Malleus é mais uma das diversas bandas que habitam os subterrâneos do Metal brasileiro e vivem se ‘equilibrando’ para se manterem ativas no cenário. Adeptos do Black Metal e oriundos da cidade do Rio de Janeiro, recentemente lançaram seu ‘debut’ álbum, através de uma grande parceria entre vários selos batalhadores do Underground ‘brazuca’. Conversamos com o baixista e vocalista Lord Aghäven, que citou assuntos relacionados ao disco completo e também ao Black Metal da atual ‘cena’ carioca.
Recife Metal Law – Para situarmos os leitores do site quanto a Malleus, faça um breve resumo da trajetória da banda até os dias atuais...
Lord Aghäven – A banda começou em outubro de 2004, dia 26, quando finalmente fechou com os músicos que se identificaram com a proposta naquela época e vem se mantendo ativa desde então, com a proposta de fazer o verdadeiro Black Metal raiz em terras brasileiras e desenvolvendo o seu trabalho árduo ao longo desse tempo, sempre tentando promover um estilo caótico e Metal War. Em 2005 foi lançado, de forma completamente independente, a primeira Demo, “Into the Black Path”, que teve com boa aceitação – pois sempre procuramos produzir bem nossos trabalhos desde o início como uma forma de respeito a todos que fazem parte do cenário Metal nacional. Esse trabalho permitiu que a banda conseguisse shows importantes e consolidasse seu nome no cenário, inclusive tocando, no ano de 2007, pela primeira vez fora do Estado do Rio de Janeiro. No final de 2008 foi concluído o segundo trabalho Demo, “Verum Legis”. Foi um processo um pouco estressante, porém conseguimos manter a banda por um tempo e em 2010 ficamos parados por quase um ano, devido a problemas internos, falta de músicos, dentre outros fatores que desanimam qualquer pessoa dentro da ‘Cena’ local, mas após contatos com amigos pessoais, que também estavam com bandas desfeitas e se oferecerem pra tocar, bem como pelo incentivo do nosso público – sempre fomos muito bem tratados e recebidos aonde nos apresentamos – resolvi retomar as atividades com o Malleus e desde que voltamos e demos continuidade de onde o trabalho parou, começamos a esquecer do que aconteceu no passado e renovamos os nossos ânimos. Tudo está correndo bem, já que reorganizamos melhor o trabalho com pessoas também competentes e com a cabeça mais centrada no objetivo para que tudo aconteça da melhor forma possível. Dessa maneira é possível manter um comprometimento verdadeiro com o que o nome Malleus representa para a cena, com músicos em condições de levá-la adiante. E só participa da banda quem realmente assume o compromisso com ela. No último dia 10 de maio lançamos nosso primeiro álbum pela Anaites Records – do qual estamos, no momento, fazendo a divulgação –, lançamento este com participação e distribuição de mais treze selos. Estamos muito felizes por termos conseguido essa oportunidade, após um período muito difícil e a oportunidade também de promover a verdadeira união entre todos os que se interessam realmente pela cena e pelo todo e não por parasitas interessados apenas em imagem, vantagens, vaidades e benefícios próprios.
Recife Metal Law – Quanto ao ‘debut’ álbum, qual o título, quantas faixas têm? São todas músicas inéditas? Qual a tiragem?
Lord Aghäven – O novo trabalho é intitulado “Under The Evil’s Shadows” (“Sob as Sombras do Mal”). O álbum conta com cinco regravações com a nova formação da banda, de músicas presentes nas duas primeiras Demos do grupo – “Into The Black Path” e “Verum Legis” – e decidimos colocar mais duas músicas inéditas, totalizando sete faixas com 33:56 de duração. A primeira prensagem foi de mil cópias. Provavelmente iremos fazer mais, caso esgote rápido.
Recife Metal Law – Na trajetória da banda, você usa o termo “Metal War”. Esclareça para nossos leitores qual e a postura ideológica na abordagem artística do Malleus. Detalhe quais assuntos são tratados nas letras do álbum.
Lord Aghäven – Nossa temática é variada. Temos diversas correntes ocultistas e pagãs de expressão; temos interesse em ler sobre diferentes culturas, linhas de pensamentos, histórias e mitologias mundiais que revelam as verdades sobre as religiões e o mal que elas fizeram para os povos, e na música sofremos uma influência grande de todos esses elementos. Em nossas letras abordamos fatos históricos e culturais, paganismo e a essência verdadeira dos sentimentos humanos e somos contra todo e qualquer tipo de religião e contra toda e qualquer ideologia hipócrita e deficiente ligada a preceitos e preconceitos pseudofilosóficos e dogmáticos, que faz com que o homem deixe de ser um ser pensante para ser um mero escravo e coletor de informações inúteis. Tratamos sempre criticamente nossas opiniões a respeito de nossa guerra contra a religião, paganismo, ocultismo, etc.
