Foram 25 anos de luta no árduo meio Underground brasileiro. Diversos lançamentos feitos, entre Demos e dois excelentes álbuns, porém o Darkside, na pessoa de seu mentor, líder, guitarrista e único integrante que esteve em todas as suas formações, Tales Groo, anunciou fim de suas atividades. Mas isso não significa que a banda parou de produzir de imediato. Pelo contrário, o Darkside continua fazendo shows e promete o lançamento de mais materiais até o cessar completo de suas atividades. Tudo isso é revelado pelo próprio Tales, na entrevista a seguir. Recife Metal Law – Não poderia ser diferente o início da entrevista. A banda anunciou, recentemente, o fim de suas atividades, após a saída do vocalista Marcelo Falcão. O Darkside, desde o início, passou por diversas formações e nunca houve um encerramento de suas atividades. Por que fazer isso agora?
Tales Groo – Saudações Valterlir! Antes de qualquer coisa, é novamente uma honra constar nas fileiras do Recife Metal Law! Na verdade a Darkside já havia encerrado as atividades em 1998, para retornar aos palcos no ano 2000. Dessa vez a situação é parecida, pontuada pela saída do Marcelo. Percebi que não iria de forma alguma ser positivo para a banda continuar com outra formação nesse momento, principalmente com um novo vocalista. Andei sondando alguns possíveis substitutos nos últimos meses, como uma tentativa de reverter essa situação, mas só para confirmar que encerrar é o melhor a ser feito. O que causa bastante estranheza, visto que ainda temos alguns shows para cumprir e também lançamentos engatilhados. O fim das atividades da Darkside será lento, ao longo de mais três ou quatro meses. Em um futuro breve espero reunir as condições ideais para que a banda retorne, mas a prioridade nesse momento é dar continuidade a dois outros projetos.
Recife Metal Law – Antes do lançamento do novo álbum, houve uma mudança na grafia do nome da banda, e no lugar do “i” veio um “y”, se tornando, assim, Dark Syde. Mas existem tantas bandas, no meio Heavy Metal, com o mesmo nome. O que os forçou a mudar o nome?
Tales – Foi uma tentativa de poder registrar apropriadamente o nome da banda aqui no Brasil e também na União Europeia, para que pudéssemos planejar lançamentos e shows. Mas isso já não está mais em pauta, então o “i” está de volta.
Recife Metal Law – “Prayers in Doomsday”, lançado em 2012, teve um ótimo respaldo no meio Underground, e é um disco acima da média, de forte impacto. Esse disco conseguiu atingir as metas criadas pela banda, quando de seu lançamento?
Tales – O “Prayers in Doomsday” foi planejado para ser um lançamento ambicioso em termos de divulgação, e o retorno em termos de crítica superou as minhas expectativas. Mas as metas de fazer shows foram cumpridas apenas parcialmente, e para lançá-lo fora do país não obtivemos êxito algum.
Recife Metal Law – Esse álbum foi lançado de forma independente. Só que o mais recente, “The Apocalypse Bell Part II – Legacy of Shadows”, foi lançado pelo selo potiguar Rising Records. Isso deve ter facilitado as coisas, em termos de divulgação, para a banda. Estou certo?
Tales – Com a Rising Records tivemos uma abrangência de distribuição bem maior e as vendas foram rápidas. É uma parceria preciosa! Mas a divulgação ficou a cargo da banda, e como tínhamos poucas cópias e verba limitada para isso, eu confesso que foi bastante deficiente. Mas, por outro lado, desnecessária, pois as vendas se deram com muita velocidade.
Recife Metal Law – Pelo título do álbum, quem não conhece a banda, chega a imaginar que seja uma continuação de outro disco lançado pelo Darkside, algo do tipo conceitual. Na verdade, “The Apocalypse Bell” é a última música do ‘track list’ de “Prayers in Doomsday”. Qual a razão para o título do novo álbum?
Tales – Não há nada de conceitual na nossa temática, apenas alguns assuntos retornam para serem contados de uma forma diferente. O título foi escolhido exatamente para estabelecer um elo entre os dois álbuns.
Recife Metal Law – Em conversa informal, você me informou o plano de fazer a regravação na íntegra das duas primeiras Demos (“Fragments of Time” – 1991 e “Gates to Madness” – 1993). Como está o andamento deste projeto?
Tales – Está bem avançado. Após praticamente cinco anos de intenção de realizá-lo. A pré-produção e os novos arranjos estão concluídos já há bastante tempo, assim como a captação das guitarras base e boa parte dos solos. É um trabalho comemorativo dos 25 anos de banda, e também marcará o fim das atividades. Então teremos vários músicos antigos, atuais e novos participando da gravação.
Recife Metal Law – O disco anterior mostrou um Darkside com uma sonoridade que transitava entre o Thrash e o Heavy Metal, com os vocais de Alex Eyras fazendo essa ponte, inclusive com alguns agudos. Já o novo álbum apresenta uma banda mais rude, mais Thrash Metal, mas sem deixar de lado a melodia. Os vocais de Marcelo foi o fator determinante para que a banda viesse mais Thrash?
Tales – Os shows já pediam uma presença mais agressiva nos microfones e, quando o Marcelo entrou, trouxe esse elemento de forma bastante eficiente.
