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Entrevistas

ALTERA O
TAMANHO DA LETRA
 

Recife Metal Law - O seu portal de informação!

 

PROPHECY

 

A história do Prophecy se inicia em 1985, quando surgiu sob o nome de Bíblia Negra, e lançou uma única Demo. Depois de várias mudanças em sua formação e passar a compor em inglês, em 1988 a banda adota o atual nome, tendo lançado duas Demos: “Dusty Inheritance” (1991) e “Technics of Violence” (2001). Apesar da banda sempre contar com vários elogios e fazer grandes shows, um deles ao lado do Exodus (ainda com Paul Baloff nos vocais), não consegue estabilizar o ‘line up’, o que ocasionou uma grande demora no lançamento de seu primeiro álbum. Foram duas décadas, sim, até que o primeiro álbum fosse gravado, mas a demora foi compensada com um dos melhores lançamentos do ano passado, “Legions of Violence”, um álbum que agradará em cheio aos fãs do Thrash Metal “Bay Area” e até àqueles que não são muito afeitos ao estilo. A formação atual do Prophecy conta com o membro fundador Rogério Avlis (guitarra e vocais), Daemon Ross (guitarra), Amaury Garcia (baixo) e Gabriel Fantezza (bateria). Saibamos mais a respeito dessa banda que resistiu ao tempo e aos modismos na entrevista a seguir...

 

Recife Metal Law – O Prophecy surgiu sob o nome Bíblia Negra, em 1985, e só cinco anos depois passando a usar o nome atual. Por que a mudança de nome?

Rogério Avlis – As letras no começo do Bíblia Negra (assim como na maioria das bandas brasileiras da época) eram em português, mas com o passar do tempo vimos à necessidade de compor o material em inglês, pois é a língua dominante no Heavy Metal. Assim, começamos a compor em inglês e eu não via muito sentido em continuar com um nome em português, daí a mudança para Prophecy no final de 89, começo de 90.

 

Recife Metal Law – E como foi o período sob o nome Bíblia Negra, que chegou a lançar uma Demo em 1986?

Rogério – Apesar de todas as dificuldades, pois não havia bons instrumentos, estúdios, gravadoras, etc., aquela época era mágica, posso lhe garantir. A banda era formada por mim nos vocais, Roberto Balduíno (guitarra), Gustavo “Adramelek” (bateria) e Freddy “Punk” Hardt (baixo). Nossos ensaios eram como um show. (risos) Eram 20, 30 amigos agitando na porta da garagem da casa do Freddy. O som no começo era bem simples e tínhamos a influência de Black Sabbath e Motörhead. Então, começaram a surgir bandas de Thrash como, por exemplo, o Metallica e o Exodus, o que realmente mudou o nosso som dali pra frente. Em 1986 entramos num pequeno estúdio em nosso bairro e a dona veio perguntar o nome da banda. Quando dissemos o nome ela se recusou a gravar, pois era evangélica. Tivemos que implorar para ela deixar a banda gravar no estúdio dela. (risos) Gravamos quatro músicas que chegaram a tocar no programa “Guitarras” da Rádio Fluminense. Essa Demo foi perdida, pois emprestei a um amigo que nunca mais a devolveu, e como não a tínhamos copiado, ela se foi... (risos) Com o tempo, os outros músicos foram deixando a banda e eu assumi a guitarra e vocais (coisa que sempre quis fazer). E estou até hoje nessa banda, que hoje é como se fosse o meu filho mais velho: Sempre me dando dor de cabeça, mas é o meu orgulho. (risos)

 

Recife Metal Law – Antes do lançamento do ‘debut’ álbum, o Prophecy chegou a lançar duas Demos, “Dust Inheritance” (1991) e “Techniques of Violence” (2001), que foram muito bem recebidas por mídia especializada e público. Mesmo assim as boas críticas e os shows que a banda fez depois dos lançamentos não foram suficientes para tornar a formação duradoura, na época. O que de fato ocorria para que a banda não conseguisse ter um ‘line up’ estável?

Rogério – Ambas as Demos foram muito bem recebidas, tanto pelo público, como pela mídia especializada. A “Techniques of Violence” teve destaque na revista Rock Brigade, como uma das melhores Demos do ano. Mas o problema é que os músicos que passaram pelo Prophecy nunca levavam a banda a sério. Em minha opinião, se você não quer ter esse tipo de comprometimento, não há o porquê estar tocando numa banda, onde outras pessoas querem fazer algo realmente sério. Eu, por diversas vezes, recebi, e ainda recebo, convites para tocar em outras bandas, mas como o meu principal foco sempre foi o Prophecy, tenho sempre que recusá-los, pois eu não conseguiria dar a mesma atenção a duas bandas. Nunca estive em outra banda a não ser o Prophecy.

 

Recife Metal Law – E agora, como anda a atual formação da banda? Podemos ficar certos que os músicos que hoje estão no Prophecy estarão trabalhando a longo prazo com a banda?

Rogério – Acho que hoje atravessamos a nossa melhor fase, com uma formação estável já há algum tempo e me arrisco a dizer que essa é a melhor formação de todos os tempos. As pessoas estão realmente interessadas em levar a banda de modo mais profissional. Todos têm um grande comprometimento com o Prophecy. Essa formação, se depender de mim, não muda.

Daemon Ross – Olha, pelo menos pra mim nunca foi tão confortável estar numa banda. Já estava tudo pronto, eu só fiz uns solos, ou seja, sou só a cereja do bolo! (risos) Os caras já sabem o que querem e como a banda deve soar então meu trabalho é bem fácil. Geralmente apenas sugiro outras opções que são aceitas ou não. Sempre fui jogador de time, mas costumo caminhar na direção oposta da banda, o que deixa meus companheiros de banda bem desconfortáveis. Adoro isso. (risos) Tem partes de guitarra nesse CD que o Amaury demorou uma semana pra se acostumar. O início do solo de “When Insanity Calls” é um exemplo. Começar um solo com tantos harmônicos artificiais foi ‘loucura’ demais pra ele. Mas essa era a intenção! (risos)

 

Amaury Garcia – É verdade, Daemon trouxe elementos bem diferentes. Mas ouço os solos dele hoje e sei que ganhamos muito com a entrada dele na banda, ele não faz o óbvio e, assim, chama mais atenção.

 

Recife Metal Law – “Legions of Violence” foi lançado no ano passado, e o considero um dos melhores lançamentos de 2008. Como vem sendo a receptividade desse álbum, tanto pelo público headbanger, como pela mídia especializada?

Rogério – Obrigado pelo elogio. O álbum está sendo muito bem recebido. Todas as resenhas têm sido positivas, ganhando sempre as melhores notas nos reviews.  Acho que a nossa persistência valeu a pena, pois não medimos esforços para fazer o melhor que podíamos. Queríamos fazer uma produção que não deixasse nada a dever em relação aos lançamentos ‘gringos’ e acho que conseguimos isso. Como hoje em dia é difícil vender um CD, queríamos algo que fosse atrativo também aos olhos e tivemos uma grande preocupação com a produção do “Legions of Violence”, desde a arte da capa (feita por Celso Mathias, um dos mais conceituados artistas brasileiros), timbres, masterização, produção visual do CD, etc.

Daemon – Temos feito pelo menos uma entrevista por semana, muitos contatos via Myspace e quem compra o “Legions of Violence” sempre sai dizendo que o Metallica devia ter gravado esse CD. Então eu acho que muito bom! (risos)

Amaury – As vendagens têm sido muito boas. O CD já chegou à Europa, EUA e Japão. E sempre muito bem falado.

 

Recife Metal Law – Como vocês do Prophecy se sentiram ao finalizar as gravações desse ‘debut’ e ver o disco sendo lançado? Afinal foram mais de duas décadas até que vocês chegassem ao primeiro álbum...

Rogério – A finalização de todo o processo foi realmente gratificante. A cada etapa que terminávamos ficávamos realmente entusiasmados com o resultado do trabalho, pois víamos que estávamos dando vida a um sonho de duas décadas. (risos) Mas tudo tem a sua hora. Acho que se esse álbum fosse lançado há algum tempo atrás, não conseguiríamos a mesma repercussão de hoje. Há dez anos atrás éramos a única banda de Thrash nos shows que fazíamos, pois o que estava em alta era o Death Metal. Hoje as coisas estão melhores para o estilo. Bandas novas aparecendo todos os dias, assim como novos fãs para o estilo. Pudemos fazer também uma gravação de nível ‘gringo’, algo que há alguns anos atrás seria difícil.

Amaury – Eu fiquei muito feliz, pois já havia feito parte da banda de 1996 a 2000, e sei quão difícil foi àquela época, quando o Thrash estava em baixa. Mas sempre tocamos isso, e agora mostramos que temos integridade, nunca mudamos o som. O Iron Maiden mostrou a mesma integridade em 1976, quando pediram para que eles tocassem punk, e eles recusaram. Só que eles esperaram só quatro anos pra arrumar contrato com a EMI, nós esperamos muito mais. (risos)

Daemon: Com certeza é o melhor CD que já participei. Quero ver é o segundo!

 

Recife Metal Law – Esse disco traz músicas bem antigas, como é o caso de “Lying Prophets” (que surgiu ainda na época do Bíblia Negra, com o título de “Falsos Profetas”) e “Empty Life”, que são músicas do início do Prophecy. O intuito de colocar essas músicas no álbum foi mostrar que elas, apesar de tantos anos de compostas, ainda continuam atuais?

Rogério – Sim! Temos algumas “old ones” no álbum. A “Lying Prophets” foi composta em 1987 e fazia tempos que essa música não estava em nosso ‘set list’. Até que o antigo baixista disse que deveríamos voltar a tocá-la. Resolvi refazê-la dando uma mexida aqui e ali e hoje é uma das minhas preferidas. “Empty Life”, que foi composta em 1991, é outro exemplo de que quando a música é boa, é atemporal. Acho que músicas como “Empty Life”, “Lying Prophets” e “Legacy of Ashes”, não poderiam ficar sem uma gravação que realmente fizesse jus à música. Por isso resolvemos incluí-las no álbum, e acho que elas continuam funcionando muito bem.

Amaury – Certamente as músicas continuam atuais. Quando uma obra de arte, seja ela qual for, é boa, ela se torna atemporal. Sei que posso parecer um tanto presunçoso ao dizer isso, mas essas músicas foram gravadas porque são realmente boas. Funcionam em qualquer época.

 

Recife Metal Law – Com relação à parte lírica, há alguma preocupação da banda em passar, através de suas letras, algum tipo de mensagem aos ouvintes?

Amaury – Nós não tentamos pregar nada, mas algumas das músicas têm uma mensagem clara. “Agony Within” é contra drogas; “Paradigmatic Reality” fala sobre manipulação. Mas não somos uma banda realmente preocupada com isso. Eu não levo nenhuma ideologia a sério, então, pelo menos pra mim, fica difícil pregar alguma coisa. Simpatizo muito com o modo de pensar de algumas bandas punk britânicas, como The Exploited ou The Sex Pistols, bandas que não levavam nada a sério. A única coisa que está presente em todas as letras é a violência, seja ela física ou não. Por isso tivemos uma música chamada “Empire of Violence”; temos “The Game is Violence”; o CD se chama “Legions of Violence” e a penúltima Demo se chamava “Techniques of Violence”. Acho que dá pra ver que a gente gosta do tema. (risos)

 

Recife Metal Law – Na hora de apontar suas músicas preferidas no álbum, apenas Amaury e Daemon Ross tem o consenso de apontar a música “Risen From Hell”. Eu, na verdade, não consegui apontar uma música como sendo a melhor nesse álbum tão linear. Quais músicas estão tendo maior receptividade perante o público?

Rogério – É um álbum bem linear mesmo, no sentido de não ter aquele lance de só as primeiras serem ótimas músicas e depois só ter ‘tapa buraco’. Até com o ‘track list’ tivemos esse cuidado de separar bem as músicas, para o álbum não ficar maçante. E cada pessoa diz ter uma música que gosta mais em especial. Eu apontei a “Evilution” como a minha preferida, pois se alguém me perguntar qual a música que definiria o som do Prophecy eu a escolheria, pois acho que ela possui todos os atributos da banda: é rápida, trabalhada, vocais bem encaixados, violenta, partes mosh, etc... Em minha opinião essa é a grande diferença no som do Prophecy. Somos Thrash, mas não fazemos só músicas rápidas. As pessoas sempre vem comentar comigo que não são muito fãs do estilo, mas que gostaram muito do som do Prophecy, pois não é só aquela porrada do começo ao final. As músicas que as pessoas mais curtem, pelo que temos visto, são: “Agony Within” (que inclusive está em 14ª colocação na rádio americana The Asylum Metal Radio), “Risen From Hell”, “Evilution”, “The Game (is Violence)” e “Nameless”.

Daemon – O “Legions of Violence” é um CD dinâmico. Há canções rápidas, lentas, afinações diferentes... De fato, acho que esse é o objetivo. Parece-me como um “Powerslave” do Iron Maiden. Mesmo as músicas que não são ‘clássicos’ são bacanas e todas aparecem na hora certa. Assim você ouve do início ao fim e não percebe que acabou. Aí tem que rodar de novo. Guardadas as devidas proporções é claro. Eu ouvi o “Powerslave” trinta bilhões de vezes! (risos)

 

Recife Metal Law – Esse álbum foi lançado pelo selo Morbid Tales. Como surgiu a parceria? Ela vem sendo produtiva?

Amaury – Recebemos propostas de várias gravadoras, tanto brasileiras quanto ‘gringas’. A Morbid Tales foi escolhida porque seu dono, Joe, se mostrou extremamente honesto, então vimos que podíamos confiar nele. Quando fechamos negócio com alguém tem de haver confiança mútua. E ele tem feito muito pela banda, mandado o material pra tudo quanto é canto. Provavelmente só estamos dando essa entrevista porque ele fez com que o material chegasse a vocês. Estamos muito felizes com a parceria.

 

Recife Metal Law – O álbum, além da excelente qualidade sonora e gráfica, ainda apresenta um pôster com a capa do disco. A idéia surgiu de onde? Gravadora ou banda?

Amaury – Joe teve a idéia do pôster. Assim, o material aparece mais nas lojas. Você não pode vender alguma coisa, mesmo que seja muito boa, se não divulgar. Algumas gravadoras só lançam, mas não fazem quase nada pela banda. Joe tem pensado em diferentes formas de fazer o produto aparecer pro público, e o pôster foi uma dessas estratégias.

 

Falando sobre a capa, ela é bem violenta, e retrata bem o título do álbum. Na arte existe a figura de um headbanger, mais a frente, com camiseta do Exodus. Por muitos anos as pessoas ligaram o Heavy Metal a música violenta, e que os seus admiradores também seriam pessoas violentas. Vocês não temem que essa capa faça com que os leigos continuem fazendo essa preconceituosa associação?

Daemon – Apesar do nome da banda, não somos uma igreja. (risos) Fazemos o som pra quem gosta de Thrash e, sinceramente, os ‘leigos’ não me interessam. Se o cara ouvir o CD e curtir ótimo, senão o que posso fazer? Não estou batendo de porta em porta com o CD na mão e dizendo que sou a salvação do cara. Somos apenas uma banda. Outra coisa importante é que Heavy Metal é uma música violenta. Não adianta dizer que não. Mas o fato é que a nossa violência fica no som, no mosh, nas rodas de pogo, e nas capas. Assim conseguimos viver uma vida bem tranqüila, na maior parte do tempo, enquanto os leigos procuram outras formas de extravasar as tensões da vida. Eu prefiro deixar minha raiva no palco do que na cara de outra pessoa (na maior parte do tempo). Mas olhando essa imagem violenta pelo lado bom, tem uma vantagem que adoro: desde que deixei o cabelo crescer eu nunca fui assaltado mesmo morando no Rio de Janeiro!! Os pivetes correm de mim! Também pudera, olha como eu fiquei na capa do CD! (Muitos risos)

Amaury – Os leigos sempre vão associar o Metal à violência, porque o metal vai contra as convenções sociais. Então, os leigos sempre se assustarão, pois nos vêem como uma ameaça a sua falsa noção de moral. Mas eu gosto de ser do contra mesmo. Resumindo, os leigos que se danem! (risos)

 

Recife Metal Law – Apesar do pouco tempo de lançamento do ‘debut’ álbum, já existe a informação de que o Prophecy já tem músicas novas prontas. Elas já estão sendo tocadas ao vivo? A banda já pensa num próximo breve lançamento?

Daemon – Já estamos ensaiando as músicas novas e elas devem estar nos shows sim, mas em menor número, claro. Na verdade, algumas são ‘antigas’ que serão revitalizadas, assim como aconteceu no “Legions of Violence”, e outras completamente inéditas. O fato de não ter parado de tocar todos esses anos, mesmo sem formação pra gravar, deixou o Rogério com muito material, e o Amaury também está carregado de idéias. O problema é tempo pra trabalhar...

Amaury: Já temos umas cinco músicas prontas e idéias pra fazer mais umas sete ou oito. Ou seja, dá pra guardar material até pro terceiro CD. Demoramos tanto tempo pra lançar o ‘debut’, mas agora queremos correr atrás do prejuízo. (risos)

 

Recife Metal Law – Com relação aos shows, existe a possibilidade da banda abranger mais estados (ou até mesmo países) com suas apresentações?

Daemon – Possibilidade existe sim, mas depende mais dos produtores locais do que da gente. Tenho conversado com alguns amigos que me disseram que o nordeste é ótimo, então estou louco pra rodar esse Brasil maravilhoso.

 

Recife Metal Law – Agradeço pelo tempo cedido. Espaço aberto para considerações finais...

Rogério – Nós é que agradecemos pela entrevista e espero que tenham curtido o álbum e, mais uma vez, obrigado por cederem esse espaço ao Prophecy. Cheers!!!!!!

Daemon – Se nos encontrarmos por aí preparem seus pescoços!!! Obrigado pelo espaço!

Amaury – Thrash ‘til death, you bleeding bastards!!!!!!! Valeu pela força!!!

 

Site: www.prophecythrash.com / www.myspace.com/prophecythrash

 

Entrevista por Valterlir Mendes

Fotos: Divulgação

 
 
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