O Kappa Crucis surgiu como tantas outras bandas, inicialmente fazendo versões de clássicos do Rock e Heavy Metal. Apesar de sua longa jornada – tendo em vista ter surgido em 1990 – a banda não tem muitos álbuns lançados, e existem longos tempos entre um lançamento e outro. Isso não significa que a banda não seja ativa, já que durante o seu período de atividades sempre se manteve lançando Demos e, no seu currículo, dois full lenghts, sendo o mais recente “Rocks”, lançado agora em 2014, de forma independente. Na entrevista a seguir o baterista/vocalista Fábio Dória nos fala sobre a história da banda, lançamentos e o novo disco. A formação do Kappa Crucis é complementada por Gerson Fischer (vocal/guitarra), Ricardo Tramontin (baixo/vocal) e Alex Stefanovitch (teclados/vocal). Recife Metal Law – O Kappa Crucis surgiu em 1990, mas só em 1999 lançou sua primeira Demo e apenas em 2009 lançou seu álbum de estreia. O que aconteceu para que houvesse tal longo espaçamento de tempo para que a banda lançasse seus materiais fonográficos?
Fábio Dória – Salve leitores, amigos e equipe do Recife Metal Law! Começamos no início da década de 1990, fazendo versões de clássicos de grandes nomes do Heavy/Rock. Em seguida, num processo natural, começamos a compor, lançamos Demos e procuramos pela formação ideal da banda, nos membros e nos instrumentos. Isso levou algum tempo. Com a formação ideal iniciamos o trabalho para registrar nossas músicas em um álbum completo. O tempo realmente passou, mas para nós foi um processo natural, pois sempre fizemos o que gostamos, com muito sentimento e compromisso com o verdadeiro Rock. Antes do primeiro disco não tínhamos pressão nenhuma em lançar um álbum completo.
Recife Metal Law – A banda, em seu início, fazia versões para clássicos de nomes como Deep Purple, Black Sabbath, Uriah Heep, o que de certa forma influenciou nas músicas próprias. Os anos 1990 não foi nada fácil para o Heavy Metal em geral e até mesmo para o Hard Rock. Então como foi enveredar, naquela época, por caminhos tão tortuosos?
Fábio – A escolha das músicas e das bandas para serem homenageadas pelas nossas versões naquela época foi muito natural. Foram músicas e bandas que ouvíamos. Não houve uma proposta forçada em fazer algo voltado para mercado, para algum estilo, etc. E, dessa forma, apesar da crise no Rock Pesado dos anos 1990, não sentimos isso diretamente, pois em primeiro lugar estava a nossa satisfação com o que fazíamos. Creio que um dos princípios para se estar em uma banda é fazer o que gosta. Isso já é um grande caminho andado para a satisfação musical.
Recife Metal Law – Da formação original apenas dois integrantes estão desde o início, Fábio Dória e Gerson Fischer, e ambos são responsáveis por criar as músicas e letras da banda. Como a banda faz um som calcado nos clássicos da década de 1970, ter os integrantes mais antigos compondo é a coisa certa a fazer?
Fábio – Todos têm liberdade para compor. E os membros de hoje são os mesmos que gravaram “Rocks” e o disco anterior, “Jewel Box”. Não há imposição sobre quem tenha que compor ou não. Ricardo compôs duas músicas no disco anterior e preferiu confiar em mim e no Gerson para este disco. Da mesma forma, Alex confia em nós. Claro que como eu e o Gerson somos, hoje em dia, o núcleo principal de composição, as autorias dos outros estão sujeitas à audição ou pequenos ajustes de nossa parte. Mas creio que todos sabem bem o caminho a seguir.
Recife Metal Law – “Jewel Box” foi o primeiro full lenght do Kappa Crucis, tendo grande respaldo junto à mídia especializada. Mas como foi a aceitação desse álbum junto ao público fã de Rock Pesado, ainda mais em tempos onde tudo é tão descartável?
Fábio – Nós somos muito gratos às palavras positivas expressadas pelas pessoas, tanto em “Jewel Box” como em “Rocks”. A aceitação de “Rocks” tem sido boa e de uma maneira gradativa. Temos a noção de que não fazemos música comercial ou pop. E que mesmo em nosso meio fazemos algo diferente da maioria. Por isso temos consciência de que cada pessoa, um por um, que se manifeste positivamente sobre nós, vale muito.
Recife Metal Law – E quais foram as principais portas que esse álbum de estreia abriu?
Fábio – Como disse, até o álbum de estreia não tínhamos pressão sobre nosso trabalho. Com “Jewel Box” demos nossa cara à tapa e encerramos a fase inicial de banda de tributos, em seguida de banda de Demos, etc. Começamos a escrever um novo capítulo em nossa história e para se chegar até ele foi um caminho árduo, mas muito satisfatório. Tornamos nosso trabalho mais conhecido e sabemos que a cobrança sobre nós passou a ser bem maior. Não podemos mais ter uma banda e só viver do passado ou deixar de lançar algo novo. Temos que ter um ritmo agora que não precisávamos antes.
Recife Metal Law – O mais recente lançamento é o álbum “Rocks”, que tem um título bem sugestivo e que casa perfeitamente com a musicalidade da banda. Sendo que não tive a oportunidade de ouvir o primeiro álbum, como vocês avaliariam esse álbum em relação ao anterior?
