A SenandiomA, mesmo tendo surgiu em 2003, não pode ser considerada uma banda veterana, afinal passou um tempo inativa, tendo voltado recentemente e apresentado ao Underground o EP “Order and Progress... Lies and Death”, que é um material que agradará e cheio aos fãs do estilo ‘old school’ de se fazer Thrash Metal. O primeiro trabalho da banda foi uma intitulada “Welcome to War”, lançada em 2004, mas que não teve tanta divulgação. A banda é oriunda de Aracaju/SE e esse seu segundo trabalho já vem ganhando bastante respaldo nos meios especializados. Com certeza, que adquirir o material e gostar de um som bem feito, com punch, ‘old school’ e cheio de energia, com certeza vai gostar da música do SenandiomA.
Recife Metal Law – Eu não poderia dar início a essa entrevista sem perguntar acerca do nome da banda. De onde foi tirado o nome SenandiomA e o que ele realmente significa?
Júnior “Cabeça” Araújo – Grande Valterlir! Primeiramente, muito obrigado pela entrevista e por todo apoio dado à SenandiomA através do Recife Metal Law. Cara, quanto ao nome da banda, essa é uma pergunta que quase todo mundo nos faz, até porque é normal, já que o nome não é comum. Na verdade, quando resolvemos montar a banda, queríamos colocar um nome que não fosse clichê e não nos rotulasse, entende? Não queríamos algo tipo “Blood of num sei o que”, “Death num sei o que lá”... Daí o nome SenandiomA surgiu. Achamos que soava bem e que o nosso objetivo tinha sido atingido, já que é uma palavra que não tem significado e que não nos rotula.
Recife Metal Law – A banda foi formada em 2003 e desde o início continua com a mesma formação, ou seja, Zeca (bateria), Cabeça (vocal/baixo) e Robson e Renato (guitarras). Mas houve um período que a banda passou inativa. O que aconteceu para que a banda ficasse parada durante quatro anos?
Júnior – Na verdade houve uma mudança de formação em meados de 2006. Eu saí da banda porque achei que não valia mais a pena lutar tanto e nada acontecer. Infantilidade da minha parte, em não entender como as coisas no Underground funcionam. Naquela época eu tinha uma visão muito romântica da coisa. Outro baixista entrou no meu lugar, mas a banda continuava sem vocal. Depois disso várias coisas contribuíram para que a banda desse uma parada. Como você sabe, uma banda Underground não permite que vivamos dela. Quando tínhamos entre 18, 19 anos, tanto eu quanto os integrantes que continuaram na banda, começamos a trabalhar e ir para a faculdade. Robson, um dos guitarristas, teve que ir morar em Maceió em virtude do trabalho. Ou seja, tudo se desencontrou. No entanto, todos nós continuamos amigos e mantendo contato. Assim, em 2010, quando já estávamos meio que estabilizados nos empregos e esse período turbulento já tinha passado, conversamos e resolvermos voltar às atividades com a formação original.
Recife Metal Law – O primeiro trabalho da banda foi a Demo “Welcome to War” (2004). Como foi o processo de divulgação desse trabalho, como ele foi recebido e como vocês o analisam, musicalmente?
Júnior – Bem, podemos dizer que a “Welcome to War” não teve divulgação. Gravamos toda a Demo em apenas um dia e começamos a vender em shows aqui em Aracaju. Todo mundo que nos conhecia, ou era porque tinha visto um show da gente ou porque ouvia falar pelo “boca-a-boca”. Acho que não tínhamos ideia de como as coisas funcionam, porque para nós conseguirmos passar a nossa música para dez, vinte pessoas já era uma coisa inesperada. Lembro que algumas pessoas aqui da nossa cidade nos procurava nos shows dizendo que tinham ouvido o material e tal... Algumas diziam que tinham gostado. Contudo, muitas pessoas que nos conheceram a partir do “Order and Progress...Lies and Death!” e foram atrás do material antigo, não gostaram dele. Alguns disseram que a qualidade de gravação é ruim, que o estilo não é muito bem definido, etc. Concordo com muitas dessas opiniões. Nessa época o integrante mais velho da banda tinha 18 anos, éramos imaturos ainda, não possuíamos bons equipamentos, não tínhamos dinheiro algum para investir na banda... Enfim, diversos fatores que, a meu ver, contribuíram para que o resultado da “Welcome to War” não fosse tão bom. Mas apesar disso gostamos muito das músicas que estão lá e ainda tocamos algumas delas nos shows.
