O Rio Grande do Sul é bem conhecido por gerar grandes nomes no meio Heavy Metal, principalmente quando se trata de bandas que fazem um som mais extremo. Com o Decimator não é diferente e após lançar um álbum de estreia muito bom, vem para se solidificar com o seu segundo lançamento, “Bloodstained” (Kill Again Records). Um álbum altamente indicado para os fãs de um Thrash Metal veloz, pesado e agressivo. Mesmo com uma baixa na formação, com a saída do vocalista Leonardo Schneider, o quarteto, atualmente formado por Patrícia Bressiani (baixo), Alceu Martins (bateria), Rodrigo Weiler (guitarra) e Paulo Hendler (guitarra e vocal), continua firme e forte, e com o intuito de divulgar ainda mais seu trabalho.
Recife Metal Law – A banda surgiu em 1999, na capital gaúcha, e o propósito, desde o início, foi de fazer um Thrash Metal influenciado pelos precursores do estilo. Mas quais foram as bandas que realmente influenciariam, diretamente, na sonoridade do Decimator?
Rodrigo Weiler – Acho que as bandas que mais aparecem como influências no nosso som são Kreator, Sodom e Slayer, mas isso não é uma coisa programada.
Recife Metal Law – O primeiro trabalho da banda foi um Promo-CD, lançado em 2003, ou seja, quatro anos após a sua formação. Por que houve esse lapso temporal entre a fundação da banda e o lançamento de um primeiro trabalho?
Rodrigo – Formamos a banda em 1999, porém, só encontramos um vocalista no início de 2002, durante este período ensaiávamos muito e compomos nossas primeiras músicas. Com a entrada do vocalista precisamos fazer algumas alterações nas músicas para encaixar os vocais. A ideia inicial era de fazermos uma Demo, com mais músicas e com uma produção melhor, mas acertamos alguns shows no estado de Santa Catarina e gravamos este Promo-CD para termos algum material para levarmos, mesmo que simples. Gravamos o Promo em uma tarde, todos os instrumentos foram tocados ‘ao vivo’ no estúdio, colocando depois apenas os solos e os vocais.
Recife Metal Law – O segundo trabalho foi a Demo “Decimating Thrashterror”, lançada em 2004, em parceria com o selo holandês Final Punishment. Na verdade esse trabalho é uma compilação com músicas do Promo, mais algumas versões de ensaios gravadas em 2003. Não se cogitou de lançar um material só com músicas inéditas?
Rodrigo – O lance da “Decimating Thrashterror” é até engraçado... Nossa ideia era de gravar o “Killing Tendency” já naquela época; as versões de ensaio eram uma pré-produção do disco e aconteceu de o responsável pela Final Punishment escutar e nos propor a Demo. Nós até sugerimos de gravarmos melhor, mas a proposta deles era a de lançar esse tipo de gravação, bem simples mesmo e nós aceitamos, já que teríamos um material divulgado fora do Brasil, o que era bem difícil para nós conseguirmos fazer por conta própria. Achamos que a oportunidade de ter uma Demo lançada no exterior seria bem interessante, mesmo sendo algo bem simples e limitado a 200 cópias. Ajudou-nos bastante, pois foi distribuída em vários países da Europa. A Demo é muito simples, fita K-7 com capa em xerox, mas ficou tão legal que até fizemos uma camiseta com a capa.
Recife Metal Law – Em 2007 foi a vez do primeiro álbum “Killing Tendency” ser lançado. Como foi a receptividade e divulgação desse álbum? Houve distribuição do CD no exterior?
Rodrigo – A receptividade foi muito boa, bem acima do que imaginávamos até. Todas as resenhas que temos conhecimento foram bem positivas e ainda hoje recebemos e-mails de pessoas que escutaram o CD e curtiram. Quanto à divulgação eu acho que foi muito boa sim, acompanhamos através da internet e é possível encontrar o “Killing Tendency” à venda em lojas e sites em diversos países e aqui no Brasil também. Claro que foi uma tiragem pequena, mas levando em consideração que somos uma banda Underground acho que o resultado da divulgação foi muito bom.
Recife Metal Law – “Bloodstained”, o novo álbum, foi lançado agora em 2011, mas a previsão inicial era de lançar o álbum no ano passado. O que ocorreu para que houvesse esse pequeno atraso no lançamento?
Rodrigo – Um pouco se deve ao fato de termos tido bastante cuidado na gravação e na produção do disco. Conforme a gravação ia evoluindo fomos percebendo que mesmo com todas as restrições que uma banda Underground tem, poderíamos chegar num resultado bem razoável e então fomos cada vez mais nos atendo aos detalhes. Outra dificuldade é a questão de que a banda é nossa diversão e não um trabalho e o tempo que temos disponível para fazermos as coisas da banda é bem escasso, e isso fez com que demorássemos um pouco a terminar todo o processo, mesmo passando o final de semana inteiro no estúdio, durante a semana nem sempre podíamos devido aos nossos compromissos com trabalho e estudo. Somando a isso tem toda a questão de achar uma gravadora interessada em lançar e a própria prensagem que também demora.
Recife Metal Law – Sinceramente, achei o álbum de estreia muito bom, mas o que encontrei nesse novo CD é de espantar! Um álbum agressivo, veloz, insano e altamente recomendável para os apreciadores de um Thrash Metal voraz e sem firulas. No que a banda pensava quando estava compondo cada música que se faria presente nesse disco?
