O Hostile Inc. surgiu no ano de 1996, e sua primeira influência foi o Thrash e o Death Metal, estilos que ainda hoje existem na sonoridade da banda, que caminha pra um som mais melódico e cheio de arranjos. Com 13 anos de atividade, a banda já lançou duas Demos, e no ano passado colocou, de forma independente, no meio Heavy Metal seu primeiro álbum, “Qiyamat”. Esse trabalho mostra uma sonoridade complexa, porém cativante, mostrando influências que vão do Heavy Metal Tradicional, passando pelo Death Metal, muitas melodias, até passagens que remetem ao Dimmu Borgir e Cradle of Filth. A atual formação da banda é Marcísio “Mac” Coelho (vocal), Junior Maia e Yuri Leite (guitarras), Adriano Abreu (baixo), Nathiel Silva (teclados) e Saulo Oliveira (bateria).
Recife Metal Law – O Hostile Inc. surgiu em 1996, porém só depois de oito anos, em 2004, lançou seu primeiro trabalho, o single “Each One’s Dante’s”. Por que tanta demora em lançar o primeiro registro fonográfico?
Adriano Abreu – Na verdade nós chegamos a lançar, em 1998, uma Demo em fita k-7, a famosa Demo-Tape, intitulada “Give ‘em What They Want”. Após isso produzimos Demos não oficiais com pedaços de gravações do que viria a ser “Qiyamat”, nosso ‘debut’ álbum. Quanto a “Each One’s Dante’s”, esse seria o título do nosso ‘debut’ (havia sido escolhido há vários anos), até nos depararmos com o CD do Sepultura, “Dante XXI”, e resolvermos mudar. Bom, a demora se deu devido, principalmente, à falta de grana. Sempre que terminávamos uma etapa da produção do disco (gravação, mixagem, master, prensagem), tínhamos que parar até arrecadar grana para a fase seguinte. O lado bom dessa demora toda foi o nosso amadurecimento musical (ecletismo e técnica) e profissional (experiência), já que, durante esses anos, nunca paramos nossas atividades (ensaios, shows, composições).
Recife Metal Law – No início a banda fazia uma sonoridade mais crua e direta, porém com o passar do tempo a banda foi evoluindo e hoje pratica um som mais técnico e cheio de melodias. Isso foi proposital?
Adriano – Impossível! Não haveria como prever uma mudança tão brusca! Se você ouvisse “Give ‘em What They Want”, jamais diria que éramos nós fazendo aquele som. O que aconteceu foi uma mudança natural em termos gerais. Quando a banda começou éramos ‘metaleiros radicais’, e só queríamos ser o Sepultura ou o Slayer! (risos) Com o passar do tempo começamos a fazer as coisas de maneira mais própria, sem nunca negar nossas influências, porém com mais elementos incorporados de cada membro da banda.
Recife Metal Law – O guitarrista Franzé Ramos foi um dos idealizadores da banda, porém, após a gravação do primeiro álbum, saiu. O que aconteceu para um dos idealizadores sair da banda?
Adriano – Primeiramente vale ressaltar que no Hostile Inc. um idealizador é exatamente igual a um membro que tenha entrado posteriormente. O que ocorre é que se qualquer um de nós não puder prosseguir por qualquer motivo que seja, esse alguém não continuará na banda. E foi o que aconteceu com o Franzé. Logo após o lançamento de “Qiyamat”, naturalmente, o nível de exigência passou a ser maior. Como, infelizmente, ainda não vivemos da banda, o Franzé se viu num momento em que teve que fazer uma escolha. Escolha essa que culminou na sua saída da banda de forma bastante amigável, diga-se de passagem. Amigável, pois ele tinha a plena consciência de que não mais possuía a disponibilidade exigida pelo momento em que a banda vivia (e vive).
Recife Metal Law – “Qyamat” é o primeiro full length do Hostile Inc. Como foi todo o processo criativo desse primeiro álbum? De que forma a banda trabalhou, tanto nas músicas como nas letras?
Adriano – O fato é que o Hostile Inc. é um grupo de seis pessoas, cada uma com suas particularidades e influências sonoras, que não são barradas durante as composições. Resumindo, o processo criativo sempre foi bastante democrático. Quanto às letras, elas quase sempre ficam a cargo do nosso vocalista Mac Coelho. Somos adeptos do dito: “cada macaco no seu galho”. (risos)
Recife Metal Law – E o que a banda procura transmitir com a temática lírica contida nesse álbum?
Marcísio “Mac” Coelho – Eu procuro abordar temas que sempre existiram e sempre foram tidos como sinais do fim dos tempos, como guerras, fanatismo religioso, hipocrisia, repressão, alienação, traição e loucura, daí vem o nome “Qiyamat”.
Recife Metal Law – Já que foi falado sobre o título do álbum, ele é bem curioso. O que quer dizer “Qiyamat”?
Mac – “Qyiamat” é o nome do último livro do Alcorão, que trata do fim dos tempos, mais ou menos como o Apocalipse da Bíblia, mas com suas peculiaridades. O disco tem até uma música mais diretamente ligada a isso (“Final Judgement”).
Recife Metal Law – A capa do álbum traz diversos detalhes, porém os mais perceptíveis são a caveira, óbvio, uma rosa branca ensangüentada em seu interior, e uma porta logo atrás. Qual o significado dessa capa?
