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Entrevistas

ALTERA O
TAMANHO DA LETRA
 

Recife Metal Law - O seu portal de informação!

 

WOLFSHADE



O Dark Metal é um dos estilos que mais se encontram fixados no Underground, sem muitos representantes mundo afora. Mas, claro, existem ótimas bandas, inclusive no Brasil, fazendo uma música obscura e longe dos padrões convencionais. A banda capixaba Wolfshade é uma delas. A banda já conta com uma década de formação e nesse interim lançou uma Demo e um full lenght. Na entrevista a seguir o guitarrista Alexander S. Buck fala um pouco mais da trajetória da banda, sobre o primeiro álbum, abordagem líricas, entre outros temas. Além de Alexander, a Wolfshade conta com Erivaldo Frechiani (guitarra), Eduardo Lehubach (vocal), Eduardo Miranda (baixo), Leonardo Zamprogno (teclados) e o novato Victor Boechat (bateria).

Recife Metal Law – A banda é oriunda de Vitória/ES, e surgiu em 2005, tendo lançado a Demo “The Curser of Ishtar” em 2007. Como é fazer Dark Metal na cidade do Wolfshade? Existe um grande apoio, tanto para a banda como para o estilo por esses lados?
Alexander S. Buck –
Saudações Valterlir! Primeiramente é uma honra figurar no Recife Metal Law. Para iniciar gostaria de fazer uma observação: a Wolfshade surgiu na cidade da Serra, aos pés da maior montanha litorânea das Américas, o Mestre Álvaro. Aos pés dessa montanha surgiram algumas das principais bandas de Heavy Metal e Metal extremo do Espírito Santo, tais como Catacumba, Labirinth Spell, Shadow Moon, Orgia Nuclear, Shadow, dentre outras. A grande questão é que, fora as bandas que aqui existem, não há indícios de uma cena Underground na cidade da Serra. Eu, sequer, me recordo da última vez que tocamos em nossa cidade. Acredito ser uma questão complexa. Serra sempre figura entre as cidades mais violentas do Brasil, ao mesmo tempo em que é uma das cidades com maior índice de crescimento do país, um paradoxo em ambiguidades claras. E uma cidade com essas cicatrizes é um ambiente propício ao surgimento de manifestações artísticas subversivas em forma de música extrema. No entanto, Serra faz parte da região metropolitana da Grande Vitória. A ocorrência de eventos de Metal extremo em Serra é praticamente inexistente, fazendo com que essas ações se concentrem nas cidades de Vitória, Vila Velha e Cariacica. Sempre tivemos o apoio e o respeito por aqueles que fazem e ajudam no desenvolvimento de um cenário Headbanger por aqui. Quanto ao estilo, não nos apegamos a rótulos que nos limitam dentro do Metal extremo, preferimos abraçar a essência: música obscura, tenebrosa e extrema, assim podemos caminhar livremente entre as várias atmosferas musicais que nos satisfazem.
 
Recife Metal Law – Essa Demo foi divulgada por seis anos, até o lançamento do álbum de estreia. Como foi trabalhada a forma de divulgação desse primeiro trabalho? Vocês chegaram a enviar para algum selo?
Alexander –
Na época da Demo eu assumi grande parte dos trabalhos de distribuição no total “do it yourself”, priorizando zines impressos e veículos especializados em Metal extremo. Pareceu-me, na época, algo condizente com nossos ideais. O intuito era focar um público qualificado, e não quantificado. Preocupava-me em fazer com que nossa arte chegasse aos que realmente reconheceriam algum tipo de valor nela. A partir daí firmamos nossas relações com selos e distros independentes de várias partes do Brasil, e que no primeiro álbum nos ajudaram com o lançamento e distribuição, na qual nos sentimos honrados em firmar parcerias tão duradouras baseadas no respeito e admiração mútua.
 
Recife Metal Law – Entre o lançamento da Demo e o primeiro álbum da banda, houve uma troca de integrantes. De que forma isso contribuiu ou atrapalhou na composição de novas músicas?
Alexander –
A realidade é que já tivemos diversas mudanças de integrantes. A banda sempre teve seis integrantes: eu e Erivaldo Frechiani (guitarras) e Eduardo Lehubach (vocal) somos os membros fundadores que se mantém na banda até hoje e que nunca saíram. No começo as mudanças abalavam por não estarmos habituados a esse tipo de instabilidade, mas depois de uns anos na batalha acabamos encarando isso de forma mais natural e menos tempestuosa. Atrapalharam no sentido de perdermos tempo, sempre tendo de voltar a ensaiar do zero com os novos membros. No início é bem desanimador, mas apreciamos de verdade tocar nossas próprias músicas e no final acabamos sempre ganhando, pois a cada mudança se ganha com experiência e talento pessoal de cada novo integrante, já que o Wolfshade sempre prezou por ter bons músicos em sua formação. No que se refere às composições, nunca nos atrapalhou de fato, pois o instrumental sempre foi composto por mim e Erivaldo e as letras pelo Eduardo. E enquanto tivermos forças para erguer nossos instrumentos essa banda vai existir, mesmo com a constante mudança de integrantes, o que acredito que não será o caso. Estamos nos estabilizando...
 
Recife Metal Law – “The Epitaph of a Pagan Paradise” é o primeiro álbum da banda e mesmo tendo sido lançado de forma independente, a banda ganhou o apoio de alguns selos na divulgação. Como vem sendo a parte de divulgação desse primeiro álbum?
Alexander –
Sim. Como havia pautado, o bom relacionamento e a peculiaridade de nossa arte nos proporcionaram essas parcerias com selos e distros de alguns lugares do Brasil. Para o lançamento tivemos o apoio da The Hole Production, Tecido Adiposo Productions, Supreme Art Distro, Mercenary Distro Records. Entre os principais apoiadores na distribuição estão a Anaites Records, Odicelaf Zine Prod Distro, e mais uma dezena de pequenas distros formadas por maníacos por sons obscuros que apoiam e honram o Underground nacional. Além de nós mesmos da banda sermos responsáveis pela distribuição do material. As cópias estão se esgotando, logo acho que o trabalho está conquistando o objetivo. No futuro próximo pretendemos lançar o “Epitaph of a Pagan Paradise” em outros formatos, além de uma versão especial em CD. Vamos ver o que acontece.
 
Recife Metal Law – Apesar de conter apenas seis músicas, o ‘debut’ contém mais de 40 minutos de duração, ou seja, conta com músicas longas. Fazer músicas longas foi uma forma de compensar o pouco número de músicas ou era algo inevitável para um álbum de Dark Metal?
Alexander –
Não foi inevitável por questão de estilo. Acredito ter sido inevitável naquele momento da banda. As canções tiveram o tempo que elas mesmas pediram, foi algo natural e intuitivo. Estávamos experimentando alguns arranjos e combinações de elementos diferentes nesse álbum. Por exemplo, “The Ineffable Fire”, que é a música que encerra o disco, tem uns nove minutos e mais de uma dezena de riffs diferentes. Poderíamos transformá-la em várias músicas a partir de alguns riffs, mas resolvemos nos desafiar e aglomerar tudo em uma única música longa, épica e com várias passagens distintas. O número de músicas é irrelevante para nós, o importante é a somatória da obra conter todos os elementos e atmosferas que nos agradam, que nos desafiam, que nos preencha e que caracterizem o Wolfshade enquanto a entidade que é. Músicas novas nunca faltarão.

Recife Metal Law – Vocês chegaram a cogitar em colocar alguma música da Demo em “The Epitaph of a Pagan Paradise”?
Alexander –
Na verdade nunca cogitamos essa possibilidade. Um passo adiante é um novo passo, e levamos isso a sério. Um novo trabalho deve conter apenas músicas inéditas. Cogitamos regravar uma música que ficou fora de “The Curse of Ishtar” por problemas na captação de bateria chamada “Vulcanos Hammer”, mas acabou que nem isso rolou. No futuro talvez resgatemos essa música.
 
Recife Metal Law – As músicas são bem criativas, com diversas passagens, algumas lembrando o Black Metal, porém a musicalidade da banda navega por andamentos mais cadenciados e soturnos, típicos do Doom Metal, inclusive com camas de teclados e o uso de passagens acústicas. Trabalhando dessa forma fica mais fácil “ingressar” tanto no lado mais extremo como no lado mais tradicional do Heavy Metal?
Alexander –
Sempre nos engajamos no segmento mais extremo do Metal. Mas acredito que muitos que curtem Metal tradicional e não Metal extremo apreciem nosso trabalho. Ai é uma questão pessoal, de cada um. Fazemos a música que aprendemos a criar e aperfeiçoar no decorrer da última década. Tentamos executar um Metal rico em harmonias, melodias e agressividade. Tocar Metal no Brasil e se manter ativo e vivo durante anos nunca será uma tarefa fácil. E por não estarmos nem num ponto nem em outro traz alguma dificuldade de entendimento. Não somos uma banda de Heavy Metal tradicional e nem de Black Metal; também não somos uma banda de Doom nem de Death Metal, apesar de termos elementos de todos esses gêneros em nossas músicas. Tentamos criar nossa própria identidade, sendo verdadeiros a nós mesmos e prestando contas apenas a nós mesmos. Acima de tudo tocamos músicas que apreciamos.  
 
Recife Metal Law – Em algumas músicas podemos ouvir algumas vocalizações “limpas”. Ouvimos tais vocalizações em “Black Mirror of an Inner Ocean”, “The First Dawn of a Venus” e “The Ineffable Fire”. Qual é a função primordial de tais vocalizações nessas músicas?
Alexander –
Os vocais limpos realmente ganharam mais espaço em “The Epitaph of a Pagan Paradise”. Em “The Curse of Ishtar” eles aparecem apenas no refrão de “Prelude Of The Autumn Night”. Eduardo Lehubach sempre se preocupou em evoluir enquanto vocalista, e trabalhar essas passagens e camadas de vocais sempre foi um bom desafio para ele. Com a entrada do Tob (baixo e vocal) esses intuitos ganharam mais força, pois o Tob também faz tanto os vocais guturais quanto os limpos e somando-se as competências de Eduardo os vocais ganham em variação e musicalidade. Mas também sempre tivemos a consciência que no Wolfshade a predominância sempre será de vocais mais rasgados e agressivos, uma escolha estética. Tentamos dosar bem essa medida, vocais limpos vão rolar, mas nem tanto… (risos)
 
Recife Metal Law – As letras desse primeiro álbum são bem escritas e se nota que tem um lado pagão. Qual a principal temática lírica abordada pelo Wolfshade?
Alexander –
O mérito pela poética das letras é todo do Eduardo Lehubach, ele é o principal letrista da banda. Inicialmente as temáticas eram voltadas a temas mitológicos e, claro, o paganismo inerente aos antigos humanos que habitavam o planeta. Esses temas podem ter uma profundidade interessante. Os arquétipos são a base simbólica da mitologia, e tal aspecto é puramente humano, com suas ambivalências, conflitos e estados emocionais, e muito disso encontra-se vivo nas relações humanas contemporâneas. Em “The Curse of Ishtar” há uma predominância de temas que se referem à mitologia suméria, que é o arcabouço das principais mitologias ocidentais. Em “The Epitaph of a Pagan Paradise” nos aproximamos mais de aspectos da cultura indígena sul-americana e os conflitos entre os nativos e o europeu. O próprio título do álbum é bem direto nesse sentido: “o epitáfio de um paraíso pagão”, tendo a palavra “epitáfio” o significado de “sobre o túmulo”, designada para indicar as palavras escritas sobre a lápide. Logo, “o epitáfio do paraíso pagão” foi forjado pelo homem além-mar, que enterrou diversas culturas nativas ancestrais através do cristianismo predatório. Posteriormente mudamos um pouco essa direção. Eduardo começou a explorar temas mais subjetivos e de certa forma mais atuais. Estamos preparando nosso próximo álbum, chamado “Os Contos da Quimera”, e estará seguindo essa direção, do homem que é forjado pelo seu ambiente, do homem contemporâneo, aprisionado pelos rituais de uma sociedade predatória de rotinas tortuosas guiadas pelo tilintar das moedas de ouro.
 
Recife Metal Law – Eu achei que a gravação saiu um pouco baixa. O que vocês acharam do resultado final da produção desse primeiro disco?
Alexander –
Sim. Realmente esse foi um problema que nos deixou bem desapontados. Na verdade não foi um problema de gravação, a gravação está ‘ok’, com uma master muito boa. O problema ocorreu na prensagem, e não sei dizer ao certo em que parte do processo isso ocorreu. Enfim, isso é algo que pretendemos corrigir numa nova versão em CD de “The Epitaph of a Pagan Paradise”. Fora isso, a produção do disco ficou satisfatória. Mas pretendemos avançar e agregar mais qualidade aos futuros lançamentos.
 
Recife Metal Law – A parte gráfica ficou bem sinistra, e casa muito bem com a musicalidade da banda. A capa ficou bem enigmática e num tom bem escuro. De quem foi à ideia da capa nesses moldes?
Alexander –
A capa foi feita por Daniel Santos, que é o mesmo artista que desenvolveu nossa logo, há quase 10 anos, e também o mesmo camarada que fez a logo do Catacumba. Logo, ficamos em casa. Daniel é muito talentoso e demos carta branca para que explorasse os conceitos do álbum graficamente, e ele nos apresentou essa proposta que beira a abstração, no entanto, mantendo esse tom obscuro que você captou.
 
Recife Metal Law – Com relação aos shows, a banda, após o lançamento do ‘debut’ álbum, tem encontrado espaços para divulgar o material e, consequentemente, sua música?
Alexander –
A cena aqui no Espírito Santo tem voltado a florescer de forma interessante. Mas fizemos poucos shows após o lançamento do álbum, mas todos com uma boa recepção do público e daqueles que nos acompanham durante todos esses anos. Realmente temos diminuído bastante as apresentações ao vivo nos últimos anos, por conta da soma de diversos fatores que fogem a nossa vontade. O plano para 2016 é fazer alguns shows fora do Espírito Santo, espalhar nossa arte. Vamos ver o que acontece.

Site: www.facebook.com/wolfshadeband

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Victor Haratani

 
 
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