No Brasil o Thrash Metal, a cada ano que passa, nos mostra ótimos representantes do estilo, advindos das mais diversas partes do país. Cada um trazendo características próprias, fazendo com que, assim, o estilo continue em cena. A banda baiana Suffocation of Soul, oriunda do interior daquele estado, é um dos grandes representantes do estilo. Em seu álbum de estreia, “The First Attack”, lançado de forma independente, podemos ouvir uma banda ‘afiada’ e trazendo características bem peculiares, se juntando a isso andamentos bem influenciados pelo velho Heavy Metal. Mesmo com algumas mudanças na formação, mais precisamente em uma das guitarras, o Suffocation of Soul se manteve forte nesses seus 10 anos de formação e continua a divulgar seu álbum de estreia, o qual, inclusive, ganhou um relançamento recentemente. Atualmente a banda é formada por Márlon Pacheco (bateria), Tarcísio Correia (guitarra), André Costa (vocal/baixo) e por Maurício Sousa (guitarra), que nos respondeu a entrevista, falando um pouco sobre tudo que rodeia a banda.
Recife Metal Law – Antes do lançamento do primeiro álbum, vieram uma Demo e um EP. Do EP duas músicas foram parar no ‘debut’. Então por que não colocar alguma música da Demo também?
Maurício Sousa – Chegamos a pensar nessa possibilidade, mas teríamos que regravá-las, pois a qualidade é bem inferior ao EP e ao álbum e isso acabaria atrasando muito o lançamento, caso fossemos incluir alguma música. Mas temos planos de relançar alguma coisa da Demo no futuro.
Recife Metal Law – O Suffocation of Soul surgiu no interior baiano, mais precisamente na cidade de Poções. Juntar quatro músicos para criar a música da banda foi fácil?
Maurício – A banda não demorou muito para estabilizar a formação que segue até hoje. A demora foi só um tomar conhecimento do outro. O que fez diferença nesse processo foi o interesse que todos compartilhavam, de fazer o trabalho sério e não se contentar em tocar fins de semana. Sempre pensei que é mais fácil fazer de um Headbanger um bom músico do que o contrário. Por isso considero que tenha sido até bem tranquila a nossa junção.
Recife Metal Law – Apenas houve mudanças no posto de uma das guitarras. Por qual razão os dois guitarristas anteriores não permaneceram na banda?
Maurício – A banda começou com Higgor Sampaio na outra guitarra que, por algumas divergências e problemas pessoais, acabou saindo em meados de 2006. Logo depois Mauro Cunha assumiu o posto e fez algumas apresentações, mas por questões de trabalho precisou mudar de cidade e acabou tendo que sair. Fui convidado em 2008 para segurar a outra guitarra no show de lançamento da Demo e achei incrível o clima de interação e amizade que circulava na banda, coisas que praticamente não existiam na cidade onde moro, Vitória da Conquista, que fica a 65 quilômetros de Poções. Na semana seguinte eu já era membro do Suffocation of Soul.
Recife Metal Law – Como já mencionado no início, apenas duas músicas fizeram parte do EP, e o primeiro disco, “The First Attack”, traz dez sons. Como foi o processo criativo para as demais músicas presentes no ‘debut’?
Maurício – O processo foi intenso. Ensaiávamos muito mesmo no período em que as músicas foram criadas. A ideia era lançar o “The First Attack” em 2010, porém a grana não ajudou e acabamos adiando. Para a banda não ficar sem lançar nada e cair no hiato, pegamos três sons e lançamos o EP “The Last Way of Madness” no mesmo ano, que foi muito bom, pois nos acompanhou na sequência de shows que vieram logo depois.
Recife Metal Law – O Suffocation of Soul é uma banda tipicamente Thrash Metal, mas traz uma sonoridade caraterística, fazendo algo bem próprio, além de mostrar forte influência do velho Heavy Metal tradicional. Ao criar a música da banda os músicos sempre pensam, em primeiro lugar, em criar algo empolgante e por isso a junção desses dois estilos?
Maurício – Ouvimos muito Heavy Metal tradicional e na hora de compor foi inevitável. Mas, como você disse, acabou saindo um som bem caraterístico que, em minha opinião, sempre foi o ponto forte da banda. O interessante é que não foi nada intencional, essa junção dos estilos foi natural demais. Quando percebemos, era como se o Viper tivesse se juntado ao Destruction, por exemplo. As partes melódicas, dobras, arranjos, combinam muito bem com a rapidez do Thrash Metal.
Recife Metal Law – O disco é cheio de músicas marcantes, tais como a faixa-título, “Heavy Artillery” e “H.T (Unholy Invasion)”, para citar algumas. Algumas músicas são um pouco longas, para o estilo feito pelo Suffocation of Soul. Como é criar músicas longas e ainda, assim, as deixar marcantes e empolgantes?
Maurício – Verdade, alguns sons são longos, o que às vezes dificulta em tocá-los ao vivo por conta do tempo. Creio que o segredo é curtir o que está sendo criado! Na música “Gates of Sodom”, por exemplo, lembro de ficarmos ‘pirando’ no estúdio conforme as partes iam saindo e se juntando. Esse tesão em ser fã do trabalho que você mesmo desenvolve é o que faz a diferença mesmo.
Recife Metal Law – Sobre “Heavy Artillery”, essa música é um Heavy/Thrash Metal de arrepiar! Em certos momentos esse som chegou a me lembrar um Viper, do “Theatre of Fate”, mais agressivo, tipo, um Viper Thrash Metal. Houve alguma influência externa para criar esse som?
Maurício – Sim, de fato a influência do Viper impera nessa música! Adoramos a banda e lembro de ouvirmos o tempo todo durante as bebedeiras em Poções. Inclusive bem no começo do Suffocation of Soul, a música “To Live Again” fazia parte do repertório. Desde o esboço, já dava para ver que “Heavy Artillery” ia ter essa ‘pegada’ e muitos fazem a comparação, o que nos deixa orgulhosos!
Recife Metal Law – “Gates of Sodom” é uma música instrumental de mais de 10 minutos. Trazendo fortes melodias, mas sem deixar as passagens tipicamente Thrash Metal de lado. As linhas de baixo lembram, bastante, as que foram feitas pelo falecido Cliff Burton. Seria essa música uma forma de homenagem ao eterno baixista do Metallica?
Maurício – Começamos a compor; muitas ideias legais foram surgindo e não queríamos descartá-las. Então foi ficando cada vez maior até passar dos dez minutos, o que já é bastante coisa para o Thrash Metal. André (baixista/vocalista) chegou com o ‘esqueleto’ com apenas o baixo definido e já dava para ver o potencial da música. Notamos que o baixo realmente lembrava muito o trabalho que o Cliff fazia nos antigos instrumentais do Metallica, que também nos influenciou bastante. Então podemos afirmar que foi uma humilde, porém sincera homenagem ao grande Cliff.
Recife Metal Law – Duas músicas começam com algumas citações, no seu início ou no seu final. Porque inserir tais citações em “Urban Cancer” e “Prelude to a Nuclear War”?
Maurício – Essas citações representam perfeitamente o conteúdo das letras dessas duas músicas, principalmente em “Prelude to a Nuclear War”. Aquela é uma citação do ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, na qual afirmava possuir armas nucleares prontas para combate contra os EUA. A letra fala exatamente dessa eminência de uma catástrofe global, então combinou perfeitamente.
Recife Metal Law – E o cover do Taurus, “Império Humano”? Muitas bandas, ao colocar algum cover em seus lançamentos, o deixa para o final. Por que vocês colocaram o cover como se fosse uma faixa regular do CD?
Maurício – Realmente! Algumas pessoas questionaram isso algumas vezes. O real motivo é que até “Império Humano” as músicas foram gravadas em 2013, em outro estúdio e com equipamentos diferentes. A partir de “Unholy Invasion” é a gravação de 2010 remasterizada, algumas músicas que não fizeram parte do EP. Então achamos melhor colocar as remasterizadas por último e finalizar o material mais recente com um cover.
Recife Metal Law – A capa é bem ‘thrasher’. O intuito era que uma pessoa, ao ver a capa, e que não conhecesse a banda, já soubesse se tratar de uma banda de Thrash Metal?
Maurício – Não foi o intuito principal, claro, mas pensamos um pouco em causar essa impressão. Uma capa desenhada, bem colorida e com essa mensagem decadente, é uma característica bem presente no Thrash Metal. Passamos a ideia pro Edson Graseffi, baterista do Panzer, que desenvolveu o trabalho e adoramos o resultado. Os detalhes ficaram perfeitos, inclusive alguns ‘easter eggs’ espalhados por ela.
Recife Metal Law – Após o lançamento do primeiro álbum, a banda participou do 4way Split “Thrash Till Death”, porém com músicas já lançadas. O Suffocation of Soul já trabalha em novas composições ou ainda está focado na divulgação do álbum de estreia?
Maurício – Sim, estamos trabalhando em novos lançamentos e compondo sempre que possível. O processo hoje não é tão intenso, pois nosso baixista e vocalista mora em Belo Horizonte, o que impede ensaios frequentes como antes. Fizemos uma tour nacional em 2014 e divulgamos ao máximo o disco no Brasil. O objetivo agora é trabalhar na promoção do material lá fora e tentar o máximo de parcerias possíveis!