São 21 anos dedicados ao Underground, e que culminou no lançamento de um primeiro e excelente álbum de estreia, “Prayers in Doomsday”, lançado de forma independente, mas que ganhou o apoio da Secretaria de Cultura do Ceará. Mesmo com as idas e vindas, e com uma breve mudança de nome, a Darkside continua forte, ativa e mais batalhadora do que nunca! A banda continua a divulgar o seu primeiro full lenght, mas seu fundador e único membro remanescente da formação original, o guitarrista Tales Groo, já fala num segundo álbum. Atualmente a Darkside é complementada por Marcelo Falcão (vocal), Renato Filtro (baixo) e Richardson Chaves (bateria).
Recife Metal Law – O Darkside tem 22 anos de atividades, mas apenas o guitarrista Tales Groo permanece na banda desde o seu início. Você, Tales, já chegou em algum momento cogitar parar com o Darkside? Tales Groo – Várias vezes, inclusive bem recentemente com a saída do Helder. Tem hora que é bastante frustrante ter que recomeçar de alguma forma. Vários bons músicos e grandes amigos tiveram que deixar a banda, cada um com seus motivos, e cada recomeço foi seguido de alguns dias de reflexão, se seria melhor parar ou não.
Recife Metal Law – É até justificável que haja mudanças na formação de uma banda, até mesmo numa banda como a Darkside, que tem tantos anos de atividades, mas parece que na Darkside as coisas são mais corriqueiras. Recentemente, como você mesmo citou, houve novas mudanças na formação. A que se deve toda essa rotatividade no Darkside?
Tales – Nada em especial. Antes dessa fase, que começou por volta de 2008, quando um membro saía da banda é porque geralmente estava sem perspectiva para com ela. Agora é o contrário, essas duas grandes baixas que tivemos nos últimos meses se deram porque a expectativa para com a Darkside estava ficando alta demais e os caras não estavam conseguindo se estruturar para encarar o que podíamos ter pela frente. Felizmente as mudanças de componentes hoje em dia não atrapalham tanto os trabalhos da banda. Tornou-se muito rápido e fácil substituir, mas temos que evitar que isso se banalize. Recife Metal Law – Houve um período que a banda passou a se chamar Heritage. Qual a razão para essa mudança temporária no nome da banda?
Tales – De novo, mudanças na formação. O time que gravou “Blessed by the Dark” (1996) parecia fortíssimo e estava junto há quase três anos, mas depois que se separou passamos muito tempo testando muitas formações. A estabilização veio em 1998 com a entrada de componentes da banda Sagres, que eram caras legais e talentosos, mas não havia mais a cara da Darkside. Decidimos começar com outro nome, Heritage. Com tantas mudanças da formação, a Darkside parecia que tinha perdido a identidade. A ideia era montar outra banda chamada Heritage, mas acabamos atuando na sombra da Darkside, incluindo no repertório músicas como “Fragments of Time”, “Mindstorm”, “Spiral Zone” e “Blessed by The Dark”.
Recife Metal Law – Das Demos que a banda lançou até hoje, tenho apenas a “Eclipsed Soul” (2004). Sempre adorei essa Demo, e sempre me perguntei, quando eu a ouvi, por que a banda nunca havia lançado um álbum. Oito anos separa essa Demo do álbum, mas a musicalidade da banda não fugiu daquilo que foi feito em “Eclipsed Soul”. Isso significa que o que foi feito nessa Demo era definitivamente como o Darkside deveria soar?
Tales – “Eclipsed Soul” foi concebido para ser lançado em CD, mas nenhuma gravadora se interessou e não tínhamos recursos para lançar de forma independente. Sintetiza um pouco o que a banda havia sido anteriormente, com regravações de músicas das Demos de 1991 e 1994 somadas com algo da fase Heritage.
Recife Metal Law – 21 anos separam a formação inicial do Darkside e o seu primeiro álbum, “Prayers in Doomsday”. Qual foi a sensação da banda e, principalmente, de seu fundador, Tales, ao ver esse álbum lançado?
Tales – Eu achava que “Prayers in Doomsday” poderia dar um ponto final à Darkside, já que vinha com um puta grito de missão cumprida que estava engasgado há anos. Errei de novo. “Prayers in Doomsday” é só o começo.
Recife Metal Law – Eu sei que foram muitos anos de demora, muitos anos de espera para ter esse álbum lançado, mas parece que os anos fizeram um grande bem à banda. Esse álbum é simplesmente magnífico! Um álbum que traz peso, velocidade, melodia e agressividade na medida certa. Como vocês apresentariam esse álbum ao público Headbanger?
