A Encéfalo surgiu, oficialmente, em 2002, mas como a própria banda informa, surgiu apenas para fazer covers, o que fez com a mesma lançasse um trabalho oficial, a Demo “Destruction”, em 2008. E olha que essa Demo nem ganhou uma prensagem para divulgar no meio Underground, estando disponível para download atualmente. Ano passado a Encéfalo chegou ao seu primeiro álbum, o surpreendente “Slave of Pain”, que mesmo com muitos problemas até que fosse lançado, mostra uma banda destruidora, e que soube contornar todos os problemas que existiram antes do lançamento. A atual formação da Encéfalo é: Álex Maramaldo (vocal/guitarra), Lailton Sousa (guitarra), Augusto Filho (baixo) e Rodrigo Falconieri (bateria).
Recife Metal Law – A Encéfalo surgiu em 2002, mas só veio a lançar uma Demo em 2008. O que causou esse hiato entre a formação da banda e o lançamento de um trabalho com suas músicas?
Álex Maramaldo – Bom, demos início as atividades em 2002 como projeto cover, amigos que curtiam um bom Sepultura “old”. Paralelo sempre tentávamos compor nossos trabalhos, mas devido à rotina de shows nunca tínhamos tempo pra sentar e ver as músicas próprias. Outra coisa que atrasou foi à falta de integrantes; eu e Lailton (guitarra) estamos juntos nessa desde o início. Mesmo após o lançamento da Demo, em 2008, a banda passou por novas mudanças, ou seja, estava faltando encontrar as pessoas certas pra rolar aquele “feeling”, por isso o motivo da demora também.
Recife Metal Law – O primeiro lançamento se trata da Demo “Destruction”, a qual contou com cinco músicas. Sendo esse o primeiro trabalho da banda, como vocês o analisam hoje?
Álex – Digamos que apesar de ser uma Demo, este trabalho nos impulsionou, nos fazendo querer compor mais ainda. Teve boa repercussão, apesar de ter sido gravada de maneira não tão profissional, mas podemos dizer que este trabalho foi o início do que estamos nos tornando hoje.
Recife Metal Law – Durante a carreira da banda, houve algumas alterações no posto de baixista e baterista. É normal na carreira de uma banda haver alterações em sua formação, mas de que forma isso ajudou ou atrapalhou na carreira do Encéfalo?
Álex – Então, como comentado anteriormente, isto impactou diretamente na elaboração dos trabalhos, tanto na Demo, como no álbum “Slave of Pain”. Essa mudança, principalmente no início de banda, tem que ocorrer, pois isso se torna um ‘casamento’ de quatro pessoas; as ideias tem que se bater pelo menos em 90% dos casos. Apesar do lado negativo do atraso, hoje podemos dizer que a formação atual está muito mais entrosada, nos fazendo compor mais e mais; as viagens se tornam mais produtivas. Então esses seriam os pontos positivos.
Recife Metal Law – A Demo está disponível para download. Com o advento da internet e a velocidade de transferência de dados, muitos não se dão ao trabalho de comprar material para apoiar as bandas. Vocês colocaram a Demo para download pensando nisso ou esse material já se encontra esgotado?
Álex – Como primeiro trabalho da banda, nós nunca fizemos uma prensagem pra venda da Demo, sempre esteve ali no PC pra quem quiser ‘copiar e colar’. Com o Encéfalo ganhando repercussão nacional e até mesmo internacional, e o avanço da internet, resolvemos disponibilizar oficialmente pra download.
Recife Metal Law – O ‘debut’ álbum “Slave of Pain” foi lançado em 2012, porém vocês tiveram alguns problemas antes de seu lançamento. Tais problemas se relacionam ao lado financeiro, já que a banda trabalha de forma independente. Após sua finalização, como vocês veem esse lançamento? Pode ser considerada a maior vitória da banda até hoje?
Álex – Com toda certeza! Como é comum hoje, para as bandas se manterem são produtoras de si, e muitas vezes fazem seu próprio ‘booking’ para tours. O atraso no lançamento se deu unicamente por problemas financeiros. Isso no deixou com receio, pois não deixamos o trabalho como de fato queríamos; tivemos que cortar os custos. Ficamos muitos felizes quando este trabalho teve grande repercussão nas mídias especializadas e, logicamente, nossos fãs, amigos e familiares, fazendo de fato ter sido uma grande vitória nesses tempos difíceis.
Recife Metal Law – Esse primeiro álbum conta com 11 faixas, sendo que a primeira é apenas uma “Intro”, com sons de tiros. Colocar essa “Intro” foi uma espécie de “avisar” que o que estaria por vir seria um verdadeiro ataque explosivo?
Álex – Isso grande Valterlir! A música seguinte, “All the Hate in My Soul”, fala um pouco sobre guerra, então essa “Intro” seria uma espécie, sim, de aviso. Mas também tem outro intuito, além dos barulhos de tiros, bombas, também possui sons de fantasmas, monstros, um fundo com teclado, para enfatizar toda a nossa guerra psicológica, muitas vezes não tendo nada a ver com o REAL, fazendo assim jus ao título “Slave of Pain” (“Escravo da Dor”).
Recife Metal Law – A banda fez uma excelente e insana mescla entre o Thrash e o Death Metal, e mesmo deixando transparecer, em alguns momentos, suas influências, fez um som honesto e cheio de feeling. Levando-se em consideração que o estilo abordado pela banda é praticamente imutável, de que forma vocês trabalharam para deixar esse primeiro álbum empolgante do início ao fim?
