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Entrevistas

ALTERA O
TAMANHO DA LETRA
 

Recife Metal Law - O seu portal de informação!

 

M26



Quando começou, nos anos 90, a banda M26 destilava tão somente um Hardcore furioso e direto. Durou pouco dessa maneira. O então vocalista Ronaldo Campello, em meados da década, remodelou a formação, chamando o guitarrista Alexandre Fernandes, o baterista Gabriel Porto e o baixista André Lisboa. Lançaram a Demo “Outubro”, que espalhou solidamente o nome do grupo pelo Underground; após, seguindo o que se fazia no Black e Doom Metal mundial, testaram a soprano Carla Domingues, que acabou ficando, e gravaram “Sentimentos Sombrios”, com dois sons que já mostravam os novos rumos do som da banda: Dark Metal. Material editado na Europa, aliás. Após, duas baixas na formação: Ronaldo e Alexandre deixam a banda; em seus lugares, Jean Gularte (vocal) e Vitor Neves (guitarra) assumem. Lançam o EP “Solidão”. Com uma mudança de cidade, André também deixa a banda, sendo substituído por Patrícia Porto (baixo). Pouco tempo depois, a banda entra em hiato. Pois em 2012, o agora sexteto Jean, Carla, Gabriel, André, Patrícia e Bruno Añaña (guitarra – o neófito da tropa) decide retomar as atividades da banda, lançando o espetacular álbum “Misantropia” em 2014, e fazendo um show histórico no não menos histórico festival Hell Underground. Ah, e o nome “M26”? Não tem um significado específico. Como falava André: “Quer dizer apenas quatro pessoas querendo fazer música”. E ele é quem nos conta mais sobre o disco, o show de lançamento e a trajetória do grupo.

Recife Metal Law – O CD tinha tudo para sair uma colcha de retalhos. Como saiu tão homogêneo?
André Lisboa –
Começamos a gravar esse CD há mais de dez anos, então pegamos o que deu para aproveitar. Retalhos mesmo, gravamos em vários lugares. Esse ano começamos a fazer a mixagem do CD, pegamos tudo o que dava para aproveitar das gravações antigas, que acabaram sendo a bateria, o meu baixo e grande parte dos vocais; o resto nós refizemos. O meu baixo deixei como estava, a bateria só mexemos alguma coisa nos timbres. Aliás, um grande trabalho do Bruno.

Recife Metal Law – Considerando as gravações em épocas e locais diferentes, masterização e mixagem com mérito total do Bruno?
André –
É. A primeira parte do trabalho foi pegar todos esses “retalhos” e converter para o mesmo formato, deixar tudo no padrão certo para o programa que ele usaria para fazer a mixagem. Feito isso, gravamos o que faltava: o baixo da Patrícia, ela faz o mais grave e eu faço o mais agudo, cheio de efeitos; a guitarra nós fizemos em fevereiro desse ano, no estúdio Bokada, do Marcelo Rubira. Eu e o Bruno fomos de manhã e ficamos até o início da noite. O que deve ter dado bastante trabalho foram os vocais, gravados em lugares diferentes.

Recife Metal Law – “Entre As Ruínas do Caos” é a melhor do disco para mim. Qual tua faixa favorita?
André –
“Entre As Ruínas do Caos” é o ‘hit’ da banda, já é um clássico do Metal gaúcho. Todo mundo conhece, provavelmente é a da M26 que o público mais gosta, pelo que ouço falar. Ela realmente foi uma das melhores do CD, mas para mim a melhor é “Misantropia”, por causa da inclusão do acordeom. Eu achei surpreendente o trabalho que o cara fez, é uma música mais nova. Se eu tivesse que escolher, seria “Misantropia”.

