Alguns estilos no meio Heavy Metal ainda continuam no submundo, sem uma grande abrangência, entre eles o Doom Metal, o qual nunca teve um grande número de adeptos. Agora imagina um estilo que deriva do Doom Metal? Mas mesmo com as dificuldades para fazer a mostrar suas músicas, a banda HellLight continua firme e forte e trabalhando bastante para ter um maior respaldo no meio Underground. A banda vem trabalhando incansavelmente, tendo seus álbuns sendo lançados na Europa, os quais vêm obtendo boa aceitação, tanto da mídia como do público. Vamos saber um pouco mais a respeito do Funeral Doom Metal e do HellLight nas palavras do guitarrista/vocalista Fábio de Paula.
Recife Metal Law – Trazendo como influências bandas como Black Sabbath, Danzig e Bathory, o HellLight foi formado em 1996, porém a atual sonoridade da banda não se parece com a que é feita pelas citadas bandas. Quando do surgimento do HellLight, o intuito era fazer um que fugisse do convencional?
Fábio de Paula – Na realidade, essas bandas que foram citadas serviram (e servem) como influência na banda, mas a sonoridade do HellLight sempre foi uma coisa muito pessoal e muito natural. Ela veio naturalmente, quando procurávamos o estilo que conseguisse traduzir todas as emoções mais profundas, bem como as ideias e religiosidade pagã. Você até consegue identificar alguns elementos das bandas que nos influenciaram, mas a ideia é que seja algo autêntico.
Recife Metal Law – Os primeiros trabalhos da banda são a Demo “Fear no Evil” (2003) e o ‘debut’ álbum “In Memory of the Old Spirits” (2004). Sete anos separam a formação da banda e a Demo. O que houve para que um primeiro material fonográfico demorasse a ser lançado?
Fábio – Desde o início sempre procuramos divulgar nossas músicas o máximo possível. Somos uma banda ativa, estamos sempre gravando e lançando álbuns; não queremos fazer parte do grupo de bandas de Doom Metal que lançam um álbum a cada década e nunca fazem shows. Porém as coisas são mais difíceis do que parecem no meio musical e, sendo assim, o lançamento do álbum demorou mais do que o esperado.
Recife Metal Law – O ‘debut’ foi lançado de forma independente. Trabalhando dessa forma, como foi o impacto desse trabalho no meio Underground e a sua divulgação?
Fábio – Pra falar a verdade, esse foi o fato que nos fez buscar uma gravadora. A divulgação independente no meio Underground é muito difícil e muito pouco eficiente. Tentamos por alguns anos, mas quem realmente ‘resolveu’ o problema foi a gravadora que tem um alcance muito maior dentro do Underground. Porém, ainda assim, o caminho que nós optamos é pouco usual, pois começamos a nossa divulgação no exterior antes de divulgar no nosso próprio país. Isso aconteceu porque o Brasil tem uma resistência muito grande para aceitar estilos diferenciados dos considerados populares.
Recife Metal Law – O Doom Metal é um estilo que não tem tanta propagação entre os estilos derivados do Heavy Metal, apesar de o Black Sabbath ter surgido fazendo músicas nesses moldes, ou seja, densas, arrastadas e por vezes melancólicas. Só que o HellLight faz um estilo ainda menos convencional, chamado Funeral Doom Metal. Como é fazer um tipo de música ainda mais restrito e com poucas bandas adeptas?
Fábio – Realmente é muito difícil. O público brasileiro tem uma resistência muito grande em aceitar estilos diferenciados dentro do Metal, isso dificultou muito nosso trabalho. As bandas nacionais já têm naturalmente uma grande dificuldade somente por serem brasileiras. Quando somamos esse fato ao Funeral Doom Metal, fica quase impossível. Não foi fácil ‘colocar’ o Doom Metal dentro do Underground brasileiro. Muitas vezes nós sentimos que estamos abrindo caminho no meio do mato com um facão nas mãos, e um caminho muito difícil. Existem muito poucas bandas de Doom Metal no Brasil que estejam ‘abrindo’ esse caminho conosco. Porém, eu acredito que estejamos conseguindo, pois o HellLight está conseguindo atingir todas as expectativas.
Recife Metal Law – O segundo álbum, “Funeral Doom”, foi lançado fora do Brasil, pelo selo alemão Ancient Dreams. Vocês não acham que isso dificulta a divulgação do nome da banda em seu próprio país ou a meta de vocês é mesmo o mercado internacional?
Fábio – Nossa meta nunca foi estritamente o mercado internacional, mas nós fomos ‘aceitos’ anteriormente no mercado internacional. Isso já era esperado, pois o Funeral Doom é um estilo um pouco mais forte, principalmente na Europa.
Recife Metal Law – Sendo lançado por um selo europeu, como foi à divulgação desse trabalho no Velho Mundo? Sabemos que por lá existem muitos países de clima extremamente frio. Seria a música do HellLight indicada para povos desses países?
Fábio – A divulgação foi excelente. Nós recebemos e-mails de fãs de toda a Europa e temos informações da gravadora que o álbum vendeu muito bem. Foram feitas duas tiragens e ambas foram totalmente vendidas. Porém, com relação ao clima frio, eu sei que isso provavelmente facilite a assimilação do estilo do HellLight, mas a verdade é que a música é uma forma de arte incrível e tem o poder de atingir a todas as pessoas, estejam elas no frio da Islândia ou no calor de Recife. A música é muito mais do que isso, ela independe do exterior, e sim do interior das pessoas que estão ouvindo.
Recife Metal Law – “…And Then, The Light of Consciousness Became Hell…”, o terceiro álbum, também foi lançado por uma gravadora ‘gringa’, só que dessa vez pela Solitude Prod., da Rússia. Qual a razão para se mudar de selo?
Fábio – Quando gravamos o terceiro álbum, nós achamos que seria o momento de procurar uma gravadora maior, que tivesse um alcance maior e fosse consequentemente levar a nossa música a um número maior de pessoas, e foi exatamente o que aconteceu. A Solitude Prod. é uma excelente gravadora e faz muito bem o trabalho de divulgação. Por esse motivo, já assinamos um contrato com eles para mais três álbuns nos próximos dois anos.
Recife Metal Law – Além do selo, também houve mudança na formação da banda, com a saída do baterista Robson e do tecladista Eric. O que ocasionou a saída de ambos?
Fábio – Ambos saíram por motivos pessoais e alguns desacordos com relação ao futuro da banda, mas em ambos os casos a saída foi tranquila e sem problemas. Atualmente o HellLight conta com três integrantes fixos, sendo eu na guitarra e vocais, o Alexandre no baixo e o Roberto Toledo na bateria, e contamos com uma tecladista para apresentações ao vivo, a qual se chama Cassia Franchi.
Recife Metal Law – No encarte do novo álbum não existe a informação de quem gravou a bateria...
Fábio – Sim, nós preferimos não colocar, pois na época nós estávamos sem nenhum baterista fixo na banda e não quisemos vincular o nome de ninguém ao posto. Porém quem gravou foi um antigo amigo e excelente baterista: Phil Motta.
Recife Metal Law – O novo álbum traz menos músicas, porém a média de duração das mesmas aumentou, chegando a cerca de treze minutos por música apresentada. A tendência do HellLight é sempre apresentar músicas cada vez maiores?
Fábio – (Risos) Eu sempre digo que ‘é mais forte do que nós’, por mais que tentemos, nunca conseguimos fazer uma música com menos de dez minutos. É muito natural para nós. Eu acredito que a tendência seja essa. Eu acho que encontramos um equilíbrio bom nesse último álbum, porém para o próximo nós temos uma música pronta que tem uns dezoito minutos. Provavelmente o álbum terá umas seis músicas também.
Recife Metal Law – A abordagem lírica trata de temas relacionados à solidão, morte e, nesse álbum, houve uma ênfase no paganismo. De onde vem à inspiração para a composição da parte lírica?
Fábio – Vem da vontade que nós temos de transmitir as emoções, ideias e pensamentos para as pessoas que estejam ouvindo o HellLight. É um trabalho muito interessante conseguir unir as letras e as melodias, pois é a mistura das duas coisas que faz tudo acontecer. É como num filme, onde a imagem e o som se unem pra transmitir tudo o que o filme expõe. É relativamente fácil escrever as letras para o HellLight, pois tudo é muito verdadeiro e muito sincero. Quando eu escrevo uma letra, eu realmente sinto o que escrevi, por esse motivo eu não consigo gostar de alguns artistas que escrevem uma coisa, porém se comportam de outra forma. Eu acredito que o verdadeiro artista é o que consegue inserir a sua própria personalidade na sua arte.
Recife Metal Law – Recentemente vocês disponibilizaram, para download gratuito, um EP intitulado “The Light That Brought Darkness”. Vale mencionar que esse título é de uma música contida no recente álbum de estúdio da banda, a qual também está presente no EP. Por que intitular o EP com o nome dessa música, e por que ela está fazendo parte do mesmo?
Fábio – Esse EP foi uma ideia que eu tive de tentar fazer com que as pessoas que não conhecem o Doom Metal passassem a conhecer. Isso tudo através de músicas que elas já estivessem familiarizadas. Então a ideia foi regravar músicas conhecidas, porém com a roupagem Doom Metal, mais especialmente do HellLight. Dessa forma, as pessoas podem identificar o que realmente é o Doom Metal e, por consequência, já conhecerem o HellLight, por isso a música do nosso último álbum foi incluída. É somente mais uma tentativa de fazer com que o Doom Metal seja mais divulgado no nosso país, que as pessoas percam um pouco o preconceito contra músicas de ‘novos’ estilos dentro do Metal.
Recife Metal Law – O EP traz versões para músicas do Black Sabbath, Queen, Neil Young, entre outros. Como se deu a escolha das músicas para fazer parte desse material e por qual razão vocês decidiram gravar esse EP e o lançar de forma virtual?
Fábio – Nós tentamos abranger o máximo de estilos dentro do Rock e Metal, pois estávamos buscando fãs de estilos diferentes do Doom Metal. Então, se analisarmos bem, cada música tem fãs de diferentes estilos, são parecidos, porém diferentes. Acho que o fã do Neil Young normalmente não é fã do Black Sabbath ou Queen ou Bathory e vice-versa, mas a ideia foi essa mesma.
Recife Metal Law – E quais são os principais planos do HellLight para 2012?
Fábio – Temos muitos planos para 2012. A gravação do nosso primeiro DVD; a gravação do nosso quarto álbum; temos um show marcado com o Therion em Junho; estamos planejando uma tour na Europa e, fora tudo isso, os shows nacionais, que queremos fazer muitos nesse ano, inclusive, quem estiver interessado no show do HellLight, entre em contato conosco, pois estamos dispostos a ir onde for preciso para mostrar o nosso trabalho as pessoas.