Quando o Metal está no sangue, difícil é “se livrar” dele. O Higher é uma banda nova, porém seus músicos já tinham contato com o Heavy Metal em bandas passadas, que não se fixaram no tão concorrido cenário Heavy Metal nacional. Assim, alguns de seus músicos trabalharam, por anos, com o Jazz, mas o Heavy Metal começou a “gritar” e um reencontro fez com que o Higher surgisse. As coisas fluíram, de forma natural, e culminou no homônimo álbum de estreia, um disco que foge dos clichês e traz uma sonoridade, dentro do Heavy Metal, difícil de rotular. Sendo essa a proposta dos músicos Cezar Girardi (vocal), Gustavo Scaranelo e Felipe Martins (guitarras), Andrés Zúñiga (baixo) e Pedro Rezende (bateria), com o Higher eles criaram um som com características próprias, mas sem deixar o ‘feeling’ de lado. Saibamos mais sobre a banda, sua música e ideologia na entrevista a seguir. Recife Metal Law – Músicos de Jazz formando uma banda de Heavy Metal... Há alguma similaridade entre o que vocês faziam antes com o que fazem agora com o Higher?
Gustavo Scaranelo – Considerando a questão estilística, acredito que não. São gêneros bem diferentes, na forma de pensar a harmonia, ritmo, e até mesmo o peso da mão, falo como guitarrista. Mas ambos precisam de muito preparo antes da performance e muito estudo musical para chegar em resultados satisfatórios. Talvez essa seja uma conexão bem sólida entre os dois gêneros, a elaboração musical é marcante em ambos. Continuo atuando como músico de jazz, paralelamente ao Higher, gosto muito de jazz e não me vejo distante desse gênero, assim como do Metal.
Recife Metal Law – Mas nem todos eram músicos exclusivamente de Jazz, haja vista o baixista Andrés Zúñiga já haver tocado na banda de Heavy Metal, Just. Qual o contato que os demais músicos tiveram com o Heavy Metal antes de formarem o Higher?
Gustavo – Na verdade o Higher nasceu do reencontro entre eu e o Cezar Girardi. Havíamos tido um projeto de Metal quase 20 anos antes do lançamento do Higher, o Second Heaven, que não deixou registros, apesar de ter iniciado o processo de composição do trabalho autoral na época. Quando nos reencontramos a intenção era apenas fazer os registros do que havíamos feito 20 anos antes, mas as coisas tomaram outro rumo, e recolocar a mão no Metal foi alucinante. Pedro, Will e Felipe também tiveram outros projetos de Metal.
Recife Metal Law – Quando, de fato, a banda surgiu e como foram compostas as músicas para o álbum de estreia, homônimo?
Gustavo – Bom, esse reencontro foi o início de tudo. Acredito que ele tenha acontecido em 2011. Mas, nessa época, tudo era um tanto incerto e sem forma, mas sem dúvida foi o embrião. As primeiras composições que produzimos eram do antigo projeto (Second Heaven). A faixa “Illusion”, por exemplo, eu escrevi com quinze anos de idade. Claro que ela sofreu alterações brutais nos arranjos e a letra foi toda reescrita. Como disse, a ideia era registrar esse material antigo, mas não conseguimos parar por ali, havia algo novo acontecendo e demos continuidade, compondo coisa nova, já nos moldes que havíamos dado ao Higher. Acho que nunca havia trabalhado por tantas horas consecutivas, durantes semanas, sem nem sequer perceber o cansaço. Essa força, esse ânimo me chamaram a atenção e ficou claro o quanto o Higher precisava acontecer.
Recife Metal Law – Geralmente as bandas trabalham em músicas de modo a lançar uma Demo, para depois partir para um full-lenght. Vocês não trabalharam dessa forma e partiram logo para um álbum completo. Isso não seria pular etapas?
Gustavo – Acredito que não. As etapas estão relacionadas às possibilidades e convicções de cada banda. A Demo acabava tendo algumas funções no passado, que era arrecadar fundos para a gravação do disco, gerar notícia sobre a banda e submeter o trabalho novo ou inaugural à opinião do público. O disco foi composto da forma mais honesta possível e não sofreria alterações, exatamente por isso. Compusemos com o coração e era exatamente o que queríamos mostrar. Além do que, hoje observo outro modelo: as bandas lançam alguns singles antes do lançamento do disco, e nós liberamos dois singles antes do lançamento do debute.
Recife Metal Law – Antes do lançamento do álbum, a banda já vinha fazendo shows?
Gustavo – Não. Na verdade fizemos o nosso show de lançamento em novembro, alguns meses depois que o disco foi lançado oficialmente no mercado. O Higher está tocando desde então e estamos muito felizes com a reação do público nos shows. Ouvimos com frequência que a banda cresce muito ao vivo, e isso pra gente é muito gratificante.
Recife Metal Law – O álbum veio para quebrar conceitos, pois sua musicalidade é bem difícil de definir. Durante sua execução podemos ouvir partes com muito peso, agressividade e groove (“Lie”), inserção de música clássica (“Climb the Hill”), Prog Metal (“Like the Wind”) e por aí vai. A intenção desde o início foi fugir dos clichês do Heavy Metal?
Gustavo – Acho um pouco perigoso produzir algo com intenções como essa. O que eu quero dizer é que os clichês podem não ser ouvidos da mesma forma por diferentes ouvidos, além de não sabermos se estamos baseados em nossa própria inspiração ou em alguma ideia já ouvida, e não identificada. Ou seja, não acho que deva ser essa a intenção de uma composição, fugir de um clichê, a chance de não sair do lugar ou não cumprir propósito algum é grande, em minha opinião. Mas estou falando pelo Higher, respeito qualquer outra opinião diferente dessa. O que nós fizemos foi compor metal da forma que sabemos, e talvez nossas diversas influências tenham dado uma cara diferente ao trabalho. Fomos honestos ao máximo e estamos muitos felizes com as resenhas que têm atribuído originalidade ao nosso trabalho. Para nós é o máximo que se pode obter.
Recife Metal Law – Contando com essas alternâncias de musicalidade num mesmo álbum, como vem sendo a receptividade junto ao público, já que a crítica especializada vem tecendo vários elogios ao Higher?
Gustavo – O público tem reagido igualmente entusiasmado. Muitos falam da expectativa com o segundo disco. Isso nos deixa muito felizes e empolgados com a produção do segundo trabalho. Às vezes ouço comentários de fãs, sobre os arranjos, que me surpreendem. Comentários maduros, de quem realmente deu atenção ao trabalho.
Recife Metal Law – Até o lançamento do álbum, a banda era um quarteto. Depois Felipe Martins (de apenas 16 anos) assumiu a segunda guitarra. Essa adição de mais uma guitarra era necessária? E como um guitarrista tão jovem vem se adaptando a sonoridade do Higher?
Gustavo – Era imprescindível. Todo trabalho de guitarra foi planejado para dois instrumentos, ou seja, era obrigatório, para sermos fiéis ao disco, o uso de duas guitarras no palco. O Felipe foi meu aluno por vários anos e, apesar de muito jovem, já estava cursando a especialização de Jazz do IG&T, comigo. Foi quando fiz o convite a ele, pois sabia que ele daria conta do recado e se sentiria feliz em trabalhar com a gente. Ele é um cara bastante inteligente e precoce, trouxe elementos positivos para a banda e hoje ele faz parte do time e sua contribuição é indispensável.
Recife Metal Law – “Lie” foi a música escolhida para ser o primeiro videoclipe. A razão de essa música ser a escolhida foi a mesma para que ela fosse a primeira faixa do álbum? É uma música bem agressiva, tanto nos vocais como no instrumental...
Gustavo – “Lie” abre o disco por uma razão, mas foi escolhida para o primeiro clipe por outra. É uma música forte, com uma entrada agressiva, e no geral bastante equilibrada, no aspecto musical. Isso nos convenceu de que ela era a música ideal para abrir o trabalho. Mas a razão pela qual ela foi o nosso primeiro clipe é que ela, de certa forma, sintetiza o disco, ou seja, possui elementos que serão reencontrados ao longo do trabalho. E para muitas pessoas, o clipe acaba sendo o primeiro contato com a banda, e ele já oferece uma ideia do que se pode encontrar nas outras oito faixas.
Recife Metal Law – A capa de “Higher”, assinada por Carlos Fides (Noturnall, Shaman, Almah, Fire Shadow), como a própria banda já informou, reflete diretamente o conteúdo das letras e de todo conceito ideológico dos integrantes do Higher. Em tempos atuais, será que a maioria dos homens procura mesmo ser algo melhor ou luta por condição mais alta?
Gustavo – Não saberia responder essa pergunta precisamente. Acredito que todos temos uma busca legítima, independentemente do tamanho dos nossos conflitos internos ou externos, da confusão mental e das maquiagens que a nossa sociedade utiliza. Existe algo dentro de todos nós que nos permite identificar o que nos faz bem ou mal. Não conheço pessoas (me baseio aqui no ser humano médio - maioria dos homens) que gostem de ser agredidas ou, ainda, exploradas, maltratadas. Dessa forma, já se observa um critério básico para o entendimento do que é positivo e construtivo para nós mesmos. Todos sentimos na pele quando somos vítimas, e essa memória deveria nos ajudar a reconhecer o algoz que, por vezes, também somos. Agora, todos, de alguma forma, buscam prazer com a vida, mas a consciência de que podemos oferecer o mesmo que desejamos, às outras pessoas, é uma questão de tempo e de uma observação menos egoísta. Hoje já se mede a quantidade de felicidade de alguém através de métodos científicos, analogamente à forma como se mediu a depressão primeiramente, e todos os estudos têm mostrado que as riquezas materiais não estão diretamente relacionadas com a quantidade de felicidade das pessoas, mas nosso sistema econômico e social tem a intenção de camuflar isso, confundir, iludir. Nós do Higher não nos sentimos ‘mais altos’ do que o ser humano médio, nós apenas nos reconhecemos dessa forma, cheios de defeitos e ilusões que nos privam de uma consciência mais ampla, e temos a nossa luta diária declarada, em nome desse crescimento. Esperamos dividir a nossa experiência com as pessoas e encontrar ressonâncias, cumplicidades por aí, juntar forças e seguir esse caminho com quem compartilha do mesmo pensamento. Ser melhor a cada dia, melhor do que foi ontem: entendo que nada justificaria melhor a vida humana!
Recife Metal Law – O primeiro disco foi lançado de forma independente, algo que muitas bandas vêm fazendo, em tempos de facilidade de downloads. Lançar o disco de estreia de forma independente foi opcional ou uma imposição do atual mercado?
Gustavo – Bom, nós procuramos por parcerias para distribuição, mas não encontramos num primeiro momento, e isso não nos impediria de disponibilizar o disco do Higher no mercado, sobretudo, pelas facilidades dos tempos atuais. Temos uma assessoria de imprensa muito boa, o Som do Darma, e isso tem nos ajudado a difundir o trabalho de forma bastante satisfatória, além do trabalho de agentes da imprensa, como vocês, que comentam sobre a banda e nos abre espaço para falarmos sobre o assunto. Mas, tentando responder a sua pergunta, lançamos de forma independente por falta de possibilidades dentro do prazo que colocamos para o lançamento. Fizemos por nós mesmos!
Recife Metal Law – Até quando vai a divulgação de “Higher”? Quais são as metas principais com esse disco?
Gustavo – “Higher” merece mais um tempo de divulgação antes do lançamento do próximo trabalho. Muita gente ainda não teve acesso ao nosso primeiro disco e queremos levá-lo ao maior número de pessoas possível. Mas já estamos trabalhando no segundo álbum. Na verdade estamos muito empolgados com os resultados que temos até agora, mas ele ainda não tem data de lançamento. Estamos estudando as possibilidades e a melhor maneira de seguir com a produção do próximo trabalho. Aproveito para agradecer a oportunidade de falarmos sobre o projeto, o interesse de vocês no trabalho do Higher, aos nossos fãs e a todos que estiverem nos lendo agora. Obrigado! O Higher está só começando!