Recife Metal Law – Após o período de paralisação, o SenandiomA novamente se reuniu e lançaram, este ano, o EP “Order and Progress... Lies and Death”. Primeiramente nos falem sobre o processo criativo desse material. Vocês, mesmo com a banda inativa, trabalharam em algum tema que compõe esse trabalho?
Júnior – “Democrashit”, uma das faixas desse EP, já havia sido composta antes mesmo da banda parar. Na verdade muitos dos riffs que formam as músicas desse material novo também foram feitas naquela época. Quando decidimos voltar, os principais compositores da banda, Robson e Renato, não tiveram muitas dificuldades em fazer as outras músicas porque já possuíam muitos riffs guardados. Assim que as músicas iam ficando prontas eles me mandavam para que eu fizesse as letras e as linhas vocais, ou seja, esse novo EP tem muito do que já fazíamos lá em 2005 e 2006, somente as letras e a ideia que queremos passar através dele que é totalmente nova.
Recife Metal Law – Esse trabalho é totalmente Thrash Metal, com aquela típica pegada ‘old school’. Nota-se influência dos ícones do estilo, mas também de bandas mais recentes, como o Violator. Quais foram as principais influências da banda para gravar esse material?
Júnior – Cara, nós ouvimos muita coisa, sabe? De Tankard, Sepultura e Death à The Black Dahlia Murder, Municipal Waste e Obscura. Todos os quatro componentes da banda possuem gostos muito variados dentro do Metal, o que acaba refletindo na nossa música como um todo. Com relação às bandas mais recentes, ouvimos muitas bandas nacionais como Bywar, Deathraiser, Andralls, Cruscifire, Hatefulmurder e Violator, como você mesmo citou. Inclusive, foi interessante você citá-los, porque muitas pessoas que escutam nosso som nos comparam ao Violator. Por algum tempo ficamos preocupados com isso, com a possibilidade de acharem que estamos os imitando ou até mesmo, como nos perguntaram outro dia, de estarmos “pegando o bonde andando na tal suposta modinha retrô Thrash”. Ouvimos o Violator desde o “Violent Mosh”, pois tocamos com eles aqui em Aracaju em 2005 e conhecemos o som deles aí. Gostamos muito da banda e é impossível que isso não influencie a música que fazemos. Mas não nos preocupamos mais com isso, pois encaramos essa comparação como um elogio, já que o Violator é uma puta banda de Thrash Metal.
Recife Metal Law – Sobre influências, devo citar que na música “The Perfect Plan” os riffs iniciais me lembraram bastante o velho Ratos de Porão. A música do SenandiomA não é apenas influenciada pelo velho Thrash Metal, não estou certo?
Júnior – Então, como eu disse antes, nós ouvimos muita coisa dentro do Metal e até mesmo fora dele. Mas quando Robson e Renato, ou até mesmo Zeca (que também compõe, só que em menor frequência), sentam para fazer uma música eles não pensam: “ah, vou fazer esse riff aqui parecido com o daquela banda”, entende? Não rola assim. As coisas vão fluindo e pode ser mesmo que algum riff lembre uma banda ou outra. Eu mesmo não escuto muito Ratos de Porão e, até onde eu sei, os outros caras também não, mas mesmo assim você percebeu uma certa influência em uma das músicas. Tudo que ouvimos acaba refletindo no que fazemos.
Recife Metal Law – A capa do EP também trouxe certa influência do Ratos de Porão, uma vez que lembra a capa do álbum “Brasil”. O intuito da capa foi apenas o de mostrar o maior problema social de nosso país?