Tales – “Escuta essa porra tomando uma cerveja, mas veja os detalhes da capa e acompanhe as letras. Não espere nenhum dedilhado, teclado ou coral, mas se quiser sair chutando tudo na sua frente, fique à vontade!”. Recife Metal Law – Existem canções nesse disco que o sintetiza, tais como “Sacrificed Parasites”, a faixa-título e a excelente “Cursed by the Dawn”, que conta com uma interpretação vocal fantástica. Seria essas músicas citadas a síntese do álbum de estreia?
Tales – Já vi essa síntese ser feita por várias outras pessoas, mas citando outros tantos pares de músicas, como “Bubonic” e “Born For War”, “Prayers in Doomsday” e “Anticitizen One”, “The Apocalypse Bell” e “Crossfire”, e combinações entre elas. É um álbum heterogêneo, mas ao mesmo tempo bem característico da nossa proposta. Eu mesmo mudo de predileção sempre que escuto, então não sei se há um senso comum sobre quais músicas o representam.
Recife Metal Law – Como já citado, a banda já tem mais de duas décadas de formação, e parece que a capa faz uma alusão a todos os anos de batalhas travadas pela Darkside. Sem que pode haver diversas interpretações para a imagem da capa, mas eu estaria certo a interpretando dessa forma?
Tales – Essa é nova! Não havia pensado nisso, mas ‘tá valendo! O artista se inspirou nas letras traduzidas para o português para compor esse cenário. Talvez mesmo elas tragam essa cargasem que eu saiba!
Recife Metal Law – Existe alguma razão para a escolha da tonalidade vermelha para a capa e contracapa? Tales – O Adriano Batista me mandou dois esboços a lápis da concepção que ele criou, para escolhermos um deles. Feito isso, outro artista (Gil Vicente) coloriu com esses tons vermelhos. Não sei se teve um motivo especial, e ficou fodaço! A opção que sobrou será usada brevemente em “The Apocalypse Bell part II” (título provisório), e aí sim será pensada para ter uma tonalidade que seja diferente de “Prayers in Doomsday”.
Recife Metal Law – “Prayers in Doomsday” foi lançado de forma independente, mas contou com o apoio da Lei de Incentivo à Cultura. Como vocês chegaram a esse apoio? É algo a se louvar, afinal o Heavy Metal dificilmente tem esse tipo de apoio.
Tales – Eu vinha participando desses editais já fazia muitos anos, para lançar o “Eclipsed Soul”, mas meus projetos nunca eram aprovados. Em 2009 fiz um bem caprichado para a Secult (Secretaria de Cultura do Estado do Ceará) que deu certo e fomos selecionados, mas não havia mais sentido lançar um disco que já tinha sido gravado há mais de cinco anos e que as pessoas que tinham gravado não estavam mais na banda. Resolvi compor um novo. Mas o que achei mais importante foi perceber que o Metal finalmente está sendo reconhecido como cultura pelo poder público no Ceará. Quando comecei a me entender como Headbanger, em 1986, nunca em meus piores pesadelos eu poderia pressupor que isso fosse acontecer.
Recife Metal Law – A banda vem trabalhando bastante o lado de divulgação de seu nome. Como vem sendo todo esse trabalho?
Tales – Afora os anúncios na revista Roadie Crew, que ainda são frutos da contrapartida do Edital da Secult, o que temos feito é publicar em nossa página no Facebook as novidades sobre a banda, os shows, a história e também as resenhas de “Prayers in Doomsday”. Mas o principal é o apoio que temos tido de amigos Bangers com enorme vocação e talento para escrever e publicar bons artigos, e incluir a Darkside neles.
Recife Metal Law – Caso eu não esteja enganado, “Prayers in Doomsday” também foi lançado no formato K-7. Isso realmente aconteceu?
Tales – Sim, lançamos apenas 50 cópias em K-7, com duas versões diferentes de capas (colorida e em preto e branco) com duas faixas bônus, ambas tiradas do álbum “Eclipsed Soul”. É um material limitado, mas que representa bem as origens da Darkside.
Recife Metal Law – Obrigado pelo tempo cedido. Creio que em breve estarei vendo o Darkside ao vivo. Certamente verei um show excelente, a julgar pelo ótimo álbum de estreia.
Tales – Darkside agradece ao Recife Metal Law e a grande força que o Valterlir Mendes tem dado ao Underground nacional. Veremo-nos em breve. Espero que seu pescoço e fígado estejam em forma! Grande abraço para os Headbangers leitores desse site!