Fazer Thrash Metal fugindo dos estereótipos do estilo é algo bem difícil, pois é um dos estilos mais apegados à forma ‘old school’ de se fazer. Quando se foge disso, ou se faz bem feito, ou corre o risco de ser taxada de uma banda ‘modernosa’, e que não honra as raízes. O Godzorder foge do estilo ‘old school’ de se fazer Thrash Metal, mas faz uma sonoridade tão bem feita, tão pesada e agressiva, que não foge do estilo. É Thrash Metal, e dos bons, feito por quem entende e que não se agarra (mesmo tendo algumas passagens que nos remetem as raízes do estilo) ao que fora feito no passado, em demasia. A banda surgiu em 2013, porém, de 1992 a 2008, atendia pelo nome de Stupid Vision. Dessa banda restou apenas o baixista/vocalista Rafael “Barba”, que hoje é acompanhado por Marco Mingote (bateria) e Gustavo Salles (guitarra). Mas sobre a banda, na entrevista a seguir. Recife Metal Law – O que restou do Stupid Vision – além de alguns integrantes – para o que veio a ser o Godzorder?
Rafael “Barba” – Na verdade, de ex-integrante restou apenas eu. No mais, restaram algumas músicas que não chegaram a ser oficialmente gravadas ou lançadas e vários fragmentos de ideias, letras, riffs e melodias que ainda serão usados nesse atual projeto, já que a proposta musical se manteve a mesma.
Recife Metal Law – O nome Godzorder chega a lembrar o fictício Godzilla. O monstro dos cinemas tem um poder devastador. Então, partindo desse pensamento, o nome dado à banda tinha por finalidade descrever o que os músicos estavam pensando em termos de sonoridade?
Rafael – Eu procurava um nome que representasse força e respeito e que fosse, ao mesmo tempo, meio controverso, sagrado e profano, juntos... Ordem e caos, para que se identificasse em qualquer situação. Então pensei nas palavras “God’s order” e “Go disorder”, que tem a pronúncia bem parecida e resumem o contexto que eu procurava. Mas ainda precisava transformar isso em um nome, então a letra “Z” substituindo o “S” fundiu as duas expressões numa única palavra que até então não existia... Godzorder!
Recife Metal Law – O primeiro trabalho da banda é o devastador EP “Obey”. Mesmo sendo uma banda que tem músicos que beberam na fonte ‘old school’ do Thrash Metal, a sua musicalidade não se prende aos clichês do estilo. Como foi o processo criativo para as músicas do EP? Houve a preocupação de não querer soar ‘old school’?
Rafael – As músicas desse EP foram recicladas do antigo Stupid Vision, mas passaram por uma repaginada a fim de que soassem como algo mais contemporâneo, porém sem perder a essência da proposta da banda. Atentamo-nos, sim, a esse lance quando compomos. Tudo que soa datado ou rotulado acaba não se destacando e se torna apenas mais do mesmo.
Recife Metal Law – As músicas desse EP são realmente empolgantes, pesadas, ríspidas e velozes, e tudo isso encontrado em cada música. Inserir todos esses elementos se mostra essencial para que o Thrash Metal respire um pouco e mude um pouco o seu caminho?
Rafael – Sim, claro. Acho que fugir um pouco do ‘óbvio’ é fundamental para tentar se reinventar e evoluir dentro de um estilo. Tudo está evoluindo, e muito rápido! É perda de tempo ficar insistindo e investindo em algo que já está saturado ou ultrapassado.
Recife Metal Law – Toda a parte lírica e musical foi escrita por você. Por que os demais músicos não participaram do processo criativo do EP?
Rafael – Porque essas músicas já existiam. Como a ideia inicial desse projeto era voltar com o Stupid Vision, e sendo eu o único integrante remanescente, propus aos outros músicos tocar o que já estava pronto para adiantar o processo e também para que todos absorvessem e entendessem a proposta musical que eu queria manter.
Recife Metal Law – Sobre a parte lírica, como não poderia deixar de ser, é bem crítica, mas escrita de forma bem inteligente. Existe um tema principal para as letras ou alguma mensagem que a banda pretende transmitir para o seu público?
Rafael – Não abordamos um tema conceitual até então. Escrevemos sobre o que somos, o que sentimos, o que vemos e vivemos, enfim... Mas de uma forma que faça com que outras pessoas se identifiquem com o que está sendo falado nas letras, como uma forma de dizer que ninguém está sozinho em determinada situação, que mais gente passa ou já passou por isso ou aquilo. A ideia é passar sempre uma energia positiva para o público e que a banda seja retribuída da mesma forma.
Recife Metal Law – A capa de “Obey”, apesar do simbolismo, é de fácil interpretação, ainda mais quando se junta imagem ao título. Infelizmente no meio Heavy Metal existe uma parcela conservadora, que vai de encontro a tudo o que o Heavy Metal significa. Vocês chegaram a receber algum tipo de crítica pela capa, em se tratando do público Heavy Metal?
Rafael – Sim, várias críticas. Mas todas positivas, elogiando a arte dessa capa, pelo menos até agora! (risos)
Recife Metal Law – Antes do lançamento do EP, o Godzorder lançou um single, “Trademark”. Por que essa música não foi disponibilizada no EP?
Rafael – Porque não faria sentido, uma vez que a música já havia sido lançada oficialmente como single. Junto com o Adair (produtor) chegamos a cogitar a hipótese de regravá-la ou incluí-la como ‘bonus track’, mas, segundo ele, de qualquer forma iria descaracterizar a proposta do EP. Então decidimos por deixá-la de fora.
Recife Metal Law – “Obey” foi lançado no formato digital. Em tempos atuais isso é praticamente uma obrigação, mas como músicos com vários anos de estradas vêem todo esse avanço da tecnologia sobre a música?
Rafael – Uma tremenda vantagem por um lado e uma tremenda desvantagem por outro. Temos que aprender a usar a tecnologia como aliada desse meio de trabalho, pois o músico ou banda que não se adapta a essa era digital e tecnológica, está destinado a ficar preso no passado junto com sua arte, sua obra, tendo seu sucesso mantido apenas por saudosistas que ainda mantém a música como produto físico. Eu mesmo ainda me encontro numa fase de ‘transição’ nesse meio. Tem coisas que ainda me recuso a aceitar, outras que ainda não entendo... Já mudei muitos conceitos pra me readaptar ao mundo musical de hoje, mas confesso que ainda estou meio perdido. (risos)
Recife Metal Law – O EP foi lançado ano passado e causou um grande impacto na mídia especializada e meio Underground. Então, o que se esperar dos próximos passos do Godzorder? Um full lenght já está em pauta?
Rafael – O foco ainda é continuar promovendo o EP de todas as formas possíveis e disponíveis a fim de chegar até onde esse trabalho consiga nos levar. Estamos com a intensão de ainda fazer um vídeo clipe de uma das músicas do EP e, em meio a tudo isso, novas composições para um (já muito requisitado!) full lenght já estão sendo trabalhadas.