito foi apenas ligar a imagem da capa com o título do álbum?
Daniel – Este foi um conceito amplamente discutido, principalmente porque tínhamos mais pessoas envolvidas no projeto. A capa tinha que traduzir o conceito mais amplo do que queríamos falar, a exemplo da BR 381 e outras estradas em nosso país e outros cantos do mundo em “Highway of Death” ou mesmo do descaso com o norte de Minas, o sertão nordestino e a África de maneira geral em “A Land Forgotten in Hell”, foi traduzido ao falarmos do que as grandes nações terão em seus ninhos futuramente, apenas um símbolo das vidas perdidas, das vidas passadas.
Recife Metal Law – O encarte traz diversas imagens no decorrer de suas páginas, mas uma que me chamou a atenção foram as imagens iniciais, que apresentam uma mulher grávida, toneis de lixo tóxico e as frases: “MMX. The Extinction of Mankind”. Highway of Blood Death. DCLXVI”. O encarte começa com um início bem chocante, não?
Daniel – Sim. Acho que ele é realmente chocante pra quem se propõe a ouvi-lo e vivenciá-lo. Recomendo não só nosso álbum, mas vários outros álbuns de Metal, várias bandas estão propondo mais do que riffs e peso; são experiências que muitas vezes você não conseguirá só no shuffle, mas essa é outra discussão. Voltando a ilustração da abertura, falar de algo tão sério, como o futuro da humanidade e os caminhos que estão sendo escolhidos não poderia ser diferente. Esta ilustração especificamente, criação do designer Fernando Lima – The Most Destructive Art – foi bastante feliz ao enxergar o que tem pela frente as futuras gerações.
Recife Metal Law – Com o álbum lançado, quais são as principais metas do Hammurabi para 2011?
Daniel – Um novo vídeo clipe no segundo semestre, tendo em vista o lançamento recente do vídeo clipe para “Blessed by Hate” (vide www.youtube.com/hammurabibrasil) e o maior número de shows possível. Vislumbramos shows fora do país em um futuro próximo, mas nosso foco atual é expandir as fronteiras do nosso país, que possui dimensões continentais. Tocamos em várias capitais (incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, Curitiba) e em várias cidades do interior, mas ainda não fechamos datas no norte e nordeste, com exceção de Palmas, que tocamos em setembro passado. Esperamos que nos próximos meses quebremos essas barreiras e visitemos essas duas regiões tão importantes no circuito do Metal nacional, inclusive Recife, onde fica sediado a base do Recife Metal Law. Obrigado pelo apoio!