Formada por três irmãos, Sandro Silva (guitarra), Lalo (baixo) e Denis Kreimer (bateria), a banda pernambucana Alkymenia vem ganhando bastante respaldo no meio Underground nacional. Em seu período de atividades, a banda já venceu a etapa pernambucana do W:O:A: Metal Battle, em 2009, lançou uma Demo, um EP e, recentemente, seu álbum de estreia, além de ter tocado no renomado festival Abril Pro Rock e ter feito uma turnê na Europa. A entrevista a seguir foi calcada no primeiro álbum da banda, “Dark and Nebulous”, mas outros tópicos foram comentados, como, por exemplo, a turnê na Europa.
Recife Metal Law – O Alkymenia demorou nove anos para lançar seu álbum de estreia. Qual foi o sentimento de todos na banda ao ver “Dark and Nebulous” lançado?
Lalo – Na verdade, em 2003 foi o começo de tudo literalmente; foi o início das nossas experiências musicais. Eu tinha 13 e Dennis tinha 10 anos, estávamos aprendendo a tocar. Já curtíamos Rock N’Roll, mas, claro, éramos imaturos e ousados, “duas crianças de personalidade firme que desde cedo começaram a fazer o que gostavam”. Mesmo não sendo na década de 80 ou 90 nossas dificuldades eram as mesmas, pois não tínhamos condições mínimas pra investir em equipamentos, nem suporte financeiro da família, facilidades como computador, internet... Até CDs e materiais de bandas já era bastante dificultoso para conseguirmos, imagina custear uma gravação?! (risos) Passaram alguns amigos pela formação da banda, mas eles não levavam tão à sério como nós. Com isso levamos seis anos para cair na realidade de que Alkymenia era realmente nós três. Então, mais propriamente em 2009, quando fomos escalados para participar da seletiva do W:O:A, acreditamos que nós podíamos subir no palco sozinhos e fazer o que sentíamos nas nossas veias, e depois do show com o resultado, os comentários foram de que ali estava começando uma banda nova, que era totalmente diferente do que já tínhamos feito antes com outros vocalistas, e a banda estava realmente madura. Então hoje, olhando para trás, nós podemos dizer que em 2009 foi onde nos descobrimos. Os anos anteriores nos serviram de experiências e de estudos para chegar onde estamos. O lançamento do “Dark and Nebulous” foi uma vitória para nós, pois é algo que está no nosso sangue e conseguimos escrever e lançar o que sentíamos desde moleques. Então nosso sentimento foi de realização total! Ficamos muito satisfeitos com a produção e até hoje não cansamos de ouvir! (risos)
Recife Metal Law – Esse álbum foi lançado de forma independente. A banda chegou a procurar selos para que pudessem ter um maior respaldo na divulgação desse material?
Sandro Silva – Sim, a princípio as propostas foram interessantes, porém não de forma que teríamos esse respaldo em tempo hábil e em total garantia de um trabalho firme. Então achamos melhor optar por parcerias com outros selos também independentes, sites e trocas de material, além, também, de apreciarmos muito a venda de merchandise nos shows, onde rola o contato direto com fãs, bandas e onde também se faz bastantes amigos.
Recife Metal Law – A banda faz uma mescla fulminante entre o Death e o Thrash Metal, mas é notória a influência de Black Sabbath, Pantera, Slayer, em alguns andamentos, linhas de guitarras e riffs. Em minha opinião, o Alkymenia pegou várias influências e criou um estilo bem próprio. Como foi todo o processo criativo de “Dark and Nebulous”?
Lalo – Nós gostamos muito da velha guarda do Rock N’Roll, como também somos fãs alucinados de porradas mais brutais. Para nós, compor flui naturalmente. Às vezes até passando o som antes do ensaio, enquanto estamos regulando os volumes, já surgem alguns riffs, ou umas “pancadas” do Dennis na bateria. Não é necessário forçar pra compor!
Recife Metal Law – Uma de minhas músicas preferidas desse álbum se chama “Nebulous Flash”, uma música de andamento cadenciado, com vocais demolidores, trazendo linhas de guitarras totalmente influenciadas pelo velho Heavy Metal. Acho que é uma música que sintetiza o que o ouvinte ouvirá no ‘debut’. Estou certo?
Lalo – Sim, claro! A “Nebulous Flash” é realmente uma das músicas que mais causaram nos ouvidos dos Headbangers que a ouviram. Apesar das outras músicas terem também trechos marcantes, mas acho que ela é um resumo do disco inteiro.
Recife Metal Law – Outra música que chama à atenção é “Carnal Desire”, que aos menos desavisados pode soar como o Slayer tirando um cover do Pantera ou o Pantera fazendo um cover do Slayer. Por que usar de forma tão latente riffs que lembram ambas as bandas nessa música?
Sandro – Na realidade isso não é proposital, claro que curtimos e temos o maior respeito pelas bandas citadas, porém eu tenho influências até de Hard Rock, somos METAL, mas minha essência é bluesy, isso fica nítido nos meus riffs e solos.
Recife Metal Law – Tudo nesse álbum foi feito com muito profissionalismo, começando pela arte gráfica, que ganhou um tom avermelhado escuro. A arte gráfica ficou por conta de Hugo Silva, mas qual seria a ligação entre a capa e o título do álbum?