Fábio – O espírito que rege nosso trabalho é o mesmo. Mas sem sombra de dúvidas pudemos perceber que houve um amadurecimento geral de composições, de arranjos, de performance, de gravação, etc. Falo isso de maneira interna, de dentro para fora. Mas creio que quem ouviu os dois discos também pode perceber a diferença. Estamos muito realizados com o atual estágio da banda.
Recife Metal Law – As músicas, com certeza, agradarão aos fãs do bom e velho Heavy Rock, pois são de extremo bom gosto, com ótimas melodias e que não deixam de soar pesadas o tempo todo. Houve uma preocupação em manter a linha sonora que a banda faz desde a sua criação; de não adicionar nenhum elemento moderno à música?
Fábio – Muito obrigado por suas palavras. Isso nos dá uma grande satisfação e ajuda a fundamentar mais ainda nossa estrada. Não houve preocupação, mas apenas uma vigilância leve se o som estaria representando nosso espírito. Os elementos modernos poderiam ser bem vindos, desde que somassem ao trabalho como um todo, mas jamais descaracterizando. Mas não houve adição de nenhum elemento assim. Nosso som foi mantido intacto.
Recife Metal Law – Apesar do peso encontrado no álbum, existem momentos mais, digamos, amenos, como é o caso de “Invisible Man”. Como foi trabalhar na construção das músicas para o álbum? Mesmo sendo F. Dória e G. Fischer os responsáveis pela parte criativa do Kappa Crucis os outros dois integrantes chegaram a opinar nas composições?
Fábio – Gerson fez suas músicas e letras e depois mostrou para mim, trabalhamos mais um pouco juntos, arranjamos, etc. O mesmo foi comigo. Compus músicas e letras, mostrei ao Gerson, etc. Depois disso, já sabendo onde queríamos chegar, passamos ao Alex que deu a sua cara nos teclados e ao Ricardo que deu a sua cara nos baixos. Ouvimos suas opiniões e terminamos o trabalho. Particularmente me interesso muito pela opinião de todos, pois tem muito a acrescentar.
Recife Metal Law – A temática lírica ficou bem interessante, abordando diversos temas, porém de maneira mais pessoal. Quais são as principais influências na hora de compor as letras do Kappa Crucis?
Fábio – Fazemos letras existenciais e isso é uma parte de nosso trabalho que combina com nossa música e com um todo. Elas (as letras e as músicas) se completam e se inspiram uma na outra.
Recife Metal Law – A arte da capa de “Rocks”, de certa forma, seguiu o que foi feito em “Jewel Box”. A capa do novo álbum ilustra muito bem o seu título, mas era isso o que realmente a banda queria?
Fábio – Ficamos muito felizes com o resultado da capa. Manteve o ar de mistério, de livre interpretação e de direta conexão com as músicas a letra e o espírito da banda como um todo. Preocupo-me em lançar um disco como uma obra completa, onde tudo está interligado.
Recife Metal Law – A gravação é muito boa, porém com um aspecto que a música do Kappa Crucis pede, ou seja, soando totalmente anos 1970, soando Heavy Rock do início ao fim, como se tivesse, o álbum, sido produzido naquele período. Gravação, mixagem, produção, masterização... Foram diversas etapas, inclusive sendo a masterização sendo feita fora do país. Isso era necessário para que o resultado final fosse o que podemos ouvir em “Rocks”?
Fábio – Mais uma vez não posso deixar de dizer que suas observações nos deixam muito agradecidos. Nosso trabalho está envolto no espírito da banda e isso faz com que soe da maneira como ouviu. O fato de masterizarmos em outro país foi uma boa oportunidade que surgiu dando sequência natural às nossas intenções.
Recife Metal Law – Novamente um álbum do Kappa Crucis foi lançado de forma independente. Sabemos que não é nada fácil conseguir um selo para lançar um álbum atualmente, mas para a banda fica mais difícil pelo tipo de som que ela faz?
Fábio – Lançar algo independente é trabalhar em tudo, desde a gravação, mixagem, arte gráfica, passando pela produção e, principalmente, fazendo a distribuição e divulgação, etapas que os selos ou gravadoras fazem quando existe um contrato. Essa etapa é a diferença base. Hoje é muito difícil um contrato e sabemos que para nós isso pode ser mais ainda, pois fazemos algo diferente e que não se amolda facilmente ao que o mercado quer. Claro que não podemos ignorar a grande crise de venda de discos, o que faz com que selos e gravadoras pensem muito antes de assinar com alguém. Tempos de internet...
Recife Metal Law – Além de continuar divulgando o mais recente álbum, quais os planos da banda para esse final de 2014?
Fábio – Estamos atentos aos convites para shows ao vivo e vamos lançar um vídeo clipe oficial de uma das músicas do disco (NDE.: o clipe já foi lançado e pode ser conferido aqui). Sentaremos no final do ano e traçaremos nossos planos para 2015. Muito obrigado à vocês pela oportunidade em contar um pouco de nossa história e de nosso trabalho e um grande abraço aos amigos da Veneza Brasileira. Vamos continuar celebrando em nossa jornada pelo verdadeiro e clássico Rock!