Recife Metal Law – O álbum vem com oito músicas, mesmo número de músicas do disco anterior, e tem mais ou menos o tempo de duração do disco anterior. Coincidência ou foi premeditado?
Tales – Totalmente premeditado! Um álbum curto torna a sua adição bastante dinâmica e instigada para ser repetida várias e várias vezes. Quanto ao número de faixas, oito, o motivo é simples: nos anos 80 era muito comum as bandas lançarem quatro faixas no lado A do vinil e quatro no lado B. Fui adestrado nesse formato, então trouxe esse legado para o Darkside.
Recife Metal Law – Sobre as músicas, há uma interessante alternância entre momentos mais agressivos e diretos com algo mais cadenciado e pesado, além de alguns riffs que me fizeram lembrar o velho Destruction, e riffs, refrãos e solos influenciados pela velha guarda do Heavy Metal. Tudo isso soando de forma natural. Como foi decidida a ordem do ‘track list’ para que ficasse atrativo até o fim?
Tales – Procuramos alternar as faixas entre as mais rápidas e mais cadenciadas, considerando também o tom de cada uma delas, para que se repetissem sequencialmente apenas o mínimo necessário.
Recife Metal Law – Como é contumaz no Darkside, ouvimos um disco que é uma bela peça de Thrash Metal, com pitadas de Heavy Metal em alguns andamentos. São oito músicas que farão o Headbanger erguer os punhos e bater cabeça. Bons exemplos são “Human Pest Control”, “Final State of Violence” e “Escape From the Doom Desert”. Como é poder ver o fã de Heavy Metal se empolgar com uma música da banda e quais músicas estão sendo mais citadas como as melhores?
Tales – Eu sou esse fã de Heavy Metal! Enquanto eu me empolgar com a música que toco, estou satisfeito pra caralho! “Legacy of Shadows” e “Escape From the Doom Desert” são as minhas favoritas, seguidas por “Human Pest Control” e “Dust Devil”. Parece que há uma concordância sobre isso entre o as pessoas que conhecem o álbum. Ao vivo essas faixas conduzem a um surto de ‘headbanging’ e ‘circle pits’ furiosos!
Recife Metal Law – Claro, “Domination Underground” já nasceu clássica! Não pela forma que foi escrita, já que outras bandas já se fizeram valer dessa fórmula, mas pela sonoridade em si, e até mesmo pela música tratar do início da cena Metal em Fortaleza. Houve uma pesquisa prévia ou os nomes citados na música se deram por afinidade?
Tales – Eu, que vivi os primórdios do Metal no Ceará, já tinha todos esses nomes de banda na cabeça, por isso a fase de pesquisa foi mínima. O trabalho duro foi estabelecer uma lógica, e a escolhida foi a cronológica. A lista inicial continha quase 100 bandas. Claro que tive que cortar dezenas delas. O critério para tal foi meramente métrico, essa foi a parte difícil. A parte realmente criativa foi no refrão.
Recife Metal Law – A capa anterior já veio ótima, mas a capa do novo disco superou as expectativas. Tanto em razão de sua tonalidade, como pela sua arte. Não tem como não ligar a arte da capa de “The Apocalypse Bell Part II – Legacy of Shadows” com a atual situação política do nosso país. Mas qual é o real significado da arte da capa?
Tales – A fé tem apenas o poder de deixar seu hospedeiro vulnerável a qualquer tipo de controle cerebral. Opiniões, consumo, obediência, combates, exploração, medo do castigo, tudo isso está interligado em nome de uma moral que é no mínimo suspeita por oferecer castigos e recompensas sobrenaturais. O artista captou bem essa mensagem e a exibiu em forma de imagem.
Recife Metal Law – A banda continua fazendo shows. Mas como vem sendo a formação do Darkside nas apresentações ao vivo?
Tales – O Marcelo tem feito esses shows, sem ele isso não seria possível. Da formação do “The Apocalypse Bell Part II – Legacy of Shadows” temos, além dele, o baixista Kaio. No lugar de Anderson já estávamos com o guitarrista Vinícius, e com ele decidi montar uma nova banda convidando o batera Marcus Teixeira (ex-Maleficarum e Toxic Thrash), e logo a seguir o próprio Kaio. É com essa galera que estamos cumprindo essa agenda de shows, mas o intuito é que esse projeto se torne uma banda em breve, com nome e cara nova, completamente desligada da Darkside, praticando um som mais focado pro extremo. Isso com o vocalista Felipe Diogenes (ex-Critical Death e Skin Risk). Mas retornando ao assunto de shows da Darkside, é bem possível que tenhamos outros ex-membros em palco para esse últimos eventos.
Recife Metal Law – Mesmo com o anúncio do encerramento das atividades, a banda continua a todo vapor, inclusive com músicas inéditas para gravar e um possível lançamento ao vivo. O que podemos esperar?
Tales – O álbum ao vivo será lançado somente na internet, em alguns dias. O lançamento das regravações das primeiras Demo-tapes deve ocorrer no segundo semestre, dependendo das parcerias, mas será um material puramente comemorativo. Tenho material que quando estiver completo daria para gravar dois bons álbuns da Darkside, mas a minha prioridade é, reforçando a resposta anterior, finalmente transformar os novos projetos em bandas completamente desconectadas da Darkside. Se o acaso me proporcionar boas condições para retornar com a Darkside, digamos até nos próximos dois ou três anos, esses álbuns serão lançados rapidamente.