Adriano – O conjunto remete à idéia do fim (caveira), não necessariamente da vida (rosa), mas de tudo, e quer nos fazer refletir sobre nossas ações, que, segundo se diz nas mais variadas crenças, determinarão o destino incerto que nos espera (porta) após este fim, que pode ser trágico, ou não!
Recife Metal Law – Uma das músicas contidas nesse álbum recebe o título de “Alea Jacta Est”. Há alguma ligação com o disco homônimo da Dorsal Atlântica ou esse título em latim tem ligação apenas com a letra da música?
Adriano – Não, não! Eu particularmente sempre curti Dorsal, mas o título não foi influenciado por Carlos “Vândalo” e Cia. (Foi por isso que mudamos o nome de “Each One’s Dante’s”. Sabíamos que iam relacionar ao Sepultura. É raro, mas ainda perguntam se o Hostile é devido à música “Fucking Hostile” do Pantera).
Recife Metal Law – A música “In Vitro” destoa um pouco de tudo que foi apresentado no álbum de estréia, vindo mais agressiva e pendendo pro Thrash Metal. Por que colocar uma música com essas características nesse álbum?
Adriano – Porque na nossa visão, ela se encaixa no contexto de “Qiyamat”, mesmo concordando quando você diz que “In Vitro” é a mais agressiva. Outro diferencial dela, em relação às demais, são seus míseros dois minutos e dezesseis segundos. Mas é notável o quanto o clima sombrio no trecho instrumental, após o segundo refrão, é totalmente “Qiyamat”. Enfim, colocamos a música porque queríamos ser curtos e grossos naquele momento. (risos)
Recife Metal Law – Já “Sheep and Wolves” apresenta uma passagem de teclado de música clássica, lembrando Mozart, Vivaldi e afins. Essa música é toda de autoria própria ou a parte de música clássica foi retirada de alguma música composta por algum compositor clássico?
Adriano – Essa é a famosa música tema do filme “Love Story”, composta por Francis Lai, compositor Francês ganhador do Oscar em 1970 graças a esse tema. Colocamos essa música incidental por motivo meramente musical, pois ela encaixou muito bem com a harmonia e melodia que a antecedem. Pode crer que não estamos falando de uma história de amor em “Sheep and Wolves”. (risos)
Recife Metal Law – As músicas contidas nesse álbum apresentam uma enorme técnica de todos os músicos. Todos os integrantes do Hostile Inc. estudam música, para assim aplicar seus conhecimentos nas composições?
Adriano – Coincidentemente comecei a estudar música na Universidade Federal do Ceará a apenas um ano, mas profissionalmente sou bancário. Temos também um publicitário/diretor de arte (Mac), um futuro biólogo (Nathiel), um empresário (Saulo), um informata (Yuri) e um estudante de turismo (Júnior Maia). Tudo a ver, hein?! (risos) Realmente somos um tanto apreciadores de uma sonoridade mais elaborada aliada ao peso do Metal, porém nosso conhecimento musical é basicamente autodidata.
Recife Metal Law – Esse álbum foi lançado de forma independente. Isso foi uma escolha de vocês ou não houve interesse por parte das gravadoras?
Adriano – As duas coisas! (risos) Escolhemos dessa forma por não termos tido retorno de nenhuma das gravadoras para as quais enviamos material em busca de parcerias. O lado positivo disso é que acabamos conseguindo lidar com as adversidades, fazendo as coisas acontecerem de forma independente. Continuaremos trabalhando duro na esperança de conseguir o apoio de selos ou gravadoras, principalmente quanto à distribuição do material. Esse é o verdadeiro ‘pulo do gato’ para que um trabalho independente de qualidade aconteça num país de proporções continentais como o nosso. A internet tem nos ajudado bastante na divulgação do “Qiyamat”, mas o status de banda independente ainda é visto com certo preconceito pelos grandes produtores musicais (promotores de grandes eventos, selos, gravadoras).
Recife Metal Law – Já que o álbum foi lançado de forma independente, como vocês estão trabalhando na divulgação do mesmo? Estão tendo algum suporte na parte da divulgação?
Adriano – Como dito anteriormente, a internet tem sido nosso principal veículo de divulgação. Temos o www.myspace.com/hostileincband, nosso site oficial www.hostileinc.net e uma comunidade no Orkut chamada “Hostile Inc.”, Graças à internet ultrapassamos as fronteiras do nosso país e temos sido muito bem recebidos virtualmente por quem nos houve. Mas continuaremos na luta para que um dia possamos romper essas barreiras, não apenas virtualmente, mas também fisicamente. O suporte que temos recebido é de sites especializados no ramo, como vocês. Temos material (resenha do CD, resenha de shows, entrevistas) publicado em vários. É relevante dizer que se não fosse à iniciativa de todos vocês o Metal nacional não teria chegado ao patamar em que se encontra hoje que, por mais que reclamemos, já evoluiu bastante.
Recife Metal Law – Muito obrigado pelo tempo cedido. Fique à vontade para fazer suas considerações finais...
Adriano – Nós é que agradecemos a oportunidade de ter nosso trabalho divulgado no Recife Metal Law. Esperamos estar em breve em terras Pernambucanas fazendo muito Metal. Aos que ainda não conhecem nosso som, basta acessar os endereços acima citados e baixar nosso som. Aproveito pra dizer também que logo mais estaremos em turnê de divulgação de “Qiyamat” e esperamos ver todos vocês nos shows! Stay Hostile you all!
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação