Não me canso de dizer que o Thrash Metal vem numa ascendente muito grande, e me arrisco a dizer que se encontra no seu melhor momento, desde os longínquos anos 80, onde o estilo ganhou proporções enormes. O Vox Mortem, banda que surgiu no subúrbio do Rio de Janeiro, no início de 2004, é mais uma dessas bandas que vêm a somar para o engrandecimento do estilo. Desde o seu surgimento nunca mudou sua formação, que conta com Flávio Monteiro (bateria), Eduardo Martins (baixo/vocal), Esaú Xavier e Rodrigo Coutinho (guitarras), o que ‘joga a favor’ para que possam nos apresentar músicas condizentes com o estilo. O nome vem de um trocadilho criado para vozes da morte, em latim, e foi retirado dos poemas de Augusto dos Anjos e Cruz e Sousa. Em suas letras abordam espiritualidade, problemas sociais, temas pessoais e a atual realidade caótica que a humanidade vive. Recentemente lançaram seu primeiro álbum, “The Worst Creature”, um prato cheio para os fãs do Thrash Metal, e sobre ele, entre outros tópicos o vocalista/baixista Eduardo comenta na entrevista a seguir.
Recife Metal Law – O Vox Mortem surgiu no início de 2004 e desde então nunca mudou sua formação. A que se deve tanta longevidade?
Eduardo Martins – Saudações Valterlir! Primeiro, gostaria de agradecer a oportunidade e o espaço cedido ao Vox Mortem! Acredito que a longevidade da formação se deve ao fato de sermos grandes amigos, de termos muita afinidade. Temos nossas afinidades musicais, mesmos objetivos, respeitamos as diferenças existentes e o tempo que a gente se conhece; a bagagem de ter tocado em outras bandas também. Nós nos conhecemos muito antes do surgimento do Vox Mortem, já participamos de outras formações e todas elas não deram certo. Quando nos juntamos pra montar esse time, vimos que todos estavam na mesma sintonia, com as idéias se completando e também estávamos cansados dos erros do passado.
Recife Metal Law – Antes do lançamento do primeiro álbum vocês lançaram uma Pré-Demo (Rehearsal Tapes) em 2005 e a Demo “Vox Mortem” em 2006. Como analisam, hoje, tais lançamentos?
Eduardo – Todas elas tiveram sua importância, pois são registros de fases que nós passamos. A Pré-Demo foi divulgada somente entre os amigos; a coisa foi muito amadora mesmo, sem muita intenção de divulgação. Queríamos ver como a gente se comportava num estúdio e como as músicas soavam. Eram os preparativos para a Demo do ano seguinte. Já a Demo de 2006 foi de extrema importância pro Vox Mortem, pois foi com esse trabalho que nós fomos apresentados ao mundo Underground; as pessoas nos conheceram, pintaram muitos shows, aparecemos nos zines, abrimos shows de bandas como Krisiun, por exemplo, e a coisa toda aconteceu pra nós.
Recife Metal Law – O nome da banda foi tirado de poemas de Augusto dos Anjos e Cruz e Sousa. Quem da banda costuma ler livros desses autores e por que a escolha desse nome para a banda?
Eduardo – Eu mesmo. O nome é um trocadilho para “vozes da morte” em latim. Ao mesmo tempo em que queria homenagear estes dois grandes nomes da nossa literatura, queríamos algo em latim por soar grandioso e ao mesmo tempo neutro. O trocadilho também está ligado as nossas letras, que costumam ter sentidos ambíguos e por vezes sombrios, como estes dois poetas. A coisa toda foi decidida muito rápida: nós já estávamos decididos pelo latim, já que os outros dois nomes (Causa Mortis e Catarsis) eram da mesma língua e precisávamos com urgência de nome em decorrência dos shows. Ele caiu como uma luva. O consenso foi na hora!
Recife Metal Law – O Thrash Metal praticado por vocês nos remete ao estilo praticado na década de 80. Comumente se lê ou se ouve dizer que isso é moda e quem faz esse tipo de música atualmente não deveria fazer, já que não viveu aquela época. O que vocês têm a dizer a respeito?
Eduardo – É uma série de equívocos. O fato de não ter vivido a época jamais pode impedir a pessoa de gostar e, principalmente, fazer aquele tipo de som. Nós acreditamos que música é arte e ela deve ser atemporal, como Bach, Mozart, Rush ou Slayer. A música deve falar por ela e não devemos nos ater somente à época, principalmente se ela for feita com sinceridade. Nós mesmos procuramos outras influências, do Rock Progressivo, do Blues ao Metal mais extremo, sem se preocupar com as datas de lançamento. Ficar preso a uma época, a uma idéia, aos clichês, é ignorância, é pensar pequeno e infelizmente isso tem acontecido em demasia na cena, o que leva a certas pessoas achar de fato que é uma moda. Mas prefiro deixar isso nas mãos do tempo e na sua seleção natural: logo veremos quem está se aproveitando do momento. Agora é a vez do Thrash Metal, mas já teve a vez do Death Metal, do Gothic, Doom, Power e os comentários foram os mesmos.