Recife Metal Law – Uma banda que tem duas Demos lançadas de forma independente e relativamente pouco divulgadas, ter ser full lançado por catorze selos/distros deve ter sido algo muito positivo. Conte-nos como rolou isso e se já estão tendo resultados dessa grande distribuição.
Lord Aghäven – Veja bem, em 2005 foi lançado o CD “Into the Black Path”. Nós não saímos divulgando para a massa, como algumas bandas fazem, pagando pra sair em revistas de tiragem nacional. Nós divulgamos certo, para as pessoas certas. Sempre tivemos o conhecimento do nosso público alvo, digamos assim. Fizemos nosso trabalho independente e de forma correta, pois estávamos começando e ninguém faria nada por nós a não ser nós mesmos. Não íamos distribuir o material de graça à toa, como muitas bandas fazem. Tivemos um custo de produção e as dificuldades de sempre, pois não somos uma banda rica. Jamais iremos usar dinheiro dos outros ou fazer algum tipo de falcatrua ou agir desonestamente para ficar famosinho no meio da massa. O trabalho foi investimento nosso e nosso objetivo sempre foi pagar as contas da banda com o que a banda produzisse para, pelo menos, não ter prejuízo no nosso bolso. Contamos um pouco com a sorte e com o nosso talento de fazer o trabalho bem produzido e com isso tivemos a boa aceitação por parte de quem procurou conhecer melhor o trabalho e adquiriu o material conosco de livre e espontânea vontade. Isso permitiu que a banda conseguisse shows importantes e consolidasse seu nome no cenário, mesmo sem muita badalação de propaganda excessiva e sem impor a obrigação de comprar ao público, como muitos fazem. Conseguimos algumas oportunidades certas e honestas graças as Demos e é isso que estamos procurando. Pela primeira vez tocamos fora do Estado do Rio de Janeiro, em 2007, e no final de 2008 foi concluído o segundo trabalho, “Verum Legis”, não tão bem produzido quanto o primeiro, pois tivemos muitos problemas e estresses... Mas perseveramos... E o material não deixou de ser um bom material. Essa oportunidade surgiu de uma ideia sem pretensão nenhuma, pois estávamos em um momento ruim, com várias decepções e frustrações, devido à quebra de palavra e mudança de personalidade de pessoas que se diziam ‘amigos’ e devido a isso iríamos apenas produzir mais uma Demo. Estávamos com o intuito apenas de produzir materiais, pois era o que sempre deu certo para nós, porque dependia exclusivamente de quem vestiu a camisa da banda e em matéria de eventos estava deixando muito a desejar já há algum tempo. Muita falta de respeito, muitas ‘panelinhas’ de shows de amigos de copo envolvendo apenas vaidade e muito pouco trabalho. Não estávamos interessados nisso, pois não nos misturamos com coisas e com pessoas desse tipo. Felizmente tivemos a sorte de um grande camarada meu abrir a oportunidade de gravar no Home Studio dele sem custos para a banda e eu conhecia o Hioderman desde a época que eu tocava com uma banda de Death/Black Metal também daqui do Rio de Janeiro. Tínhamos grandes amigos em comum antes de surgir até mesmo o Malleus e conversamos bastante sobre o assunto; apresentei os trabalhos que tínhamos e ele acreditou na minha palavra e no nosso trabalho. Ele foi acompanhando desde o primeiro processo de gravação até o final e graças a ele, com a Anaites Records, que deu o pontapé inicial a essa empreitada e com isso vieram os selos parceiros, embarcando e comprando também a ideia. Eles foram entrando em contato e conhecendo melhor o trabalho do Malleus e sentindo confiança, pois estavam vendo que a nossa reputação sempre foi impecável, graças a isso e me conhecendo também por meio da internet. Felizmente tudo desde então deu muito certo pra nós. O CD não completou nem um mês e já saíram muitas cópias. Tivemos um atraso devido ao serviço caro e ruim dos Correios, mas fora isso o trabalho ficou muito bom, desde a gravação até a produção física final do material. Estamos bastante contentes com todo o resultado até agora e acredito que todos os catorze parceiros envolvidos na distribuição também.
Recife Metal Law – A banda está caminhando para uma década de atividades, porém não vejo vocês tocando em muitos eventos. Qual motivo leva o Malleus a não fazer muitas apresentações, haja vista que os ‘shows’ são considerados o melhor ‘caminho’ para divulgação de trabalhos Underground?
Lord Aghäven – O mais difícil para nós é conseguir shows com uma produção profissional. São muitos os desgostos que já passamos ao enfrentar más condições ao acertar eventos. A maioria nós recusamos pela falta de profissionalismo ao lidar com música. Pouca gente se propõe a trabalhar corretamente e acaba sendo sufocada por aproveitadores e exploradores, e é este o câncer que acaba com o Metal nacional. Todos nós estamos sofrendo problemas diretos com mercenários que se acham produtores de eventos e organizadores que só fazem é explorar e barganhar com o trabalho das bandas nacionais; organizações desleixadas que não arcam com as suas devidas obrigações e querem que toquemos sem recebem o básico, que são as passagens, e ficam indignados, ofendidos e nos chamam de mercenários quando exigimos nosso direito básico. Quer dizer, dentro dessas cabeças medíocres a banda é verdadeira ‘apenas’ tendo que se virar pra ir e tocar com a porcaria qualquer que eles colocarem no palco, comer, se locomover da cidade de origem até o destino do show, tocar e voltar por conta própria, e isso sem contar a obrigatoriedade em vender ingressos sem ganhar nada com isso; a cobrança de valores exorbitantes em dinheiro para a banda poder participar de shows. É claro que não aceitamos esse tipo de coisa. Hoje em dia qualquer um organiza shows ‘undergrounds’ dessa maneira, explorando o sangue e suor das bandas nacionais. Temos bandas de grande valor que não precisam disso, mas que são sufocadas pelos medíocres que aceitam esse esquema parasita, pois não tem trabalho de qualidade e estão desesperados pra aparecer. O Malleus fez sempre questão de ser uma banda profissional e manter seu nome em uma posição de respeito, por trabalhar de maneira honrada e correta, mantendo uma atitude limpa e honesta que corresponda com o que queremos passar. Não estamos interessados em ‘panelinhas’ e falso marketing de ‘elite’ ou ‘a melhor banda do país’. Sinceramente nem precisamos disso para lançar nosso nome ou tocar repetidas vezes em um mesmo evento. Nós lutamos por um ideal coerente e justo de verdadeira união e por uma relação profissional de respeito entre todos os envolvidos, desde a própria banda até o público, este provavelmente o mais prejudicado. Dessa forma achamos que a melhor divulgação é um trabalho consistente, original e feito de forma correta.
Recife Metal Law – Atualmente cada vez mais diminuem o número de bandas que ‘apostam’ no Black Metal ‘puro’, sem misturas sonoras ou líricas. O que vejo hoje em dia é muita banda usando termos como Black/Death ou Thrash/Black Metal para definir o som que fazem. Às vezes tenho a impressão de que essas, mesmo estando no ‘underground’, e o Black Metal ser um estilo bem específico, estão buscando alcançar mais públicos/consumidores. Então, tratando unicamente de Underground, peço que você comente o que acha de minha colocação e também da cena ‘Black Metal’ carioca atual.
Lord Aghäven – Sinceramente não damos palpite sobre administração de vida ou banda alheia, a menos que prejudique diretamente o nosso trabalho. Acho que cada um sabe o que é melhor pra si. As pessoas aqui não costumam ser muito coerentes; os shows estão cada vez mais escassos e vazios por isso, e para alguns desesperados para aparecer em mídias e tocar em público para ficar ‘famosinho’ vão e mudam de estilo musical porque está sendo mais escutado no momento ou, para não ficar tão ridículo, misturam gêneros para tentar agradar a gregos e troianos; tocam em qualquer lugar e com qualquer condição; se bancam pesado e alguns até não tem um pingo de escrúpulo com as demais bandas e assim com essas atitudes ridículas correm o risco de queimar o próprio trabalho. Nossa postura sempre foi ser fiel ao que acreditamos e ao que gostamos. O Black Metal é para poucos, nunca foi um estilo de massa e quem se propõe a fazer tem que ter bastante cultura, bom senso e informação. O Black Metal sempre será para a elite, porém não é uma elite regional, porque o homem não precisa de passaporte para caminhar na terra, pois o mundo já pertence a ele. Não é sobre uma elite racial, porque todos nós somos de uma mesma origem, e não é sobre uma elite econômica, porque isso é instável e transitório. Black Metal sempre será para a elite de umas poucas pessoas que têm uma consciência ampla e que podem entender o real significado do estilo em sua totalidade.
Recife Metal Law – O Malleus é uma horda extremamente radical, no quesito profissional, e por isso te pergunto quais as exigências da horda ao participar de algum evento? O que acham de eventos onde os organizadores não dão suporte para bandas poderem tocar com uma boa aparelhagem?
Lord Aghäven – Nós exigimos apenas o básico, que são os custos da viagem, uma produção de palco razoável, porém sem exigências específicas; comida e bebida liberada para a banda no local do evento e, dependendo, hotel. Nós exigimos também que os donos dos eventos tenham respeito com o público pagante, pois se ultimamente os eventos são vazios é porque algo vem sendo feito sistematicamente errado, saturando público e sufocando bandas profissionais. Nós não exigimos nada além do justo e não almejamos luxo e riquezas, queremos apenas o suficiente para sobreviver e dar continuidade ao trabalho feito com a mais pura sinceridade de nossas almas. Entendemos que se o organizador de determinado evento convoca a banda é porque ele julgou que a banda traria valor ao evento dele, caso contrário ele não chama para tocar, é simples. A qualidade do evento é obrigação de quem é dono do evento e é o que vai dar a margem de lucro que ele espera para que ele possa fazer outros mais. Nós não pedimos favor para tocar. Ele é que tem que selecionar as bandas e arcar com as obrigações de organização e logística. É um sistema de negócios e antes de qualquer coisa não queremos ter prejuízo no nosso bolso e nem prejuízo na hora de tocar, ainda mais por culpa de palco ruim, falta de estrutura e de divulgação, que são as primeiras obrigações básicas de um produtor de eventos. É a lógica de um investimento: se você investe certo o público vai e fica satisfeito, você tem sua margem de lucro garantida e o público volta na próxima vez; se não investe nada, não tem como ter retorno, e se investe errado ou menos que deveria, vai ter prejuízo sempre, pois o público fica insatisfeito, o evento fica com um estigma ruim e dificilmente o público volta. Eventos ruins, sem suporte e sem estrutura adequada nem deveriam existir, pois é perda de tempo, é faltar com respeito ao público e as bandas profissionais.
Recife Metal Law – Já fizeram planos para uma futura mini-tour (falo isso devido a todos na banda trabalharem)? Quais cidades pretendem conhecer?
Lord Aghäven – Nós sempre procuramos planejar as atividades da banda para que não atrapalhe nosso trabalho fixo, pois precisamos pagar nossas contas. Pretendemos fazer uma mini tour por setores no Nordeste, pelo menos três ou quatro datas por vez, em feriados prolongados e não sai tão caro para os produtores fazerem, entre eles, uma divisão dos custos em três, quatro eventos. Pretendemos tocar aonde derem oportunidade para nós, desde que seja uma coisa justa para não termos prejuízo.
Recife Metal Law – Buscando vídeos da banda no Youtube, recentemente, descobri que existe uma banda portuguesa exatamente com o mesmo nome. O trabalho executado por vocês tem alguma relação ou influência dessa banda?
Lord Aghäven – Temos o conhecimento, desde 2004, que essa banda se chamava Malleus Malleficarum. Não temos nenhuma relação ou influência deles em nosso trabalho. Respeitamos, mas não sei o motivo deles terem abreviado ou cortado o nome original. Não temos nada a ver com eles. Tínhamos conhecimento, também, de uma banda de Metalcore italiana com o mesmo nome, porém quando eles surgiram já estávamos com a primeira Demo gravada e lançada. Eu, sinceramente, nem sei se ainda existem atualmente.
Recife Metal Law – Falando de outros planos da banda parece que existe um projeto de split com outra banda e gravação de material novo. Conte-nos o que vem por aí.
Lord Aghäven – Tivemos o convite de fazermos um split com a banda Sonneillon de Portugal. Eles entraram em contato conosco e pediram ajuda para lançar o material aqui no Brasil. São realmente bons camaradas e surgiu a ideia de um trabalho conjunto para sermos lançados em Portugal e aqui. Eu realmente gostei do trabalho deles e quando eles viram nosso novo CD saindo do forno reforçaram a ideia. Eu fiquei feliz com o convite e estamos estudando as possibilidades em conjunto com a Anaites Records. Ainda vamos passar para os parceiros para ver se esse projeto se concretiza. Provavelmente fiquem quatro músicas para cada banda e estamos vendo possibilidade de ser lançado em digipack e vinil para o próximo ano.
Recife Metal Law – Amigo Aghäven, qual seu parecer a respeitos dos vinis? A Malleus tem planos de algum dia lançar algum material da horda em formato vinil?
Lord Aghäven – Achamos que é sempre bom ter merchandising diferenciado; dar uma variedade de escolha para quem gosta de vinil e quem aprecia mais CD. Se tivermos a oportunidade de produção do material em vinil, vamos ficar contentes em trabalhar algo nesse sentido.