Júnior – Bem, com relação à capa foi realmente coincidência. Durante a criação desse EP a gente procurou muito um cara bom de traço e achamos, através do Facebook, o Jansen Baracho. Ele tem um traço de cartunista, o que nos agradou bastante, já que não queríamos uma capa no padrão de uma porrada que tem por aí. Não sei se você acha a mesma coisa, mas as capas, principalmente de Thrash Metal, são, atualmente, muito parecidas. Todas seguem um mesmo padrão clichê. Daí, passamos o conceito do álbum para ele e saiu essa capa. Quando ele nos enviou achamos bem legal, pois passa a essência do EP, que é alertar as pessoas para os únicos papéis que as elites querem que a gente represente: trabalhar até morrer para sustentar os ricos, enquanto a gente continua pobre, e votar para que eles continuem no poder. É isso o que as elites chamam de ‘progresso’. É essa a ordem que elas querem manter.
Recife Metal Law – A parte gráfica é bem cuidada, e o material é apresentado numa espécie de digipack mais simples, porém não trouxe as letras. Vocês não pensaram em colocar as letras das músicas no encarte?
Júnior – Pensamos sim, Valterlir. Só que a falta de grana nos fez desistir da ideia rapidinho. Como toda banda que trabalha no Underground, cada centavo gasto na produção desse EP saiu dos nossos bolsos. Cada página a mais num encarte representa uma grana considerável e então resolvemos não por as letras, pois sairia muito caro pra gente. Chegamos a esse resultado final aí que você tem em mãos e já nos consideramos vitoriosos por isso.
Recife Metal Law – O EP traz seis músicas, em menos de vinte minutos de execução, mas são músicas intensas, pesadas, velozes e agressivas. É o tipo de trabalho que quando termina merece ser ouvido por diversas outras vezes. O resultado final desse trabalho agradou totalmente a banda?
Júnior – Com certeza. Todos nós gostamos muito desse EP e temos a certeza de que não poderíamos ter feito melhor. Levando em consideração todas as dificuldades por quais passamos, principalmente a falta de grana, que é de praxe, achamos que o resultado final ficou muito bom. Nós da SenandiomA fazemos a música para nós mesmo, saca? Se nós gostamos, então ‘tá ótimo. Mas também é muito bom quando alguém vem nos dizer que gostou da nossa música, porque um dos motivos que nos leva a fazê-la é tentar passar a nossa mensagem, a nossa ideia sobre o mundo e o que existe nele, e quando alguém nos ouve é como se a tarefa tivesse sido cumprida.
Recife Metal Law – A produção sonora está acima da média, num patamar bem elevado, eu diria. Isso só fez acentuar a qualidade musical do SenandiomA. E mesmo trazendo uma gravação muito boa, a pegada ‘old school’ se manteve intacta. O trabalho foi mixado e masterizado por Alex Souza, mas quem foi o responsável pela gravação?
Júnior – Nós mesmos. Gravamos a bateria em um estúdio aqui em Aracaju e as guitarras e o baixo na casa de Robson. Depois disso voltamos ao mesmo estúdio em que gravamos a bateria e gravamos os vocais. Daí, com tudo já gravado, levamos o material para Alex para que ele fizesse a masterização. Nós gostamos muito do trabalho realizado por ele e, assim como você, muitas pessoas o elogiam. Realmente, apesar de já conhecermos a competência do Alex, não esperávamos que pudesse ficar tão bom.
Recife Metal Law – Com esse novo trabalho em mãos, quais são os próximos objetivos da banda?
Júnior – Estamos na correria para a divulgação desse EP. Estaremos no B.R.U.T.AL em Maceió, dia 18/12 (NDE.: o evento ocorreu ontem, domingo) e estamos com quase tudo acertado para uma turnê nordestina no primeiro semestre de 2012. Além disso, já estamos com umas quatro músicas novas e pretendemos gravar ainda no próximo ano o nosso primeiro full length para, se tudo der certo, o lançarmos no início de 2013. Mais uma vez, muito obrigado pelo espaço cedido à SenandiomA, Valterlir. Esperamos tocar logo em Recife e, quando rolar, queremos te ver por lá pra gente pode trocar uma ideia pessoalmente. Abração!
Contatos: Avenida Dr. Adel Nunes (ou canal 4), 973, Conjunto Augusto Franco – Farolândia. Aracaju/SE. CEP: 49.030-100.
Site: www.myspace.com/senandioma
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação