A banda Sized tem apenas três anos de formação (surgiu em 2008, na capital catarinense), mas já tem, em seu currículo, uma Demo lançada (homônima, 2009) e um full lenght (“Confronting the Mirror”, 2010). Apesar das dificuldades em se divulgar um CD de forma independente, a banda vem ganhando seu espaço, com sua sonoridade bem difícil de rotular, e ganhando muitos elogios com seu álbum de estreia. Recentemente o Sized sofreu uma baixa na formação, novamente no posto de baterista, mas isso não desanima em nada os demais integrantes, que continuam na luta, inclusive já trabalhando em músicas para um novo lançamento. Com a palavra o baixista Quira Lopes e o guitarrista Vitor Sabag. Complementa a atual formação o vocalista/guitarrista Kavera.
Recife Metal Law – Em seu release o Sized informa que, mesmo fazendo um som calcado no Thrash Metal, prefere fugir dos rótulos. Mas fugir de um ‘rótulo’ não seria dizer que a banda não tem um som totalmente definido?
Quira Lopes – Não temos um som totalmente definido para os rótulos já criados e distribuídos, mas temos um som definido para nossa essência. Não acreditamos que a música tenha que seguir um padrão, ela tem que ser boa! Deixar de colocar um riff progressivo ou uma parte mais batucada, por exemplo, numa música só porque isso pode fazer a musica deixar de ser ‘fiel’ ao ‘estilo’ é limitação de criatividade e estabelecer limites. E para nós a arte não pode ter limites!
Recife Metal Law – A banda surgiu em meados de 2008 e, no início de 2009, lançou sua primeira (e única) Demo homônima. Foram apenas seis meses entre o surgimento da banda e o lançamento da Demo. Já havia alguma experiência dos membros da banda, haja vista que a banda demorou pouco tempo para gravar um registro?
Quira – Sim! Todos já havíamos tocado em outras bandas e estávamos há um tempo juntos tocando como Sepultura cover, período o qual produzimos algum material próprio. Gostamos tanto desse material que tomamos a decisão de focar apenas em nosso próprio trabalho.
Recife Metal Law – Quando do surgimento de uma banda, a coisa mais difícil é estabilizar a sua formação. O Sized lançou uma Demo e um álbum com sua formação original, e depois disso houve uma mudança no posto de baterista, com a saída de Ovo e a entrada de Marcos Bichels. O que realmente mudou com a saída de um músico e a entrada de outro?
Quira – Só o estilo de tocar bateria, pois o rumo a ser seguido na composição é dado por nós (eu, Vitor e Kavera), mas damos total liberdade para o baterista criar sua parte, desde que o que for feito agrade a todos, como acontece no resto (baixo, guitarra e vocal). Não gostamos de ter limitações, por isso não impomos limitações, mas nós exigimos qualidade. Foi assim com o Ovo, como com o Marcos e como será com o próximo batera, já que o Marcos resolveu seguir outros projetos.
Recife Metal Law – “Confronting the Mirror” é o primeiro álbum da banda e foi lançado de forma independente. Para o Sized quais os benefícios e malefícios de ter um material lançado de forma independente?
Quira – O principal benefício foi ter liberdade para deixar o álbum, arte e músicas, da maneira que queríamos. Em contrapartida a seleção de parcerias erradas, por não termos conhecimento de quem trabalha sério e honestamente, trouxe lesões financeiras e uma divulgação muito baixa do álbum no ano do seu lançamento, coisas que provavelmente não teriam ocorrido caso tivéssemos lançado por algum selo ou gravadora, claro que de boa índole, pois de ‘espertalhão’ está cheio!
Recife Metal Law – O álbum conta com onze músicas, e mesmo com bastante de Thrash Metal nas mesmas, o seu estilo é bem difícil de rotular, como já foi informado no release da banda. Os músicos sentaram, conversaram e decidiram por fazer um álbum que viesse com uma sonoridade diferenciada e difícil de rotular?
Quira – Daria muito trabalho fazer dessa forma! (risos) As coisas foram acontecendo naturalmente. Antes mesmo de nascer a Sized, “Way to It All” e “For the Enemy” já estavam prontas. Já as outras músicas, algumas o Kavera trouxe a estrutura pronta, outras o Vitor, e outras as ideias iam sendo assimiladas e fundidas até obtermos um resultado satisfatório para todos.
Recife Metal Law – Mesmo procurando fazer algo que foge dos padrões tradicionais de se fazer Thrash Metal, em algumas músicas dá para ouvir certa influência do velho Sepultura, como é o caso de “Empty” e “Systematic Chaos”. Como vocês trabalham as influências para que as músicas da banda não soem como meras cópias?
Vitor Sabag – Criatividade. Praticamos e estudamos música. Além da diversão, música é o nosso trabalho. Sabemos como usar nossas influências da forma certa, ou na medida certa. Ao menos é o que tentamos fazer sempre, manter o equilíbrio. (risos)
Recife Metal Law – Com relação à parte lírica, quem é o responsável pelas letras da banda e quais são os temas que são mais abordados?
Quira – Em “Confronting the Mirror” eu e o Kavera apresentamos estruturas e com a ajuda do Vitor lapidávamos as letras até ficarem coesas com a música e nossos ideais. Basicamente as letras são político/social. Falam sobre as injustiças e a hipocrisia do nosso cotidiano. Fica complicado escrever sobre outro assunto, com essa infeliz realidade confrontando nossas cabeças todos os dias. Gostamos de colocar em nossas letras algo que faça as pessoas pensarem e refletirem sobre o que foram, o que são e o que pretendem ser, pois é fato que é mais fácil criticar que enxergar os próprios erros.
Recife Metal Law – A capa do álbum de estreia traz a imagem de uma criança em frente a um espelho e o que se reflete, além da imagem da própria criança, é a estátua da justiça. O que a banda quis transmitir com a capa de “Confronting the Mirror”?
Quira – Que é necessário olhar além do que olhos mostram, confrontando a consciência e a moral, buscando assim um senso de justiça incorruptível.
Recife Metal Law – Um dos pontos mais curiosos nesse álbum é a música “Barquinho... In Hell”, começando pelo seu título, digamos, inusitado. Mas o mais paradoxal é o uso da letra em português, que é acompanhada de uma sonoridade Bossa Nova, e que depois descamba para algo mais pesado e cheio de groove. Como vem sendo recebida essa música pelos mais radicais e como vocês analisam a importância da mesma para o álbum?
Quira – De extrema importância para o álbum e para nossa identidade. Ela mostra que não existem fronteiras musicais para o Sized e nem para uma música ser boa. Ficamos nos perguntando “se não tivesse a parte da bossa, será que ela seria assim tão comentada?”. Vi na internet o Sepultura, no Wacken deste ano, tocando um trecho de bossa nova e sendo aplaudido. Antes mesmo disso e deles fazerem a propaganda do Gol. “Barquinho... In Hell” já estava pronta, sendo tocada e recebendo comentários preconceituosos. Será o status da banda ou o continente em que a música é apresentada que traz a diferença entre aplauso e preconceito?!
Recife Metal Law – O final do álbum se dá com “Inside”, a qual é logo seguida de “Salvation”. Duas músicas distintas, mas que ficaram ‘emendadas’, parecendo ser apenas uma. De quem foi a ideia e qual o motivo para fazer isso com essas duas últimas músicas?
Vitor – Enquanto eu trabalhava na mixagem e masterização resolvi colocar as duas músicas juntas e gostei da ligação. Pois mesmo sendo músicas distintas, elas são muito parecidas. São rápidas e diretas! Mostrei pro pessoal e todos acabaram gostando da ideia.
Recife Metal Law – A banda passou um tempo parada, sem tocar ao vivo, em razão de um problema com o guitarrista Vitor, que teve que se submeter a uma cirurgia. O restante da banda cogitou a possibilidade de arranjar outro guitarrista enquanto Vitor se recuperava?
Quira – De maneira nenhuma! Conversamos e não achamos correto substituir nenhum dos membros para realizar shows quando se trata de problema de saúde. Já havíamos ficado uns meses parados quando quebrei o punho. Nesse período em que o Vitor teve de ficar de molho, foram trabalhadas composições novas.
Recife Metal Law – Com um álbum lançado de forma independente, como a banda vem trabalhando para agendar seus shows, tanto em sua região como fora de Santa Catarina?
Quira – Através de contatos descolados pela internet, por amigos e pelo reconhecimento de nosso trabalho ao vivo. Em 2010 tivemos a infelicidade de fazer algumas parcerias erradas e com isso podemos dizer que a divulgação de “Confronting the Mirror” foi zero, não abrindo novas portas como esperávamos. Mas agora em 2011 fechamos assessoria com a Metal Media e decidimos que mesmo tendo passado praticamente um ano do lançamento de “Confronting the Mirror”, que iniciaríamos do zero sua divulgação e esta dando certo!