Sem sombra de dúvidas, o Mortage é uma das mais violentas bandas de Thrash Metal em atividade, e sua música, além de violenta, é veloz e pesada. Isso ficou notório com o primeiro álbum, “Trench For Evolution” (2006), e se concretizou com seu mais novo lançamento, “The War is Not Over”. Pancadaria pura, do primeiro ao último minuto. Já fiz algumas entrevistas com a banda, e com certeza, após esse novo álbum, uma nova entrevista seria realizada para o Recife Metal Law. Confiram a entrevista a seguir, e para quem ainda não conhece a banda, fica minha dica: corram atrás, procurem conhecer e não se arrependam da artilharia pesada desferida pelo Mortage! Recife Metal Law – Olhando um pouco para trás, para ser exato, cinco anos atrás, como vocês analisam o período de divulgação do primeiro álbum, “Trench For Evolution”?
Daniel “Kbça” – Bom, primeiro obrigado pela entrevista e espero que todos gostem! (risos) Sobre o período de divulgação do “Trench For Evolution”, eu diria que foi muito bom. Tocamos bastante, em lugares diferentes, com bandas diferentes, fizemos amizades, surgiram novos convites pra tocar, tomamos muuuita cerveja... É, foi bem positivo mesmo.
Recife Metal Law – E qual foi o respaldo que o nome Mortage teve após o lançamento desse primeiro álbum?
“Kbça” – Bastante gente já conhecia o nome da banda na região de Campinas. Com o lançamento do CD e a divulgação da Kill Again, também, nosso nome foi mais longe, tanto que recebemos e-mails de gente de outros Estados elogiando o nosso trabalho. Teve até um show em Osasco, que algumas das bancas já tinham vendido os nossos CDs que tinham comprado direto da gravadora e vinham pegar com a gente!
Recife Metal Law – Eu notei que o espaço de tempo entre cada lançamento da banda, excetuando-se o DVD split lançado em 2010, foi de exatos cinco anos. Isso foi algo proposital, para que a banda trabalhasse com mais calma para fazer seus lançamentos?
Hélio – O tempo, na realidade, não foi proposital. Tivemos muitos adventos nesse meio tempo. Eu, por exemplo, que tocava guitarra sai da banda pouco antes do lançamento do “Trench For Evolution” e acabei voltando pouco antes do lançamento do “The War is Not Over”, troca de bateristas. Além disso, o processo de composição da banda é lento. Trabalhamos ‘full time’ e alguns ainda estudam. “Kbça” – Na verdade a demora ocorreu por diversos motivos, desde grana (ou falta dela), tempo mesmo, por motivo de trabalho, a volta do Daniel pra bateria e, é claro, que também o cuidado para lançar um álbum bem gravado, afinal o Headbanger compra o CD e quer ouvir algo de qualidade, bem gravado e bem tocado...
Recife Metal Law – O novo álbum, “The War is Not Over”, foi lançado agora em 2011. Mesmo com temas que falam sobre guerra, morte, entre outros assuntos, o título tem algo a ver com a batalha da banda no meio Underground?
“Kbça” – Toda banda que realmente se orgulha de carregar essa bandeira chamada Metal vive numa constante batalha todos os dias, porque faltam bares com o mínimo de estrutura para as bandas, falta seriedade de alguns organizadores, entre outras dificuldades que sempre existiram. Além disso, a guerra em si, além de ser um tema sempre atual, sempre nos interessamos pelo assunto mesmo.
Recife Metal Law – Por falar em temática lírica, dessa vez vocês não pouparam a igreja, religiões e seus ídolos. Qual seria a relação entre esses temas e a guerra, na opinião de vocês?
“Kbça” – O motivo que mais causou guerra na história da humanidade sempre foi religião, sempre! Tiveram algumas que foram por causa de petróleo, expansão territorial, mulher... (risos) Mas a maioria foi por religião. É um grande mal que existe. Dizem que o futebol é o ópio do povo, mas é a religião.
Recife Metal Law – Entre as diversas imagens encontradas no encarte, existe a imagem de “O Grito”, que é uma pintura do norueguês Edvard Munch, datada de 1893. Qual foi o motivo de usar tal imagem para ilustrar a letra de “Violent Hatred”?
Hélio – O quadro do Munch mostra o desespero humano, uma verdadeira obra prima do expressionismo. Na realidade a ideia foi do nosso amigo responsável pela capa: Daniel Ete (também baixista das bandas Muzzarelas e Drákula), e tem toda a relação com a temática do disco. “Kbça” – A gente ia usar a foto do Macaulay Culkin no filme Esqueceram de Mim, mas a gente ia ter que pagar direito de imagem. Como o Edvard Munch já morreu a gente usou o quadro dele mesmo. (risos)
Recife Metal Law – Apesar de eu achar o primeiro álbum muito bom, com ótimas músicas, confesso que “The War is Not Over” me deixou espantado, com sua qualidade musical. A banda veio mais violenta, mas mantendo o feeling intacto. Como vocês comparam o primeiro ao segundo álbum do Mortage?
“Kbça” – Não sei, foi tudo muito natural. As músicas foram compostas durante os shows de divulgação do “Trench For Evolution”. Talvez essa fúria seja um reflexo desse período. Sei lá, acho que aprendemos mais umas escalas nesse meio tempo também! (risos) Hélio – Acredito que o “War is Not Over”, além da melhor qualidade de produção e gravação, mostra o Mortage mais maduro, sem sair da agressividade.
Recife Metal Law – Como já mencionado, cinco anos separam tais lançamentos, então como foi todo o processo de composição para o novo álbum? Vocês seguem alguma espécie de regra, dentro da banda, quando estão compondo?
“Kbça” – Não, não temos nenhuma regra. Se algum de nós tem uma música, ou um riff que seja, mostra para os outros e vão saindo as ideias... É mais ou menos isso. Às vezes a música já está pronta e nem precisa ser mudada.
Recife Metal Law – “The War is Not Over” começou a ser gravado em março de 2009 e foi finalizado em julho de 2010, vindo a ser lançado em 2011. Qual foi o motivo para tanta demora em finalizar esse novo CD?
Hélio – Como eu disse anteriormente, todos nós temos trabalho, além da banda, e conciliar ambos é um exercício de paciência e resistência. Gravamos em um estúdio em Amparo (aproximadamente 80 quilômetros de Campinas) e conseguir conciliar com os integrantes as viagens para gravar foi complicado. No entanto, o resultado final foi mais do que satisfatório. Ficamos muito contentes com a produção (Zóio do Sangrena) e com o álbum em si. “Kbça” – Como todos temos empregos fixos e, geralmente, os horários em estúdios nos finais de semana são meio escassos, então a gente tinha que encaixar a nossa agenda com a do estúdio, ou ir nas férias, no meu caso e do Adriano. Depois de gravado a gente teve que esperar a prensagem do CD de natal do Roberto Carlos. (risos)
Recife Metal Law – Esse ano eu pude conferir um show da banda, quando vocês se apresentaram no Marreco’s Fest, em Brasília. Apesar do público morno (e do frio terrível em Brasília), o Mortage mostrou que a violência praticada pela banda não fica só em estúdio, afinal fizeram um show tão violento quanto o álbum. Existe a possibilidade de outros Estados brasileiros poder ver essa violência sonora emanada pelo Mortage?
Hélio – Sem dúvida! Estamos loucos para tocar em outros Estados, principalmente os do Nordeste, onde existem bangers de primeira! Estamos em contato com alguns produtores e também no aguardo de propostas. “Kbça” – Sim, existem convites e já estão sendo acertados os detalhes, só não sei as datas...
Recife Metal Law – O novo álbum foi lançado, também, pela Kill Again. Vocês fazem planos para licenciar o álbum para outros países?
“Kbça” – A gente gostaria muito, mas até hoje só surgiu uma proposta de uma gravadora Chilena, eu acho, mas nada de concreto. Foi como aqueles caras que entram numa loja de CDs e só perguntam um monte de coisa, mas não compram nada. (risos) Mas se houver uma proposta realmente concreta, primeiramente a gente vai passar pro Rolldão, da Kill Again, que vem nos dando essa puta força. Hélio – Acho que em primeiro lugar temos que buscar o reconhecimento aqui no Brasil. Temos muitas bandeiras para fincar em solo nacional ainda. Uma tour no norte/nordeste e algo no sul do país também, para depois pensarmos na distribuição no exterior, apesar do Rolldão da Kill Again já fazer um ótimo trabalho de distribuição nacional e internacional.
Recife Metal Law – Por fim, torço para que não demore mais cinco anos para podermos ouvir um novo álbum do Mortage. O espaço é todos de vocês, para as ‘famosas’ considerações finais...
“Kbça” – Eu também espero! É horrível você ir tocar e sempre alguém te perguntar: “E o CD novo, sai ou não? (risos) Bom, Valterlir, foi um prazer. Espero que se repita “ao vivo”, numa mesa cheia de cerveja quando a gente for tocar por aí e mais uma vez obrigado pelo espaço! Hélio – Agradeço a oportunidade. Eu, pessoalmente, não conheço o Nordeste e seria ótimo tocar por aí! Haill a todos os bangers de Pernambuco e todo Norte/Nordeste! The War is Not Over!
Contatos: A/C Daniel Beraldo. Rua Cônego Nery, 1.062, Ap. 71 – Jardim Guanabara. Campinas/SP. CEP: 13073-180.
Site: www.myspace.com/mortage
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação e Valterlir Mendes