Recife Metal Law – Como aconteceu a participação de Mano Junior (N.E.: músico tradicionalista que gravou a gaita em “Misantropia”)
André –
Já tínhamos ideia de colocar acordeom nessa música, e já tínhamos feito um esboço através de teclado e programas de computador. Quando estávamos trabalhando na gravação e na mixagem, percebemos que o negócio seria chamar alguém para gravar esse acordeom para ficar uma coisa orgânica, de verdade, nada de sintetizado. O Bruno conheceu o Mano Junior através de um colega do curso de ProduçãoFonográfica, viu que o cara é um baita dum gaiteiro, toca muito, e costuma fazer esse trabalho de free-lancer, grava com vários artistas, então contratamos. Foi uma experiência maravilhosa, o cara é um músico fora de série. Ter participado dessa gravação com o Mano Junior para mim e para o Bruno foi uma verdadeira aula de música. A capacidade de improvisação, o entendimento musical, ele sabe as notas que estão ali, ele ouve uma vez a já sai tocando, não precisa dizer nada.

Recife Metal Law – E é bem jovem.
André –
Bem jovem, um guri, e o cara é excelente. Ouviu uma vez, fez uma passagem para nós vermos se gostávamos do que ele criava, e na segunda vez já era valendo. Gravou tudo de primeira. Ele às vezes dava opções: “posso fazer isso, posso fazer assim, o que vocês acham melho
r?”, e acabou tendo acordeom em mais partes da música que não teriam.

Recife Metal Law – Concepção de capa e encarte.
André –
Conversamos dentro da banda e fomos lançando ideias, principalmente eu, a Patrícia e a Carla. Pensei que tínhamos que fazer um trabalho original, e como tenho muitos amigos artistas, fotógrafos, maquiadores, resolvemos fazer um ensaio fotográfico baseado nas ideias da capa. Chamei o fotógrafo Gustavo Vara, um grande profissional, acostumado a trabalhar com bandas (já fez shows do Black Sabbath, Motörhead, Black Label Society, etc.) e do ramo da moda, e com ele veio a Paula Salagnac, que tem um brechó, trabalha com figurino, e fez isso para nossa personagem. Então chamamos a Luana Quevedo (namorada de André Lisboa) para ser a modelo, que é uma pessoa que já tinha por perto para poder discutir a respeito. Foram umas reuniões na minha casa, provas de figurino, de maquiagem. A maquiadora foi Nany Yates (vocalista do Trail Of Sins), profissional disso e de cabelo. Pegamos referências de filmes sobre mortos-vivos, mundo decadente, coisas do tipo; é o conceito para capa, a misantropia da pessoa que se afastou da vida em sociedade para morar num lugar abandonado e deserto, porque não suportava mais a pressão da vida assim, e enlouqueceu. Há duas coisas que estão nas letras do CD, a loucura e a melancolia. Por isso ela está com roupas masculinizadas e sujas. Quisemos fugir da beleza gótica, clean, bonitinha; então ela usa maquiagem mais feia, mais suja, com hematomas e cortes.

Recife Metal Law – Que passagem das letras de chamam mais atenção no disco?
André –
Gosto das letras como um todo, são muitas pessoas escrevendo, conseguimos ter alguns pontos em comum. Vem do tempo do Ronaldo (Campello – ex-vocalista e membro fundador), o cara escreve muito bem, e procuramos respeitar esse estilo que ele criou dentro da M26. “Misantropia” virou título do CD por englobar sentimentos como solidão, essa coisa de ruín
as, tristeza, melancolia, loucura, caos.

Recife Metal Law – Como anda a resposta ao álbum?
André –
Tenho escutado boas críticas. O pessoal tem escutado o CD, tem elogiado a parte gráfica e a parte técnica também. É legal, precisávamos que essas músicas pudessem ser apresentadas com um resultado legal, uma coisa que desse vontade de parar e escutar. Nunca tivemos uma qualidade de som que temos nesse CD. Quem já conhecia nosso som fala que, realmente, é um material que engloba toda história da banda. Quase 20 anos estão condensados nesse disco, é nosso registro definitivo.

Recife Metal Law – O lançamento do álbum foi no retorno do festival Hell Underground. O que foi aquilo...
André –
Foi incrível em todos os sentidos, porque a cena Metal pelotense em 2014 começava a dar sinais de decadência em relação aos dois últimos anos, os shows começavam a ter menos público, estávamos meio preocupados, alguns eventos não estavam dando certo em Pelotas em termos de lotação, mas confiávamos que com a M26, com a volta da banda, muita gente que não ia mais a festivais apareceria, e foi o que aconteceu. Reuniu pessoas que andavam conosco, que iam aos shows, há mais de 10 anos atrás. Veio gente de outras cidades, de outros estados, e foi muito legal. O clima do evento, o que a banda transmite, tudo convergiu naquele momento. Foi na zona do Porto, que tem essa coisa de Pelotas vista como a ‘dark city’, obscura, sombria, cinzenta, na região com seus esqueletos de fábricas antigas. Tudo combinou para que esse clima estivesse presente no lugar, todo mundo sentiu isso na pele... Como disse o Aroldo (Garcia – ex-vocal do Aphelion), o ar tinha cheiro de naftalina.

Recife Metal Law – Como foi tocar com o Alexandre Fernandes de novo?
André –
Nostalgia pura! É um dos guitarristas que mais admiro no mundo. É Dave Mustaine, Chuck Schuldiner e Alexandre Fernandes. Pô, crescemos juntos, tocando no início da banda, eu pude ver a evolução dele como guitarrista... O cara é fantástico! Criamos junto a base da M26, desde o início. Foi muito legal ele participar dessa festa e tocar as músicas antigas, que ele ajudou a compor. Pux
a, nós nos ajudando a lembrar as músicas, coisas de 15 anos atrás, demos uma escutada antes e saiu. Fizemos só dois ensaios antes do show.

Recife Metal Law – Como entraste na M26?
André –
Entrei na banda quando a primeira M26 (N.E.: que tinha uma linha mais Hardcore, ficando o vocalista Ronaldo Campello com o nome da banda) se desfez, e aí o Ronaldo queria dar continuidade, e chamou o Gabriel para tocar bateria e o Alexandre para tocar guitarra. Eles procuravam um baixista, na época eu era dono do Bar Ará, e me chamaram para tocar com eles. Fui, fiz um ensaio, e entrei.

Recife Metal Law – O Ronaldo já queria um som mais Death/Black?
André –
Já queria, e as nossas influências eram Thrash, Death, Black Metal, Doom, e cada um trouxe o que gostava e não quisemos limitar o estilo da banda. Fomos compondo e vendo o que saía.

Recife Metal Law – Lembrança
s da gravação da Demo “Outubro”?
André –
Eu me lembro que... (gargalhadas) Não tínhamos muita experiência com estúdio, e o que mais lembro foi da hora que fui gravar o baixo, entrei na sala de gravação, liguei o equipamento, afinei o baixo, deixei tudo prontinho, olhei pelo vidro para ver onde estava o Mandeco (N.E.: Hélio Mandeco, produtor musical dono do Estúdio Digital) para apertar o ‘play’ e começar a gravar. Olhei e não tinha ninguém na sala técnica, e pensei: “Ué, me abandonaram sozinho”. Daí eu saio e começo a procurar onde está o pessoal todo... Estava todo mundo no pátio fumando maconha. (gargalhadas gerais) Inclusive o Mandeco. O que eu fiz? Juntei-me e fui fumar com eles. Então a gravação aconteceu bem natural.

Recife Metal Law – E sobre a Demo “Sentimentos Sombrios”?
André –
Foi gravada no Victor (N.E.: Estúdio Luvi, de Victor Duarte), era no bairro Simões Lopes, um estúdio mais voltado para música nativista. Ele não tinha muita experiência com Metal, mas já gravava várias bandas de Rock. Ficou bom. A “Outubro” gravamos em dois dias, mas a “Sentimentos Sombrios” já foi em várias sessões, houve um monte de instrumento
s adicionais, como flauta, violão, violino, teclado; foi uma coisa meio experimental, não tínhamos muita experiência com isso. Teve até violino desafinado que tivemos que tirar da música. A curiosidade é que gravamos quatro músicas, mas só lançamos duas.

Recife Metal Law – Quais ficaram de fora?
André –
“O Peso da Culpa” e “Tentando Sonhar”. Vamos remixar e remasterizar a Demo “Sentimentos Sombrios” com essas duas que ficaram de fora, lançando em formato EP com quatro músicas.

Recife Metal Law – Um caça-níquel?
André –
(risos) Um presente para os fãs. Passamos tudo para pro-tools, feito por Luciano Melo (Estúdio A Vapor). Ele pegou os ADATs e passou. Não vamos regravar nada, ficará tudo como estava, com os erros, quedas de andamentos, todos os problemas estarão lá. Uma coisa crua como era na época.

Recife Metal Law – O material original dessa Demo foi lançado na Europa primeiro.
André –
Sim, fizemos a arte da capa, mandei para a Hallucination, em Portugal, ele produziu o material das capas lá, era fita na época.

Recife Metal Law – E sobre a Demo “Solidão”?
André –
Ela foi lançada em 2005, e a gravação dela é a mesma do álbum “Misantropia”. A música “Solidão” do CD é a mesma que está na Demo, mas remixada, com o baixo da Patrícia e a guitarra do Bruno.

Recife Metal Law – O que determinou o retorno da banda?
André –
Em 2012 decidimos que deveríamos lançar o CD a todo custo. Fizemos um pacto para isso. Se banda iria voltar? Não sei. Se voltaríamos a fazer shows com frequência? Não sei. Vamos lançar o CD, era a nossa promessa. Então o Bruno chegou para assumir a guitarra.

Recife Metal Law – Em shows, o que aconteceu de mais memorável?
André –
No tempo de pique, no fim dos anos 90, início dos 2000, tocamos em muitos lugares. De memorável teve o de Montevidéu, com Requiem Aeternam e Khrophus, fomos de excursão de Pelotas, e estava muito frio em Montevidéu! Chegamos cedo, fizemos turismo na cidade, o local do show era incrível. Outro muito legal foi com o Incantation, em São José/SC, organizado pelo pessoal da Khrophus, que tocou conosco diversas vezes. E tem também os dois River Rock que tocamos, um deles com o Krisiun.

Recife Metal Law – O que aconteceu de curioso nesses shows?
André –
O do Incantation envolve maconha de novo, para variar. (risos) Depois da passagem de som eu saí na frente do local para tomar um ar, e aí estava um pessoal na rua, ficamos toman
do mate, até o Vitor (N.E.: Vitor Rodrigues, ex-vocal do Torture Squad) veio tomar chimarrão, e aí passou o baixista do Incantation à época, Robert Yench, e estávamos nos reunindo para fumar ‘unzinho’, e nisso o chamei para conversar, trocamos algumas palavras em inglês, perguntei como estava, o que esperava do show e tal, e ele não se ligava em nada do que eu dizia, e a única coisa que falava era: “Does anybody have marijuana?” (risos) Prontamente puxei um do bolso e falei “tá aqui, irmão, vamos lá!”. E bem na hora passou uma viatura da polícia e saiu todo mundo correndo, um para cada lado, desesperado, e os produtores pegaram o Robert, um de cada braço, e correram com ele para dentro do local.

Recife Metal Law – Os shows da M26 tinham a sina de ter interrupções: polícia, dono de bar...
André –
Felizmente, foram duas vezes em Pelotas, e quando estávamos tocando. No bar Caverna estávamos tocando, baixou a polícia no local, mandou pararmos e não teve jeito. Vizinhos reclamando e tal. E outra vez foi na Praia do Laranjal, na Cervejaria da Lagoa. Na hora do nosso show o pessoal estava numa roda de mosh, e um caiu por cima duma janela, quebrou um vidro; o dono do local estava lá presente, tomando cachaça desde meio-dia, estava bêbado e se indignou porque quebraram a janela do bar, subiu no palco com um pedaço de pau na mão, arrancou o microfone da mão do Ronaldo e fez um discurso inflamado, xingando todo mundo.

Recife Metal Law – Para fechar, como ter o material da M26?
André –
Quem não ouviu nosso CD, escute, está no Youtube na íntegra. Estamos fazendo todo o possível para que o pessoal conheça o disco, sem problema. Quem quiser comprar, o encarte está muito bonito, com as letras. Quem não tiver tempo ou grana para adquirir vá na nossa página no Facebook e escute o CD inteiro, estaremos disponibilizando a pasta para o pessoal que quiser baixar em MP3 para escutar no celular ou em casa. Nosso objetivo é chegar o mais longe possível com a nossa música.

E-mail: [email protected]

Entrevista por Luiz Teixeira
Fotos: Divulgação,
Vampy Eichmann, Alceu Amaral e Thaynã Farias
 
 
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