Zênite é o que podemos chegar de lenda viva do Underground brasileiro. A banda está prestes a completar 30 anos de carreira (surgiu em 1987), e vem trilhando o árduo caminho do Metal sem titubear durante todos esses anos. Mesmo com tantos anos de atividade, o primeiro álbum só veio a ser lançado em 2000, ou seja, 13 anos depois de formada. Atualmente o Zênite vem divulgando seu mais recente álbum de estúdio, “Following the Funeral”, lançado em 2013, via Distro Rock Records. A banda surgiu em Belém/PA, mas, faz um tempo, se radicou em São Paulo. Durante todos esses anos, o Zênite passou por diversas formações e, hoje, conta com Marcelo “Histeria” Trindade (vocal), Luiz Lobato (baixo), Sandro Maués (bateria) e Thiago Cruz e André Henrique (guitarras). Recife Metal Law – No novo álbum, “Following the Funeral”, notei que a gravação está mais crua e primitiva, por assim dizer, porém, se comparado ao seu antecessor, os vocais de Marcelo “Histeria” ficaram mais evidentes. Aos meus ouvidos a banda utilizou da forma tradicional de se gravar, ou seja, se utilizou da forma analógica nas gravações. Como vocês analisam o resultado final das gravações?
Marcelo “Histeria” Trindade – Sim, esta gravação foi feita na velha maneira de se gravar; em mesa analógica, em ‘rolo’, e resgatar toda aquela essência das gravações dos primórdios Metálicos. Este CD foi feito para comemorar 25 anos da banda, mas saiu só no ano seguinte em 2013. Queríamos essa sonoridade mais pesada, sem lapidações e sem montagens mirabolantes da era digital (risos) Queríamos o som mais real e verdadeiro como um show ao vivo do Zênite.
Recife Metal Law – Notei, ainda, que por algumas vezes as guitarras ficaram um pouco sumidas, em algumas passagens, mas isso, de forma alguma, atrapalhou no resultado final desses instrumentos. Os dois novos guitarristas ‘passaram no teste’ dos riffs e solos do Zênite?
Marcelo – Wellington foi quem participou da composição do CD e criou os riffs. Paulo Cruz já entrou com todas as músicas prontas e participou das bases e alguns solos. Eles tiveram uma grande participação para que este CD saísse e acabasse com esse intervalo tão grande entre os álbuns “Tales of Death” e “Following the Funeral”, mas devido à falta de tempo e compromissos trabalhistas. Eles não ficaram na banda, esbarrando no principal obstáculo para bandas do estilo que tocam com frequência pelo Brasil: a falta de tempo para com a banda.
Recife Metal Law – Ainda sobre os guitarristas, Wellington Tiburcio assinou todas as músicas, mesmo que em parceria. Wellington colaborou tanto na parte lírica como na instrumental, ou ele já chegava com tudo pronto e havia ideias dos demais integrantes?
Marcelo – Não, às musicas eram criadas em estúdio. Mostrávamos para o Wellington como queríamos a sonoridade e dávamos idéias; como todos moram distantes uns dos outros, ‘em cidades diferentes’, até por telefone passávamos as músicas. (risos) O Wellington criava um riff e ligava pra gente ou enviava por internet, aí conversávamos o que poderia melhorar. Eu e Luiz moramos na capital, São Paulo, Sandro mora em Nova Odessa, Wellington nessa época morava em Hortolândia, e o Paulo em Sumaré. Reuníamo-nos no final de semana para ensaiar em Nova Odessa – cidade mais próxima de onde os outros três moravam – aí passávamos as músicas. Como o Sandro, Wellington e Paulinho moram praticamente pertos, eles se reuniam para dar corpo ao som e, no final de semana, fechávamos as músicas.
Recife Metal Law – Como era de se esperar, o novo álbum mantém a ‘pegada’ típica da banda, ou seja, apresentando seu Death/Thrash Metal característico. Porém é notório que outros estilos se fizeram presentes nas músicas do Zênite. “Blood”, com seus andamentos densos e riffs compassados, traz certa influência do Doom Metal...
Marcelo – Esse CD foi comemorativo, como falei. Em razão disso queríamos prestar uma homenagem a todos àqueles que nos influenciaram em nosso estilo de música e vida, e em cada musica você pode notar ‘um estilo’ que temos orgulho de fazer parte, que é o METAL. Na música “Blood” minha influência no vocal foi para Obituary, mas podre e arrastado.
Recife Metal Law – “Following the Funeral” é uma música tipicamente Zênite, já que apresenta um Death Metal mesclado a levadas insanamente Thrash Metal...
Marcelo – “Following the Funeral” vai do Metal Tradicional ao Death Metal com influências da própria banda Death. Podemos dizer que essa é uma música típica do Zênite, pois numa mesma música colocamos peso, velocidade e melodia, sem perder a agressividade da banda.
Recife Metal Law – Já “Last Home” é totalmente influenciada pelo mestre Tony Iommi nos riffs e alguns andamentos são numa linha totalmente Black Sabbath. Para a construção dessa música houve consenso para que a mesma seguisse uma linha Black Sabbath?
Marcelo – Sim, essa música e uma grande homenagem ao Black Sabbath, que influenciou a todos nós.
Recife Metal Law – Já “Cursed Cemetery” é uma espécie de bônus e no encarte informa que é uma música do Black Mass, banda da qual o baixista Luiz Lobato era o vocalista/guitarrista. Mas procurei informações sobre os lançamentos da banda e não encontrei essa música em nenhuma das Demos que o Black Mass lançou...
Marcelo – Sim, essa música nunca foi gravada pelo Black Mass, como várias outras. Naquela época era muito difícil fazer uma gravação, pois custava muito caro e a solução era fazer gravações ao vivo de shows, que também davam muito trabalho e as gravações ficavam totalmente ‘rotten’. (risos)
Recife Metal Law – Ouvindo essa música e ficando atento ao que foi feito em “Following the Funeral”, seria o Zênite a continuação do Black Mass?
Marcelo – Conhecemo-nos desde a adolescência. Sempre curti o Black Mass e fizemos um trato que a cada lançamento do zênite uma música do Black Mass será gravada, para as pessoas que não conheceram essa grande banda dos anos 80/90 tivessem a oportunidade de ter um registro, pois eles tocavam ao vivo e não gravaram as porradas sonoras. O Black Mass foi formado pelos irmãos Luiz e Silvio, e tinha o Joe Ferry, que tocou no Zênite nos dois primeiros CDs. Não somos a continuação do Black Mass, mas nos dois primeiros do Zênite tivemos dois do Black Mass, e temos maior respeito por ela.
Recife Metal Law – A capa, como nos lançamentos anteriores, trouxe a imagem do ancião, que já é uma espécie de mascote da banda. Mas tal ancião é apenas uma mascote ou tem a ver com todo o conceito lírico e musical da banda?
Marcelo – Ele virou uma mascote, mas resolvemos o ‘matar’ neste último trabalho, por isso seu corpo está em decomposição na capa. O CD fala sobre esse fato, mas foi apenas neste último registro que se passa uma estória sobre ele.
Recife Metal Law – Os dois primeiros álbuns foram lançados pela Ná Figueiredo e o mais recente pela Distro Rock. Ambos os selos são de Belém, cidade natal da banda. Trabalhar com selos de sua própria cidade, mesmo a banda estando radicada em São Paulo, facilita na hora de divulgar o material do Zênite?
Marcelo – Não digo que facilita na divulgação, mas temos uma metodologia de trabalho em termos de gravação, divisão de material e composição das músicas, onde queremos autonomia, sem muita intervenção externa. E com esses selos tivemos essa autonomia que queríamos. Hoje a Distro Rock é um selo que vem crescendo bastante, lançando grandes bandas do Underground nacional e até internacional; fizemos uma boa parceria. A divulgação hoje está mais fácil com a internet, muito diferente de quando começamos, onde tínhamos que gravar fitas cassetes, tirar fotocópias para capas e mandar pelos Correios. Dava trabalho, mas era prazeroso.
Recife Metal Law – Foram onze anos entre o segundo álbum e o mais recente lançamento. Tendo em vista que houve um hiato imenso entre os lançamentos, o que podemos esperar do Zênite num futuro próximo?
Marcelo – Não vamos ficar mais tanto tempo sem gravar! Em breve gravaremos o próximo! Agradecemos ao Recife Metal por essa grande força ao Metal Nacional! Vocês são essenciais para manter essa cena Metálica ativa! Muito obrigado!
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Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação e Leandro Almeida