Comecei acompanhando o BlackSkull desde a sua primeira Demo, “Face the BlackSkull”, em 2008 (sobre essa Demo, na entrevista a seguir, o baterista Lourenço Sant’Anna fala acerca de umas curiosidade sobre a mesma). Gostei, de cara, da sonoridade da banda, calcada no velho Thrash Metal. Mas com o lançamento de uma Promo em 2011, os integrantes do BlackSkull decidiram por dar uma guinada na sonoridade da banda, agora calcada no Speed Metal. Essa sonoridade está ainda mais latente no primeiro álbum de estúdio da banda, “Death Deal” (2012, Kill Again Records). Sobre o primeiro álbum e sobre um pouco da história da banda, Lourenço nos fala adiante. A banda é complementada por Fábio Bones (baixo/vocal) e Fernando Cellarius (guitarra). Recife Metal Law – O BlackSkull surgiu em 2003, porém com o nome de Intoxicated, tendo permanecido até 2008 com esse nome, quando lançaram a Demo “Face the BlackSkull”. Essa Demo tem uma sonoridade fortemente Thrash Metal, algo que mudou com o tempo. Quando o BlackSkull surgiu, das cinzas do Intoxicated, que tipo de som pretendia fazer?
Lourenço Sant’Anna - O Intoxicated foi uma banda pré-BlackSkull. Com esse nome a banda, que contava com o Fernando (guitarra), André (baixo) e Marcos (bateria), lançou duas Demos: “Speed Assault Songs” e “BlackSkull”. Em 2008 o baterista e o baixista saíram da banda para se dedicar mais aos estudos. Foi nessa época, em meados de 2008, que o Fernando me convidou para tocar no Intoxicated. Como nós queríamos dar um novo gás para banda e não gostávamos muito do nome Intoxicated, decidimos que seria legal mudar de nome. Nós reformulamos a Demo “BlackSkull”, que não havia sido divulgada, e junto ao novo baixista, Daniel, lançamos esse material sob o novo nome. Nós, de fato, mudamos a sonoridade. Queríamos soar mais como as bandas belgas de Speed Metal. Aquele som mais cru e direto, e acho que tudo isso está muito presente nos quatro sons que compõem a Demo. “Face the BlackSkull” é uma parte do refrão de uma música nossa, mas originalmente não era o nome da Demo. A Demo se chama apenas “BlackSkull” e foi lançada e distribuída dessa forma. Porém um selo colombiano, em 2009, entrou em contato para fazer uma versão em fita K-7. Quando vimos a arte que ele nos mandou vimos que ele tinha usado o refrão para dar nome a Demo.
Recife Metal Law – Da formação original, apenas o baterista Lourenço Sant’Anna resta? Mudanças na formação sempre existirão nas bandas, mas de que forma tais mudanças foram benéficas para o BlackSkull?
Lourenço – Na verdade, da formação original tem o Fernando e eu. A BlackSkull passou por mais de seis formações diferentes. Na época da Demo, o Fernando era o vocalista e guitarrista. Antes de lançar o disco nós lançamos um material promocional com duas músicas. A ideia era distribuir essa Demo entre as gravadoras e no show que faríamos no Kill Again Metal Fest. Durante as gravações mudamos de formação duas vezes. O Fernando fez todos os vocais, entretanto nós já estávamos procurando um vocalista, pois o Fernando queria ficar só nas guitarras. Um amigo nosso nos apresentou o Fábio que fez um teste e no mesmo dia já começou a gravar as vozes. Duas semanas depois ele já tinha feito toda a parte da voz. Nós estávamos sem gravadora para lançar o disco e após o Rolldão nos convidar pra tocar na primeira edição do seu festival, o Kill Again Metal Fest, nós vimos a oportunidade perfeita para mostrar o nosso trabalho. O problema é que no dia do show o nosso baixista passou mal e não pôde ir. Nós não queríamos cancelar a apresentação, pois era o dia do lançamento da nossa Promo, pegaria muito mal. Decidimos honrar o nosso compromisso e tocar. O Fábio, que não tinha nem dois meses na banda, pegou o baixo emprestado do Juan (baixista do The Force) e uma hora antes do show começou a tirar o ‘set’. Ele não sabia tocar baixo muito bem na época, mas mesmo assim encarou o desafio. As mudanças, às vezes, são inevitáveis; você tem que saber tirar o melhor de cada situação. Agora, felizmente, nós conseguimos superar esse período conturbado. Estamos com a formação há mais de dois anos.
Recife Metal Law – Após o lançamento de uma Demo (ou Promo, como queiram), em 2011, a banda assinou contrato com a Kill Again Records. Como surgiu essa oportunidade? Ser uma banda de Brasília ajudou nesse aspecto?
Lourenço – Quando começamos a gravar o disco, “Death Deal”, no meio de 2011, ainda não tínhamos um selo. Então decidimos pegar a Demo de duas músicas que estariam no álbum, “Spitfire” e “My Vengeance”, e distribuí-las entre as gravadoras, inclusive a Kill Again, na esperança de conseguir algum apoio para lançar o disco. Nessa época o Rolldão, que já era nosso amigo de longa data e tinha nos ajudado muito a divulgar a nossa primeira Demo (2008), estava pensando em fazer um festival. Ele me convidou para ajudá-lo na organização do show e perguntou se a BlackSkull poderia abrir o evento. Nós aceitamos na hora e aproveitamos que ele iria distribuir um kit para os primeiros 300 pagantes e decidimos distribuir a nossa Demo junto. Foi uma longa manhã montando 300 Demos. No hotel, as outras bandas (The Force e Corpse Grinder) nos ajudaram nessa tarefa. No fim, acho que a receptividade foi incrível. O Rolldão é meu amigo há muito tempo, nós moramos no mesmo bairro, então eu saia das gravações e sempre íamos tomar uma cerveja e comer uma pizza ao som do “Death Deal”. Ele dava os palpites dele e nós conversávamos sobre as gravações, num clima de amizade mesmo. Acho que foi muito natural ele decidir lançar o disco, porque ele participou, direta e indiretamente, de toda a confecção do disco, então, de certa forma, o fato de sermos quase vizinhos ajudou bastante.
Recife Metal Law – Quando do lançamento da Demo de 2011, vocês já estavam com todas as músicas compostas para “Death Deal”, o primeiro álbum da banda?
Lourenço – Sim, mas ainda faltavam os vocais, a mixagem e a masterização. Nós decidimos antecipar tudo para podermos lançar a Promo exatamente no dia 16, data do Kill Again Metal Fest.
Recife Metal Law – “Death Deal” é um álbum curto, com apenas oito músicas em menos de meia hora de execução. Fazer um álbum curto foi algo intencional, do tipo, “vamos ser breves e diretos”?
Lourenço – Com certeza! Discos mais longos tendem a ter muita ‘encheção’ de linguiça (músicas instrumentais, introduções longas, interlúdios intermináveis...). Queríamos apenas um disco que nos desse aquilo que quiséssemos ouvir em um tempo realmente aproveitável; que não cansasse o ouvinte em casa e pudéssemos fazer nos shows.
Recife Metal Law – Eu acompanho o BlackSkull desde o seu início e, sinceramente, gosto bastante da sonoridade da banda. Até estranhei um pouco quando ouvi a Demo de 2011, mas notei que o caminho seguido foi o certo. Como vem sendo a aceitação desse primeiro álbum da banda?
Lourenço – Se compararmos com a Demo, eu concordo que a sonoridade mudou bastante. Acho que ficamos ainda mais fascinados pela New Wave e pelo Speed Metal, e isso, misturado com influências Thrash, refletiu nas composições do disco. O disco tem sido muito bem aceito. As pessoas estranham um pouco a sonoridade. Nós optamos por deixá-lo do jeito que foi gravado. Não dobramos as guitarras e nem fizemos guitarras base no solo. Essa foi uma decisão nossa para esse disco. Como somos um ‘power trio’, queríamos que o disco, de alguma forma, refletisse isso.
Recife Metal Law – Em oito músicas contidas, fica bem difícil apontar esta ou aquela música como a melhor, mas gostei bastante de “Spitfire” e “In the Line of Destruction”, que tendem para algo mais Thrash Metal. Vocês tinham essa intenção de manter os resquícios do Thrash Metal na sonoridade da banda, uma vez que muitas músicas atuais seguem mais o lado Speed/Heavy Metal?
Lourenço – A “In the Line of Destruction”, assim como a “Rush to Hell”, são músicas da época da primeira Demo, quando a banda ainda se chamava Intoxicated. Por isso elas soam bem diferentes, porque foram feitas em outra época da banda. A Spitfire foi a última música que fizemos e acho que ela sintetizou toda fúria que nós queríamos mostrar no disco e ela acabou se tornando a minha favorita também.
Recife Metal Law – Uma das bandas que exercem influência na sonoridade do BlackSkull é o Motörhead, mas em algumas passagens o velho Anthrax também se mostra presente como influência, principalmente no que diz respeito às melodias vocais de Fábio Bones. Como vocês inseriram tais influências na sonoridade da banda para que não soassem como uma mera cópia dos grandes nomes do Metal mundial?
Lourenço – Quando as pessoas comentam sobre o nosso som, eu sempre noto uma dificuldade em rotulá-lo. É Metal tradicional. Todas as nossas influências, enquanto Headbangers apaixonados, estão diluídas no disco. É uma mistura de tudo que a gente gosta e muitas coisas apareceram naturalmente. Nós não decidimos parecer com essa ou com aquela banda, como muitas bandas fazem. Orgulham-se em ser uma cópia genérica de um disco ou de uma banda. Talvez, no máximo, nós tivéssemos a certeza de como não gostaríamos de parecer. Queríamos soar Metal, que é o que a gente ama, independente de ser Thrash, Speed ou Heavy Metal.
Recife Metal Law – Assim como na primeira Demo, nesse disco encontramos uma música em português: “Demônio das Ruas”. Por qual razão vocês decidiram compor uma música em português para “Death Deal”?
Lourenço – Sempre tivemos vontade de cantar em português. Somos apaixonados pela Dorsal Atlântica, Azul Limão e muitas outras bandas brasileiras que cantam na nossa língua. Na Demo tivemos a ideia de fazer a “Cérebro Metálico” e no disco a “Demônio das Ruas”. Acho que isso sempre vai acontecer, sempre vamos ter uma música em português nos nossos discos.
Recife Metal Law – Ainda sobre essa música, Fernando Cellarius foi o responsável por seus vocais. Eles até que não diferem tanto dos vocais de Fábio Bones. Levando-se isso em conta, então por que Fábio também não assumiu os vocais nessa música?
Lourenço – O Fernando foi o primeiro vocalista da BlackSkull, então nós queríamos que ele cantasse alguma coisa. Ele já tinha gravado todos os vocais, quando decidimos chamar o Fábio para tocar com a gente. Então, em consenso, achamos que seria legal que ele cantasse alguma coisa. A música “Demônio das Ruas” significa muito pra gente. Ela foi composta em homenagem a um produtor e amigo, Anderson, que faleceu no Espírito Santo durante a turnê da Demo, em 2009. Foi um momento terrível nas nossas vidas, estávamos todos juntos na praia e, de repente, o mar ficou bastante agitado e o nosso amigo acabou se afogando. Aquilo foi terrível para todos nós e, dois dias antes, durante o show, tocamos essa música e ele tinha gostado muito. Na época nem tinha letra ainda. Depois fizemos essa letra para homenageá-lo. E o disco é dedicado a ele.
Recife Metal Law – A capa, a cargo de Diego Moscardini, ficou maravilhosa. De quem foi o conceito para a capa, apenas do Diego?
Lourenço – Uma pancada na orelha era isso o que nós queríamos. Então, após um dia de gravação, eu peguei a guitarra como se fosse um taco de baseball. Todos gostaram e assim surgiu o conceito inicial. Uma semana depois eu me reuni com o Diego e contei para ele o que queríamos. Uma caveira dando uma guitarrada em alguém. Ele foi, e com muita criatividade elaborou essa capa.
Recife Metal Law – “Death Deal” completou um ano de lançamento em dezembro/2013. A banda já vem trabalhando em novas músicas? Quais são os seus próximos planos?
Lourenço – Foi um ano muito incrível. Tocamos bastante e o disco tem rodado muito, em todos os lugares. Estamos muito ansiosos para gravar novamente, mas as composições ainda estão bem no início. Acho que antes de lançar algo novo, nós vamos tocar no maior número de lugares que conseguirmos. Talvez fazer alguma turnê pelo Nordeste do país... Vemo-nos na estrada!
Contato: A/C Lourenço Sant’Anna. QNP 14, Conjunto “B”, Casa 10, Setor P. Sul. Ceilândia/DF. CEP: 72.231-402.
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Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação e Hélio Campos