Lalo – O disco é repleto de mensagens negativas e turbulentas do início ao fim. Tentamos ao máximo ser “curto e grosso”, expressando sobre as desgraças que andam acontecendo em volta do mundo, então precisávamos de uma arte que casasse com as temáticas nebulosas. A arte do Hugo nos surpreendeu, porque além de ter encaixado perfeitamente nas letras, ele conseguiu introduzir elementos da paisagem do interior nordestino como, por exemplo, o chão rachado.
Recife Metal Law – A produção sonora foi feita no Datribo Studio, em São Paulo, e o Alkymenia coproduziu o álbum. Qual foi a real contribuição da banda na produção desse material?
Dennis Kreimer – Além das letras e músicas, todos os arranjos foram produzidos por nós. Chegamos ao estúdio com tudo montadinho e o Ciero, que é produtor e proprietário do Datribo Studio, deu seu talento na captação, timbres e capturas de som.
Recife Metal Law – Com relação à parte lírica, a banda quis passar alguma mensagem em específico em suas letras?
Sandro – O Alkymenia não se prende a padrões ou regras, queremos mostrar toda a desgraça e inquietude em que vivemos, desmascarar as empresas manipuladoras de idiotas, a “igreja”, e apontar com dedo duro na cara de qualquer um desses problemas. O disco flerta por todos esses lados, e inspiração para isso temos de sobra. São nove faixas com bastante negatividade, usando apenas a última faixa do disco, “Asking for Silence”, como reflexão e força para enfrentar nossas “guerras” diárias.
Recife Metal Law – Após o lançamento do álbum a banda foi tocar na Europa. Como surgiu a oportunidade de tocar no Velho Mundo e quais shows foram mais marcantes para o Alkymenia?
Dennis – Já tínhamos alguns contatos por lá e com o lançamento, divulgação e distribuição do “Dark and Nebulous” facilitou ainda mais para que conseguíssemos realizar essa tour. Caímos em campo disponibilizando e fechando as datas. A ideia inicialmente seria algo bem simples, de 10 a 12 shows por alguns países, mas você fica realmente surpreso quando percebe a aceitação do público e produtores, optando por mais shows, passando um suporte para que os shows possam acontecer da melhor forma. Isso foi sem palavras. Você sair da sua zona de conforto para cair na estrada é muito recompensador. É quase impossível destacar shows que foram mais marcantes porque cada apresentação você se surpreende com a receptividade dos produtores e do público, mas, para mim, tiveram dois shows que posso falar: um na Croácia, que a galera estava ensandecida, agitando e interagindo com a banda o tempo todo e outro na Eslováquia, que ao final do show ouvimos os Bangers gritando “one more song”. Foi muito emocionante!
Recife Metal Law – Bem, a banda excursionou na Europa, mas não fez uma turnê para divulgação do álbum no Brasil. Isso significa que é mais fácil armar uma tour na Europa do que no próprio país da banda?
Dennis – A verdade é que demos prioridade a tour europeia. Dificuldades sempre existem, seja aqui no Brasil ou em outros países, mas a batalha e a vontade de fazer seu trabalho acontecer está acima dessas dificuldades! Nós já fizemos shows muito importantes em alguns estados do Brasil, mas naquele momento estávamos a mil pra cair no mundão, dar a cara a tapa e empurrar nosso ‘trampo’ nos ‘gringo’. Então, em meio as aceitações e convites, aproveitamos a primeira chance!
Recife Metal Law – A banda é formada por três irmãos, isso significa que os irmãos cresceram ouvindo músicas juntos, tem as mesmas influências musicais e resolvem mais rápidos as brigas internas, algo comum a qualquer banda?
Sandro – Sim, rola uma ótima “química” entre a gente. Somos bem parecidos em alguns aspectos, em outros temos nossas diferenças. Diferenças essas que sabemos muito bem como lidar. Lembro que quando comecei a tocar em bandas sempre levava Dennis e Lalo aos ensaios, eles eram bem pequenos, mas já adoravam música! Crescemos ouvindo músicas juntos e indo a shows que rolavam aqui na cidade. Creio que o fato de tocarmos na mesma banda nos ajudou a nos conhecermos melhor e a enfrentar várias situações de conflito em tour ou até mesmo em casa. Temos o Metal como uma filosofia de vida, um bom veículo de desenvolvimento de laços de amizade e irmandade sincera e genuína!
Recife Metal Law – A banda, em 2010, fez parte do ‘cast’ do Abril Pro Rock, inclusive gravando sua participação no festival. Vocês ainda pretendem lançar um DVD com imagens dessa participação?
Lalo – Foi uma grande honra pra gente tocar no “Abril pro Rock”. Nos divertimos bastante no show, inclusive, Dennis usou uma baqueta em chamas na música “Loser”. A galera ‘pirou’ legal com a performance, mas infelizmente não pudemos gravar essa apresentação. Nós tentamos levar uma equipe para fazer a captura do áudio e vídeo do show, mas a produção do festival não aceitou. Temos apenas alguns registros de nossas próprias câmeras. Mas continuamos com o plano de um registro ao vivo e esperamos logo em breve realizar! Sempre estamos atualizando vídeos no nosso canal do Youtube fiquem ligados: www.youtube.com/alkymeniachannel.
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação