Como os próprios integrantes mencionam na entrevista a seguir, o Harmony Fault é uma banda que está no Underground dentro do Underground, fazendo um estilo altamente restrito e indicados apenas aos amantes da pancadaria e podreira. Mesmo assim, e com os diversos percalços que surgem no caminho, como as diversas trocas de informações, a banda se mantém firme e forte, tendo, inclusive, lançado seu primeiro álbum no ano passado. Guilherme e Cabele nos falam mais a respeito de tudo o que se passa e envolve o Harmony Fault. Recife Metal Law – Surgida em 2002, a Harmony Fault já lançou diversos trabalhos no meio Underground, entre Demos, Splits e EPs. Antes do lançamento do seu primeiro full lenght, qual desses trabalhos foi o mais significativo para a banda?
Guilherme – Primeiramente gostaríamos de agradecer ao Recife Metal Law pela oportunidade. Bem, na verdade cada um teve sua relativa importância e mesmo os lançamentos tendo sido feitos em um relativamente curto espaço de tempo, marcaram diversas fases da banda. Os que tiveram uma repercussão mais positiva foram a Demo “Sangue e Vísceras” (2004) e o 3 Way split CD com a Premature Autopsy e Neoplasm Disseminator (2005). Calebe – Valterlir, acredito que o trabalho mais significativo para a banda foi o 3 way split, pois tivemos a oportunidade de gravar pela primeira vez num esquema mais profissional e também porque o disco foi distribuído em vários lugares do mundo. Claro que era outra fase da banda, outra formação, mas foi muito importante para a gente.
Recife Metal Law – Deu para perceber que o intuito da banda era fazer músicas cantadas em português, em sua maioria. Quando surgiu a ideia de se adotar o inglês como língua principal para compor as atrocidades musicais da banda?
Guilherme – Na verdade ainda fazemos músicas em português, apesar de a maior parte ser em inglês. Na verdade foi uma tendência meio que natural, não sei, mas acho que o inglês, por ser uma língua “universal” e ser mais compreendida mundialmente que o português, acabamos adotando ele. Até porque sabemos que o Goregrind, de uma maneira geral, é mais respeitado no exterior do que aqui no Brasil. Calebe – E para te falar a verdade, nós não adotamos letras em nossas músicas. Temos títulos em português e inglês, porém letras não temos. O que se vê no encarte do nosso disco “Rotting Flesh Good Meal” são comentários sobre, digamos, o “espírito” da canção. Mas disso falaremos mais tarde.
Recife Metal Law – A banda é praticante de um Goregrind brutal, com doses cavalares de Death Metal e Splatter, esse último estilo mais na parte lírica, que trata de temas Gore e de terror. Como é a luta de uma banda nesses moldes para se manter ativa no meio Underground?
Guilherme – Na verdade, como alguns dizem, o Goregrind é o Underground dentro do próprio Underground, porém a nossa proposta sempre foi esta, portanto, independente de modas e influências externas, estaremos sempre fazendo o que de fato gostamos que é o bom e velho Goregrind. Aqui no Rio Grande do Sul, a cena Goregrind/Splatter sempre teve bastante força, principalmente entre a metade da década de 90 até meados de 2006, por aí, tivemos ótimas bandas como a Vômito, Sarcastic, Premature Autopsy, Necrocéfalo, Neoplasm Disseminator, Carnal Tumor, entre outras. Sendo que estas bandas nos influenciaram bastante para que fizéssemos o som que fizemos atualmente. Calebe – De fato, o Guilherme tem razão. É o Underground do Underground. Porém nos mantemos ativos como sempre, fortes em nossas amizades, atitudes e barulho. Tocamos ao vivo sempre que possível e principalmente sentimos prazer em fazer parte da Harmony Fault, mesmo depois de uma década na estrada.
Recife Metal Law – Atualmente a Harmony Fault é um trio, e está estabilizada desde 2009, quando o guitarrista Pulga entrou na banda. Muitas formações diferentes passaram pela banda durante seus dez anos de existência, mas seria a formação atual a ideal e definitiva?
