A Grave Desecrator é aquele tipo de banda que podemos dizer, com total convicção, nunca se renderá aos modismos que assolam o meio Heavy Metal de tempos em tempos. A banda está na estrada desde 1998, lançando diversos materiais, nos mais variados formatos, mas sempre deixando intacto sem Death/Black Metal, mesmo com algumas mudanças na formação que surgiram nesse período. Mesmo com 15 anos de formação, a Grave Desecrator nunca teve seus materiais sendo lançados de forma satisfatória em território brasileiro, o que vem mudando de uns tempos para cá, e na entrevista a seguir o baixista Vallakk The Necrogoat fala um pouco mais a respeito disso e diversos outros tópicos, sem papa na língua ou palavras amenas. Recife Metal Law – Faça um breve resumo da história da banda até os dias atuais.
Vallakk The Necrogoat – Hell-o bastardo! De uma forma abreviada, descrevo que o Grave Desecrator foi expelido como lava vulcânica no ano de 1998 por mim, Valak Necrogoat, na época como guitarrista, F.Mordor nos vocais e Butcherazor, na época como baixista. Depois de diversas tentativas com bateristas que nunca deram certo, em 2001 resolvemos pedir ajuda ao L.Pagani como baterista de sessão em nossa ‘debut’ Demo, denominada de “Demo 01”, lançada e espalhada em mais de 1000 cópias por um selo especializado em tapes (Swords and Leather), que eu e um amigo da finada banda Ancient Sign Glorify, fazíamos (poucos sabem, mas eu cheguei a tocar nessa banda). Essa Demo foi muito bem recebida no Underground mundial, mas não curtimos muito seu direcionamento, um tanto comum em se tratando de Black Metal com aqueles vocais já saturados que milhões de bandas chupavam da cena europeia. Mesmo havendo algumas partes bem interessantes nesse material, preferimos nosso primeiro 7” EP em vinil, intitulado “Cult of Warfare and Darkness”, lançado pelo selo alemão Ketzer Records em 2003, e gravado já com Adrameleck (ex-Nocturnal Worshipper, Apokalyptic Raids e atual Hellkommander) na bateria. Uh! Já são quase dez anos dessa porra! Estávamos cansados do despreparo de F.Mordor em relação a coisas mais profissionais e o tiramos da banda, adicionando Black Sin and Damnation na guitarra. Eu fui para o baixo e Butcherazor foi para o vocal e guitarra, pois o mesmo sempre teve muito talento para ambos, e foi uma escolha natural e acertada. Na sequência, nosso ‘debut’ álbum “Sign of Doom” de 2007; “Insult” de 2010, e outros lançamentos em 7” EP, splits, mudanças de formação, que vieram no decorrer... Ah porra, leiam tudo lá no nosso site!
Recife Metal Law – Como rolou esse lance de vocês terem entrado no ‘cast’ do festival inglês Live Evil? Esse é aquele festival que o ‘cast’ é montado com as bandas que o Fenriz (Darkthrone) “curte”?
Necrogoat – Um amigo enviou nosso material para o Mr. Gylve “Fenriz” Nagel e ele gostou bastante, inclusive colocando no seu blog “Band of the Week”. Como estávamos preparando nossa primeira minitour na Europa em 2010, recebemos a proposta de um show em Londres, no mítico Underworld e assim foi aceita. Foi uma noite memorável, com umas mil pessoas no festival, onde dividimos o palco com bandas como Hooded Menace, Obliteration e a consagrada Angelwitch. O Vulcano e o Ghost também tocaram nesse festival. Pessoas de todo o mundo estavam lá e foi realmente foda! Continuamos em contato com o Fenriz e tivemos a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente em Oslo na Noruega esse ano, no nosso show na cidade. Ele é um cara realmente Metalhead até a alma, bastante esquisito, amado e por vezes odiado por lá. Porém, autêntico!
Recife Metal Law – Ainda falando da ocasião que vocês tocaram no Live Evil, vocês aproveitaram o fato de estarem na Europa e agendaram outras datas que culminaram na primeira tour da banda no Velho Continente. Quantas datas foram? Em quantos países se apresentaram nessa turnê e qual foi o resultado geral desse giro?
Necrogoat – Foi uma tour pequena, com apenas dez shows. Itália, Alemanha, Áustria, Holanda e Reino Unido. O resultado? Algumas canalizações de energia brutal em shows matadores em Roma (Itália), Oberhausen (Alemanha), no próprio Live Evil, e algumas merdas que sempre acontecem e fazem parte de quem está nessa batalha.
Recife Metal Law – Conforme você comentou, o selo alemão Ketzer Records foi responsável por lançar os dois álbuns completos da banda, mas tiveram outras gravadoras que lançaram os mesmos em outros formatos e também existem alguns lançamentos de EPs, splits... Comente essa parceria com a Ketzer. Quais as outras gravadoras que lançaram material do Grave Desecrator e cite, também, a discografia da banda até hoje e o que vem por aí...
Necrogoat – A Ketzer é um pequeno selo alemão que nos impulsionou em patamares que eu acho que nenhum selo daqui poderia fazer. Dentro de sua pequena autonomia, posso dizer que foi feito um grande trabalho em nível de divulgação dos nossos CDs. A Hell’s Headbangers dos EUA, que hoje é talvez o maior selo do mundo em Metal Underground, lançou nosso segundo álbum “Insult” por lá, assim como sua versão em vinil e outros merchandisings. O vinil do “Sign of Doom” foi lançado pelo selo sueco Blood Harvest, também bem conhecido na cena. Assinamos um contrato para o terceiro álbum com a Pulverised Records, um selo bem maior, que é o mesmo selo de diversas bandas de Death Metal, como Desultory, Master e do Whiplash. A Hell’s Headbangers e a Blood Harvest devem conspirar outras versões desse terceiro álbum em vinil e cd. Aguardem a besta rugir novamente!
Recife Metal Law – Eu escutei e inclusive comentei aqui os dois álbuns da banda, “Sign of Doom” e “Insult”. Estava lendo as letras e verifiquei que a proposta lírica do grupo está diretamente ligada a crítica e ataque aos dogmas judaico-cristãos. Mas percebi a abordagem de outros temas. Quais outros temas vocês abordam em suas composições?
Necrogoat – Nossas letras nesses dois álbuns têm tido um embasamento direto e, por vezes, cru, incluindo uma forte dose de sarcasmo e até ironia em relação não só ao cristianismo, mas a todas as religiões ‘salvadoras’ existentes. A linguagem, por vezes simples é proposital, trazendo aquela atmosfera das bandas mais antigas, como se sabe, bastante reverenciadas por nós! Esse nosso estilo pode sofrer mudanças no futuro, mas o Mal estará lá sempre! Luxúria também está bem presente em algumas letras, mas não de uma forma sexista e barata. Apenas consideramos que a exaltação do carnal seja uma grande arma contra a hipocrisia e a fantasiosa conexão entre um suposto espírito santo ou deus, com a alma ou o espírito humano, descritos por uma visão despida de senso de evolução. Tentem entender nas entrelinhas que é na carne que se encontra a nossa “salvação”!
Recife Metal Law – Em 2012 vocês fizeram outra tour europeia, sendo essa segunda mais extensa. Conte como foi esse segundo “giro” e também diga-nos se vocês notaram alguma diferença significativa entre uma e outra tour?
Necrogoat – Foi uma tour com trinta shows por vários países, inclusive alguns bem inusitados como Bulgaria, Bósnia... Foi bastante interessante, antes de tudo, estar nesses lugares que jamais poderíamos imaginar que um dia pisaríamos. Como sempre, algumas merdas aconteceram, como nos colocar para tocar com algumas bostas que não tinham nada a ver com a proposta ideológica e musical do Grave Desecrator. Isso nos deixou realmente putos, pois não tínhamos ideia de quais bandas tocariam em alguns desses lugares. O que foi um erro nosso não exigir isso antes de viajarmos. O comportamento entre os europeus se difere também, ainda mais se comparados o leste europeu, considerado mais pobre, e a parte rica ocidental. E desde já, bastante diferente das pessoas daqui do Brasil. O clima sempre gélido, a cultura e o passado, muitas vezes de guerras até recentes, com certeza influenciam na forma musical, ideológica e comportamental dos europeus. Estar lá é gratificante por poder entender isso, assim como é com certeza em outros lugares do mundo, distantes do nosso. Show fudidos e blasfemos rolaram com destaque na Romênia (na Transilvânia!), Oslo (Noruega), Erfurt (Alemanha), Vallencianes (França), Varna (Bulgária), Bressuire (França, onde gravamos um CD ao vivo!), entre outros. Nem tudo é perfeito como se imagina na Europa, porém o saldo foi bastante positivo e estaremos lá provavelmente em 2014, assim como almejamos alcançar a Ásia, Oceania, EUA, Àfrica e restante das Américas!
Recife Metal Law – “...Colocar para tocar com algumas bostas que não tinham nada a ver com a proposta ideológica e musical do Grave Desecrator...”. Como assim? Isso me deixou curioso, por favor, explique melhor. Sem polemizar, mas diga quais estilos eram esses contrários a proposta ideológica da banda.
Necrogoat – Em alguns lugares tivemos bandas com propostas e som tipo Nightwish ou System of a Down abrindo os nossos shows. Então, porra, precisa eu explicar mais alguma coisa? Na Holanda estávamos entrando na van para ir embora depois que soubemos da banda que iria abrir, que era uma bem ridícula, ao nosso ver. O que nos fez voltar atrás foram os pedidos dos que viajaram de diversos lugares da Europa só para nos ver tocar nesse show. Polemizar? Isso não se trata de ‘polêmica’, mas de coerência! E é uma reação natural a algo que vai contra o que acreditamos. Mas, por favor, não é nossa intenção bancar de mentores dos entediantes ‘pseudo-diabólicos’ da cena, pois não precisamos disso. Fodam-se todos esses também!
Recife Metal Law – A banda fez alguns shows no Chile como ‘headliner’. Como foi essa experiência junto aos nossos ‘hermanos’, visto que os bangers chilenos são famosos por sua insanidade nos shows?
Necrogoat – Argghh! O Chile tem uma das melhores cenas do mundo! Estejam certos disso, porra! Chutem a bunda das bandas de seda da Nuclear Blast e outros selos comercias e entreguem a alma a fudidas entidades chilenas como Communion, Ejecutor, Slaughtbath, Force of Darkness, Wrathprayer, Diabolical Messiah e dezenas de outras. Não há muito espaço para aqueles iludidos por gravações limpas, capas enfeitadas, no Chile. Algumas dessas bandas tocaram recentemente no Brasil (Communion e Ejecutor), e que eu acho ter sido uma grande chance de presenciar como soam as mesmas. Pena que para a maioria alienada, a arte do Metal da América do Sul parece não valer muito a pena. Sim, fizemos três apresentações matadoras nesse grande país! Grandes bandas, grandes pessoas e um sentimento real de culto ao mais obscuro Metal! Estaremos lá novamente em breve! Hail aos nossos irmãos chilenos! Há uma forte aliança entre esse país e a prática musical marginal do Grave Desecrator!
Recife Metal Law – Voltando a falar sobre os lançamentos, nenhum material da banda foi lançado ou licenciado por um selo brasileiro. Isso, de certa forma, não atrapalha a divulgação do nome do Grave Desecrator em solo brasileiro?
Necrogoat – Nosso nome aqui no Brasil sempre foi deflagrado pelos mais bastardos do Underground, sem precisarmos de uma grande mídia por trás. Como eu já disse anteriormente em outras ocasiões, não é nossa culpa se não recebemos nenhuma proposta de nenhum selo daqui desde nossa Demo-tape! Muitos sequer responderam aos nossos e-mails e cartas enviadas. Mas isso faz parte! Lógico que gostaríamos de uma divulgação ainda maior aqui (o que acho que estamos conseguindo), mas, sinceramente, para uma banda sem nada lançado até pouco tempo aqui, e sem muita exposição, nós conseguimos uma boa quantidade de almas que ressoam nosso nome assimilando nossas invocações metálicas! Informo que nossos dois CDs foram lançados no Brasil há cerca de quatro meses pelo selo de nosso guitarra/vocal Butcherazor, chamado Redlight Prod., e mais da metade da prensagem de ambos já foi vendida, trocada ou espalhada por aí! Nada mau, hein? Foi colocado um preço muito barato para estes lançamentos, o que facilita a aquisição daqueles que ainda não possuem, e com a mesma qualidade das versões europeias e americanas antes lançadas. Aliás, agradecemos a todo o suporte dado a nós pelos mortais Headbangers de Norte a Sul! Aos interessados bastam nos escrever... Sendo maliciosamente sincero, confesso que precisamos desse dinheiro para pagar mais bebidas alcoólicas, cigarros, uma limousine e algumas armas! (risos)
Recife Metal Law – Mesmo com seus trabalhos lançados há pouco tempo no Brasil, como vocês analisam a importância de tais materiais para a cena Underground brasileira?
Necrogoat – Sem arrogância, mas com orgulho, realmente achamos que ambos merecem sim um respeito imenso pela cena para sempre! Mas não somos nós que devemos analisar isso, mas aqueles que têm o inferno em suas almas.
Recife Metal Law – A banda já participou de duas coletâneas, uma delas lançada no formato vinil. Como as faixas para essas coletâneas foram escolhidas?
Necrogoat – Você deve estar se referindo ao “Deathspells Rising”, que é uma espécie de coletânea, mas eu nem acredito que seja. Achamos mais um lançamento de comemoração de 10 anos desde que nossa primeira Demo de 2001 (chamada de “Demo 01” mesmo) foi lançada. Então o selo italiano Despise the Sun lançou essa merda com alguns ensaios perdidos, a Demo, primeiro 7”EP, etc. Foi um bom caça-níqueis! (risos) Hey, a capa foi desenhada pelo lendário Chris Moyen e ficou magnífica! A outra coletânea foi do “Live Evil”, festival inglês que tocamos. Nossa faixa lá se chama “Deforming Angel’s Anus” e é muito fudida! Poucas pessoas a conhecem, pois nunca foi lançada a não ser nesse vinil, que é bem raro aqui no Brasil. Acredito que mesmo lá fora já seja difícil de achar. Outras bandas que estão nesse mesmo lançamento são o Vulcano, Ghost, Hooded Menace... Não peçam por cópias, só temos as nossas!
Recife Metal Law – Já que a banda fez turnês na Europa, existe a possibilidade de uma tour a nível nacional?
Necrogoat – Não seria novidade para você saber que, infelizmente, o Brasil carece de um esquema mais profissional de turnês. Então tudo fica difícil. Tentamos negociar datas no Nordeste antes, e tudo o que conseguimos foram promessas! Finalmente iremos até a Bahia para um show apenas em março de 2013 (compareçam, porra!). Dependemos de muitas coisas para fazermos uma tour no Brasil, e isso também parte de nossas vidas pessoais e comprometimento de pessoas sérias na organização e agendamento. Acredite, é mais fácil fazermos isso na Europa do que em nosso próprio país! De qualquer forma, esperamos que essa tour nacional ocorra muito em breve!
Recife Metal Law – Obrigado por ceder seu tempo e responder a nosso chamado. Deixo as últimas ‘linhas’ para suas considerações finais.
Necrogoat – Ficamos felizes por contribuir para o fim de suas ‘vidas’ de luz e paz! Metal on Metal!
Contatos: Caixa Postal 8018. Rio de Janeiro/RJ. CEP: 21.032-970.
Site: www.gravedesecrator.com
Entrevista por Chakal e Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação e V. Levi