Rodrigo – Valeu pelos elogios, Valterlir. Nossa ideia era de fazermos músicas bem diretas e agressivas, que é o que gostamos de escutar. Temos apenas a preocupação de que nossas músicas não soem como cópia de alguma banda específica, mas que tenham características típicas de Thrash, mas com a nossa ‘marca’.
Recife Metal Law – “Bloodstained” contém oito músicas, em pouco mais de meia hora. Muitas bandas, atualmente, vêm lançando seus materiais em vinil. O Decimator pensa nessa possibilidade?
Rodrigo – Seria foda demais se o disco saísse também em vinil! Para todos nós da banda seria um grande orgulho e uma puta realização, já que curtimos muito vinil e tem muito a ver com a nossa proposta de som. Não temos, por hora, nada neste sentido, mas tivemos até o cuidado de fazermos a capa também no formato para vinil, caso apareça uma oportunidade.
Recife Metal Law – Não há como destacar essa ou aquela música nesse novo álbum, e sei que petardos como “Banner of Terror”, “The Observer” e “Insane Orders” deixarão àqueles que puderem ver a banda ao vivo em polvorosa. Quais músicas estão tendo maior respaldo frente ao público, seja no álbum ou ao vivo?
Rodrigo – Como o CD saiu faz pouco tempo, e fizemos apenas um show após o lançamento, ainda não temos muita noção sobre isso. Talvez por tocarmos a “Banner of Terror” e a “Insane Orders” nos shows antes do lançamento o público esteja mais acostumado com elas, mas acho que ainda está meio recente para termos uma noção mais exata.
Recife Metal Law – O quinteto se mostrou “afiado” na gravação do novo álbum, com cada músico mostrando ser de suma importância para a musicalidade feita pelo Decimator. Mas o vocalista Leonardo Schneider, após a gravação dos vocais, se desligou da banda. Sendo, agora, um quarteto, quais são as diferenças principais encontrados pelos músicos remanescentes?
Rodrigo – Está sendo bem tranquila a adaptação. Até o meio do ano passado éramos um quarteto, porém a diferença é que tínhamos apenas uma guitarra na banda. O Paulo entrou como guitarrista e participou de toda a gravação, o que acabou facilitando muito para que em bem pouco tempo, após a saída do Leonardo, já estivéssemos prontos para tocar ao vivo.
Recife Metal Law – Alguns ainda torcem o nariz para mulheres no meio Heavy Metal, mas muitos, quando ouvirem esse álbum, mudarão sua opinião, afinal a baixista Patrícia Bressiani fez um trabalho excelente! E olha que isso vem acontecendo desde o primeiro álbum...
Rodrigo – Pois é, acho que ainda existe certo receio, mas me parece que vem diminuindo com o passar do tempo. Acho que bandas formadas apenas por mulheres devem ter mais dificuldades neste sentido. Nós nunca tivemos problemas e acho que se deve muito ao fato de nunca termos usado isso como forma de promover a banda.
Recife Metal Law – Com relação a parte lírica, vocês se preocuparam em passar algum tipo de mensagem nas letras nesse novo álbum do Decimator?
Rodrigo – Quando se começa a ler as letras criadas pelo Leonardo para o “Bloodstained” na ordem sequencial do disco, a primeira coisa perceptível é que se trata de guerras, raiva e ateísmo, sempre com dois ou três destes ingredientes, se assim posso chamar, em cada faixa, com exceção de “The Observer”, onde temos algum psicótico com muita raiva, mas este é o primeiro nível conceitual que se percebe no “Bloodstained”. Quando você retira a parte verbal ou linguística e começa a analisar as bases emocionais das letras verá que não temos apenas estes três elementos citados acima em comum ou servindo de elo entre as letras, temos sim um personagem que pode ser uma pessoa, ou uma sociedade pensante que está em conflito consigo mesma por saber que é uma espécie de fantoche pronta para guerrear, defender interesses e levar um estilo de vida em prol dos interesses de uma máquina política-moralista-religiosa. Mas, simultaneamente, o personagem está avisando que está tudo errado, que toda esta crença não faz parte das boas ‘práticas’ para a sobrevivência e preservação da nossa espécie, pois estamos matando uns aos outros por um ideal falso. Este aviso nas faixas iniciais começa de forma muito raivosa, utilizando quase as mesmas ferramentas que a máquina mencionada utiliza, por isso o conflito, e torna-se mais abrangente e claro ao longo do disco, principalmente nas faixas finais do “Bloodstained”... Como uma mancha de sangue ao afastar-se de sua fonte, se torna mais larga (abrangente) e mais descolorida (direta).
Recife Metal Law – Com esse novo álbum em mãos, existe a possibilidade de a banda sair em turnê pelo Brasil ou existe algum tipo de dificuldade para que isso ocorra?
Rodrigo – Dificuldade de nossa parte não. Claro que o fato de todos trabalharmos faz com que se tenha que planejar com certa antecedência, mas isso se dá um jeito. Temos muita vontade de tocar por todo o Brasil, certamente seria muito foda!
Recife Metal Law –Parabéns por um álbum, que com certeza deve figurar entre os melhores lançamentos de 2011. O espaço é de vocês para que acrescentem algo que acharem relevante nessa entrevista...
Rodrigo – Agradeço em nome de todos da banda a ti e a toda equipe do Recife Metal Law pelo espaço e também pelos elogios. Muito obrigado mesmo. Convido os leitores a conhecerem o som da Decimator acessando o nosso Myspace.