Álex – (Risos) Muito bom saber disso! A primeira regra é: TODOS DA BANDA TEM QUE CURTIR. Às vezes escutamos em muitos CDs, com boas músicas empolgantes, mas sempre tem aquela que pulamos, porque, enfim, não nos agita muito. Então queremos fazer diferente; queremos levar porradaria do início ao fim! Mostrando sempre essa mescla entre Thrash e o Death Metal, estilos que nos influenciaram tanto e que estão sempre presentes no nosso dia a dia, tentamos colocar isso em “Slave of Pain”, e o retorno tem sido muito positivo. Fico contente em ler essa sua observação, pois isso nos faz ter a certeza que estamos indo no caminho certo.
Recife Metal Law – Achei que a produção sonora ficou ótima! Nada de um álbum soando límpido ou ‘sujo’ demais. Houve uma boa mescla entre esses dois aspectos e isso deixou o som do Encéfalo ainda mais honesto. Como foi todo o trabalho em estúdio e de produção sonora?
Álex – Mais uma vez fico grato pela observação, isso é muito foda! Devido aos problemas, tivemos que passar por três estúdios, mas desde o primeiro, sempre enfatizávamos a originalidade. Nada de plug-ins, efeitos mega-super-ultra poderosos, coisas do gênero, queríamos colocar em CD o que fazíamos em estúdio e nos shows, e assim surgiu esse som ‘cru’ que podemos sacar no álbum. O som passou pelas mãos do grande Moises Veloso, muito conhecido na cena Fortalezense. Este deu vida ao som que queríamos.
Recife Metal Law – A capa traz uma espécie de monstro sendo arrastado por muitas mãos para uma espécie de inferno. De quem foi a ideia da capa e como ela ilustra, tanto o título como as letras contidas em “Slave of Pain”?
Álex – A ideia partiu dos quatro integrantes da banda, tendo a participação também de um antigo membro, o Alberlan (baixo). O foco do álbum (letras) é toda guerra pessoal que passamos, tendo que nos submeter às regras imposta pela sociedade; as regras religiosas; a várias coisas. Mesmo que você lute com todas as suas forças, você acaba fazendo parte do sistema. Queríamos passar a dor, raiva e impotência. A primeira versão da capa foi feita pelo grande Rodrigo Balan (Metal Media), que já veio com essa ideia, então entramos em contato com nosso amigo Thiago Oliveira, cartunista, e este desenhou à mão a ideia inicial, com complementos da própria banda, resultando nessa capa que não me canso de olhar. (risos)
Recife Metal Law – Falando sobre a parte gráfica, senti falta de algumas informações, como nome dos integrantes e detalhes técnicos, como, por exemplo, onde o material foi gravado. Sei que isso facilmente é encontrado na internet em tempos atuais, mas por qual razão suprir tais informações no CD?
Álex – Pra ser sincero, fizemos isso de forma proposital. Já estávamos muito cansados com todo os problemas do CD, exaustos mesmo, psicologicamente e fisicamente, pois o corre-corre era grande. Tentamos transpor isso para o restante do encarte, então não colocamos nada de informações; aonde foi gravado, coisas do gênero. Não queríamos colocar nomes ou logos no CD; queríamos deixar claro que a banda se bancou 110%. Mas já estamos trabalhando para o próximo trabalho, e iremos colocar algumas informações que realmente são necessárias.
Recife Metal Law – Mesmo trabalhando de forma independente, o Encéfalo mostra força, e vem fazendo diversos shows para a promoção de seu ‘debut’ álbum. Quais são as maiores dificuldades que a banda vem encontrando em trabalhar de forma independente, e quais são suas vantagens?
Álex – A grande vantagem é o “faça você mesmo”. Bolamos nossos shows, entramos em contato, corremos atrás, fechamos os cachês, somos voláteis em muitas coisas... Então isso se torna muito vantajoso, entre várias outras coisas, o que fica difícil é que nem sempre conseguimos alcançar algumas metas, como, por exemplo, lançamento no exterior. Até mesmo a marcação de shows por lá, dificuldade em entrar em outras regiões do Brasil por falta de contato; não ter apoio de empresas em equipamentos, como amplificadores, fazendo que muitos shows tenhamos que tocar em equipamentos que não se adequam ao som... Essas seriam algumas desvantagens.
Recife Metal Law – Da Demo vocês retiraram três das cinco músicas para fazer parte do primeiro álbum. Qual a razão para deixar apenas “Dead Creation” e “Emptiness World” de fora?
Álex – Queríamos deixar algo exclusivo na Demo que nos marcou tanto!
Recife Metal Law – Já a música “Emptiness World” ganhou, no álbum, o título de “Emptiness Brain”. Trata-se, realmente, da mesma música?
Álex – Não seria a mesma música, mas uma leva a outra! A primeira fala muito das coisas que acontecem, como guerras, mortes, discórdia, ódio... A segunda seria a revolta da própria pessoa, em ver tudo isso e nada poder fazer, principalmente a igreja, mandando um foda-se pra toda essa hipocrisia.
Recife Metal Law – Espaço final para que tu acrescentes alguma outra informação aqui não questionada...
Álex – Primeiro agradecer a oportunidade de responder a estas perguntas, muitas bem elaboradas por sinal! Dizer que apesar das dificuldades encontradas, vamos continuar firmes e fortes, e levar nosso som para os quatro cantos do mundo, e que mais do que banda, somos amigos. E logicamente agradecer a todos aqueles que de alguma forma estão com o Encéfalo, comprando nossos materiais, indo aos shows, ou até mesmo dando um ‘play’ no Myspace. Sem vocês nós não existiríamos.