Guilherme – Olha Valterlir, com certeza desde o início da banda, esta é a nossa melhor formação, pois finalmente conseguimos chegar na sonoridade que sempre queríamos. Confesso que quando o Marcelo Tormentor (ex-guitarra) saiu da banda, foi o maior baque até então ocorrido na Harmony Fault. Chegamos a cogitar o final da banda, mas eu e o Calebe resolvemos tocar o barco em frente e chegamos até a fazer alguns ensaios como uma dupla. Depois surgiu a ideia de convidar o Pulga, que era um grande amigo de longa data e que sempre apoiou a Harmony Fault, até substituindo o nosso ex-guitarrista quando surgia algum imprevisto. Aí pensamos: porque não torná-lo integrante oficial da banda, já que ele já conhecia o clima da banda e estava já bem engajado conosco. Aí foi o que fizemos e confesso que estamos muito satisfeitos com ele, pois ele é um grande amigo, guitarrista e extremamente criativo e isso agregou muito à banda. Calebe – Sempre é complicado modificar a formação de uma banda, todos sabem disso. Mudando os componentes, a receita acaba ficando diferente. Acho que por isso que nossa música mudou ao longo destes dez anos, já que flertamos com o Grind/Noise, Death Metal e agora nos estabelecemos como Goregrind. E, sim, essa é nossa formação definitiva.
Recife Metal Law – Falando sobre o primeiro full lenght, “Rotting Flesh Good Meal”, notei que alguns sons trazem certa influência do velho Punk/Hardcore, como é o caso de “Tirível” e da instrumental “Paura”. Isso foi algo proposital, para que o som da banda não ficasse apenas na brutalidade e velocidade?
Guilherme – Na verdade eu e o Calebe gostamos bastante de Hardcore também e do velho e bom Grindcore, o que acabou nos levando a isso. Dificilmente compomos alguma coisa proposital, pois o nosso processo de composição é bem natural, alguém vem com uma ideia, faz um riff, ou uma batera bacana e os demais vão encaixando e acabamos criando um som novo. Na época que compomos a “Tirível” o Marcelo Tormentor também era da banda e, como nós, gostava bastante de Hardcore aí acabamos fazendo alguns sons bem nessa linha como as que você citou e mais a “Stupid Dog” e “Os Dentes de Berenice”, que também tem pegadas bem Hardcore/Grind.
Recife Metal Law – No encarte do álbum não constam as letras, porém existem comentários sobre as dezenove faixas existentes. Por que colocar comentários acerca de cada som ao invés das letras?
Calebe – Não temos letras. Simples assim. Optamos por comentar cada uma das dezenove faixas para registrar o “espírito” da canção. Cada comentário possui uma história que registra o que sentimos quando a compomos bem como quando ela é tocada ao vivo. Além do mais, não acredito que a letra é a única forma de comunicação com o ouvinte. Pegue a canção “Os Dentes de Berenice”: apesar de não possuir uma letra “cantada”, registramos que é inspirada no conto “Berenice” do Edgar Allan Poe, que trata dos devaneios de Egaeus pela sua prima. Dotada de uma atmosfera onírica, a história tem um apogeu catártico. Outro exemplo: na música “City of the Living Dead” escrevemos nossas impressões sobre o filme homônimo do diretor italiano Lucio Fulci. Enfim, com horror e humor, acredito que essa fórmula mostra quem realmente o Harmony Fault é.
Recife Metal Law – Sobre a capa do álbum de estreia, seria o fascínio dos integrantes por filmes de zumbis o responsável por sua arte?
Guilherme – Exatamente, todos nós gostamos muito de filmes de horror, zumbis, e por isso tivemos a ideia da capa nesses moldes. Pensamos em fazer um desenho, pois particularmente achamos mais significativo e ao mesmo tempo mais descontraído, expondo bem este lado da Harmony Fault. O desenho foi feito por um amigo do Pulga, o Carlos Augusto Porto, nós só demos a ideia pra ele e ele conseguiu sacar direitinho o nosso propósito. O cara é muito bom! Calebe – Isso mesmo. Porém não apenas zumbis, mas tudo o que cerca o universo do cinema fantástico, especificamente o horror.
Recife Metal Law – Mesmo sendo uma banda que faz um som brutal e “sujo”, notei que a produção sonora desse primeiro álbum vem bem cuidada, deixando a parte instrumental bem definida e audível. Como vocês avaliam a produção sonora de “Rotting Flesh Good Meal”? Ela soa realmente como a Harmony Fault deve soar?
Guilherme – Acreditamos que sim, pois gravamos com um pessoal da nossa cidade mesmo, no estúdio que a Harmony Fault já ensaia desde o seu início, em 2002. Eles já conhecem bem o nosso som e as regulagens necessárias, sem contar que o Ismael é um grande produtor e nos ajudou bastante dando dicas e tal. Trabalhamos nos sons do início ao fim, não deixando nenhum detalhe passar e discutindo cada caso. Acho que isso foi muito importante para a boa produção do CD. Calebe – Exato. É assim que o Harmony Fault deve soar. Na pré-produção do disco passamos alguns discos de bandas para o produtor que serviriam como guia para a sonoridade. Mais especificamente os álbuns “Opus(sy) VI” do Cock and Ball Torture e “Grindvirus” do Squash Bowels. Por outro lado, sempre existirá um ou outro detalhe que pode (e será) melhorado para o próximo disco.
Recife Metal Law – O álbum foi lançado em parceria com os selos Rotten Foetus, Cauterized e Violent. De que forma essa parceria vem ajudando na divulgação do álbum e do nome da Harmony Fault?
Guilherme – Na verdade esta parceria pra nós foi mais do que bem vinda, pois três selos juntos a divulgação tende a ser bem mais ampla e é o que de fato vem acontecendo. Estamos bem contentes com o resultado do nosso trabalho, que vem recebendo ótimas críticas e tem nos deixado bem surpresos ao mesmo tempo, pois não pensávamos que um som tão simples como o nosso, agradaria tanto aos críticos, já que fazemos apenas o que queremos, sem pensar em nenhum momento em agradar fulano ou beltrano, simplesmente compomos da maneira que gostamos. Calebe – Cara, o pessoal dos selos foi muito importante. Posso resumir o trabalho do Gil (Cauterized/Cianeto Discos), Diomar (Rotten Foetus) e Luis Carlos (Violent Recs) como uma mistura de honestidade, parceria, amizade e atitude Underground. A parceria tem sido muito importante, pois cada um tem o seu público e facilita a disseminação da doença “Rotting Flesh Good Meal”.
Recife Metal Law – A banda completa uma década de existência, agora em 2012. Qual o balanço geral que vocês fazem da carreira da Harmony Fault?
Calebe – Dez anos de barulho, amizades e espírito Underground. Nós simplesmente somos fãs de música barulhenta que tem uma banda. A banda passou por várias formações diferentes e, querendo ou não, isso acaba modificando a sonoridade. Todos os nossos registros tiveram o seu momento e contexto, ainda que por vezes mal gravados e/ou divulgados. Tivemos a oportunidade de tocar em diversas cidades gaúchas e também em cidades do Paraná e Santa Catarina. Participamos de pequenos shows e de grandes festivais do Underground brasileiro como Splatter Night e The Matter of Splatter. Nesta década de Harmony Fault ficamos mais velhos, feios e barrigudos, porém algumas coisas não mudaram: o respeito e amizade dos membros, nosso amor ao mundo Underground e o tesão por fazer Goregrind. Enfim, Valterlir, o balanço geral é mais do que positivo. E se depender da gente, pelo menos mais uma década virá.
Recife Metal Law – Espaço aberto para as considerações finais...
Calebe – Valterlir, muito obrigado pela oportunidade de conversar sobre a Harmony Fault com você e com os leitores do Recife Metal Law. Quem quiser trocar uma ideia e escrever para a banda pode nos enviar um e-mail ou nos encontrar no Facebook. Procure por nós também no Youtube. Aproveito para registrar que o nosso disco, “Rotting Flesh Good Meal”, está disponível para venda diretamente conosco ou com os selos envolvidos (Cauterized Productions, Rotten Foetus e Violent Records). Stay sick!