Recife Metal Law – O primeiro álbum da banda, “The Worst Creature”, traz dez músicas, sendo que quatro foram tiradas da Demo “Vox Mortem”. Por que vocês decidiram colocar essas quatro músicas nesse trabalho ao invés de um álbum só de inéditas?
Eduardo – Além de elas terem sofrido pequenos ajustes, a gente tinha a certeza de que ficariam ainda melhores no CD, com uma sonoridade mais profissional. Elas também estão no mesmo contexto das inéditas, que estavam ficando prontas logo após as gravações da Demo, inclusive nós tocávamos algumas delas nos shows. E uma das quatro (“The Worst Creature”) acabou batizando o CD.
Recife Metal Law – E qual a razão para abrir esse álbum com “Labirinto”, uma música instrumental?
Eduardo – Isso foi decidido aos 45 do segundo tempo! A nossa intenção era fazer alguma vinheta pra abrir o CD, mas como a nossa intenção foi de trazer o clima dos nossos shows pro CD, achamos que era plausível fazer o mesmo que acontece no palco. Ela é o nosso cartão de visitas. Apesar de curta, a dinâmica dela é empolgante, prepara o clima pro que vem depois e tudo isso foi decisivo na hora de montar o ‘set’ do CD.
Recife Metal Law – Há, ainda, três músicas cantadas em português nesse disco. A razão para colocar essas músicas cantadas no nosso idioma pátrio foi para homenagear as antigas bandas brasileiras que cantavam dessa forma ou há uma razão em especial?
Eduardo – Sempre tivemos isso em mente: de lançar algo no nosso idioma toda a vez que a gente lançar um álbum novo. Ao mesmo tempo em que é uma homenagem, achamos que seria um diferencial. Geralmente quando uma banda lança uma faixa em português, sinto que ela é tratada de lado, como bônus... A gente faz o contrário: temos todo o carinho e atenção ao compor faixas em português. Se dependesse do Flávio (bateria), todas as faixas seriam no nosso idioma. (risos)
Recife Metal Law – Esse álbum foi lançado pela Sucata Produções. De que forma selo e banda vêm trabalhando na divulgação do mesmo?
Eduardo – Totalmente independente! Foi o único meio de lançar o álbum, pois é muito difícil hoje em dia você logo de cara conseguir um selo. Então, a coisa foi toda no espírito “do it yourself”. Nós (Vox Mortem e Sucata Prods.) estamos em busca de parcerias pra poder levar o trabalho adiante. Por enquanto, nosso foco está na divulgação através dos zines, pois sabemos que são de extrema importância. Queremos entrar em contato com outros selos e produtores de shows. Mas a idéia da Sucata é também de produzir shows pelo Rio de Janeiro.
Recife Metal Law – Na seção de agradecimentos consta o nome de Bruno Vasconcellos como sendo o “quinto Vox Mortem”. Qual é a real contribuição de Bruno para a banda? Ele chega a compor algo juntamente com vocês?
Eduardo – Na verdade ele é um grande amigo, acompanha a gente em tudo que é show, biritadas, essas coisas. É uma das pessoas que mais nos deu apoio nos momentos mais difíceis. Agora ele mora em outra cidade, no interior do Rio de Janeiro, mas mesmo assim a gente sempre que pode ‘tá junto, se falando. Nunca compôs nada pro Vox Mortem, apesar de tocar guitarra.
Recife Metal Law – E como o público vem recepcionando esse trabalho? Digo, como receberam esse lançamento e como o público que ver a banda ao vivo se comporta?
Eduardo – Estamos recebendo críticas bastante positivas! Muitas vezes as reações nos surpreendem. As pessoas estão gostando bastante; a procura caminha muito bem, principalmente no nosso Myspace. Vimos que foi importante manter as músicas da Demo no CD, pois serviu de embasamento para comparações. Ao vivo, as faixas em português e “Blessed Trinity” são as que abrem mais rodas! No âmbito geral, esse feedback do público nos mostra que estamos no caminho certo.
Recife Metal Law – Quais serão os próximos passos do Vox Mortem?
Eduardo – Queremos divulgar mais o CD, fazer algumas turnês de divulgação, tentar abrir o máximo possível de portas para o próximo trabalho. Enquanto a gente divulga o CD, estamos compondo, já que o nosso ritmo de composição é intenso. Nós devemos lançar um EP e disponibilizá-lo todo na Internet. Mais uma vez, muito obrigado pelo espaço cedido e agradeço a atenção dispensada. HORNS UP!
Contatos: A/C Eduardo Martins. Rua Manuela Barbosa, 17, Ap. 201 – Méier. Rio de Janeiro/RJ. CEP: 20.735-110.
E-mail: [email protected]
Site: www.myspace.com/voxmortem
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação